▪︎Capítulo 5▪︎

Uma semana depois

— O que é isso? – Priscila se assustou com o papel que Suzana jogou na mesa.

— Leia! – Suzana acomodou a sobrinha no colo e fez sinal para a amiga olhar o papel

Assim que Priscila começou a ler, sentiu-se indignada. Não era possível que aquele monstro desceu nesse nível. Ele não podia ter desferido esse último golpe na amiga, era muita crueldade até para alguém como ele.

— Não acredito que ele fez isso.

— Trezentos mil reais, Pri. Eu estou devendo trezentos mil reais ao banco e sequer sei onde esse dinheiro está. Como vou conseguir seguir em frente com uma dívida dessas? Até para arrumar emprego é difícil.

O desespero na voz da amiga desestabilizou Priscila.

De fato, a situação de Suzana só piorava, além de não ter casa e emprego, agora ela devia uma bolada ao cartão de crédito e ao banco. Realmente seria difícil seguir em frente, a situação estava ainda mais complicada.

— Quem te enviou essa cobrança?

— O gerente do meu banco me ligou e avisou que o Joaquim pegou um empréstimo em meu nome. Ele fez isso poucos dias antes que eu descobrisse o seu golpe.

— Jesus! – As palavras sumiram da boca de Priscila, era impossível encontrar uma palavra de conforto mediante tanta covardia

— O doutor Wallace conseguiu suspender a procuração, mas tudo o que ele fez antes está valendo. Para reverter a situação, eu teria que provar que fui coagida a assinar esse documento.

— E você já conseguiu descobrir como assinou? – Por alguns segundos, sua amiga ficou quieta, pelo jeito ela já sabia o que tinha acontecido e não queria contar. – Pode falar comigo, eu estou aqui para ajudar você.

— Ele me dopou, eu assinei isso depois de uma reunião na nossa casa. Eu me lembro de que depois da festa nós tomamos champanhe, e o gosto da bebida não estava normal. Ele me disse que era impressão minha, mas na hora eu acreditei. Lembro vagamente que assinei papéis e dele dizendo que meu coração de ouro ainda iria acabar com a minha vida.

— Que filho da puta! Por que não me contou isso antes?

— E o que iria adiantar? Não diminuiria a minha estupidez. Eu acreditei nele e entreguei toda a minha vida em suas mãos, agora estou aqui no fundo do poço. O que eu vou fazer para sobreviver? Como vou sustentar essa criança devendo um dinheiro que nunca vou poder pagar?

O cerco se fechou na vida de Suzana, ela realmente estava em uma enrascada, seria difícil seguir em frente.

Porém Priscila pensou que levá-la para trabalhar em sua agência seria uma grande roubada. Ela sabia que no momento em que a amiga descobrisse o que fazia para viver, iria julgá-la, e perder a amizade dela era a última coisa que desejava. Mas, por outro lado, com toda a beleza da amiga, ela poderia ganhar um bom dinheiro com os ricos depravados da cidade. Se ela soubesse usar da sua beleza, em pouco tempo estaria longe das dívidas.

— Suzana, talvez eu tenha a solução para você começar a se reerguer, mas quero que prometa que me escutará com calma e que não me julgará.

Suzana arregalou os olhos ao ouvir o pedido da amiga. Algo grave devia estar acontecendo para ela fazer esse tipo de pedido.

— O que você quer dizer com isso?

Por alguns segundos, Priscila se manteve calada, revelar sua verdadeira vida não era fácil. Ninguém sabia o que ela fazia para sobreviver e dizer isso para a melhor amiga era complicado. Suzana sempre foi certinha demais, com uma vida tranquila e organizada. Certamente não aceitaria o seu trabalho e iria recriminá-la.

— Será que você pode parar de fazer suspense? Estou ficando nervosa. – Ela sentou-se na cadeira ao lado de Priscila e apoiou Sofia em seu colo. – Desembucha, Pri, quero saber dessa solução.

— Bem... – Priscila tentou encontrar as palavras certas. – Amiga, eu trabalho em uma agência, mas não faço festas badaladas, como te disse, na verdade, eu... – Ela engasgou com medo de dizer a verdade

Não se orgulhava do que fazia, mas pagou seus estudos e estava perto de conseguir comprar a casa que morava trabalhando na agência.

— Continue, por favor.

— Certo. – Ela se encheu de coragem para terminar de falar. – Na verdade sou uma acompanhante de luxo. Saio com homens ricos nas noites da cidade, eles me pagam muito bem para isso e graças a esse dinheiro, paguei a faculdade e estou pensando em comprar essa casa. Sei que não é o certo, mas eu também já tive meus momentos de desespero, e o que me salvou foi esse emprego.

A expressão incrédula no rosto da amiga desestabilizou Priscila. Ela estava quase chorando pelo desespero que sentiu em imaginar a rejeição de Suzana. Se ela não entendesse sua escolha de vida e quebrasse a amizade delas, seria a sua ruína. Priscila não saberia o que fazer sem o apoio da amiga.

— Fala alguma coisa, não me deixe em pânico. – As lágrimas começaram a acumular nos olhos de Priscila

— Você está me dizendo que faz programas? – Sem conseguir falar, Priscila apenas assentiu positivamente para a amiga. – Meu Deus! – O tom de incredulidade da amiga deixou Priscila alarmada

— Suzana... – Ela se aproximou da amiga e a encarou com desespero. – Eu sei que não estou fazendo a coisa certa, mas foi graças a isso que consegui estabilizar a minha vida. Em breve, eu poderei encontrar outro serviço e largar tudo.

— Pri, não estou te julgando, mas... – Por alguns segundos, Suzana tentou organizar as suas ideias, descobrir que sua amiga era uma prostituta de luxo não estava sendo fácil. – Nunca imaginei que você fizesse algo assim, mas o desespero nos leva para lugares perigosos.

— É verdade. – Em muitos momentos da vida, Priscila se viu desesperada

Depois que sua mãe virou uma fanática religiosa, a sua vida se transformou completamente, e teve que aprender a se virar sozinha para escapar das loucuras da mãe.

– Eu tive que encontrar alternativas depois que minha mãe se casou com o tal pastor milagreiro. Ela se transformou em outra pessoa, e não dava mais para conviver com ela.

— Eu sei disso, amiga, não precisa se justificar, jamais vou te julgar. – Por mais chocada que Suzana estivesse, não iria apontar o erro da amiga. Na verdade, ela entendia o sentimento que o desespero trazia e estava disposta a seguir o caminho de Priscila. – Hoje eu sei como a vida é cruel, e se você puder me ajudar, eu quero tentar uma vaga na sua agência. Preciso organizar a minha vida, e se essa for a única solução, não me importo.

Por alguns segundos, Priscila ficou passada, não esperava ouvir isso de Suzana, pelo contrário, ela esperava

todo tipo de ataque, menos essa compreensão.

— Tem certeza disso? Você sempre foi tão... tranquila, até mesmo tímida.

— Você também, na verdade, você sempre foi mais recata do que eu. E agora você seduz homens por dinheiro, então não me venha com essa desculpa.

— Suzana, não é tão simples. Às vezes, os caras querem apenas companhia para um jantar, em outras querem conversar, mas, na maioria das vezes, eles querem transar depois do evento e não podemos dizer não desde que aceitamos o serviço.

O estômago de Suzana se revirou ao perceber a realidade cruel do que teria que enfrentar, mas quando olhou para o rostinho risonho da sobrinha, percebeu que não teria para onde fugir. Precisava de uma vida nova e de condições para criar sua pequena.

— Isso vai me dar condições de pagar o que estou devendo e cuidar da Sofia? – A sua pergunta para a amiga era cheia de esperança

— Vai sim, em pouco tempo, terá um bom dinheiro guardado e poderá negociar a sua dívida. Se você tiver sorte de arrumar um padrinho generoso, terá sua dívida paga em pouco tempo.

— Padrinho generoso? O que é isso? – Priscila sorriu da curiosidade da amiga

— Padrinho generoso é como as meninas chamam seus clientes cativos que as ajudam no que precisam. Tem homens que gostam das mesmas meninas e sempre pedem seus serviços. Isso acaba sendo mais caro, e elas faturam mais. Em alguns casos, eles se envolvem nos problemas delas e ajudam financeiramente. Isso não acontece sempre, mas de vez em quando algumas conseguem um.

— Você tem um padrinho?

— Não tenho ninguém que se envolva com a minha vida pessoal, mas já tive clientes generosos que me ajudaram muito e, por sorte, eu costumo sair com clientes cativos sim, porém, eu não costumo envolvê-los na minha vida íntima, eu prefiro assim. Na verdade, eu tive sorte, amiga, meus clientes foram poucos e todos agradáveis.

Suzana tentou entender o que Priscila quis dizer com agradáveis e quis muito encontrar clientes assim.

— Então agora é a vez de você me ajudar. Eu quero ir com você, preciso de uma luz no fim do túnel, Pri, e talvez eu consiga nessa agência.

— Tem certeza que quer isso? Não é fácil, amiga. Ao menos três vezes por semana você terá algum compromisso.

— Não tenho outro caminho que me ajude em pouco tempo. Se você conseguiu suportar até hoje, eu também posso. Sexo não é nenhum mistério para mim.

— Nada é tão simples assim, mas você pode tentar.

Pela primeira vez, Suzana sentiu um pouco de esperança, nunca imaginou que venderia o seu corpo para conseguir dinheiro, mas na situação em que sua vida se encontrava, não poderia pensar no que é certo. Agora tudo o que importava era o bem-estar da sua pequena sobrinha.

Sofia era sua grande razão de viver e a alegria que a fazia acordar todos os dias. Apesar de mudar completamente seu ritmo de vida e ficar sem a mãe, a pequena demonstrava uma garra e alegria que faltava a Íris. O sorriso que Sofia sempre acordava pela manhã era o combustível que ela precisava para lutar pelo futuro de ambas.

Continua...

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