Eu nunca fui boa em socializar, mas ali estava eu, no meio de um grupo de mulheres interessantes, sentindo-me como a ovelha negra. Eu me via como a única diferente, e a insegurança começou a me consumir. Por um momento, pensei: "Por que estou tão insegura? Sou uma pessoa interessante, inteligente e bonita à minha maneira. Não preciso me sentir assim."Odiava me comparar com os outros, mas, às vezes, era inevitável. "Essas mulheres podem ser incríveis, mas tenho um trabalho incrível. Quem nunca amou assistir a uma série ou um filme? Faço parte desse universo, e, talvez, de todas aqui, eu seja a mais divertida." Mas então, as autocríticas voltaram: "Claro, sou tímida e desconfiada. Tive desilusões antes, mas não posso deixar isso arruinar tudo. Devo aproveitar essa oportunidade. É uma viagem grátis, e não estou arriscando um órgão. Só preciso me divertir e talvez conversar com algum cara antes de ir embora."Isso fazia sentido, até que alguém se aproximou de mim. - Oi, eu sou a Pati. -
É chegada a hora. Estou nervosa, ansiosa. Uma mulher da equipe se aproxima de nós, as cinco participantes, e nos entrega pequenos cadernos com canetas. Ela comunica que as conversas vão começar, que seremos conduzidas às cabines, onde encontraremos um ambiente relaxado. No entanto, nada daquilo me deixa relaxada. Eu vou conversar com um estranho, alguém que pode ser gentil comigo, ou talvez não. Talvez eu goste dele, ou talvez deseje fugir. Minhas mãos suam, e meu coração parece estar na boca.Uma a uma, seguimos pelo corredor em direção às cabines. Fico de frente para a porta que traz meu nome, algo assustador e pessoal. Quando a luz da sala se acende, é a minha vez de entrar. Todas as outras entram nas cabines com empolgação, mas eu fico parada diante da maçaneta, tentando criar coragem. Com um movimento trêmulo, giro a maçaneta e entro.Dentro, encontro uma sala simples, com um sofá e um enorme vidro que brilha, mas não revela nada do que está do outro lado. A mulher que nos acompa
Saio da cabine com um sorriso que parece grudado no rosto. Surpreendentemente, gostei muito de conversar com Nico. Enquanto caminho distraída pelo corredor em direção ao quarto onde passarei a noite, começo a imaginar como ele deve ser, com base no que ouvi. Sua voz soou gentil e envolvente, e suas palavras revelaram um senso de humor que me cativou. Tudo o que posso fazer agora é especular sobre sua aparência, mas, de alguma forma, sinto que isso é secundário.Ao entrar no quarto, me sento na cama e, em seguida, me deito olhando para o teto. Sinto um alívio profundo percorrendo meu corpo. A conversa na cabine não foi tão ruim como eu imaginei. Na verdade, ela me deixou com uma sensação de esperança, como se houvesse a possibilidade real de fazer uma conexão significativa com alguém, mesmo sem vê-lo.Minha mente continua a vagar por nossa conversa, revivendo os momentos em que rimos juntos e compartilhamos histórias pessoais. Talvez, apenas talvez, essa experiência inusitada possa lev
Sentada à mesa do café da manhã, com as mulheres ao redor, sentia-me estranhamente quieta em meio à empolgação que permeava a conversa. Enquanto elas compartilhavam histórias de seus encontros e os aspectos que mais haviam gostado nos rapazes, meu silêncio imperava. Minha mente teimava em voltar a um rosto, o de Nico, um homem que parecia ser feito de pura aventura, destemido e sem medo de nada. Era tudo o que eu não era.Eu, Hanna, sempre preferi ter os pés firmemente plantados no chão, buscando segurança e vivendo dentro da minha própria bolha. Socializar com muitas pessoas, especialmente em festas, era algo que eu detestava profundamente. Bebida e embriaguez eram coisas que evitava a todo custo, especialmente depois da última vez, quando tive uma experiência terrível que me deixou com um pavor avassalador de perder o controle. Naquela ocasião, tive a sensação de que, se não estivesse sóbria, poderia acabar em uma expedição espacial, tamanha era a sensação de desorientação que exper
Cheguei no quarto e se deitei-me na cama, sentindo-se dividida. Conhecer Nico foi bom. Eu vi alguém diferente de mim, alguém que se anima e tem energia para nós dois. Mas, por algum motivo, ele não me passa segurança, não me empolga a sair desse lugar e enfrentar algo diferente. Na verdade, penso que as diferenças entre nós apagariam qualquer chama de paixão. Pior ainda, temo que me tornar diferente por causa dele signifique me doar constantemente e nunca fazer o que realmente gosto. Não quero ser moldada pelo que um homem espera de mim. Tudo o que desejo é voltar para casa e não me enfiar mais em nenhuma cabine. Mas... Colin. Ele simplesmente não sai da minha cabeça. Tenho vontade de passar a noite conversando com ele. Parece ser um homem interessante, inteligente, alguém que não me julgaria se algum dia chegasse em casa e estivesse de pijama, cercada pelos meus gatos, em frente ao computador. Na verdade, acho que ele faria companhia. Colocaria os pés em cima dele, faria carinho nos
E ele respondeu com muito bom humor: - Se eu não corresponder às suas expectativas, estarei em apuros. Nós dois rimos e eu disse: - Não se preocupe, eu gosto de quem você é, não da sua aparência. Ele soltou novamente: - Gosta? - Seu tom era sarcástico e continuou: - Espero não decepcioná-la quando nos encontrarmos. Meu coração disparou. Um dia eu teria que sair daqui e enfrentar quem quer que estivesse do outro lado, mas isso não me deixava confiante. Quem sou e quem aparento ser são bem diferentes. Então, eu disse: - Devo admitir que sou sem graça, nada comparada às outras participantes, e meio brega. Ele respondeu: - Você não é brega. Eu ri e falei: - Você nem pode me ver, como pode saber? E então, ele voltou a ser o Nico que me deixa envergonhada: - Também tento imaginar como você é.Em momento assim, não acho que temos tantas diferenças. Ele é um cara legal. Bem engraçado e sempre me faz sorrir. Não sei o que fazer, com todas essas dúvidas.- O que gosta de fazer, for
Meu coração não estava batendo bem hoje. Eu sabia que tinha uma decisão a tomar e não achava que estava pronta para isso. Ao entrar naquela cabine, eu não sabia o que fazer ou dizer, apenas deixaria o momento me guiar.- Colin? – Meu peito estava inquieto. Não consegui dormir, pensando no que iria fazer ou decidir. - Não gostei do tom de voz. – Respondeu. Dei um sorriso abafado, sentando no sofá, pois sentia que iria abrir um buraco no chão. – Significa que está ansiosa ou nervosa, mas não que é algo bom, como excitação por estar falando comigo.- Consegue ler as pessoas só pelo tom de voz? – Achei impressionante.- Se aceitei, significa que isso não é nada bom.- Com o que trabalha?O ouvi sorrir, mas não sei se isso é bom ou ruim.- Mudando de assunto, pois não quer ir direto ao ponto.- Você quer parar de me analisar? – Falei em um tom sarcástico.- Aproposito, sou médico.- Medico? – Por essa eu não esperava.- Tenho uma clínica, trabalho em vários lugares, mas atualmente estou f
Foi inevitável não pensar no Nico. Ele era um cara legal. Gosto dele, só que tudo o que acontece aqui me deixa confusa. - Se uma pessoa tem o espirito livre, apesar de prometer que será diferente, ela sempre vai colocar as suas preferencias acima das suas, caso sejam diferentes. Acredite, eu já tentei.- Tentou? – Me surpreendi. - Já tive um relacionamento com alguém que era o oposto de mim. – De uma hora para outra, esqueci onde estava. Era como se Colin estivesse aqui do meu lado. – Dez longos anos em que tentei ser alguém que eu não era, para agradar a outra pessoa. Ela não aceitava que eu era calado, que odiava festas e estar nelas por muito tempo. Então eu ia, para agrada-la, por que a amava. Pensava que valia apena, era o amor da minha vida. Mas quando chegava a minha vez, eu recebia um não. Não para tudo, ou quando recebia um sim, tudo dava errado. Isso me deixou exausto, frustrado, não conseguia controlar a minha vida e acabou atrapalhando a minha carreira. - Sinto muito.