Dmitry
O dia já começou uma bosta. A noite mal dormida na poltrona me rendeu uma dor infernal no pescoço, e só para tornar meu dia ainda pior, aquela mulher ainda mais infernal resolveu me provocar, tive que voltar para o banheiro e tomar outro banho gelado.
Decidido a não tornar aquela situação ainda mais complicada para mim, e por isso falaria apenas o necessário. Ela é minha acompanhante e só isso. Mas seus questionamentos no elevador mexeram comigo, o que podia haver de errado com ela? Maia é perfeita. Ela não entende meu comportamento, e eu deveria esperar por isso, pois não houve nenhuma explicação de minha parte. A mulher se sentia frustrada, talvez até amedrontada em não estar agradando um cliente. Por isso decido que deixarei de ser um idiota com ela, e vou tentar a linha da amizade.
E quando Vargas a olhou de modo sugestivo, já entendo o que ela é, me senti mal em permitir que os outros a vejam daquela forma.
Agora estou na sala de reuniões, explicando o básico a ela, os meus negócios aqui no Brasil envolvem basicamente a área de produção, agropecuária e afins. O que a mulher deve fazer é apenas entender, prestar atenção na reunião, anotar ou fingir anotar coisas importantes, e me entregar documentos específicos, que mostrei a ela, quando solicitados. Tudo o que uma assistente faria.
Não quero aquele tipo de olhar sobre ela, eu ainda não entendo o que sinto perto dela, mas a proteger daquele tipo de olhar se tornou uma prioridade.
— Estou nervosa – disse quando outros executivos começaram a entrar na sala.
— Não fique, é tudo muito simples.
— Pra você que já está acostumado – murmurou ela.
Sorrio com seu jeito de falar. Os homens entram na sala e ocupam seus lugares. Maia fez tudo o que ensinei corretamente, vi a folha ser preenchida por sua letra bonita e imaginei se ela estava escrevendo qualquer coisa para que acreditassem em seu papel.
Seus olhos atentos me fazem questionar se aquele não poderia ser um trabalho no qual ela gostaria de atuar, mas eu não a conheço, não sei da sua vida, de seus gostos e não vou me meter em nada. Em algumas semanas voltarei para a Rússia e nunca mais verei Maia.
Ao fim da reunião, que me rendeu mais algumas reuniões futuras, olho para Maia e a vejo guardando os documentos e as folhas que ela usou para fazer anotações na pasta, parecia uma executiva de verdade.
— O que achou da experiência? – pergunto, tentando ser agradável.
— Sabe que gostei! Não esperava fazer algo assim um dia, mas achei interessante.
— O que escreveu? – Já tínhamos deixado o escritório e caminhávamos para o elevador.
— Tudo o que achei importante, como disse. Talvez tenha escrito coisas demais.
— Depois quero ver.
— Ah, deixa pra lá, Dmitry. Deve estar uma porcaria, j**a aquilo no lixo.
Ela está insegura, e é engraçado ver aquilo nela, porque a mulher parece uma muralha de segurança e autoestima.
Apesar de termos retornado em silêncio, não foi um silêncio estranho como foi na ida para o escritório. Agora estávamos indo para o jatinho que aluguei para que fique à minha disposição enquanto estiver aqui no Brasil. Ela sobe as escadas à minha frente e é impossível não olhar seu rebolado, essa mulher é uma provocadora, mesmo quando não está querendo ser.
Ela se senta e eu me sento a seu lado.
— Deixe-me ver. – Falo.
— O quê? – Ela se faz de desentendida.
— Suas anotações.
Ela revira os olhos e abre a pasta que ainda carrega como se fosse realmente sua função. Retira o papel de dentro e me entrega.
— Se rir da minha cara, vou embora e te deixo sem acompanhante e sem assistente – decreta e acho graça.
Abro os papéis e passo a analisar o que escreveu. Ela realmente anotou coisas demais, mas tudo o que era importante estava ali. Todos os detalhes dos contratos, as datas e horários das reuniões, quem estaria presente e o assunto de cada uma, tudo muito bem detalhado.
— Tem certeza que foi sua primeira vez?
— Uma das poucas que me restavam. – Responde e não fiquei assustado com a forma direta da mulher.
— Então fico feliz em ser aquele que a tirou – respondo na mesma provocação. O que estou fazendo? Se minha intenção é manter as coisas no profissional, não poderia ter respondido daquela forma. Ah, foda-se!
Ela sorri. Um sorriso muito bonito.
— Falando profissionalmente... – Comecei. – Está perfeito, considerando que é sua primeira vez. Já cogitou em trabalhar nessa área?
— O que eu quero não conta, Dmitry. – Não gostei do jeito que o seu sorriso sumiu.
— Por que não?
— Porque não. – E eu sei que o assunto acabou ali, mas não estou a fim de permanecer em um silêncio puro até São Paulo.
A aeromoça vem até nós e pede para que nos preparemos para o voo. Colocamos o cinto e assim que a turbulência passa, volto a falar.
— Quer continuar sendo minha assistente enquanto estiver aqui?
— Por que não trouxe sua própria? – Pergunta e eu não entendo o porquê, se ela aparentemente gostou da experiência.
— Porque sempre fiz tudo sozinho.
— Então por que precisa de mim agora?
— Não preciso – disse sério, já estou me irritando com esse joguinho dela, essa mudança de humor. – Pode ficar esperando do lado de fora se quiser, e parecer ser exatamente o que é aos olhos daqueles homens.
Seus olhos mostram-se tristes, mas logo a tristeza se torna raiva e ela se levanta calada, indo até o último banco da aeronave. Maia coloca o protetor nos olhos, o tampão nos ouvidos e adormece, ou pelo menos pareceu dormir.
Que merda eu falei!
MaiaEu simplesmente não sei como reagir. O que está acontecendo aqui? Eu fui contratada para ser acompanhante, é o que eu sei ser. Charmosa, provocadora, sensual e boa de cama. Mas pagar de executiva? Essa foi nova para mim, e não sei ser assim. Resultado: desastre total.Quando ele me perguntou se quero novamente fazer o papel de executiva, foi estranho o sentimento que me tomou, e acabei dando a resposta errada. Ele estava sendo gentil comigo novamente, queria tanto que ele voltasse a ser gentil e quando ele fez isso eu não soube cultivar e agora foi ainda pior, ele jogou na minha cara o que eu sou: uma mera prostituta. Isso me deixou triste.Então eu entendi que ele me ofereceu um meio de não parecer para os outros o que realmente sou para não ser humilhada, o que já aconteceu comigo incontáveis vezes, e então eu tive raiva... raiva de mim por ser tão burra.Durmo a viagem toda. Alguém me chacoalha e quando abro os olhos era ele. Novamente não sei como agir. O que eu sou afinal? U
DmitryAssim que saio do avião, mais uma vez abalado por ela, meu celular toca e quando o pego, vejo que é Mikhail, meu primo.Atendi em russo.— Alguma alteração, Mikhail? – Ele sempre me mantém informado de tudo, uma ligação sua significava que algo aconteceu.— Como está sua negociação aí no Brasil?— Indo bem até agora.— Os Romanov pegaram o Nikolai.— O quê? Que porra aconteceu?— Emboscada.— Como caíram em uma emboscada?— Fizeram direitinho, cara. – Ele se deteve. – É seguro?— Claro que é seguro. Pode falar. Ninguém está por perto e nossos aparelhos são especiais, não tem erro.— Ok! Chegou uma carga, tudo normal. Fomos notificados como sempre, seguimos todo o protocolo e quando chegamos no galpão para o transporte, os caras estavam lá. – Ele suspira. Não posso sair por um dia que já dá merda nessa porra!— É só eu sair que dá merda, o que tem com vocês? – Me exalto com ele. Não posso amolecer, não é por ser meu primo que as coisas são mais fáceis.— Já disse, foi tudo bem f
Maia— Mais alguma reunião hoje, senhor? – pergunto provocando-o, enquanto observo a paisagem passar pela janela do carro.— Não, senhorita – respondeu, fazendo o jogo. Um belo sorriso brilhando em sua face.— Então para onde iremos agora?— Para o hotel, minha assistente. Jantar e dormir, temos uma reunião no interior de são Paulo amanhã. A viagem será de carro, mas será longa. Sairemos cedo. — Ele volta o olhar para alguns papéis que estão sobre a pasta aberta em seu colo,— Mais contratos de compra e exportação? – Até parece que sou uma assistente de verdade,— Talvez algumas aquisições – fala ele. – E é claro que falaremos de outros negócios também. – Completou.— Que tipo de aquisição, senhor? – Confesso que estou gostando da brincadeira enquanto o carro percorre as estradas de São Paulo em direção ao hotel onde estamos hospedados.— Cavalos.— Ah. – Fico parecendo uma boba sem saber o que falar. Se ele já possuía uma fazenda, é claro que tinha cavalos.— Quem sabe no futuro eu a
DmitryMe arrependi no segundo que abri a boca. Os olhos dela perderam o brilho, sua face divertida se contorceu, eu podia estar meio alterado devido ao álcool, mas não estava maluco, notoriamente o rosto dela mudou com minha pergunta.Achei que ela entraria e se trancaria, mas ela andou até a beirada da varanda, apoiando-se no ferro gelado do gradeado, suspirou fundo e olhou para o alto. A noite estava fria, para mim estava muito agradável, tinha até aberto um pouco a camisa, mas ela estava com os braços cruzados apertando o agasalho ao corpo, não sei bem se do frio da noite ou para espantar alguma sensação.— Não precisa falar se não quiser. – Disse me aproximando dela, deu para ver que havia muito por trás disso tudo.— Não vou contar tudo. – Suspirou novamente. Olhou para a lua que brilhava límpida no céu e então olhou para mim. – Eu era pobre, meus pais não tinham dinheiro e eu ajudava minha mãe a vender coisas na rua. Quando adolescente surgiu uma suposta oportunidade, uma que s
MaiaSenti a mudança no corpo dele. No instante que as coisas começaram a esquentar ele mudou. Mas desde o início eu sabia, depois do que ele havia declarado é lógico que ele não iria muito longe, e eu ficaria feliz de ir até onde ele pudesse. Nunca fiquei tão empolgada em dividir a cama com um cliente, justamente aquele que estava ferido demais para ter qualquer coisa comigo, era quem eu desejava mais e quem eu sabia que não o teria. Talvez se eu tivesse alguma sorte e ele me contratasse novamente depois de mais alguns meses ou anos, quem sabe então eu conseguiria saciar esse desejo. Mas por enquanto um beijo até que foi mais do que eu esperava e no mais, uma boa ducha gelada terá que bastar.Quando deixei o banheiro ele entrou em seguida. Não esperei ele sair de lá, sabia que o clima ficaria um pouco tenso, então me deitei na cama e me cobri completamente, deixando espaço mais que o suficiente para ele na cama. O sono me pegou segundos depois.Acordei novamente como se estivesse den
DmitryA manhã foi agradável, mas o dia seria cansativo. Depois de uma viagem longa até o interior, agora teríamos que voltar e nos preparar para a viagem à Santa Catarina. O clima lá é bem mais frio que aqui em São Paulo e Maia não está habituada a climas frios, por isso preciso comprar agasalhos para ela. Sei que como acompanhante de luxo, ela é acostumada a ganhar muitos presentes, e não seria muito bem visto se não desse a ela presentes, já que esse é um costume no ramo.Novamente Maia dormiu durante a viagem toda, talvez tivesse sido melhor assim. Devo a Falcão o motivo de termos alguma conversa leve no início da viagem, mas quando o assunto se extinguiu o silêncio tomou conta do ambiente, então algum tempo depois ela estava dormindo. Eu não consegui dormir, até tentei, fechei os olhos, mas o sono não veio. Então tive que passar a viagem toda olhando pela janela, ouvindo o som baixo que tocava no carro.Mais uma vez eu tinha a tarefa de acordar a bela adormecida que desta vez não
MaiaA manhã estava muito fria, parecia até que o tempo estava rindo da minha cara, já que íamos para um lugar mais frio ainda. Pelo menos tivemos uma boa noite de sono, ele fez a barreira de travesseiros e eu ri quando acordei na madrugada e vi metade de seu corpo por cima dos travesseiros. Talvez ele estivesse em cima de mim se não fosse por eles, acho que tenho alguém espaçoso aqui.Estávamos já há quase duas horas dentro do carro, dormi a viagem de avião inteirinha, então agora eu estava totalmente desperta. A paisagem cada vez mais rural é muito bonita, tem muito verde, muita paisagem natural. Chegamos em uma área onde o que mais tinha eram fazendas e sítios. Observava as extensões de terra quando ele tocou em minha coxa.— A partir daqui é tudo da minha família.Olhei e não tinha como ver o fim. O lugar era grande demais.— É muito bonito. – Disse.A cerca bem cuidada deu lugar a um muro de pedras muito bonito com um portão de madeira, tudo em estilo rústico, mas muito chique ao
DmitryMinha irmã não perde a oportunidade de me perturbar, mas achando ela que estava atrasando minha vida, na verdade ela estava me ajudando. Dividir a cama com Maia era uma tentação, principalmente no estado de semiconsciência devido ao sono, e tinha medo de meus instintos falarem mais alto. Ela já me atraía desde o primeiro dia, depois daquele beijo as coisas só pioraram. Fiquei ainda mais mexido por ela.— Conta para outra que aquela lá é sua assistente. – Ela disse assim que entramos no quarto de hóspedes.— Ela é minha assistente, não está rolando nada entre nós, não dormi com ela. – na verdade eu dormi, mas não no sentido que minha irmã queria saber, porque ela queria saber, por isso essa reação.— Ainda não acredito.— Não está me punindo nos colocando em quartos separados. – Ela estava me ajudando na verdade, mas também não precisava dizer.Ele me olhou com seus olhos azuis tão iguais aos meus.— Olga era minha amiga, era uma mulher maravilhosa, espero que não a esteja subst