1 mês depois
Depois de um mês tentando resolver sua vida, Suzana já começava a entrar em desespero. Não tinha conseguido arrumar um emprego, e em todas as entrevistas que ia, o salário era tão irrisório, que não dava para bancar um aluguel e as compras do mês.Durante esse tempo, ela colocou a vergonha no bolso e procurou todos os amigos do tempo em que era casada, mas nenhum deles se disponibilizou a ajudá-la. Todos inventaram desculpas esfarrapadas e disseram que no momento não podiam fazer nada por ela.Suzana vendeu a maioria dos seus vestidos de festas, e com esse dinheiro conseguiu se manter durante o mês que passou. Ela guardou o resto para o próximo, mas sabia que precisava encontrar imediatamente um emprego descente para poder cuidar da sua vida sem atrapalhar os amigos. E ainda tinha a dívida do sepultamento da família: apesar de os seus amigos terem ajudado a pagar, ela se sentia na obrigação moral de devolver esse dinheiro e esperava saná-la com o seguro que receberia do acidente dos seus pais. Só não sabia quando isso iria acontecer.— Me corta o coração te ver o tempo todo fora de órbita Suzana. – Priscila se sentia impotente mediante a situação da melhor amiga. Por mais que tentasse ajudar, não conseguia tirar essa preocupação exagerada de Suzana sobre o futuro. – Eu já falei para você parar de se martirizar, posso sustentar nós três até você encontrar um emprego. Sei que a minha casa é pequena, mas se for necessário, podemos alugar uma maior, eu já disse que não me importo em morar com você.A solidariedade da amiga era algo que sempre emocionava Suzana. Saber que ao menos a vida lhe poupou essa amizade já era motivo de comemoração. Os anos poderiam passar, mas ela nunca esqueceria o que sua amiga estava fazendo por ela. Um dia, poderia retribuir todo esse carinho.— Pri, eu sei que você quer me ajudar, mas não é justo você sair todas as noites para trabalhar enquanto eu fico em casa sem fazer nada. Preciso organizar a minha vida, não posso ficar parada com uma criança para cuidar. Sei que a Fátima está sendo um anjo na minha vida e da minha sobrinha, mas não posso passar a vida dando trabalho para vocês. Não é justo!— É só uma fase, mulher, você vai se ajeitar. E não é trabalho, eu não mudei a minha vida por sua causa. A única diferença é que agora eu posso fazer compras descentes no supermercado e, quando acordo, tenho comida de qualidade na minha cozinha. E quanto à dona Fátima, ela ama a Sofia, sua sobrinha trouxe nova vida para ela.De fato, a alegria da senhora com sua sobrinha era admirável. Mesmo quando Suzana estava em casa, Fátima fazia questão de pegar a pequena, e às vezes as três passavam a tarde juntas na casa da senhora, jogando conversa fora enquanto Sofia brincava no chão.— Eu sei, Priscila, mas quero me assentar, tenho contas para pagar e se eu não fizer ao menos o pagamento mínimo do meu cartão, estarei com meu nome sujo. Dei um prazo para a operadora do cartão, e se não cumprir, vou virar devedora.A frustração no rosto da amiga foi tão visível, que Suzana se sentiu mal por ter compartilhado o seu drama. A pressão dos últimos dias acabou deixando-a com a boca solta, e isso sempre fazia sua amiga se preocupar.— Eu já disse que posso pagar sua dívida, mas você não coopera. Custa dizer quanto é? Posso resolver isso em poucos dias.— Não vou deixar que use suas economias comigo. Sei que trabalha muito à noite, e não acho justo gastar seu dinheiro com os meus problemas.— Se eu posso pagar, não vejo problema nisso, você deveria parar de ser tão orgulhosa.Suzana se sentiu ofendida, ela não estava sendo orgulhosa, apenas não achava justo envolver ainda mais a amiga nos seus problemas.Precisava encontrar uma solução rápida para encontrar um emprego descente e ganhar um salário maior que o mínimo. Não podia mais ficar parada sem encontrar uma saída real para o seu problema. E foi com esse pensamento que uma ideia surgiu.— Pri, nesse seu emprego não tem vaga? Pelo o que percebi, você ganha bem, se eu conseguisse uma vaga, poderia dar outro rumo para minha vida.O prato que a amiga estava secando caiu no chão e se espatifou todo. Suzana ouviu Priscila praguejar e correr para limpar a confusão que fez. A reação agitada da amiga a surpreendeu, e a curiosidade se instalou dentro dela, fazendo-a querer saber o que estava acontecendo.— Algum problema? Por que ficou tão nervosa?Priscila não respondeu, na verdade não tinha o que falar. Se sua amiga desconfiasse o que fazia para viver, teria um ataque cardíaco. Suzana nunca entenderia a sua profissão, e Priscila não queria perder a amizade dela por ter escolhido o caminho errado. Todos os anos de amizadeque possuíam eram importantes para ela, não jogaria todos eles fora porque tomou uma decisão errada. Nunca revelaria o que fazia pelas noites do Rio, sua amiga não merecia saber da sua vida de promiscuidade.— Nenhum, eu só me distraí, acho que escutei a Sofia chorar. Por que não vai até meu quarto ver se ela acordou? Normalmente ela não dorme tanto depois do almoço. – Com essa desculpa ela conseguiu despistar a amiga e voltou a respirar com tranquilidade.Só não sabia até quando conseguiria esconder toda a verdade.Continua...Uma semana depois— O que é isso? – Priscila se assustou com o papel que Suzana jogou na mesa.— Leia! – Suzana acomodou a sobrinha no colo e fez sinal para a amiga olhar o papelAssim que Priscila começou a ler, sentiu-se indignada. Não era possível que aquele monstro desceu nesse nível. Ele não podia ter desferido esse último golpe na amiga, era muita crueldade até para alguém como ele.— Não acredito que ele fez isso.— Trezentos mil reais, Pri. Eu estou devendo trezentos mil reais ao banco e sequer sei onde esse dinheiro está. Como vou conseguir seguir em frente com uma dívida dessas? Até para arrumar emprego é difícil.O desespero na voz da amiga desestabilizou Priscila. De fato, a situação de Suzana só piorava, além de não ter casa e emprego, agora ela devia uma bolada ao cartão de crédito e ao banco. Realmente seria difícil seguir em frente, a situação estava ainda mais complicada.— Quem te enviou essa cobrança?— O gerente do meu banco me ligou e avisou que o Joaquim pegou u
Depois que Suzana resolveu o seu destino, um certo temor a deixou agitada. Agora que estava nas vésperas da entrevista na agência, ela estava nervosa. Ela não tinha muita experiência sexual, só teve dois homens em sua vida, isso a tornava uma mulher limitada no sexo. A verdade era que Suzana sempre foi tímida na cama e por isso fugia dos vários pretendentes que aparecia. Transou pela primeira vez com um antigo namorado de escola e com ele teve um relacionamento duradouro. Eles ficaram dois anos juntos, e depois dele, Suzana se manteve afastada dos homens até que conheceu seu cretino ex-marido.Essa sua falta de experiência estava deixando-a temerosa. Como iria dizer na entrevista que só transou com dois caras? Teria que mentir e dizer que tinha uma longa lista de homens na sua cama, caso contrário, perderia essa oportunidade de reerguer a sua vida.Ela ainda não sabia o que faria no momento em que ficasse sozinha com um cliente, mas teria que encontrar forças para fazer o que espera
Horas depois — Esse homem que você encontrou era amigo do canalha?— Era, mas sempre foi uma pessoa muito solícita. Tanto que ele foi o único que me ofereceu ajuda.— Não confio muito nele, amiga, vai que esse homem esteja de conluio com o seu ex? Do jeito que esse homem te massacrou, eu não confio em nada nos amigos dele.— Mas o Murilo apenas tinha negócios com o Joaquim, eles não eram amigos de fato, apenas parceiros de negócios.Priscila não se convenceu dessa história, mas ia tentar descobrir quem era esse Murilo. Ela não deixaria à amiga se meter em mais uma furada.— Nervosa para a entrevista que vai ter amanhã?— Muito. – Na verdade, Suzana não dormia há dois diasPor mais que tentasse se acalmar, a sua cabeça não parava de pensar. Queria que tudo desse certo, mas se fosse contratada, não sabia se conseguiria chegar até o fim. Todas as vezes que tentou se imaginar junto de um homem estranho, sentiu o seu estômago revirar. Nunca teve uma transa fora de um relacionamento, e iss
Ainda na agência...— O que ela está fazendo aqui? Ela não pode me ver! — A voz de Murilo beirava o desespero.— O que deu em você, Murilo? Por que está parecendo que viu um fantasma? — Theodoro questiona erguendo a sobrancelha — Mas eu vi.Nesse instante ela olhou ao redor e Murilo se escondeu atrás de Theodoro. Se Suzana o visse por aqui, acabariam todas as chances de ele conquistá-la. — Vamos voltar para a minha sala. — Murilo sequer deu tempo do amigo protestarOs dois voltaram como foragidos para a sala de Murilo, o que fez Theodoro perder a paciência de vez. O seu amigo andava com sérios problemas, e ele já estava chegando ao limite com isso.— Que porra está acontecendo? Quem era aquela mulher?— Cala a boca, Théo, agora não.Com desespero, Murilo ligou para Olga em busca de informações. Se a Suzana estivesse aqui pelo motivo que estava pensando, não sabia o que faria. Não podia deixar que ela se tornasse uma de suas garotas, ela era especial demais para esse tipo de serviço
O desespero de Suzana a deixava tão incapacitada, que ela não tinha forças sequer de sair correndo do lugar. Agora que estava na agência, ela não sabia como teve a coragem de cogitar ser uma garota de programa. Se para fazer uma simples entrevista, estava tendo palpitações descompassadas no coração, imagina como não ficaria se tivesse que ir para a cama com um cliente? Definitivamente isso não era para ela.Quando disse isso para si mesma, se sentiu aliviada e se preparou para ir embora. Segurou a sua bolsa com força e levantou, mas no primeiro passo que deu, uma jovem mulher apareceu e a chamou. O seu corpo quase entrou em síncope, mas ela conseguiu se segurar em seus belos saltos.— Por favor, venha por aqui, senhorita.Por alguns segundos, cogitou dizer que estava indo embora, mas acabou respirando fundo e seguindo a mulher. Faria a entrevista, mas no final diria que não está apta para o serviço. Por mais que precisasse de dinheiro rápido, dormir com diversos homens não estava ao s
Ainda na agência Theodoro começa o seu interrogatório, mas no fundo ele já sabia de todas as respostas.— Qual sua especialidade na cama? Preciso saber o que gosta ou não de fazer. – Como um verdadeiro profissional, ele começou a listar todas as habilidades que uma verdadeira garota de programa deveria fazer"Você aceita participar de trios masculinos, ou só com outra mulher?""Importa-se de participar de swing? Anal é um problema para você? Tenho clientes que só gostam dessa modalidade."O rosto de Suzana ganhou um tom vermelho adorável, e Theodoro mordeu o lábio para não rir do constrangimento dela. Podia estar enganado, mas ela nunca fez nada disso, incluindo o anal. Essa mulher seria um desastre como funcionária de Murilo. Ainda bem que ele não tinha intenção de disponibilizá-la para os seus clientes.— Eu... – Suzana queria abrir um buraco no chão e sumir. Nunca conseguiria discutir sobre sexo com um homem como ele.— Tenho clientes apenas do sexo feminino e preciso saber se você
No Escritório...— Tem certeza que quer trabalhar aqui?— Eu preciso. – Ela respondeu de imediato, encarando os seus olhos, descobrindo que eram de um tom azul acinzentado.— Está disposta a aprender a agradar meus clientes?— Sim. – Suzana respondeu, quase hipnotizada por seu chefe, ele era deslumbrante e tocava o seu rosto, fazendo com que ela desejasse que a possuísse aqui e agora!Uma respiração funda escapou de Theodoro, e ele retirou a mão do seu rosto para não culpar esse toque da decisão absurda que tinha acabado de tomar. Mesmo querendo se afastar dela, uma força invisível o fazia desejá-la como nunca desejou outra mulher. E para ficar com ela, ele faria o que sempre excomungou em outros homens. Ele iria pagar para ter Ashley, não importaria quanto fosse, mas ela seria sua e depois ele daria um jeito de encaminhá-la para um emprego descente e a tiraria das possíveis garras do seu amigo.— Se é isso o que você quer, eu vou te passar o endereço de um laboratório e você fará exa
Minutos depois da saída de Suzana...— O que aconteceu aqui? Por que ficou tanto tempo com ela?Tentando fingir desinteresse, Theodoro caminhou pela sala do amigo e olhou o relógio. Se ficasse ali, iria ter que dar satisfações para ele, e isso era algo que não estava em seus planos, já que burlou as ordens do amigo. Por isso não queria ficar perto dele e assumir que a loira o deixou perturbado. Na verdade, perturbado não era palavra certa, mas chegava perto do sentimento que sentiu quando a viu cara a cara.— Eu mandei a menina fazer os exames, acho que amanhã ela estará de volta, ou talvez não. Pelo pouco que conversei com ela, estava bem nervosa, mas ao menos aceitou ir ao laboratório. A sua Pit Bull de estimação quis me interrogar, mas eu a coloquei no lugar que ela nunca deveria ter saído. Então acho que no fim tudo ocorreu bem. – Não responder as perguntas das pessoas era uma maneira de demonstrar que ele não se importava com as questões delas e agora estava demonstrando ao seu a