Capítulo 4

Adriel Lobo.

Na igreja todos estavam apreensivos com a demora da noiva, meus pais não paravam de sussurrar em meu ouvido, perguntando sobre a garota que estava a trinta minutos, atrasada.

Depois de ela ter me feito passar aquela vergonha no baile, agora me deixa plantado no altar e tendo que lidar com toda situação, sozinho.

— Graças a Deus! — o padrinho diz ao meu lado.

A música calma começa a tocar e, finalmente, Ana Lis passa por aquela enorme porta ao lado de seu pai.

Seus passos parecem hesitantes, obviamente está nervosa. Ao se aproximar um pouco mais, tirei aquele véu que cobria seu rosto, ela me olhou nos olhos, assustada, dei um sorriso e ela fez o mesmo.

Diante do público temos que ser um casal apaixonado, portanto, ela terá que seguir todas as regras.

Após a cerimônia ter ocorrido como esperávamos, levei Ana para o nosso carro e fomos para o buffet, onde a festa vai acontecer.

Não demos uma única palavra um com o outro durante a viagem de curto período, eu ainda estava chateado, pelo ocorrido de ontem à noite. Ana Lis quase colocou tudo a perder. E ainda descubro ser uma mentirosa.

— Você precisa apenas demonstrar que está feliz. Faça tudo corretamente, se assim o fizer, no final, ambos sairemos bem desta festa.

Dou-lhe o aviso, abro a porta do carona e seguro sua mão, enquanto a levo para o salão principal.

— Eu vou falar com minha família.

— Não, agora não!

Apertei com um pouco mais de força a mão dela, fazendo-a exibir uma expressão de dor.

Cumprimentamos os convidados que ali estavam, com um único intuito. Conhecer a nova Sr.ª Lobo e futuramente, a mãe do meu herdeiro.

Outros eram só por questão financeira, apenas. Deixei Lis um pouco com sua irmã Cassandra e saí por conta de uma convidada especial.

Cecília! Não sabia que ela voltou de Londres, onde ela estava fazendo sua faculdade.

— Cecília? — franzi a testa ao perguntar.

— Adriel. — ela sorriu de forma sinuosa.

Eu ainda sentia uma recaída por ela, mas suponho que não é um sentimento profundo. Ela sabe sobre o casamento nominal, assim como a maioria dos familiares que estão presentes.

— Não sabia que você estava de volta ao Brasil. — suspirei.

— Cheguei semana passada, mas tive que organizar algumas coisas antes de fazer uma visita. A propósito, temos que conversar sobre assuntos da empresa.

— Terei um enorme prazer em recebê-la, segunda-feira na 'Lobo'M&G'.

Dei uma olhada por cima do ombro para o centro do salão principal, onde tocava uma música e minha esposa dançava deliberadamente com meu primo.

A sensação de está sendo contrariado por minha noiva se fez presente. O que ela estava pensando? Ela sabe como deveria se comportar.

Logo percebi um incômodo em sua face, meu primo dizia algo em seu ouvido que não a agradou muito.

— A sua esposa é jovem, bonita, mas ela não está à sua altura.

Faz seu comentário enquanto caminhamos em meio os arranjos de flores.

— Por que você acha isso? — a encarei sem entender seu comentário.

Até onde sei sobre Cecília, seu interesse a minha pessoa sempre foi o dinheiro. Para ela, isso vale bem mais que sentimentos. Então suponho que não era ciúme.

— Adriel, por que você não vai dançar com sua noiva? Era para você estar ali dançando valsa com sua esposa, não é?

Minha mãe diz em meio a um sorriso ensaiado.

— Cecília meu amor, vamos pegar uns drinks?

Às duas saem conversando e sorrindo para os convidados e eu fui até o casal de dançarinos e roubei minha noiva educadamente para uma dança.

— Você não deve sair por aí dançando com homens daquele jeito, entendeu Ana Lis? Seu pai não lhe disse sobre isso? — sussurrei em seu ouvido.

— Eu não sabia. Quer dizer então, que não posso mais ter contato algum com homens? — inquiriu fingindo inocência.

— Você finge muito bem, Ana... para com essa cena que você não é tão santa assim. Você não leu mesmo o contrato?

A encarei friamente. Ela fez que não com a cabeça.

— Não a proibir de ter amizades com homens, pelo menos quando estivermos diante das pessoas, temos que agir como um casal normal.

— Eu aceitei a dança já que você não estava. Por um momento pensei que tivesse ido embora.

— E como eu iria embora? Acredita mesmo que eu deixaria você aqui? Francamente, Lis! Você não é tão burra assim.

— Por que julga que estou fingindo?

— Ontem você me mostrou um lado seu que não me agradou muito. — ela parou de dançar.

Senti suas mãos tremularem.

— Não estou me sentindo bem.

Seu rosto de repente ficou pálido. Fiquei imerso diante da situação, preocupado e intrigado com a garota.

— Mas vai ficar tudo bem.

A última frase me trouxe a lembrança de uma voz delicada, que jamais esqueci desde aquele dia horrível que marcou minha adolescência. Após dizer aquilo, Ana Lis ficou tonta e eu tive que segurá-la para não cair.

— Lis? —

Tento fazê-la parar com aquele fingimento ou sei lá o que ela pretendia.

— Para com isso. Está todo mundo olhando.

— O que houve com ela?

Minha sogra vem em minha direção, preocupada e evidentemente nervosa.

— Ela só está cansada. Vou levá-la embora.

Minha sogra me fuzila com os olhos, pois minhas palavras não a agradou. Eu não ligo.

A responsabilidade de Ana Lis agora é por minha conta. A sua família não deve interferir em nada.

— Será que ela está grávida?

Meu primo perguntou em tom zombeteiro.

É só um babaca tentando fazer brincadeiras de péssimo gosto.

— Minha filha não é desse tipo que você está acostumado a ver por aí.

Mais uma vez a mãe da Ana se mete onde não deveria. Bem que meu primo precisava mesmo levar uma bronca.

— Me deem licença, que vou levar minha esposa para descansar em "sua nova casa" — enfatizei a última frase encarando minha sogra.

Saí o mais rápido possível dali, antes que causasse uma discussão maior. Minha esposa fingida saiu cambaleando até o carro.

A coloquei no banco, fechei a porta e posteriormente fomos embora mais cedo da nossa festa. "Vai ficar tudo bem" essa frase não me saiu da cabeça. Enquanto eu dirigia eu a observava seus traços faciais, seu corpo, fiquei sem entender o motivo que me intriga tanto.

Lis adormeceu durante a viagem, eu tive que carregar a adormecida até o quarto no segundo andar. A depositei com cuidado sobre a cama, me desfiz das minhas roupas ali mesmo e fui para o banheiro relaxar.

Arthur, meu primo, está a todo custo tentando me passar para trás desde o dia que aquele inventário foi aberto e lido para todos os beneficiários, naquela reunião desagradável que aconteceu há alguns dias.

Eu estarei de olho nele, jamais permito que ele pegue o que é nosso por direito.

Em meio ao torpor debaixo do chuveiro, surgiu uma dúvida sobre minha esposa ter passado mal na festa. E se ela estivesse passando mal de verdade? Desconfio que Arthur possa ter colocado algo na sua bebida.

"Não, não! Meu primo não faria isso." Ana Lis é realmente uma fingida.

Quando desligo o chuveiro e pego a toalha de banho, ouço barulho de passos, no quarto. Enrolei-me na toalha e saí secando meus cabelos com outra.

Minha esposa estava acordada, sentada na ponta da cama e de costas para mim, olhando fixamente para o porta retrato cujo objeto emoldurava uma foto minha ao lado de Cecília.

Ela estendeu o braço sem perceber minha presença às suas costas e pegou uma pequena moldura onde guardo uma corrente dourada, que tem um imenso valor sentimental para mim.

— Larga isso agora mesmo, Lis.

Ela levou um susto, deixando a moldura escapar da sua mão e o vidro se espalhou pelo piso.

— Oh, meu Deus! Desculpa-me, Adriel... eu...

— O que você está pensando? Essa casa não é sua, nada aqui é seu para você sair por aí mexendo nas coisas alheias.

Contornei a cama, segurei seu braço e olhei em seus olhos sem um pingo de paciência.

— Por favor... não me machuque. — as lágrimas escorriam por sua face.

A garota me olhou tão assustada que senti medo até de mim mesmo.

— Eu não vou bater em você. Está louca?

— É só um vidro, você pode comprar quantos quiser.

Rilhei os dentes tentando conter a raiva ao ouvir aquilo. Lis não deveria ter tocado naquela corrente.

— Está vendo essa mulher aqui?

Peguei o porta retrato em que estava eu e Cecília e aproximei dela.

— Sim... — murmurou.

— Você nunca vai chegar a altura dela.

Digo-lhe friamente, sem remorso algum.

Lis puxou seu braço, levantou da cama, abriu a porta do quarto e saiu correndo feito uma menina mimada.

Fui até o closet me vestir, mas me apressei ao ouvir várias pancadas na escadaria. Senti um frio na barriga, o aperto no peito fez eu me odiar pela forma como tratei a garota.

— Ana!

Saí correndo desesperado, desci as escadas apressadamente e me deparei com minha esposa no chão, desacordada.

— Sr. Adriel, ela tropeçou nas escadas e caiu, mas não foi lá de cima. Ela já estava no fim quando caiu.

Minha empregada se explica de joelhos ao lado de Ana.

Fiquei estagnado no lugar, sem conseguir me mover, pois, o nervosismo e o medo ao nível alto, me deixa imobilizado.

A garota estava de bruços, com uma das mãos espalmada no chão, bem próximo à sua boca. Ela parece inocente, seu rosto é angelical.

— Sr. Adriel, ela precisa ser levada para um hospital, agora!

Pisco os olhos algumas vezes e saio do lugar, pego Ana Lis nos braços e vou às pressas para a garagem com a jovem do corpo tão leve como uma folha seca.

A depositei deitada no banco de trás, depois entrei no carro e fui em busca do hospital mais próximo.

Não me importava que fosse um hospital público ou particular, contanto que não a deixassem morrer, por mim, estava tudo bem.

Após algumas horas de espera, angustiado, um médico veio até mim e disse que minha esposa já estava acordada, mas iria realizar uma tomografia antes de liberar a paciente, pois a pancada na cabeça foi forte, havia um hematoma causado pelo impacto.

— Eu posso vê-la?

— Sim, Sr. Lobo. Me siga. — fiz o que me pediu.

O médico parou em frente a porta, se despediu saindo dali para atender outros pacientes. Girei a maçaneta da porta a abrindo, vi Ana Lis semi deitada, falando no celular com alguém.

— Tente achá-lo, eu preciso muito dele.

Foram as últimas palavras ditas antes de ela encerrar a ligação e devolver o celular para a enfermeira imediatamente ao me ver entrar.

Pigarreei encarando a enfermeira que saiu do quarto, quando percebeu que eu queria um momento privativo com minha esposa.

— O que aconteceu comigo? — perguntou-me.

— Você caiu da escada e eu lhe trouxe para este hospital. Com quem estava falando no telefone? De quem você precisa, Ana Lis?

Ela olhou para o lado, evitando uma conexão visual, talvez buscasse uma resposta para tentar me enganar.

— Eu estava falando com minha irmã. Eu pedi-lhe que encontrasse uns documentos meus que preciso para a faculdade.

Sorri infeliz e me aproximei da sua cama.

— Você está mentindo. — soei o mais leve possível.

Afinal, ela estava se recuperando e tenho medo de piorar seu quadro de saúde.

— Como se sente agora?

Mudei o assunto, mas não esqueci sua desculpa mal dada.

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