capítulo 6

Três dias após o trauma do banheiro.

Acredito que este é o prédio mais alto que Tate já viu na vida.

Já faz três horas que ela está no elevador… Bom, não exatamente três horas, mas dois minutos de espera. Seu estômago embrulha só de pensar que esteve em uma entrevista de emprego na tarde anterior. Seus pensamentos se acalmariam se o entrevistador não tivesse dito: "Entraremos em contato em breve".

Já se passou quase um dia e nada. Nenhuma ligação sequer.

— Respira, inspira e não surta. — Ela diz a si mesma dentro do elevador, ignorando o senhor de cabeça branca que se assusta ao vê-la falando sozinha. Sem graça por parecer louca, Tate se vira, constrangida, e lhe dá um dos seus melhores sorrisos simpáticos.

O homem não corresponde.

Cruzando os dedos, enrolando o cabelo castanho que cai sobre seu ombro, fechando e abrindo sua jaqueta jeans, roendo a unha do dedão… Tate já não vê a hora do elevador se abrir.

— Até que enfim! — O elevador para no saguão, abrindo as portas e deixando a brisa fria acariciar seu rosto.

O inverno começou mais cedo este ano, fazendo todos ao seu redor se aconchegarem em seus casacos.

Do lado de fora do prédio, as ruas calmas nem parecem ser de uma tarde em Boston. A barra de seu vestido vermelho voa com o sopro frio que a envolve.

Ah, esse tempo.

— Poderíamos estar nos casando agora. — Sussurra para si mesma.

Só de pensar na cena de seu Malcolm em cima da sua chefe, dá um nó em seu estômago.

— Com licença, senhor. Poderia me informar onde fica a livraria mais próxima daqui? — O homem grisalho não queria ser interrompido em sua ligação, e Tate sabia disso. Mas não ligava. Em todos os seus anos de experiência na vida adulta, seu dilema sempre foi o seguinte:

"Se uma pessoa não pode ser educada, então force a ser!"

Com muita relutância, o senhor lhe diz o caminho, que fica a menos de duas quadras do prédio.

Como uma jovem pode desabafar suas mágoas?

Alguns se afogariam em álcool, outros em drogas. Mas Elizabeth se lançaria em uma pilha de livros para tentar afugentar quaisquer pensamentos ruins.

Álcool seria mais rápido, ela pensa.

Porém, Tate não ousaria beber novamente, pois na última vez foi para superar seu chifre e acabou postando uma foto no I*******m com a legenda: "Olha o que você perdeu!" Não seria vergonha por postar uma foto de seus pés em meias de urso, mas sim pelas ligações, mensagens… Lives…

Desde aquele dia, jurou não beber uma gota sequer de álcool. Embora, se for tequila, dois dedinhos serviriam.

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É linda!

A livraria dos seus sonhos.

Paredes rústicas, porta de vidro negro e um jardim simples e delicado cercando a loja.

Um suspiro.

Dentro, outro suspiro.

Livros novos e velhos preenchendo as paredes até o teto, balcões, mesas e almofadas espalhadas pelo grande espaço. A iluminação perfeita, como se fosse um amanhecer no paraíso. Uma coisa chama sua atenção: não é apenas uma livraria, mas também uma biblioteca para aqueles que não têm dinheiro para comprar livros.

Esse sempre foi seu sonho, e continua sendo. Aquele era o lugar perfeito para realidades distantes.

O sino da porta soa quando alguém entra, e logo um senhor com dois cachecóis pendurados no pescoço se aproxima com um sorriso de orelha a orelha.

— Posso te ajudar? — pergunta ele. Ao perceber que é para ela, Tate responde.

— Oh, eu gostaria de dar uma olhada nos livros.

— Fique à vontade, minha filha, não terá outro dia para voltar a esta loja.

Um calafrio a toma instantaneamente.

— Por quê? — Ela passa os dedos por alguns livros. — Não querendo ser curiosa demais...

— A loja está à venda. Meu filho está muito doente e terei que voltar para o Canadá. O dinheiro da venda será para pagar o tratamento dele. — O senhor respira, cheio de frustração.

— Quanto o senhor está pedindo pela loja?

Seu olhar se arregala com a pergunta. Tate sabe que não teria tanto dinheiro para algo tão grande, mas, se for preciso, até se humilharia para os pais. Valeria a pena.

— 250 mil, com tudo que está dentro. — diz ele, baixinho, quase mudo.

Ela entende sua dor. Aquela livraria deveria ser sua casa e agora ele está vendendo por um preço que nem os livros na parede valeriam.

Eu preciso disso... Ela pensa. Não seria ruim ter alguma realização na vida.

Só bastava um sinal, e Tate precisava disso.

Só um empurrão para dar os primeiros passos. O que ela tinha a perder?

Teria que arriscar e terminar com a tradição de fracasso que a acompanhou nos últimos anos.

— Eu compro!

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