Muito obrigada por ler! Até a próxima!
Matheus: "Se precisar de algo, estou por perto."Meus dedos pairaram sobre a tela, e meu coração deu um pequeno solavanco.Ele não perguntou se eu estava bem. Ele sabia que não estava.Mas Matheus sempre sabia como dizer as coisas certas.Pensei em responder, mas, antes que pudesse digitar qualquer coisa, meu celular começou a vibrar em minhas mãos.Mãe.Soltei um suspiro antes de atender.— Mãe?— Julia, querida… — A voz dela veio carregada de preocupação. — Está tudo bem?Fechei os olhos por um instante, sentindo um nó na garganta.— Estou bem, mãe.— Tem certeza?— Tenho.O silêncio do outro lado da linha me disse que ela não acreditou em mim.— Seu ex-sogro me ligou. Ele me contou o que aconteceu ontem.Meu estômago revirou.— Mãe…— Ele não tinha o direito de falar com você daquele jeito! — Ela interrompeu, sua voz embargada de indignação. — Como se você já não tivesse sofrido o bastante… Como se você não tivesse perdido também! — Como sempre, dona Ofélia estava pronta para me def
O silêncio dentro do carro era sufocante.Desde que saímos do restaurante, Matheus estava ainda mais fechado. Seus dedos estavam brancos de tanto apertar o volante, os músculos do maxilar travados, e seu olhar focado na estrada como se tentasse controlar algo dentro de si.Eu queria ter coragem de perguntar sobre o que havia acontecido, se eu tinha feito algo que pudesse lhe ofender. Talvez fosse por ter reparado a forma como agi estranha depois do vinho, devia querer se livrar de uma mulher como eu, e a ficha só caiu quando ficamos sozinhos em um lugar livre o suficiente para que transparecesse mais quem eu era de verdade.Me senti perdida.Envergonhada.A cada semáforo fechado, ele soltava um suspiro impaciente. A cada carro mais lento à frente, os dedos tamborilavam contra o volante.Mas o que me preocupava não era sua irritação.Era a forma como ele parecia… chateado consigo mesmo.A tensão irradiava de seu corpo, diferente de tudo que eu já tinha visto antes. Não era só raiva. Era
Passei o fim de semana todo enrolada em um cobertor maratonando Game Of Thrones e desperdiçando meus últimos neurônios vivos para tentar compreender a série — fazia tanto tempo que nem me lembrava mais em que episódio estava. A conversa com Matheus retumbava por mim o tempo inteiro, me sentia imensamente culpada, mas a exaustão era maior. Na segunda, não procurei por ele ao chegar ao prédio de escritórios, não queria criar eu mesma armadilhas para meu coração ferido. Por isso passei depressa pelo salão e fui para minha mesa, afundando nas mil e uma planilhas e deixando-me sufocar pelas exigências e maluquices de Henrique, que ainda estava se vingando por eu não ter aceitado suas investidas.Passei a semana toda assim, mal parando para conversar com minha única colega. Quando menos percebi, chegou sexta-feira, o dia já tinha acabado e eu estava sozinha, praticamente na escuridão.Desliguei meu computador e levantei, tirando os sapatos apertados, vendo os pés inchados atrás da meia-calç
O silêncio confortável foi desaparecendo aos poucos. Eu sentia Matheus me observando, como se estivesse escolhendo as palavras certas antes de falar. E eu sabia o que viria a seguir. Não era possível que ele não tivesse nada a dizer depois do que aconteceu no carro.— Eu andei pensando sobre o que você disse naquela noite — ele começou, pude ver seus dedos se apertando ainda mais forte. — Sobre mantermos as coisas profissionais.Meu peito apertou. Eu não queria ter essa conversa. Mas, ao mesmo tempo, parte de mim sabia que precisávamos.— Foi o melhor a fazer —, murmurei, sem olhá-lo diretamente. — Eu só... Não quero me meter em algo complicado.— Mas e se eu quiser? — sua resposta foi quase perturbadora, só estava preparada para uma compreensão silenciosa, como sempre.Levantei os olhos, surpresa. — O quê?Matheus inclinou-se um pouco para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — E se eu não quiser me afastar?Minha respiração vacilou. Eu não esperava que ele fosse tão direto. Semp
O silêncio entre nós pesava tanto quanto a chuva lá fora. Eu ainda sentia o calor da risada que escapou minutos atrás, mas agora meu peito estava apertado. Matheus realmente agia diferente de Gabriel, o que tornava tudo ainda mais frustrante, já que dificultava as coisas. Era a gentileza, a forma como ele me olhava sem exigir, sem pressionar.Engoli em seco, sentindo o coração acelerar. Eu deveria me levantar, jogar o copo vazio fora e ir embora antes que fizesse algo estúpido. Antes que cedesse a esse desejo irracional de me perder nele por um instante.Mas então ele falou:— Eu sei que você tem seus motivos para querer distância. E eu prometo respeitar isso. Mas não vou mentir, Julia. Eu não quero me afastar de você.A voz dele era baixa, rouca. Havia algo em seu olhar, um brilho indecifrável que me fez prender a respiração. Minha mão apertou o copo de isopor, mas não consegui dizer nada. As palavras estavam presas na garganta, esmagadas pelo peso de tudo o que eu sentia e não queri
Eu estava exausta. Nos últimos dias, o trabalho parecia ter triplicado, e o tempo que costumava dividir entre minhas responsabilidades e os momentos roubados com Matheus havia sumido. Mal trocávamos mensagens, e quando nos víamos no escritório, era sempre de longe, como se um abismo tivesse se formado entre nós.Pensei que ele estivesse disposto a desistir, já que as coisas não dariam certo, ele estava sempre em viagem e eu sempre com aquele chefe infernal bufando no cangote.O som da notificação no computador me tirou dos pensamentos, o diabo tinha mandado mensagem.Mensagem de Henrique: "Minha sala. Agora."Engoli em seco. Ótimo. Mais um problema.Respir
O ronco constante dos motores do avião era quase reconfortante. Quase. Me ajudava a manter o foco nos documentos que eu fingia ler pela terceira vez, embora cada palavra parecesse se dissolver diante dos meus olhos. Eu ainda estava com a cabeça em tudo que aconteceu nos dias passados. No beijo.Nos beijos.Matheus.E agora aqui estávamos. A caminho de uma viagem de negócios, sentados no mesmo avião, com o silêncio pairando entre nós como uma camada de vidro. Eu queria quebrá-la, por mais que me ferisse, queria que ele estendesse a mão para afastar meu medo de altura, e que deixássemos os papéis de lado para ver um filme juntos.Mas não éramos um casal, não fazíamos esse tipo de coisa, era uma viagem a trabalho que já parecia ter começado estressante.Ele se sentou na fileira de atrás, , que estava desocupada, para resolver algumas coisas do trabalho, foi o que disse. Eu fiquei perto da janela, observando as nuvens se acumularem sob nós como um mar de algodão. Tentei controlar o apert
Ele não soltou minha mão.Mesmo quando um comissário passou discretamente oferecendo bebidas e eu recusei com um aceno, Matheus apenas ajustou a posição dos nossos dedos entrelaçados, como se quisesse garantir que eu não fosse a lugar nenhum. O toque dele era quente, firme e ainda assim delicado — como se tivesse medo de me espantar se apertasse demais.— Está com sono? — ele perguntou, a voz mais baixa agora, quase íntima.Balancei a cabeça, sorrindo de canto.— Acho que estou mais… cansada do que sonolenta.Ele fez um leve movimento com a cabeça, como se entendesse exatamente o que eu queria dizer. Não era sono. Era exaustão de manter posturas, de silenciar emoções, de aguentar tudo sozinha. E com ele ali, do meu lado, essa exaustão começava a dar lugar a outra coisa.— Vem cá — ele disse, baixinho, e soltou minha mão só para passar o braço por trás dos meus ombros, puxando-me levemente para mais perto. O gesto foi tão natural que meu corpo se moldou ao dele como se já soubesse o ca