Capítulo 2

Anthony Beckham

Acredito que dormi por muito tempo e acabei despertando quando minha mente reconheceu uma voz feminina, doce e muito calma, ela estava perto, sentia sua presença e energia aqui ao meu lado, e nesse momento comecei a reunir forças para que eu conseguisse reagir de alguma forma e assim ter a confirmação de que seria ela de verdade.

Mas, o que ela estaria fazendo aqui?

Não queria que ela me visse desse jeito, prestes a morrer, mas aqui está ela, trazendo sua energia limpa e pura.

A mulher que silenciosamente, preencheu minha mente a muito tempo, com cada troca de olhar, sorriso disfarçado e jeito meigo.

    A mulher que me fez perder a cabeça completamente quando a vi íntima do Heitan, e com as próprias palavras do cretino, disse que ela seria sua melhor fonte de renda depois de seduzi-la. 

Heitan tinha planos para todos, inclusive para a própria Laura, mas quando me vi decepcionado pelo rumo que meu coração havia seguido, eu enlouqueci e me droguei exageradamente, estava decepcionado por saber que ela tinha algo mais profundo com Heitan, e acabei fazendo todas as merdas que hoje me trouxeram a maior consequência e sofro por isso, não posso negar, eu mereço cada segundo desse inferno particular, foi isso que procurei.

Aquela frase que sempre ouvi falar, realmente é verdadeira “colhemos o que plantamos”, e estou recebendo em dobro toda a semente do mal que plantei, sem dúvidas.

Estou preso numa cama sem conseguir agir, me mover ou falar alguma coisa, estou condenado a viver com meus pensamentos e lembranças me atormentando, as lembranças e conversas que mais me atormentam são as com Heitan.

— Ela é linda, toda bobinha achando que tem a minha atenção só para ela. 

Ele me dizia com uma frieza que me incomodava, a alguns dias eu já estava ficando irritado com esse lado do Heitan que eu não conhecia antes. 

— Você… Já transou com ela?

Perguntar isso fez meu peito arder, pensar que Marcelly divide uma cama com um homem sujo como Heitan, me fez criar um nojo de tudo.

Custou muito fingir indiferença quando estávamos falando da Marcelly. 

Negando com um gesto, Heitan se acomodou em sua cadeira e virou o copo de whisky de uma só vez e disse.

— Não, ainda não, mas sei que ela quer, está se fazendo de difícil, mas no fundo, me quer.  

Ele sorriu diabolicamente e continuou:

— Ela não sabe o que a aguarda depois que estiver apegada a mim... 

De repente, consegui apenas ouvir a sua voz trêmula e muito triste, seus dedos tocaram os meus e consegui sentir o calor do seu toque, me trazendo um certo conforto que eu não esperava sentir, acho que nem mereço sentir essa sensação tão pura de paz que Marcelly me transmite, ela me transmitia uma sensação tão boa em todas as vezes que estávamos no mesmo lugar, bastava apenas trocar um olhar de 5 segundos e tudo já melhorava.

— Eu sinto muito, Anthony, queria ter tido a chance e a coragem para falar tudo… 

Ela soluçou e apertou minha mão, seu toque delicado me fez sentir vontade de levantar-me dessa cama, de reagir para viver, mas então, ela parou de falar e um tempo depois, ouvi passos ecoando pelo piso e então percebi que estou sozinho novamente. 

Internamente me debato desesperado, querendo sentir aquele calor que me trouxe paz por alguns segundos. 

Queria que ela ficasse mais, mas eu não posso pedir algo tão egoísta, não tenho o direito de querer e não posso desejar viver algo que me parecesse ser o certo, tudo porque eu fiz a escolha errada, tudo porque estou colhendo exatamente o que plantei.

É muito egoísmo, desejar voltar no tempo para fazer as escolhas certas e conquistar Marcelly para viver aquela paz que ela transmite?

Marcelly foi a garota certa no meu momento mais errado. Uma garota inocente que foi trazida para o mundo fodido em que eu entrei de cabeça por vontade própria, tudo porque queria ser igual ou melhor que meu irmão. O que eu não sabia, é que tudo tem um preço, meu irmão se dedicou, estudou, trabalhou e batalhou muito por tudo o que tem hoje. 

E eu, sou um ex-universitário, com um coração maltratado, e que conforme os anos foram passando, pensava que era excluído por todos, quando na verdade, eu criei uma bolha malditamente egoísta ao meu redor, pensando que o mundo girava em torno de mim, um egocêntrico infeliz… Que foi capaz de arruinar a própria vida. 

A mulher que pensei amar, me maltratou de uma forma que nunca fui capaz de esquecer e a verdade é que não fiz questão de esquecer, com meu ego ferido e pensamentos infantis, preferi viver daquela forma, desejando levar aquele rancor para o resto da vida, preferi viver a minha vida do jeito mais egoísta e egocêntrico do mundo, usando meu passado como desculpa para tomar as atitudes e escolhas erradas que eu fazia.

Tão infantil e egocêntrico, como se as pessoas devessem me notar, como se elas devessem me parabenizar pelas coisas que eu conquistei, a verdade é que eu vivi errado, vivi enganado por mim mesmo.

***********

Se comparar a dor que sinto em meu corpo travado nessa cama, não sei a quanto tempo estou assim, se faz dias, semanas ou meses que eu esteja nesse hospital, despertei quando ouvi vozes ao meu redor, e depois de muito esforço finalmente consegui abrir meus olhos, através das vistas embaçadas, consegui reconhecer minha mãe, que estava próxima de mim, e quando me viu acordar, logo pegou em minhas mãos.

—  Meu filho…

Ouvi a mamãe murmurar, enquanto meu pai apareceu junto dela logo em seguida, ambos estavam com os olhos lacrimejados, e engolindo em seco, eu tentei falar, mas o que saiu foi quase inaudível e então meu irmão apareceu com um copo d'água e entregou a minha mãe.

No instante em que vi meu irmão, algo despertou em meu peito e de repente me vejo desesperado, quase perturbado pelas memórias que vieram à tona, e quando Michael fez menção de se afastar, eu juntei todas as minhas forças e consegui alcançar sua mão, num pedido para que ele ficasse quase implorando.

Surpreso, Michael recuou alguns passos para trás depois que eu o impedi de se afastar.

—  Irmão…

Balbuciei com dificuldades, Michael engoliu em seco e afastou sua mão de mim, e nesse instante senti que nunca mais teria meu irmão de volta, mas eu sabia, que a reação dele foi resultado de tudo que causei.

— Michael, olhe… 

Engoli em seco após minha voz falhar, e minha mãe entregou o copo d'água em minhas mãos, e bebi devagar até a última gota, dependendo daquele líquido para que eu pudesse enfim pedir perdão ao meu irmão.

—  Me escute, por favor.

Cocei a garganta após implorar pela atenção de Michael, que se colocando de frente para mim, me olhou como se eu fosse o ser mais desprezível do mundo, eu aceito isso, pois eu atirei em meu próprio irmão, eu realmente quase acabei com a família dele, então eu aceito toda a rejeição que venha dele, mas ao menos preciso ouvir a rejeição sair de sua boca, pois não posso ficar nas sombras apenas achando que ele iria me rejeitar ou me aceitar de volta.

— Não posso apagar o que fiz, mas posso tentar ser melhor daqui em diante. Por favor!

Implorei, me esforçando ao máximo para sentar-me na cama, alcançando mais uma vez a mão do meu irmão, que quando a apertei, ele não se afastou, ao menos isso.

—  Me dê mais uma chance, Michael, me perdoe, e eu juro que vou fazer por merecer.

Murmurei sentindo minha garganta arder, naquele instante, existia somente eu e meu irmão dentro do quarto. Minha atenção estava somente no meu irmão mais velho, o cara que eu quase acabei com a vida.

—  Me perdoe!

Meu irmão naquele instante, me olhou friamente, o olhar que antes era de desprezo, se tornou uma mistura de dor e raiva, e puxando sua mão bruscamente, ele disse enquanto se afastava.

—  Não sei se devo perdoá-lo, Anthony, depois de toda essa porra que você fez e ainda apoiou, quase custou a minha vida e a minha família.

Ele virou de costas para mim, e olhou para cima, e continuou.

—  Eu preciso de um tempo para pensar se você merece meu perdão.

Dessa forma, meu irmão saiu andando, sem olhar no meu rosto de novo. Sem se despedir.

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