Uma semana depois
— O que é isso? – Priscila se assustou com o papel que Suzana jogou na mesa.— Leia! – Suzana acomodou a sobrinha no colo e fez sinal para a amiga olhar o papelAssim que Priscila começou a ler, sentiu-se indignada. Não era possível que aquele monstro desceu nesse nível. Ele não podia ter desferido esse último golpe na amiga, era muita crueldade até para alguém como ele.— Não acredito que ele fez isso.— Trezentos mil reais, Pri. Eu estou devendo trezentos mil reais ao banco e sequer sei onde esse dinheiro está. Como vou conseguir seguir em frente com uma dívida dessas? Até para arrumar emprego é difícil.O desespero na voz da amiga desestabilizou Priscila.De fato, a situação de Suzana só piorava, além de não ter casa e emprego, agora ela devia uma bolada ao cartão de crédito e ao banco. Realmente seria difícil seguir em frente, a situação estava ainda mais complicada.— Quem te enviou essa cobrança?— O gerente do meu banco me ligou e avisou que o Joaquim pegou um empréstimo em meu nome. Ele fez isso poucos dias antes que eu descobrisse o seu golpe.— Jesus! – As palavras sumiram da boca de Priscila, era impossível encontrar uma palavra de conforto mediante tanta covardia— O doutor Wallace conseguiu suspender a procuração, mas tudo o que ele fez antes está valendo. Para reverter a situação, eu teria que provar que fui coagida a assinar esse documento.— E você já conseguiu descobrir como assinou? – Por alguns segundos, sua amiga ficou quieta, pelo jeito ela já sabia o que tinha acontecido e não queria contar. – Pode falar comigo, eu estou aqui para ajudar você.— Ele me dopou, eu assinei isso depois de uma reunião na nossa casa. Eu me lembro de que depois da festa nós tomamos champanhe, e o gosto da bebida não estava normal. Ele me disse que era impressão minha, mas na hora eu acreditei. Lembro vagamente que assinei papéis e dele dizendo que meu coração de ouro ainda iria acabar com a minha vida.— Que filho da puta! Por que não me contou isso antes?— E o que iria adiantar? Não diminuiria a minha estupidez. Eu acreditei nele e entreguei toda a minha vida em suas mãos, agora estou aqui no fundo do poço. O que eu vou fazer para sobreviver? Como vou sustentar essa criança devendo um dinheiro que nunca vou poder pagar?O cerco se fechou na vida de Suzana, ela realmente estava em uma enrascada, seria difícil seguir em frente.Porém Priscila pensou que levá-la para trabalhar em sua agência seria uma grande roubada. Ela sabia que no momento em que a amiga descobrisse o que fazia para viver, iria julgá-la, e perder a amizade dela era a última coisa que desejava. Mas, por outro lado, com toda a beleza da amiga, ela poderia ganhar um bom dinheiro com os ricos depravados da cidade. Se ela soubesse usar da sua beleza, em pouco tempo estaria longe das dívidas.— Suzana, talvez eu tenha a solução para você começar a se reerguer, mas quero que prometa que me escutará com calma e que não me julgará.Suzana arregalou os olhos ao ouvir o pedido da amiga. Algo grave devia estar acontecendo para ela fazer esse tipo de pedido.— O que você quer dizer com isso?Por alguns segundos, Priscila se manteve calada, revelar sua verdadeira vida não era fácil. Ninguém sabia o que ela fazia para sobreviver e dizer isso para a melhor amiga era complicado. Suzana sempre foi certinha demais, com uma vida tranquila e organizada. Certamente não aceitaria o seu trabalho e iria recriminá-la.— Será que você pode parar de fazer suspense? Estou ficando nervosa. – Ela sentou-se na cadeira ao lado de Priscila e apoiou Sofia em seu colo. – Desembucha, Pri, quero saber dessa solução.— Bem... – Priscila tentou encontrar as palavras certas. – Amiga, eu trabalho em uma agência, mas não faço festas badaladas, como te disse, na verdade, eu... – Ela engasgou com medo de dizer a verdadeNão se orgulhava do que fazia, mas pagou seus estudos e estava perto de conseguir comprar a casa que morava trabalhando na agência.— Continue, por favor.— Certo. – Ela se encheu de coragem para terminar de falar. – Na verdade sou uma acompanhante de luxo. Saio com homens ricos nas noites da cidade, eles me pagam muito bem para isso e graças a esse dinheiro, paguei a faculdade e estou pensando em comprar essa casa. Sei que não é o certo, mas eu também já tive meus momentos de desespero, e o que me salvou foi esse emprego.A expressão incrédula no rosto da amiga desestabilizou Priscila. Ela estava quase chorando pelo desespero que sentiu em imaginar a rejeição de Suzana. Se ela não entendesse sua escolha de vida e quebrasse a amizade delas, seria a sua ruína. Priscila não saberia o que fazer sem o apoio da amiga.— Fala alguma coisa, não me deixe em pânico. – As lágrimas começaram a acumular nos olhos de Priscila— Você está me dizendo que faz programas? – Sem conseguir falar, Priscila apenas assentiu positivamente para a amiga. – Meu Deus! – O tom de incredulidade da amiga deixou Priscila alarmada— Suzana... – Ela se aproximou da amiga e a encarou com desespero. – Eu sei que não estou fazendo a coisa certa, mas foi graças a isso que consegui estabilizar a minha vida. Em breve, eu poderei encontrar outro serviço e largar tudo.— Pri, não estou te julgando, mas... – Por alguns segundos, Suzana tentou organizar as suas ideias, descobrir que sua amiga era uma prostituta de luxo não estava sendo fácil. – Nunca imaginei que você fizesse algo assim, mas o desespero nos leva para lugares perigosos.— É verdade. – Em muitos momentos da vida, Priscila se viu desesperadaDepois que sua mãe virou uma fanática religiosa, a sua vida se transformou completamente, e teve que aprender a se virar sozinha para escapar das loucuras da mãe.– Eu tive que encontrar alternativas depois que minha mãe se casou com o tal pastor milagreiro. Ela se transformou em outra pessoa, e não dava mais para conviver com ela.— Eu sei disso, amiga, não precisa se justificar, jamais vou te julgar. – Por mais chocada que Suzana estivesse, não iria apontar o erro da amiga. Na verdade, ela entendia o sentimento que o desespero trazia e estava disposta a seguir o caminho de Priscila. – Hoje eu sei como a vida é cruel, e se você puder me ajudar, eu quero tentar uma vaga na sua agência. Preciso organizar a minha vida, e se essa for a única solução, não me importo.Por alguns segundos, Priscila ficou passada, não esperava ouvir isso de Suzana, pelo contrário, ela esperavatodo tipo de ataque, menos essa compreensão.— Tem certeza disso? Você sempre foi tão... tranquila, até mesmo tímida.— Você também, na verdade, você sempre foi mais recata do que eu. E agora você seduz homens por dinheiro, então não me venha com essa desculpa.— Suzana, não é tão simples. Às vezes, os caras querem apenas companhia para um jantar, em outras querem conversar, mas, na maioria das vezes, eles querem transar depois do evento e não podemos dizer não desde que aceitamos o serviço.O estômago de Suzana se revirou ao perceber a realidade cruel do que teria que enfrentar, mas quando olhou para o rostinho risonho da sobrinha, percebeu que não teria para onde fugir. Precisava de uma vida nova e de condições para criar sua pequena.— Isso vai me dar condições de pagar o que estou devendo e cuidar da Sofia? – A sua pergunta para a amiga era cheia de esperança— Vai sim, em pouco tempo, terá um bom dinheiro guardado e poderá negociar a sua dívida. Se você tiver sorte de arrumar um padrinho generoso, terá sua dívida paga em pouco tempo.— Padrinho generoso? O que é isso? – Priscila sorriu da curiosidade da amiga— Padrinho generoso é como as meninas chamam seus clientes cativos que as ajudam no que precisam. Tem homens que gostam das mesmas meninas e sempre pedem seus serviços. Isso acaba sendo mais caro, e elas faturam mais. Em alguns casos, eles se envolvem nos problemas delas e ajudam financeiramente. Isso não acontece sempre, mas de vez em quando algumas conseguem um.— Você tem um padrinho?— Não tenho ninguém que se envolva com a minha vida pessoal, mas já tive clientes generosos que me ajudaram muito e, por sorte, eu costumo sair com clientes cativos sim, porém, eu não costumo envolvê-los na minha vida íntima, eu prefiro assim. Na verdade, eu tive sorte, amiga, meus clientes foram poucos e todos agradáveis.Suzana tentou entender o que Priscila quis dizer com agradáveis e quis muito encontrar clientes assim.— Então agora é a vez de você me ajudar. Eu quero ir com você, preciso de uma luz no fim do túnel, Pri, e talvez eu consiga nessa agência.— Tem certeza que quer isso? Não é fácil, amiga. Ao menos três vezes por semana você terá algum compromisso.— Não tenho outro caminho que me ajude em pouco tempo. Se você conseguiu suportar até hoje, eu também posso. Sexo não é nenhum mistério para mim.— Nada é tão simples assim, mas você pode tentar.Pela primeira vez, Suzana sentiu um pouco de esperança, nunca imaginou que venderia o seu corpo para conseguir dinheiro, mas na situação em que sua vida se encontrava, não poderia pensar no que é certo. Agora tudo o que importava era o bem-estar da sua pequena sobrinha.Sofia era sua grande razão de viver e a alegria que a fazia acordar todos os dias. Apesar de mudar completamente seu ritmo de vida e ficar sem a mãe, a pequena demonstrava uma garra e alegria que faltava a Íris. O sorriso que Sofia sempre acordava pela manhã era o combustível que ela precisava para lutar pelo futuro de ambas.Continua...Depois que Suzana resolveu o seu destino, um certo temor a deixou agitada. Agora que estava nas vésperas da entrevista na agência, ela estava nervosa. Ela não tinha muita experiência sexual, só teve dois homens em sua vida, isso a tornava uma mulher limitada no sexo. A verdade era que Suzana sempre foi tímida na cama e por isso fugia dos vários pretendentes que aparecia. Transou pela primeira vez com um antigo namorado de escola e com ele teve um relacionamento duradouro. Eles ficaram dois anos juntos, e depois dele, Suzana se manteve afastada dos homens até que conheceu seu cretino ex-marido.Essa sua falta de experiência estava deixando-a temerosa. Como iria dizer na entrevista que só transou com dois caras? Teria que mentir e dizer que tinha uma longa lista de homens na sua cama, caso contrário, perderia essa oportunidade de reerguer a sua vida.Ela ainda não sabia o que faria no momento em que ficasse sozinha com um cliente, mas teria que encontrar forças para fazer o que espera
Horas depois — Esse homem que você encontrou era amigo do canalha?— Era, mas sempre foi uma pessoa muito solícita. Tanto que ele foi o único que me ofereceu ajuda.— Não confio muito nele, amiga, vai que esse homem esteja de conluio com o seu ex? Do jeito que esse homem te massacrou, eu não confio em nada nos amigos dele.— Mas o Murilo apenas tinha negócios com o Joaquim, eles não eram amigos de fato, apenas parceiros de negócios.Priscila não se convenceu dessa história, mas ia tentar descobrir quem era esse Murilo. Ela não deixaria à amiga se meter em mais uma furada.— Nervosa para a entrevista que vai ter amanhã?— Muito. – Na verdade, Suzana não dormia há dois diasPor mais que tentasse se acalmar, a sua cabeça não parava de pensar. Queria que tudo desse certo, mas se fosse contratada, não sabia se conseguiria chegar até o fim. Todas as vezes que tentou se imaginar junto de um homem estranho, sentiu o seu estômago revirar. Nunca teve uma transa fora de um relacionamento, e iss
Ainda na agência...— O que ela está fazendo aqui? Ela não pode me ver! — A voz de Murilo beirava o desespero.— O que deu em você, Murilo? Por que está parecendo que viu um fantasma? — Theodoro questiona erguendo a sobrancelha — Mas eu vi.Nesse instante ela olhou ao redor e Murilo se escondeu atrás de Theodoro. Se Suzana o visse por aqui, acabariam todas as chances de ele conquistá-la. — Vamos voltar para a minha sala. — Murilo sequer deu tempo do amigo protestarOs dois voltaram como foragidos para a sala de Murilo, o que fez Theodoro perder a paciência de vez. O seu amigo andava com sérios problemas, e ele já estava chegando ao limite com isso.— Que porra está acontecendo? Quem era aquela mulher?— Cala a boca, Théo, agora não.Com desespero, Murilo ligou para Olga em busca de informações. Se a Suzana estivesse aqui pelo motivo que estava pensando, não sabia o que faria. Não podia deixar que ela se tornasse uma de suas garotas, ela era especial demais para esse tipo de serviço
O desespero de Suzana a deixava tão incapacitada, que ela não tinha forças sequer de sair correndo do lugar. Agora que estava na agência, ela não sabia como teve a coragem de cogitar ser uma garota de programa. Se para fazer uma simples entrevista, estava tendo palpitações descompassadas no coração, imagina como não ficaria se tivesse que ir para a cama com um cliente? Definitivamente isso não era para ela.Quando disse isso para si mesma, se sentiu aliviada e se preparou para ir embora. Segurou a sua bolsa com força e levantou, mas no primeiro passo que deu, uma jovem mulher apareceu e a chamou. O seu corpo quase entrou em síncope, mas ela conseguiu se segurar em seus belos saltos.— Por favor, venha por aqui, senhorita.Por alguns segundos, cogitou dizer que estava indo embora, mas acabou respirando fundo e seguindo a mulher. Faria a entrevista, mas no final diria que não está apta para o serviço. Por mais que precisasse de dinheiro rápido, dormir com diversos homens não estava ao s
Ainda na agência Theodoro começa o seu interrogatório, mas no fundo ele já sabia de todas as respostas.— Qual sua especialidade na cama? Preciso saber o que gosta ou não de fazer. – Como um verdadeiro profissional, ele começou a listar todas as habilidades que uma verdadeira garota de programa deveria fazer"Você aceita participar de trios masculinos, ou só com outra mulher?""Importa-se de participar de swing? Anal é um problema para você? Tenho clientes que só gostam dessa modalidade."O rosto de Suzana ganhou um tom vermelho adorável, e Theodoro mordeu o lábio para não rir do constrangimento dela. Podia estar enganado, mas ela nunca fez nada disso, incluindo o anal. Essa mulher seria um desastre como funcionária de Murilo. Ainda bem que ele não tinha intenção de disponibilizá-la para os seus clientes.— Eu... – Suzana queria abrir um buraco no chão e sumir. Nunca conseguiria discutir sobre sexo com um homem como ele.— Tenho clientes apenas do sexo feminino e preciso saber se você
No Escritório...— Tem certeza que quer trabalhar aqui?— Eu preciso. – Ela respondeu de imediato, encarando os seus olhos, descobrindo que eram de um tom azul acinzentado.— Está disposta a aprender a agradar meus clientes?— Sim. – Suzana respondeu, quase hipnotizada por seu chefe, ele era deslumbrante e tocava o seu rosto, fazendo com que ela desejasse que a possuísse aqui e agora!Uma respiração funda escapou de Theodoro, e ele retirou a mão do seu rosto para não culpar esse toque da decisão absurda que tinha acabado de tomar. Mesmo querendo se afastar dela, uma força invisível o fazia desejá-la como nunca desejou outra mulher. E para ficar com ela, ele faria o que sempre excomungou em outros homens. Ele iria pagar para ter Ashley, não importaria quanto fosse, mas ela seria sua e depois ele daria um jeito de encaminhá-la para um emprego descente e a tiraria das possíveis garras do seu amigo.— Se é isso o que você quer, eu vou te passar o endereço de um laboratório e você fará exa
Minutos depois da saída de Suzana...— O que aconteceu aqui? Por que ficou tanto tempo com ela?Tentando fingir desinteresse, Theodoro caminhou pela sala do amigo e olhou o relógio. Se ficasse ali, iria ter que dar satisfações para ele, e isso era algo que não estava em seus planos, já que burlou as ordens do amigo. Por isso não queria ficar perto dele e assumir que a loira o deixou perturbado. Na verdade, perturbado não era palavra certa, mas chegava perto do sentimento que sentiu quando a viu cara a cara.— Eu mandei a menina fazer os exames, acho que amanhã ela estará de volta, ou talvez não. Pelo pouco que conversei com ela, estava bem nervosa, mas ao menos aceitou ir ao laboratório. A sua Pit Bull de estimação quis me interrogar, mas eu a coloquei no lugar que ela nunca deveria ter saído. Então acho que no fim tudo ocorreu bem. – Não responder as perguntas das pessoas era uma maneira de demonstrar que ele não se importava com as questões delas e agora estava demonstrando ao seu a
Dois dias se passaram desde que Theodoro encontrou com Ashley, e ele estava uma pilha de nervos com a ausência de notícias dela, se sentia frustrado por não saber onde a encontrar. Esperar não era algo que ele fazia com frequência, e perder o controle da situação era inadmissível. Sua frustração era tanta, que o seu humor, que já não era dos melhores, se tornou insuportável. Ele odiava as perguntas das pessoas e estava se sentindo incomodado com todos querendo saber se ele estava bem. Cada vez que ouvia uma pessoa perguntar se estava com algum problema, tinha vontade de gritar. Em muitos momentos, o seu desejo era berrar que ele só ficaria bem quando fodesse a loira exuberante que prendeu a sua atenção. Mas, infelizmente, não podia fazer isso.— Por que está tão agitado, meu filho? – Sua mãe perguntou ao notar o filho caladoSempre que estavam juntos, eles conversam sobre tudo e, às vezes, sobre nada.— Estou cansado, mãe, são tantos problemas na empresa, que me esgota. – Ele sorriu e