Elana franziu levemente a testa, inclinando a cabeça para o lado. — Não entendi. Você achou o quê? Que o livro é sobre você? A voz dela saiu leve, quase casual, mas ele percebeu o sutil endurecimento nos ombros, como se estivesse se preparando para o impacto. Gabriel não respondeu de imediato. Apenas segurou a manga da própria blusa e a ergueu devagar, revelando a pequena tatuagem de estrela no pulso. Elana prendeu o fôlego por um instante. Os olhos dela desceram até a tatuagem e depois voltaram ao rosto dele, mas agora sem a mesma segurança de antes. — Você tatuou... — murmurou, quase inaudível. Gabriel assentiu, os olhos fixos nos dela. — Não lembro exatamente quando foi, mas... As palavras morreram na garganta quando Elana, sem desviar o olhar, começou a desfazer lentamente os botões da blusa. Ele piscou, confuso por um instante, até perceber o que ela fazia. A blusa se abriu, revelando o sutiã bege e, logo acima dele, no lado esquerdo do peito, bem sobre o coração... a mes
Gabriel sustentou o olhar de Elana por mais alguns segundos, como se ainda procurasse alguma rachadura na parede que ela acabara de levantar entre eles. Mas não encontrou nada além da firmeza bem treinada de uma escritora que sabia exatamente o que não queria dizer. Ele expirou devagar, baixando os ombros num gesto quase imperceptível. Quando falou novamente, a mudança era clara; o calor havia se recolhido, dando lugar ao tom controlado de um editor experiente. — Tudo bem. — disse, com um aceno breve. — Então vamos tratar como o que é. Um bom livro de ficção. Elana manteve a expressão neutra, mas o olhar dela o acompanhou enquanto ele dava a volta na mesa e se sentava na cadeira giratória, assumindo o comando da sala como quem veste uma armadura. — Pode se sentar. — ele indicou a cadeira diante dele, sem mais floreios. Ela hesitou por um instante, mas obedeceu. Cruzou as pernas com elegância, e então repousou as mãos sobre o colo. — Bem... quanto tempo precisa para finalizar o l
O vagão balançava suavemente enquanto o metrô avançava pelos túneis subterrâneos da cidade. Elana estava sentada junto à janela, o celular colado ao ouvido. A cidade corria lá fora, mas ela ainda estava presa na sala da editora, onde memórias mal resolvidas e contratos milionários se cruzavam como linhas soltas de um texto inacabado. — Como assim o Gabriel? — a voz de Isabella soou do outro lado da linha, incrédula — Ele ainda cuidou de você doente? — O próprio. Com sobrenome e tudo. — Elana respondeu, com um meio sorriso cansado. — Mas… como assim? Você teve uma reunião com Gabriel e nem me contou que tinha um manuscrito, criatura? Eu sou sua melhor amiga! Eu devia ter lido isso antes de qualquer editor desse planeta! Elana riu baixinho, tentando não atrair a atenção das pessoas ao redor. — Foi tudo muito rápido, Isa. Eu escrevi dez capítulos em uma única madrugada, sem pausa. Me arrumei e fui até a editora, para dar o manuscrito para ele. E foi aí, que eu conheci a MULHER dele!
Ela engoliu em seco e entrou com o pacote nos braços, trancando a porta atrás de si com mãos ligeiramente trêmulas. Largou a bolsa no chão e foi direto para a mesa da cozinha, onde pousou a caixa com cuidado. Ficou olhando por alguns segundos, tentando entender o que exatamente estava sentindo. Com delicadeza, desfez o laço de barbante e puxou o papel pardo, revelando uma caixa de sapatos antiga, daquelas que a mãe costumava guardar cartas, fotografias e recortes de jornal. Dentro, havia um envelope com seu nome escrito à mão, seguido de um empacotamento apertado de cédulas dobradas; notas de cem, cinquenta, vinte. Elana arregalou os olhos. Havia maços de dinheiro ali. Muitos. Ela não sabia quanto, mas era mais do que poderia contar de uma vez. Tirou o envelope com o próprio nome, abrindo-o com mãos que já não disfarçavam o tremor. No interior, uma carta, escrita com a mesma letra que a fez chorar nas tarefas da escola, quando a mãe a ajudava a copiar. “Minha querida Elana, Se voc
Alguns dias se passaram desde que Elana entregou o manuscrito para Gabriel e eles decidiram, oficialmente, trabalhar juntos. O silêncio que pairava desde então não era incômodo; pelo contrário, era necessário. No dia seguinte à reunião, o adiantamento prometido caiu em sua conta. Elana ficou encarando a notificação no celular por longos minutos, sem conseguir se mover. Cem mil dólares. A soma parecia grande demais para ela, para a garota que cresceu com medo de pedir um sorvete no meio da rua, porque sabia que seus pais nadavam em dívidas. Ela transferiu uma parte para uma conta separada, pagou algumas dívidas pequenas e ainda assim, a maior parte do valor continuava lá. Intocado. Como se ainda não fosse real. Enquanto isso, o dinheiro que Eilen deixara na caixa de sapatos também continuava guardado, envolto no mesmo papel pardo e com a carta repousando sobre ele. Elana ainda não tinha coragem de usar nada daquilo. Era como se mexer naquela quantia fosse apagar o último - talvez p
Elana olhou em volta, desesperada por uma rota de fuga, qualquer coisa que a livrasse daquela situação. Seus olhos pararam na mesa ao lado, onde um homem de barba por fazer e olhos curiosos tomava um espresso e rabiscava em um caderno de anotações. Sem pensar duas vezes, inclinou-se na direção dele e sussurrou: — Me desculpa... você pode fingir que está conversando comigo? É meio urgente. O homem ergueu os olhos, surpreso, mas pareceu captar a gravidade do pedido rapidamente. — Ex-namorado, ex-chefe ou alguém que você deve dinheiro? — Esposa do editor que vai publicar meu livro. — ela respondeu rápido. — E... é complicado. Muito complicado. Ele sorriu com o canto da boca e fechou o caderno. — Então vamos improvisar. Curvou-se na direção dela e apontou para a tela do laptop, como se estivessem analisando algo juntos. Elana forçou um sorriso e começou a balbuciar qualquer coisa, torcendo para que Giana passasse reto. Mas aquilo não aconteceu. Giana não só não passou reto, como
A tentativa de leveza funcionou o suficiente para quebrar o gelo por alguns segundos. Giana soltou uma risada curta. — Então vocês dois estão... trabalhando — ela reforçou, voltando os olhos para Elana com um brilho provocador. — E o Gabriel, será que já sabe dessa parceria? Elana manteve o sorriso. — Gabriel está ciente de tudo que precisa estar. Giana apertou levemente os lábios, sem saber se aquilo era um elogio ou uma cutucada. Talvez fosse ambos. — Claro. — respondeu, olhando uma última vez para Ryan. — Bem, não vamos interromper mais. Lara odeia perder tempo na fila e eu... odeio perder paciência. Bom dia para vocês. As duas se afastaram em passos elegantes. Mas antes de cruzar a porta, Lara virou o rosto por um segundo e os olhos que encontrou os de Elana, pareciam dizer o que a boca jamais ousaria. Quando a porta se fechou atrás delas, Ryan virou-se com uma expressão que misturava espanto e diversão. — Se isso é só o começo da sua história, mal posso esperar pelo clíma
— Eu não acredito que vou mesmo fazer isso. — Elana disse, segurando o celular com uma mão enquanto a outra remexia cabides dentro do armário. — Isso é loucura, né? Do outro lado da tela, Isabella estava esparramada no sofá com uma taça de vinho e uma expressão de quem estava se divertindo horrores. — Loucura é você cogitar sair com esse cardigã bege. Elana, por Deus. Você quer jantar com um homem interessante, não parecer que vai revisar uma monografia. — Isso é o que eu tenho, Isa! Eu nem sei mais o que é estar “arrumada” para alguma coisa. Ainda mais para um… jantar? Encontro? Entrevista informal? Eu nem sei o que isso é! — Isso é claramente um encontro. — Isabella respondeu, girando a taça devagar, com um sorriso malicioso. — E ele claramente está interessado. Você precisa parar de agir como se estivesse indo para uma reunião de condomínio. Elana soltou um riso nervoso e jogou um vestido floral em cima da cama. — Esse? — Só se vocês forem jantar num jardim de infância. Elan