- É... Eu sinto muito, Ana. Sei que falo demais isso para você, mas é só o que posso te falar. Imagino que isso é uma dor que talvez você nunca possa se recuperar, mas acredito que você encontrará outros motivos para conseguir ser feliz e fazer com essa felicidade seja maior do que qualquer dor que você já sentiu.
- Obrigada, advogado Athos. Eu já encontrei a felicidade em pequenos momentos e em pequenas coisas. Realmente, a felicidade pode não ser eterna, pode não ser sentida em todos os momentos do dia e nem em todos os dias, mas quando ela acontece, é algo que faz com que a dor não seja assim tão insuportável. Mas mudando de assunto, o senhor já foi casado? Eu não vi nenhum porta retrato aqui no seu apartamento.
- Curiosa você, hein.
- Não precisa me responder se não for na sua vontade, advogado Athos. É só uma curiosidade mesmo.
- Não tenho problemas com isso não, Ana. Eu nunca fui casado mesmo. Acho que nunca vou me casar.
Foi só quando eu completei uns 14 anos de idade que eu comecei a vê-lo de uma forma diferente. Foi um sentimento muito novo para mim. Ele sempre me tratou muito bem, sempre foi carinhoso, mas de uma forma amigável. Eu estava acostumado a dormir na casa dele e nós conversávamos sobre tudo. Ele sempre conseguia fazer com que eu sentisse vontade de falar sobre todos os assuntos. Ele também era muito engraçado. Como se fosse do dia para a noite, eu comecei a sentir meu coração mais acelerado quando estava perto dele e comecei a ter outras vontades, coisas da idade mesmo. Eu não entendia bem o que estava acontecendo, mas na minha cabeça, eu acho que devo ter criado, imaginado, porque eu pensava que ele também se sentia da mesma forma que eu. Demorei um pouco para entender que estava apaixonado. Eu passei um bom tempo sem ir na casa dele e ignorar todos os convites que ele me fazia. Isso aconteceu por algumas semanas. Foi algo diferente, estranho, porque eu ia na casa dele q
Assim que pousamos, fomos direto para a parte de fora do aeroporto, porque não tínhamos mala nenhuma para pegar. Assim que peguei meu celular, eu vi uma mensagem do advogado Athos, dizendo que o homem que iria nos pegar, já estava nos esperando no aeroporto. Eu não tenho ideia de onde aquele homem saiu e como ele nos encontrou, porque tinham muitas pessoas.- Ana?- Sim?- Eu sou a pessoa que o advogado mandou vir pegar vocês. Me acompanhem rapidamente, por favor. O carro está no estacionamento. Já irei levar vocês para o primeiro destino.O homem não falava muito, na verdade, eu nem sei qual o nome dele.Porto Alegre era muito diferente do Rio de Janeiro. Não que eu conhecesse muito do Rio de Janeiro, porque tudo o que eu conhecia mesmo era o morro e somente uma parte do morro que eu morava. Estava encantada com tudo de novo que eu estava vendo. Estava
Começamos a entrar em um bairro que não era tão bonito quanto o primeiro, mas que ainda assim era interessante. Antes de descermos do carro, onde ele entrou no estacionamento e disse qual era o número do apartamento que deveríamos entrar, ele nos falou:- O advogado provavelmente deve ter falado para vocês que uma pessoa que irá ajudar vocês 3 com alguns detalhes, vai aparecer no aparecer no apartamento. Entre amanhã e depois de amanhã, eu devo estar trazendo essa pessoa até aqui. Fiquem atentos aos seus celulares. Vocês não devem sair do apartamento por nada, nessa semana em que estarão aqui. Tudo o que vocês precisam já está dentro do apartamento e se quiserem mais alguma coisa, podem ligar para mim ou para o advogado. Não falem com ninguém que não seja eu ou a pessoa que eu irei trazer para cá dentro de a
- Sim, exatamente, esse bebê. Ana só descobriu mais coisas sobre Lúcia, quando ela encontrou fotos e alguns documentos de bebês que Lúcia guardava em casa. Foi quando ela pediu ajuda do namorado e da diretora Carmem. Quando eu fiquei sabendo disso, quando Ana me contou exatamente tudo o que tinha acontecido, eu fiquei pensando no motivo da diretora Carmem ter sido tão inocente, porque é o que ela foi. Ela deveria ter ido diretamente na polícia, mas Ana ainda queria encontrar mais coisas, porque ela dizia que só aquilo não fosse o suficiente. Talvez não fosse o suficiente para mantê-la presa para sempre mesmo, mas seria o suficiente para uma investigação e talvez pudessem encontrar mais coisas, fora que Ana estaria segura e nada do que aconteceu com Carmem teria acontecido. Mas agora já é passado e tudo já aconteceu.- Meu deus, por que raios ela n&
- Eu não pensei isso de você. Você não me parece estar fazendo nenhum drama. Só me parece estar triste e isso é uma coisa que todos nós ficamos. Eu realmente só estou preocupado com você aqui tão longe do calçadão, porque aqui fica mais perigoso e você realmente tem cara de rica, o que pode se tornar mais perigoso ainda para você.- Então você veio me resgatar?- Se for preciso, sim. Vamos andando até o calçadão? Você pode ficar sentada em algum dos bancos que tem ali, é mais seguro do que ficar aqui tão longe.- Mas e você? O que estava fazendo aqui? Não tem mais tantas pessoas para comprar água por aqui, já foram quase todos embora.- Eu gosto de ver o mar de perto antes de voltar para casa.- Ah, então é perigoso para mim, mas não para você?- Ora, moça, veja como eu estou. Eu sou negro, morador de um morro, vendendo água. Eu que deveria ser um perigo para as outras pessoas. - O rapaz falou rindo. - Vamos andando at
Eu não nasci aqui. Na verdade, eu nem sei onde foi que eu nasci. Meu nome é Ana, eu tenho 16 anos de idade e eu moro no morro da Rocinha.A mulher que eu aprendi a chamar de mãe, nunca foi minha mãe de verdade e nem nunca me tratou como sua filha. Mas tudo o que eu conhecia era ela. Eu não sei exatamente como tudo começou, mas o pouco que eu sei, eu descobri ano passado, em 2020. Tinha 15 anos quando encontrei algumas cartas e fotos embaixo da cama de minha mãe, ou melhor, de Lúcia. Vi fotos de muitos bebês e no início eu não tinha entendido nada. Vi algumas fotos também de crianças que Lúcia levava para casa desde que eu me entendo por gente e dizia que eram crianças que ela tomava conta. As crianças nunca passavam mais que dois dias lá em casa, e eu cresci acostumada com elas, porque desde muito pequena, Lúcia sempre levava esses bebês para lá.Eu não tenho muitas lembranças da minha infância, ou melhor, eu acho que nem tive como ter muitas lembranças, porque eu sempre fazia as mesm
Enfim, fora isso as férias foram muito boas e tranquilas. Ainda apanhava de mamãe, mas isso era algo comum no meu dia a dia. Pelo menos as surras não foram tão fortes. Ela começou a me xingar de maneiras diferentes. Ela disse que eu estava começando a ficar gorda, mas na realidade eu estava deixando de ser tão magra quanto eu era antes. As vitaminas que a enfermeira Nara me dava realmente pareciam fazer efeito e meu apetite só fazia aumentar.- Vamos, Ana. O primeiro dia de aula começa hoje. Não vai querer se atrasar, né?Davi estava lá na frente de casa. Acho que Lúcia já tinha se acostumado um pouco com ele, porque ela não me chamava mais a atenção e nem me batia porque eu brincava com o Davi. Ela não gostava, mas não agia mais como antes pelo menos. Acho que ela se conformou que ele não ia deixar de me ver e eu não iria d
Eu limpei as lágrimas do meu rosto, peguei minhas coisas e disse:- Muito obrigada, seu Carlos.E fui embora.Eu estava tão feliz antes, mas aquilo acabou com o meu dia. Talvez fosse o que eu merecesse, porque ele não ia me dar algo de graça. Eu tinha que pagar pelo o que ele havia me feito.Subi para casa com as minhas coisas. Fui tomar um banho e escovar meus dentes, porque eu queria muito tirar aquele gosto ruim da boca. Nem tive coragem de pedir alguma coisa para comer do seu