Ciclo três
Todas as manhãs a sra. Gleba levava seu belo basset hound August para passear, enquanto o céu ainda estava um pouco escuro. As pessoas andavam dizendo que depois da guerra aquele bairro já não era tão seguro para se andar sozinha pelas ruas. Mesmo depois dos vizinhos irem embora, mesmo depois do bombardeio, a sra. Gleba não fugiu.
- Podemos não ser um país muito rico, mas temos um povo muito forte. Logo a guerra terminará. – Gleba era muito patriota e sempre conversava com seu cachorrinho enquanto passeava. – Muitos fugiram com medo e as ruas andam cheias de pedintes.
Só para confirmar suas expectativas, encontrou uma das piores desclassificadas chafurdando em seu lixo.
- Olhe para isso August. – O cachorrinho fungou concordando. - Aqueles marginais jamais me expulsarão de minha própria casa. Além disso, já estou velha demais para sentir medo, não é mesmo?
August concordou. Gleba se aproximou e começo
Ciclo sete Mayara Pitanga olhava desanimada pela janela fazendo desenhos com sua respiração. Em meio aos comportados jovens cadetes da improvisada central dos Arcanos[1] ela se destacava como uma rosa vermelha em um buquê de lírios. Era uma bela caboclinha com cabelos meio descoloridos e pele morena, além de sua aparência exótica, o que mais chamava a atenção era sua falta de porte militar. Quem visse acreditaria que não passava de uma bagunceira fantasiada debruçada no sofá. - Mas que frio! – Resmungou. – Eu pensei que Aquamarina fosse o balneário da Eslávia[2]. Nem parece que estamos no final do verão. - São as consequências do ataque do Império Noza. – Origami Ogami a comportada cadete e não menos exótica japonesinha que sentava ao seu lado explicou. – Existe uma camada de partículas magnéticas bloqueando o sol e as transmissões. - Se eu soubesse disso não teria vind
Ciclo dois De um alto-falante ao longe podia se ouvir algo sobre um registro e ajuda medica. Allix estava deitada em uma pequena cama com cobertores em cima do seu corpo e um tubo de soro em seu braço. Ela havia dormido? Desmaiado? Não sabia como fora parar ali ou quanto tempo se passou e temeu que pudesse deixar sua mãe enferma preocupada, mas a gentil enfermeira não deixou que se levantasse. - O doutor disse que você está anêmica, por isso precisa comer um pouco mais antes de poder te deixar sair. - Têm camas vazias por aqui... – Ela olhou a sua volta, o posto sempre estava cheio de gente. – Por que este lugar está vazio? - Estamos nos mudando. – A enfermeira respondeu entregando um prato de sopa de legumes. – O governo finalmente enviou ajuda. Estamos mandando todos para o novo hospital que montaram, só atendemos os casos mais urgentes como sua mão. - O governo? - Sim! Os soldados estão por to
Ciclo quatro Dizer que Allix odiava Zoya é um absurdo já que as duas eram amigas e se davam bem. Allix odiava Zoya quando ela se juntava a Irina, Svetlana e suas outras amigas que estavam acenando do outro lado do refeitório. Zoya se transformava em uma patricinha mimada insuportável, que se divertia com a miséria dos outros e geralmente era a vida de Allix que elas tornavam miserável. E Allix já não suportava mais miséria. Irina e Svetlana vendiam seus corpos na rua do mercado e a ajudaram várias vezes naqueles meses difíceis, não estavam em situação melhor do que ninguém, mas escuta-las diminuindo os outros alunos que estavam em petição de miséria como se tivessem o rei na barriga a irritava muito. - Vamos embora! – Zoya a puxou pelo braço. – A diretora está falando lá na frente. - Eu to comendo. – Allix já estava irritada como Zoya agia como se fosse sua dona. – Você está me enchendo o saco. Vai encher outra
121° Allix acompanhou a simpática capitã Mabel Volonaki. Havia muitos professores ajudando os militares e ela ficou feliz em rever alguns rostos que acreditara que abandonaram a zona espiral, já que nunca encontrou os durante suas expedições ao mercado. Todos foram muito gentis com ela e ignoraram sua falta de atenção, falavam muito sobre política, volta às aulas, recolhimento de lixo, mutirões e coisas assim. Ela viu pilhas de panfletos e doações dos países do governo mundial como pacotes de comida, roupas, brinquedos e docinhos, muitos docinhos. Os soldados instruíram os jovens a pegar um formulário e ir até suas respectivas salas de aula para fazer o cadastro e receber instruções. Allix não conseguiu escutar nenhuma palavra do que diziam, apenas segurou o lápis desajeitadamente na mão esquerda enquanto tentava tirar os pensamentos pessimistas da sua cabeça. Seus instintos diziam que ela não d
122° Mayara Pitanga era exatamente o contrário de Derek Dietrich, era delicada e tímida, sua voz suave e insegura dava muito conforto para a turma da B2. Sua bolsinha na forma de flor fez bastante sucesso. Geralmente não era muito boa em falar com as pessoas, mas aquele dia em particular estava muito bom, principalmente pela ajuda de Zoya. Como sempre Zoya conduzia toda a turma. O clima estava descontraído e afável, ela explicou o uso do medidor de mana e todos ficaram ansiosos por usá-lo. Ela anotava o nome de todos os alunos que tocavam na redoma, as garotas soltavam risinhos, enquanto alguns garotos faziam comentários no fundo da sala. Valentina uma das grandes amigas de Zoya colocou a mão na redoma e a luz azul acendeu, todos ficaram nervosos. Com um sorriso nervoso e forçado ela perguntou. “O que isso significa?” Mayara explicou alegremente. “O nível de vydia Alfa a
123° As perguntas continuaram na sala 3B. Bonifácio, outro aluno levantou a mão. “Meu pai me disse que essa coisa de mágica é balela. Que o governo faz propaganda para enganar a população e esconder a verdade.” Sofia Perguntou. “E os vídeos que passam nos noticiários?” “É tudo efeito especial.” Bonifácio respondeu. “Meu pai sempre diz que a gente não pode acreditar em vídeos.” “Acredito que se seu pai não acredita em provas em vídeos, também não acredita em fotos, áudio, documentos escritos e considera todas as evidências históricas de nossa civilização questionáveis.” Arremedou o Cadete. “Não é bem assim.” Protestou o aluno. “Meu pai acredita em provas escritas. Se for um documento escrito ele diz que é verdade.” “Então seu pai não acredita em uma cena em vídeo, mas acredita no que alguém escreveu em um pedaço de papel?” O cadete soltou algumas risadas e deixou o aluno sem respostas.
124° De volta a sala B2 Zoya se sentia melhor do que todo mundo, mas isso acabou no instante em que ela colocou a mão na redoma e uma espécie de liquido escuro começou a girar dentro. A cadete soltou um suspiro, muito chateada olhando para a carteira da Zoya. “Você está usando algum amuleto contra magia?” Mayara piscou e balançou o dedo. “Eu...” Zoya ficou muito encabulada e mostrou dentro de sua roupa. “Alguns... Eu uso alguns.” “Se isso é ‘alguns’ nem quero ver o que você chama de muitos.” Mayara revirou os olhos. “Você está mais enfeitada do que uma arvore de natal.” Zoya começou a tirar os amuletos “Nãofiquei chateada, eu é que deveria ter avisado.” Mayara se dirigiu para classe. “Pessoal! Por favor, tire qualquer amuleto contra magia que estiverem usando, isso afeta a leitura do aparelho.” Os alunos começaram a retirar os amuletos enquanto a cadete regulava o medidor. “Eu ta
125° “Nome e número.” Ordenou o cadete Dietrich. Havia um silencio mortal na sala 3B; muitos alunos suavam; mesmo com o terrível frio que se fazia aquele dia. Ofélia olhava para a redoma como se ela fosse sugá-la para dentro. A diretora disse o nome e o número de Ofélia, que parecia pronta para vomitar quando ela colocou a mão na redoma e uma luz azul se ascendeu. O ar parecia tão tenso que se podia cortá-lo com uma faca. O silencio era tal que se podia ouvir o coração de cada um batendo. O cadete apenas anotou algo em seu tablet e levou o aparelho ao próximo aluno. “Nome e número.” A cada mão colocada, a tensão aumentava. Allix sentia o frio da sua mão aumentando, atravessando a roupa, esfriando o seu peito. O cadete periodicamente olhava para ela pelo canto do olho com interesse. Novamente a luz se acendeu para Estefani a garota mais inteligente da classe.