Muito obrigada por ler! Até a próxima!
Passei o fim de semana todo enrolada em um cobertor maratonando Game Of Thrones e desperdiçando meus últimos neurônios vivos para tentar compreender a série — fazia tanto tempo que nem me lembrava mais em que episódio estava. A conversa com Matheus retumbava por mim o tempo inteiro, me sentia imensamente culpada, mas a exaustão era maior. Na segunda, não procurei por ele ao chegar ao prédio de escritórios, não queria criar eu mesma armadilhas para meu coração ferido. Por isso passei depressa pelo salão e fui para minha mesa, afundando nas mil e uma planilhas e deixando-me sufocar pelas exigências e maluquices de Henrique, que ainda estava se vingando por eu não ter aceitado suas investidas.Passei a semana toda assim, mal parando para conversar com minha única colega. Quando menos percebi, chegou sexta-feira, o dia já tinha acabado e eu estava sozinha, praticamente na escuridão.Desliguei meu computador e levantei, tirando os sapatos apertados, vendo os pés inchados atrás da meia-calç
O silêncio confortável foi desaparecendo aos poucos. Eu sentia Matheus me observando, como se estivesse escolhendo as palavras certas antes de falar. E eu sabia o que viria a seguir. Não era possível que ele não tivesse nada a dizer depois do que aconteceu no carro.— Eu andei pensando sobre o que você disse naquela noite — ele começou, pude ver seus dedos se apertando ainda mais forte. — Sobre mantermos as coisas profissionais.Meu peito apertou. Eu não queria ter essa conversa. Mas, ao mesmo tempo, parte de mim sabia que precisávamos.— Foi o melhor a fazer —, murmurei, sem olhá-lo diretamente. — Eu só... Não quero me meter em algo complicado.— Mas e se eu quiser? — sua resposta foi quase perturbadora, só estava preparada para uma compreensão silenciosa, como sempre.Levantei os olhos, surpresa. — O quê?Matheus inclinou-se um pouco para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — E se eu não quiser me afastar?Minha respiração vacilou. Eu não esperava que ele fosse tão direto. Semp
O silêncio entre nós pesava tanto quanto a chuva lá fora. Eu ainda sentia o calor da risada que escapou minutos atrás, mas agora meu peito estava apertado. Matheus realmente agia diferente de Gabriel, o que tornava tudo ainda mais frustrante, já que dificultava as coisas. Era a gentileza, a forma como ele me olhava sem exigir, sem pressionar.Engoli em seco, sentindo o coração acelerar. Eu deveria me levantar, jogar o copo vazio fora e ir embora antes que fizesse algo estúpido. Antes que cedesse a esse desejo irracional de me perder nele por um instante.Mas então ele falou:— Eu sei que você tem seus motivos para querer distância. E eu prometo respeitar isso. Mas não vou mentir, Julia. Eu não quero me afastar de você.A voz dele era baixa, rouca. Havia algo em seu olhar, um brilho indecifrável que me fez prender a respiração. Minha mão apertou o copo de isopor, mas não consegui dizer nada. As palavras estavam presas na garganta, esmagadas pelo peso de tudo o que eu sentia e não queri
Eu estava exausta. Nos últimos dias, o trabalho parecia ter triplicado, e o tempo que costumava dividir entre minhas responsabilidades e os momentos roubados com Matheus havia sumido. Mal trocávamos mensagens, e quando nos víamos no escritório, era sempre de longe, como se um abismo tivesse se formado entre nós.Pensei que ele estivesse disposto a desistir, já que as coisas não dariam certo, ele estava sempre em viagem e eu sempre com aquele chefe infernal bufando no cangote.O som da notificação no computador me tirou dos pensamentos, o diabo tinha mandado mensagem.Mensagem de Henrique: "Minha sala. Agora."Engoli em seco. Ótimo. Mais um problema.Respir
O ronco constante dos motores do avião era quase reconfortante. Quase. Me ajudava a manter o foco nos documentos que eu fingia ler pela terceira vez, embora cada palavra parecesse se dissolver diante dos meus olhos. Eu ainda estava com a cabeça em tudo que aconteceu nos dias passados. No beijo.Nos beijos.Matheus.E agora aqui estávamos. A caminho de uma viagem de negócios, sentados no mesmo avião, com o silêncio pairando entre nós como uma camada de vidro. Eu queria quebrá-la, por mais que me ferisse, queria que ele estendesse a mão para afastar meu medo de altura, e que deixássemos os papéis de lado para ver um filme juntos.Mas não éramos um casal, não fazíamos esse tipo de coisa, era uma viagem a trabalho que já parecia ter começado estressante.Ele se sentou na fileira de atrás, , que estava desocupada, para resolver algumas coisas do trabalho, foi o que disse. Eu fiquei perto da janela, observando as nuvens se acumularem sob nós como um mar de algodão. Tentei controlar o apert
Ele não soltou minha mão.Mesmo quando um comissário passou discretamente oferecendo bebidas e eu recusei com um aceno, Matheus apenas ajustou a posição dos nossos dedos entrelaçados, como se quisesse garantir que eu não fosse a lugar nenhum. O toque dele era quente, firme e ainda assim delicado — como se tivesse medo de me espantar se apertasse demais.— Está com sono? — ele perguntou, a voz mais baixa agora, quase íntima.Balancei a cabeça, sorrindo de canto.— Acho que estou mais… cansada do que sonolenta.Ele fez um leve movimento com a cabeça, como se entendesse exatamente o que eu queria dizer. Não era sono. Era exaustão de manter posturas, de silenciar emoções, de aguentar tudo sozinha. E com ele ali, do meu lado, essa exaustão começava a dar lugar a outra coisa.— Vem cá — ele disse, baixinho, e soltou minha mão só para passar o braço por trás dos meus ombros, puxando-me levemente para mais perto. O gesto foi tão natural que meu corpo se moldou ao dele como se já soubesse o ca
O táxi parou em frente ao hotel pouco depois das oito da noite. Ainda estava quente, mesmo com o céu escurecendo, e as luzes da cidade começavam a refletir nos vidros do prédio de forma quase hipnótica. O calor, no entanto, brigava vorazmente com a maresia, nós quase tínhamos ficado pela estrada para ver o mar.O lugar era mais luxuoso do que eu esperava — mármore no saguão, funcionários impecáveis, um cheiro sutil de flores e algo amadeirado no ar-condicionado.Matheus pegou as chaves na recepção com a naturalidade de quem já tinha feito aquilo dezenas de vezes, e só então notei que haviam reservado quartos separados. Um alívio e uma decepção se misturaram dentro de mim, confusos e incômodos. Eu não sabia o que esperava. Mas uma parte de mim queria continuar a proximidade do avião, aquele espaço entre nós onde tudo parecia mais simples.— A gente tem reunião com o cliente amanhã às dez — ele disse, entregando meu cartão de acesso. — Mas até lá, o tempo é nosso.Nosso.Fiquei com aqui
Bati na porta duas vezes antes de perceber que já estava aberta.Matheus estava encostado no batente, como se já estivesse esperando. Usava uma camiseta cinza simples e uma calça de moletom escura, os pés descalços no carpete. O cabelo ainda um pouco bagunçado do voo, e os olhos… os olhos diziam muito mais do que qualquer palavra que ele pudesse escolher.— Oi — murmurei, sentindo meu coração dar aquele salto idiota no peito.Ele sorriu, meio torto, meio cansado.— Você demorou.— Tava tentando decidir se era uma boa ideia.— E concluiu que é?— Ainda não sei.Ele riu, baixinho, e abriu a porta de vez.— Entra. Prometo não te morder. Revirei os olhos, mas entrei.O quarto dele era praticamente igual ao meu, mas com uma energia diferente. Havia um livro aberto sobre a cama, uma garrafa de água pela metade na mesinha e a mala dele ainda fechada, jogada num canto. Matheus fechou a porta atrás de mim e, por um segundo, ficamos em silêncio.Ele encostou as costas na parede, cruzando os br