SamantaAquele pedido não sai da minha cabeça. Eu repetia aquela frase com o tom da voz dele, milhares e milhares de vezes, desde o momento em que ele disse. E eu aceitei. Aceitei com tanta felicidade que mal podia contê-la dentro de mim. Mas me segurei. Odiava ser aquela pessoa que sempre demonstrava o que estava sentindo, como um livro aberto. Normalmente, conseguia me controlar. A não ser, claro, em um dia muito ruim, quando minha autoestima despencava e eu relembrava todas as merdas que já me aconteceram.Mas desde o momento em que pisei aqui, mesmo com altos e baixos, o "alto" predominava. E isso, eu nunca tinha sentido em toda a minha vida. Uma felicidade tão imensa que parecia que, pela primeira vez, eu estava sendo escolhida. Alguém me queria como sua namorada, para compartilhar sentimentos que eu jamais havia experimentado. Bem, eu amava minha melhor amiga. Ela era como um irmão para mim. Mas não era a mesma coisa. Eu amava Harvey. E, por mais que essa palavra me aterrorizass
Eu estou sempre boicotando a mim mesma, e isso é cansativo. Mesmo prometendo milhares de vezes, quando me via na prática, tudo o que eu tinha jurado para mim mesma, tudo o que repeti incontáveis vezes em minha mente, simplesmente desaparecia. A insegurança tomava conta, como um velho reflexo. Eu não queria ser assim. Eu sei que fui moldada para ser, reprimida, maltratada, me escondendo atrás de uma máscara de proteção que me mantinha inteira, mas... já chega. Ainda parece surreal me apaixonar por um homem que eu mal conheço, alguém envolto em mistérios sobre quem realmente é. E quando finalmente descobri, percebi que ele vinha de uma realidade completamente diferente da minha. Dizer isso em voz alta ou pensar nisso me faz parecer louca, talvez até ingênua. Mas o fato é que eu queria ser parte desse mundo, queria ficar perto dele, mesmo com tudo gritando que eu deveria fugir. E então eu penso: já chega desse drama. Já chega dessa insegurança. Não importa o que venha à mente, eu não vo
SamantaPosso ter cometido o pior erro da minha vida, mas eu não sentia isso neste momento. A segurança que me atingiu, a força e o desejo, eu nunca tinha sentido antes. E não foi porque eu e Harvey demos um grande passo na nossa relação. Não, foi porque, depois disso, algo mais forte despertou dentro de mim, como uma âncora que me segurava firme, me impedindo de afundar nas águas turbulentas da minha própria insegurança. Eu não sei explicar, é confuso ainda. Parecia mentira, mesmo sendo verdade. Um sonho, mesmo estando tão profundamente enraizada na realidade.Se dependesse de mim, passaríamos o resto das nossas vidas ali, isolados, juntos, felizes, como se o mundo fosse perfeito. Mas eu sabia que isso não seria possível. Nossas vidas, afinal, estavam longe de serem perfeitas. A realidade nos chamava de volta, nos forçando a deixar para trás aquele fim de semana que mais parecia uma utopia. Harvey tinha responsabilidades, uma posição importante. E eu... Eu tinha a minha empresa, o pr
EmmaO dia começou bem difícil. Dormi tarde porque estava empolgada criando um software, portanto me me atrasei nesta manhã, não tomei café e perdi o metrô. Fiquei vinte minutos esperando o próximo e, quando ele chegou, não tinha lugar para me sentar.Apesar de ter acordado quase agora, meu corpo ainda está cansado. E, depois do trabalho, ainda tenho que correr com Bia, que está me forçando a fazer essa atividade todos os dias depois do trabalho.Agora estou quase correndo para chegar a tempo para o meu turno no emprego. Meu chefe não é tão ruim, mas odeia atrasos. E, mesmo sabendo que Victor não dirá nada a ele sobre isso, não posso me arriscar.Estou quase na porta giratória que dá acesso ao prédio, quando uma parede bate em mim e eu caio de quatro no chão. Olho para cima e vejo que o filho da puta, que nem olha para trás, corre para entrar no prédio.Não dá para ver direito quem é. O que me deixa ainda mais furiosa. Ainda no chão, vejo um aparelho celular caído. Ele deve ter deixad
Chego em casa e coloco minha roupa de corrida. Não sou de fazer muitos exercícios, mas Bia pretende ficar com o corpo definido e não quer fazer isso sozinha. Só corro para relaxar, já que não tenho ninguém para ver o resultado de tanto esforço. Mesmo sabendo que não deveria penssar dessa forma, penso.Não demora muito para que ela chegue batendo na porta do apartamento.— Vamos logo! Temos que correr o dobro hoje. Não resisti e comi duas fatias de torta. — avisou desanimada.— O quê? — Ela só pode estar alucinando. — Você quer me matar?— Deixe de ser sedentária! — Puxa o meu braço até me fazer passar pela porta.Mesmo não querendo correr tanto, saio de casa. Como estou com muita coisa na cabeça, usarei esse tempo para pensar em uma forma de fazer o gato arrogante pagar por ter me deixado no chão.Logo começamos a andar e, depois, a correr. Passamos por muitos lugares durante a corrida.— Então... O que fez hoje além de se sentar na frente de um computador para olhar números e coisas
Acordo cedo e nem tomo café. Depois do banho, coloco roupas que não são muito chamativas, pois nunca gostei de chamar a atenção para o meu corpo. Saio na rua e ando até o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, está o celular. Descobrirei quem é o Ian antes do almoço e lhe entregarei o aparelho depois.A única pessoa naquela empresa que sabe até os segredos mais sujos dos chefões, é Ágatha. Ela é uma das secretárias dos executivos que ficam no topo do prédio. Se há alguém que sabe quem é o bonitão arrogante, é ela.Após sair do metrô, ando algumas quadras até o trabalho. Hoje ele não veio me derrubar. Que pena! Eu poderia xingá-lo pessoalmente. Terei apenas que imaginar sua reação ao ver o que fiz no seu celular. Além da capa de glitter rosa com enfeites que coloquei nele, baguncei os contatos e editei as fotos.Poxa! Será uma boa cena.Passo pela recepção, vou para o meu armário e coloco a caixa no fundo do espaço, com medo de que alguém me veja e me denuncie quando o telefo
IanMeu dia foi cheio para a merda e minha cabeça está doendo. Tive duas reuniões demoradas e ainda tenho papéis para ler e assinar.Olho para o relógio e constato que são sete e meia. Está na hora de eu ir embora e nem está perto de terminar o que tenho para fazer. Sendo assim, acabo optando por deixar o restante dos afazeres para amanhã.Esse trabalho está me matando e ainda tem a preocupação com meu pai, que está em coma há dois meses. Os médicos não têm uma previsão de quando — e se — ele acordará. Não quero perdê-lo. É um bom pai e sempre esteve ao meu lado, mesmo quando eu cometia algum erro. Agora, a minha obrigação é cuidar dos negócios da família. Algo que está me estressando muito. Vivo com dor de cabeça e com as preocupações invadindo minha mente, fazendo-me perder a razão.Notei que aqui, na empresa, todos estão correndo de mim. Também... Estou sempre dando ordens e de mau humor. Com toda a certeza, eles me odeiam. E, olha que só estou aqui há uma semana.Ontem mesmo esbar
Assim que acordo, lembro-me do celular e, como um tolo, verifico se tem mais alguma mensagem da mulher misteriosa. Não tem nenhuma. É decepcionante, e me irrito comigo mesmo por pensar assim.Resolvo cuidar de tudo para começar o trabalho. Tomo banho, coloco um terno cinza e arrumo os cabelos em frente ao espelho.Meu pai sempre se orgulhou de ser pioneiro no ramo de proteção de dados. Era um leigo no assunto, mas um mestre em administrar.Com o crescimento da internet, também cresceram novas oportunidades de roubar. É por isso que a TEC Corporation se especializou nessa área e hoje trabalha com diversas empresas, bancos e pessoas que fazem parte desse meio digital.Depois de pegar os papéis que trouxe ontem para casa, enfio-me no elevador, que desce até o estacionamento. Meu motorista já está à minha espera. Quando entro no carro, resolvo dar atenção aos documentos. Ontem não consegui resolver nada, pois só pensava na estranha, mas hoje resolvi esquecê-la e focar em trabalhar.Chego