115°
Enquanto Allix e Zoya vagavam pela escola o restaurante das maravilhas ia sendo desmontado e abandonado o ponto quente estava mais agitado do que nunca, aquela seria a última noite dele e todos trabalhavam duro para que fosse uma partida memorável, a maior festa de todas.
“Elena, preciso falar com você.” Cassandra estava triste.
“É sobre o tio Bloom pegando nossas coisas?” Elena pegava uma cortina para a festa. “Não precisa se preocupar, vamos conseguir coisa melhor depois.”
“Não é isso.” Cassandra abaixou a cabeça. “Eu falei com o Kazan.”
“Kazan?” Elena fez uma careta com uma lembrança desagradável. “E como é que ele esta?”
“Alto... Bonito...” Cassandra pensou um pouco. “Mais bonito que o Caique. Mais bonito do que qualquer um que eu já vi.”
“Mesmo?” Elena olhou surpresa. “Bom, você sempre teve uma quedinha por ele. Mas era muito deprimido.”
“Não! Ele Não é mais, ele esta feliz, ri
116° No hotel Holiday a sede da gangue das maravilhas, Folken o Jaguadarte e Marilyn a Rainha Branca fizeram um ótimo trabalho, limpando o lugar. “Eu não acredito que tudo isso foi acumulado por aquela menina.” Monteiro arrumou seus óculos. “Elena e eu também ajudamos.” Cassandra se manifestou. “As vezes o Caíque também.” “Esta se manifestando agora.” Lumina deu um tapinha nas costas. “Gostei de ver.” “Então é verdade mesmo que antigamente os militares faziam experiências com crianças?” Amara se aproximou oferecendo chocolates. Cassandra concordou com a cabeça e pegou um chocolate. “Então você é mesmo uma das crianças fantásticas do lendário doutor Fausto?” Amara perguntou comendo um bombom. “O doutor Fausto era legal, sinto falta dele.” Cassandra olhou para o céu. “Mesmo?” Lumina levantou uma sobrancelha. “Ouvi dizer que ele era um monstro que gostava de matar com requintes de c
Ciclo três Todas as manhãs a sra. Gleba levava seu belo basset hound August para passear, enquanto o céu ainda estava um pouco escuro. As pessoas andavam dizendo que depois da guerra aquele bairro já não era tão seguro para se andar sozinha pelas ruas. Mesmo depois dos vizinhos irem embora, mesmo depois do bombardeio, a sra. Gleba não fugiu. - Podemos não ser um país muito rico, mas temos um povo muito forte. Logo a guerra terminará. – Gleba era muito patriota e sempre conversava com seu cachorrinho enquanto passeava. – Muitos fugiram com medo e as ruas andam cheias de pedintes. Só para confirmar suas expectativas, encontrou uma das piores desclassificadas chafurdando em seu lixo. - Olhe para isso August. – O cachorrinho fungou concordando. - Aqueles marginais jamais me expulsarão de minha própria casa. Além disso, já estou velha demais para sentir medo, não é mesmo? August concordou. Gleba se aproximou e começo
Ciclo sete Mayara Pitanga olhava desanimada pela janela fazendo desenhos com sua respiração. Em meio aos comportados jovens cadetes da improvisada central dos Arcanos[1] ela se destacava como uma rosa vermelha em um buquê de lírios. Era uma bela caboclinha com cabelos meio descoloridos e pele morena, além de sua aparência exótica, o que mais chamava a atenção era sua falta de porte militar. Quem visse acreditaria que não passava de uma bagunceira fantasiada debruçada no sofá. - Mas que frio! – Resmungou. – Eu pensei que Aquamarina fosse o balneário da Eslávia[2]. Nem parece que estamos no final do verão. - São as consequências do ataque do Império Noza. – Origami Ogami a comportada cadete e não menos exótica japonesinha que sentava ao seu lado explicou. – Existe uma camada de partículas magnéticas bloqueando o sol e as transmissões. - Se eu soubesse disso não teria vind
Ciclo dois De um alto-falante ao longe podia se ouvir algo sobre um registro e ajuda medica. Allix estava deitada em uma pequena cama com cobertores em cima do seu corpo e um tubo de soro em seu braço. Ela havia dormido? Desmaiado? Não sabia como fora parar ali ou quanto tempo se passou e temeu que pudesse deixar sua mãe enferma preocupada, mas a gentil enfermeira não deixou que se levantasse. - O doutor disse que você está anêmica, por isso precisa comer um pouco mais antes de poder te deixar sair. - Têm camas vazias por aqui... – Ela olhou a sua volta, o posto sempre estava cheio de gente. – Por que este lugar está vazio? - Estamos nos mudando. – A enfermeira respondeu entregando um prato de sopa de legumes. – O governo finalmente enviou ajuda. Estamos mandando todos para o novo hospital que montaram, só atendemos os casos mais urgentes como sua mão. - O governo? - Sim! Os soldados estão por to
Ciclo quatro Dizer que Allix odiava Zoya é um absurdo já que as duas eram amigas e se davam bem. Allix odiava Zoya quando ela se juntava a Irina, Svetlana e suas outras amigas que estavam acenando do outro lado do refeitório. Zoya se transformava em uma patricinha mimada insuportável, que se divertia com a miséria dos outros e geralmente era a vida de Allix que elas tornavam miserável. E Allix já não suportava mais miséria. Irina e Svetlana vendiam seus corpos na rua do mercado e a ajudaram várias vezes naqueles meses difíceis, não estavam em situação melhor do que ninguém, mas escuta-las diminuindo os outros alunos que estavam em petição de miséria como se tivessem o rei na barriga a irritava muito. - Vamos embora! – Zoya a puxou pelo braço. – A diretora está falando lá na frente. - Eu to comendo. – Allix já estava irritada como Zoya agia como se fosse sua dona. – Você está me enchendo o saco. Vai encher outra
121° Allix acompanhou a simpática capitã Mabel Volonaki. Havia muitos professores ajudando os militares e ela ficou feliz em rever alguns rostos que acreditara que abandonaram a zona espiral, já que nunca encontrou os durante suas expedições ao mercado. Todos foram muito gentis com ela e ignoraram sua falta de atenção, falavam muito sobre política, volta às aulas, recolhimento de lixo, mutirões e coisas assim. Ela viu pilhas de panfletos e doações dos países do governo mundial como pacotes de comida, roupas, brinquedos e docinhos, muitos docinhos. Os soldados instruíram os jovens a pegar um formulário e ir até suas respectivas salas de aula para fazer o cadastro e receber instruções. Allix não conseguiu escutar nenhuma palavra do que diziam, apenas segurou o lápis desajeitadamente na mão esquerda enquanto tentava tirar os pensamentos pessimistas da sua cabeça. Seus instintos diziam que ela não d
122° Mayara Pitanga era exatamente o contrário de Derek Dietrich, era delicada e tímida, sua voz suave e insegura dava muito conforto para a turma da B2. Sua bolsinha na forma de flor fez bastante sucesso. Geralmente não era muito boa em falar com as pessoas, mas aquele dia em particular estava muito bom, principalmente pela ajuda de Zoya. Como sempre Zoya conduzia toda a turma. O clima estava descontraído e afável, ela explicou o uso do medidor de mana e todos ficaram ansiosos por usá-lo. Ela anotava o nome de todos os alunos que tocavam na redoma, as garotas soltavam risinhos, enquanto alguns garotos faziam comentários no fundo da sala. Valentina uma das grandes amigas de Zoya colocou a mão na redoma e a luz azul acendeu, todos ficaram nervosos. Com um sorriso nervoso e forçado ela perguntou. “O que isso significa?” Mayara explicou alegremente. “O nível de vydia Alfa a
123° As perguntas continuaram na sala 3B. Bonifácio, outro aluno levantou a mão. “Meu pai me disse que essa coisa de mágica é balela. Que o governo faz propaganda para enganar a população e esconder a verdade.” Sofia Perguntou. “E os vídeos que passam nos noticiários?” “É tudo efeito especial.” Bonifácio respondeu. “Meu pai sempre diz que a gente não pode acreditar em vídeos.” “Acredito que se seu pai não acredita em provas em vídeos, também não acredita em fotos, áudio, documentos escritos e considera todas as evidências históricas de nossa civilização questionáveis.” Arremedou o Cadete. “Não é bem assim.” Protestou o aluno. “Meu pai acredita em provas escritas. Se for um documento escrito ele diz que é verdade.” “Então seu pai não acredita em uma cena em vídeo, mas acredita no que alguém escreveu em um pedaço de papel?” O cadete soltou algumas risadas e deixou o aluno sem respostas.