Capítulo 03

NARRAÇÃO DE ALEXANDER....

Subi na moto e segui para o centro da cidade.

Estacionei a moto próximo de um banco e olhei o calçadão, naquele calor. Respirei fundo entediado... odeio fazer compras ali! Lilly colocou um monte de coisas na lista, não encontraria um terço no shopping. Lá fui eu atrás das coisas que Lilly anotou, parei de má vontade e pedi informação, para uma pessoa que andava na rua.

- Onde encontro muda de flores? Me deixa ler aqui... - Falei olhando atentamente o nome das flores. - Hum, tulipas, girassol, antúrio... Acho que é isso.

- Não precisa detalhar os nomes das flores. Todo mundo sabe que encontramos flores em uma floricultura. - Parei de olhar o papel, depois de ouvir aquele homem mal educado.

- E ONDE TEM UMA FLORICULTURA?! - Perguntei, irritado. Se ele soubesse como estou sem paciência... O homem riu e apontou para o lado. Coincidentemente, eu havia parado em frente a uma floricultura.

- OBRIGADO!!! - Encarei aquele homem, na base do ódio, enquanto entrava na floricultura. Ele se afastou assustado, acho que viu o meu revólver quando ventou e minha blusa subiu um pouco.

Lá dentro consegui tudo o que queria, inclusive as benditas sementes. Voltei para o calçadão e continuei comprando, item por item...escova de cabelo, condicionador, escova de dente e por último travei no meio da rua: calcinhas.

Fechei os olhos e respirei fundo. Isso não vai dar certo...

Olhei uma loja de roupas e entrei. Uma atendente se aproximou sorrindo.

- Boa tarde. Precisa de ajuda?

- Boa tarde, preciso de calcinhas. - Ela me julgou com os olhos, péssima atendente !

- É para minha irmã, ela está resfriada e sem calcinhas. - Disse entre os dentes. Carälho, só me födo!

- Qual tamanho? - Analisei o corpo magrelo daquela atendente.

- Maior do que a sua, ela tem um quadril mais avantajado, tipo assim. - Gesticulei com as mãos mostrando o tamanho. A atendente voltou a me julgar, só com os olhos. Respirei fundo e disse:

- Tenha uma boa tarde. - Saí da loja, pensando: essa perdeu a venda. Continuei caminhando e entrei em outra loja. A atendente parecia mais profissional e eu estava mais preparado pra comprar.

- Boa tarde, eu estou à procura de calcinhas que caibam em uma perna grossa e uma bundä avantajada. - A atendente riu e me levou até o setor das calcinhas e sutiãs.

- Presente para a namorada? Eu tenho umas lindas de renda e muitos sensuais.

- Não. Sem sensualidade. E para uma criança. Na verdade para uma adolescente, minha irmã. - Expliquei.

- Aah. Então, tenho essa branca de rendinha linda! - A atendente mostrou aquela calcinha, aquela merda estava me deixando envergonhado!

- Isso vai caber nela? - Perguntei tirando meus olhos da calcinha. A atendente riu.

- Preciso saber do tamanho da calcinha.

- Ela não falou. Quer dizer, espera! - Peguei o papel em meu bolso e olhei a lista novamente. Calcinha tamanho M.

Me senti mais idiotä ainda, não me julguem! Eu nunca tinha comprado uma calcinha e outras roupas. Estou aprendendo, porrä!

- Calcinha tamanho M.

- Está bem. Vamos escolher?

- Você escolhe e eu pago. Pode pegar sei lá... trinta? Acho que trinta calcinhas é o suficiente. - Falei me afastando. Se for pouco eu compro mais. Pensei nessa quantidade porque eu sei que as mulheres ficam molhadas, não sei como é no dia a dia. Só sei que, quando eu estou metendo, ficam encharcadas. Então, essas garotas devem trocar de calcinha umas 7 vezes por dia...eu acho.

Paguei as calcinhas e finalmente peguei a moto e voltei para a fazenda secreta. Parei em frente à porteira e vi Lilly tentando arrancar um mamão, com um bambu. Ia só entregar as coisas pela porteira mas resolvi ajudar, mesmo correndo o risco de ser encontrado.

Abri a porteira, ela escutou e abriu um sorriso, ainda segurando o bambu.

- Ale! Me ajuda. O mamão está maduro! Ajude-me a colher, antes que os maribondos ataquem! - Ri. Eu gostava dessas aventuras que ela aprontava. Semana passada ela colocou uma armadilha no açude e conseguiu pegar um Tambaqui gigante! Ela me ensinou a limpar o peixe, fritamos e comemos juntos. Aproveitei pra comprar algumas cervejas, peixe frito combina com cerveja gelada. Ela pediu para experimentar a cerveja, mas como sou um bom pai, disse não. Ela não pode chegar aos dezoito anos alcoólatra. Aaah! Esqueci de falar. Nesses últimos dias não tenho aparecido na escola. Mato aula e fico aqui na roça. É assim que Lilly fala. Roça! Inclusive ela disse que quer criar galinhas. Não sei onde vou arranjar galinhas! Onde se compra as porräs de galinhas vivas?! Não shopping não é... Já procurei.

Caminhei até ela e peguei o bambu.

- Cuidado com a cabeça! - Lilly riu, empolgada.

- Essa porrä vai cair no chão e vai estragar tudo.

- Claro que não! - Lilly falou irritada. Ri e empurrei o mamão amarelo quase abóbora por estar tão maduro.

Caiu bonito no chão, estourando tudo. Restaram as sementes pretas, espalhadas ao chão.

- Agora você tem sementes. - Falei rindo.

- Aaah... Estava aguando por ele. - Lilly ficou com o semblante caído, olhando o pobre mamão estourado.

- Se colocasse na lista eu teria comprado um.

- Mas não é a mesma coisa! Frutas da Cidade são sem sabor. Agora daqui, não, elas são docinhas...

- Uma hora nasce outro. - Falei olhando o pé de mamão.

- Vai demorar... - Lilly resmungou, encostando a cabeça em meu peito, de novo! Olhei aquele gesto, super incomodado.

- Não aprende, Lilly?! Pare com isso. - Empurrei a cabeça dela, ouvindo sua risada.

- Amanhã tem mais listas! Galinha, porco, e um cavalo. - Berrei em deboche.

- Vai esperando... Vou lá! Mantenha a porteira fechada e não se esqueça de trancar a porta, quando anoitecer! As coisas estão na varanda. Dessa vez lembrei das sementes de abóbora. - Lilly comemorou, dando pulinhos. Correu até a sacola que deixei na varanda, como uma garotinha, procurando o presente de Natal. Acho bonito aquela empolgação. Viveu tantos anos oprimida, sem direito a nada... agora qualquer coisa é motivo para comemorar. Ela é minha filha, mas é minha melhor amiga. Nunca pensei que teria uma amiga mulher. Saí da roça da Lilly, deixando a paz e leveza daquele lugar. Respirei fundo, coloquei o capacete, pronto para voltar à fazenda do tio Gabriel e estragar o resto do dia, daquele que se diz meu pai.

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