Capítulo 1

Anthony Beckham

Minha mente vagava entre os últimos minutos, minhas lembranças me condenavam pesadamente e por conta da adrenalina o efeito das drogas talvez tenham reduzido drasticamente em minha corrente sanguínea me fazendo pensar em tudo o que houve a minutos atrás.

— Você não vê, Michael, que arruinou a minha vida? 

Abaixei a arma ainda olhando para meu irmão que parecia preocupado e naquele momento me senti triunfante. 

 — Por que você não ficou em Londres? Eu poderia ter ficado como CEO da empresa do papai, poderia estar desfrutando de um ótimo salário e assim não precisaríamos roubar nada das empresas, sim, eu tive ajuda de um ótimo hacker para acessar os contratos da sua empresa e assim modificar valores cada vez maiores, pela primeira vez na vida, com muito esforço consegui entrar com sociedade em uma casa noturna quando começaram a surgir as dívidas e precisávamos dar um jeito de pagar tudo, mas graças a você, a nossa boate está devendo milhões de dólares em drogas, e agora não temos como pagar o que devemos. 

Talvez controlando sua própria raiva Michael respondeu entre dentes.

 —  Anthony, o nosso pai queria alguém que já tivesse experiência, eu era o mais qualificado para cuidar da empresa da nossa família.

Meu peito dói e engulo em seco com muita dificuldade quando vejo que estou sendo levado para algum lugar, talvez, essa seja a última viagem em vida, a última viagem para meu próprio inferno.

Sinto meu corpo todo doer, a respiração está presa na garganta e parece que estou sendo puxado com toda força para a escuridão. 

Eu sei que estou prestes a morrer, sabia que a escolha que havia feito dias atrás, traria enormes consequências, e agora aqui deitado na maca, todo ensanguentado, sei que não terei o perdão da minha família. 

Meu Deus, como fui cego!

Agora consigo lembrar do quanto eles tentaram me ajudar, do quanto tentaram se aproximar, mas eu os impedia com todas as barreiras e grosserias que existiam em mim, eu os repelia, fazia com que mantivessem distância de mim, não tem mais volta, agora é tarde demais.

 Não tenho mais chance de escapar com vida. 

Minha mente entrou em pânico quando tive certeza de que não sairia vivo e nem mereço isso, tentando respirar mais uma vez, começo a ter algumas lembranças dos meus pais, meu coração passa a acelerar de uma forma que nunca havia sentido.

Meu corpo começa a convulsionar, sinto muita dor e gostaria de dizer que não sinto o sangue fluir do meu corpo como se fosse uma fonte, mas estaria mentindo. 

Gostaria de dizer que não sinto meu corpo arder, no peito e abdômen como se estivessem com fogo puro, pois, sei que está ardendo por conta dos tiros que levei porque mereci e se eu pudesse ter outra chance, usá-la ia para viver de verdade, ter uma vida honrada onde eu pudesse olhar nos olhos de cada integrante da minha família que magoei profundamente e dizer o quanto me arrependo. 

O arrependimento não é só uma sensação triste, ela é esmagadora e misturada a dor física que sinto nesse momento, posso dizer que estou a ponto de enlouquecer. 

O arrependimento veio muito rápido, naquele instante em que disparei contra meu irmão, meu peito doeu, tanto pelas balas que o acertaram, quanto pela traição da minha parte, no fundo, eu o amo, não queria fazer mal a ele, apesar de estar sob efeitos de drogas e bebida alcoólica, nada justifica meus atos e por isso estou aqui, morrendo aos poucos. 

Consigo ouvir tudo ao redor, mas não consigo falar nada, sei que tem pessoas à minha volta, mas tudo o que vejo são vultos e isso me assusta, com a visão turva, consigo puxar o ar com muita dificuldade uma última vez e então sou levado pela escuridão.

Sinto muito frio, estou num local silencioso e ouço apenas alguns sons mecanizados, quando finalmente consigo ter forças para abrir meus olhos, sinto lágrimas descerem pelo meu rosto, quando consigo reconhecer o local em que estou, com tristeza, vejo que estou sozinho num quarto hospitalar e então eu mergulho na escuridão novamente, cansado, sentindo muitas dores pelo corpo, apenas me refugiei em toda a escuridão que me engolia.

Não sei quanto tempo passou desde aquele dia. 

A verdade é que tenho a sensação de que estou preso neste corpo imóvel a muito tempo, e isso me deixa angustiado, não quero sobreviver preso em uma cama pelo resto da minha vida de merda.

Orando a Deus, peço para que ele me leve ao invés de me deixar vegetar, não quero continuar sendo um peso para minha família, sei que seria egoísmo pedir uma segunda chance a Deus, mas se não for dessa forma, estou preparado para partir. 

Ouço pessoas ao meu redor, mas não consigo me mover, nem ao menos abrir os olhos, tudo o que consigo ouvir são os sons mecanizados e isso já faz alguns dias.

Um tempo depois, ouço vozes desconhecidas e algumas que me fazem chorar internamente por saber que não mereciam me ver desse jeito, por saber que o sentimento deles sempre foi verdadeiro por mim e eu que os rejeitava.

Gostaria de levantar dessa cama e dizer a eles que me arrependo por tudo que fiz, mas sei que não tenho essa chance e muito menos a mereço, minha família não merece passar por tudo isso e agora eu sei o quanto errei com eles. 

O tempo na escuridão passa lentamente como se fosse uma forma de torturar lentamente. No meu atual estado era uma tortura. É como se me deixassem sentado sozinho em um local com paredes brancas, totalmente consciente do que eu havia feito me deixado somente com meus erros e pensamentos para que eu mesmo me torturasse pelas merdas que fiz.

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