SamantaPosso ter cometido o pior erro da minha vida, mas eu não sentia isso neste momento. A segurança que me atingiu, a força e o desejo, eu nunca tinha sentido antes. E não foi porque eu e Harvey demos um grande passo na nossa relação. Não, foi porque, depois disso, algo mais forte despertou dentro de mim, como uma âncora que me segurava firme, me impedindo de afundar nas águas turbulentas da minha própria insegurança. Eu não sei explicar, é confuso ainda. Parecia mentira, mesmo sendo verdade. Um sonho, mesmo estando tão profundamente enraizada na realidade.Se dependesse de mim, passaríamos o resto das nossas vidas ali, isolados, juntos, felizes, como se o mundo fosse perfeito. Mas eu sabia que isso não seria possível. Nossas vidas, afinal, estavam longe de serem perfeitas. A realidade nos chamava de volta, nos forçando a deixar para trás aquele fim de semana que mais parecia uma utopia. Harvey tinha responsabilidades, uma posição importante. E eu... Eu tinha a minha empresa, o pr
Harvey Acredite, eu queria ter dito. Queria ter dito muito antes, mas o medo de estragar aquele fim de semana perfeito me impediu. Tudo estava tão certo com Samanta, e por mim, eu passaria uma eternidade naquele lugar, longe de tudo, só nós dois. Acho que ela sentia o mesmo. Mas, assim que a estrada para Nova York surgiu à nossa frente, fui lembrado da verdade que ainda não tinha revelado. Algo que, para mim, não parecia tão relevante, mas que para ela, poderia mudar tudo.Eu nem percebi o quanto estava nervoso, até que ficou óbvio, transparecendo em cada gesto. Não queria deixá-la preocupada, mas sabia que a reação dela não seria boa. Eu queria mostrar a Samanta que não importava de onde eu vinha, quem eram meus pais, ou o peso do meu sobrenome. Nada disso devia interferir no que estávamos construindo. Mas eu sabia, lá no fundo, que para alguém como ela, insegura e já lidando com dúvidas sobre nossa relação tão recente, isso poderia ser mais uma desculpa para se afastar. E
Eu nunca tive algo assim em toda a minha vida. Foi tão bom, quase perfeito demais para ser realidade. E eu costumava me beliscar para ter certeza de que estava no mundo real. Foi uma surpresa inusitada, mas que, no fim, resultou em algo muito bom para mim. Pela primeira vez, eu me sentia escolhida por alguém.Quando saí do carro e o vi indo em direção ao hospital onde seu pai estava internado, uma parte de mim ficou com medo, outra ainda estava feliz. Eu esperava que tudo ficasse bem e que não passasse de um susto. Ainda não conhecia seus pais, e as coisas estavam indo rápido demais para o meu gosto. A Samanta que sou nunca tomaria decisões tão precipitadas. Acho que só fazem um mês e meio, talvez, que nos conhecemos, e tudo isso já aconteceu. Eu tenho um namorado, passei um final de semana com ele, ficamos juntos. Tudo isso antes mesmo de parar para respirar e pensar.Mas, por algum motivo, não me importava. Não o suficiente, pelo menos. Todos os meus argumentos racionais contra esse
Eu simplesmente saí correndo, sem pegar nada, nem mesmo a minha bolsa. Por sorte, estava com dinheiro no bolso. Peguei um táxi, sentindo a adrenalina tomar conta enquanto me sentava no banco de trás. Geralmente usava o metrô, mas desta vez, a urgência não permitia. Poderia ter um carro, claro, mas sempre fui tão estabanada e insegura que tinha certeza de que o destruiria em pouco tempo. Preferia métodos mais convencionais.Enquanto o táxi percorria as ruas movimentadas de Nova York, um aperto crescia no meu peito. Sentia como se estivesse indo para um confronto pessoal. E, de certa forma, estava. Trabalhar na TEC Corporation por tantos anos me deu uma responsabilidade imensa, mas também um privilégio: a confiança de Emma Novack. Aquela mulher colocou nas minhas mãos um poder que eu não podia decepcionar. Apertei as unhas contra a pele do braço, sentindo uma dor incômoda, mas satisfatória. Mantinha-me alerta.Quase pedi ao motorista para acelerar ainda mais quando nos aproximamos do di
HarveyEu deveria ter previsto que tudo o que eu escondi, tudo o que inventei, estava prestes a ruir. Não gosto de pensar que menti para ela. Na verdade, prometi por muito tempo que não faria isso. Mas, para sustentar essa omissão, acabei dizendo coisas que não eram totalmente verdadeiras – pequenas mentiras. E agora, eu só queria ter tempo suficiente para explicar cada decisão que tomei. Mas não era mais possível.Quando saí daquele hospital, minha mente estava focada em resolver tudo. O problema que eu deveria ter sido informado. Erros seguidos nos trouxeram até aqui. Eu me sentia um inútil para a empresa, uma decepção para meu pai e, acima de tudo, para ela. Agora, eu mal conseguia abrir a boca, com medo de que qualquer palavra fosse usada contra mim.Eu estava chateado com quem deveria ser o chefe deste setor, o responsável por me comunicar tudo sem que eu precisasse intervir. Talvez, assim, não teria chegado a esse ponto. Agora, desesperado, ela acreditava que eu, a pessoa por qu
SamantaNeste exato momento, me sinto como uma idiota completa, enganada de maneira tão ridícula. Eu me deixei levar, me deixei enganar. Não posso acreditar que Harvey fez isso comigo. Não é como se ele tivesse cometido o pior crime do mundo, algo imperdoável, mas ele traiu a minha confiança, que eu dei sem questionar. Os sinais estavam lá o tempo todo. Conhecê-lo naquele elevador... Como foi fácil demais entrar na empresa, sendo que a segurança é conhecida por ser rígida. E aquele papo furado sobre visitas a amigos? Ele sabia exatamente onde eu morava, como se não fosse fácil para alguém como ele acessar meus dados e descobrir tudo sobre mim.Por que Harvey fez isso? Eu sou a pessoa menos interessante dessa empresa, sempre no meu canto, invisível, apenas fazendo o que me mandam. Foi para isso que fui contratada, afinal. Minhas ideias nunca eram levadas a sério. A única coisa que me fazia sentir especial era a proximidade com Alison. Mas eu não acho que isso fosse algo de interesse pa
HarveyEu juro que não queria causar tudo isso. Eu não queria que ela se afastasse, que saísse daqui correndo para bem longe de mim. Tudo que eu mais quero é que ela volte. Que me perdoe. Mas eu sei que isso vai demorar. A culpa foi minha. Eu demorei demais para contar a verdade, para revelar esse pequeno detalhe. E o pior é que eu tive que inventar algumas situações para encobrir o que eu estava sentindo e o que eu estava fazendo. Ela não merecia nada disso. Depois de tudo que Samanta passou, depois de tantas decepções, eu era mais uma. E eu não queria ser.Eu a amava. Disso eu tenho certeza. Não há como não a amar. O jeito despojado, sem medo, mas ao mesmo tempo delicado. A insegurança que surgiu como uma surpresa, porque ela sempre pareceu tão forte. Bem mais forte do que eu, inclusive. Mas todos nós temos uma fraqueza. Todos nós sofremos com nossos defeitos. E eu não posso culpá-la por ser tão insegura, não depois de tudo que ela passou. Afinal, ela passou um ano tentando se encai
Foi estranho encontrar aquela mulher e, do nada, saber mais sobre sua vida. Geralmente, eu não faço isso. Eu passo despercebida. Tenho tantos pensamentos que acabo me esquecendo do mundo real. Mas aquela mulher conseguiu me prender de uma forma inesperada. Como, de repente, eu esbarro em alguém que tinha tantos problemas quanto eu? Bem, acredito que sou um ímã para isso. E, francamente, não tenho muita sorte.Tudo que eu queria era acabar com essa confusão na minha cabeça. Com esse sentimento que, mesmo sem querer, eu acabei criando. Harvey não tinha o direito de inventar um personagem só para se aproximar de mim. Eu sei que ele não fez por mal. Eu sinto isso. E, por mais que eu tente não parecer ingênua, estou aqui procurando uma justificativa para ele. Mas a verdade é que eu sei, lá no fundo, que ele não queria me machucar. Quando ele dizia que me amava, eu sentia que era real. Assim como o que batia no meu peito agora, esse sentimento agonizante.Fecho os olhos e me forço a não vol