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3- Uma nova assistente Parte II

Dmitry

O dia já começou uma bosta. A noite mal dormida na poltrona me rendeu uma dor infernal no pescoço, e só para tornar meu dia ainda pior, aquela mulher ainda mais infernal resolveu me provocar, tive que voltar para o banheiro e tomar outro banho gelado.

Decidido a não tornar aquela situação ainda mais complicada para mim, e por isso falaria apenas o necessário. Ela é minha acompanhante e só isso. Mas seus questionamentos no elevador mexeram comigo, o que podia haver de errado com ela? Maia é perfeita. Ela não entende meu comportamento, e eu deveria esperar por isso, pois não houve nenhuma explicação de minha parte. A mulher se sentia frustrada, talvez até amedrontada em não estar agradando um cliente. Por isso decido que deixarei de ser um idiota com ela, e vou tentar a linha da amizade.

E quando Vargas a olhou de modo sugestivo, já entendo o que ela é, me senti mal em permitir que os outros a vejam daquela forma.

Agora estou na sala de reuniões, explicando o básico a ela, os meus negócios aqui no Brasil envolvem basicamente a área de produção, agropecuária e afins. O que a mulher deve fazer é apenas entender, prestar atenção na reunião, anotar ou fingir anotar coisas importantes, e me entregar documentos específicos, que mostrei a ela, quando solicitados. Tudo o que uma assistente faria.

Não quero aquele tipo de olhar sobre ela, eu ainda não entendo o que sinto perto dela, mas a proteger daquele tipo de olhar se tornou uma prioridade.

 — Estou nervosa – disse quando outros executivos começaram a entrar na sala.

— Não fique, é tudo muito simples.

— Pra você que já está acostumado – murmurou ela.

Sorrio com seu jeito de falar. Os homens entram na sala e ocupam seus lugares. Maia fez tudo o que ensinei corretamente, vi a folha ser preenchida por sua letra bonita e imaginei se ela estava escrevendo qualquer coisa para que acreditassem em seu papel.

Seus olhos atentos me fazem questionar se aquele não poderia ser um trabalho no qual ela gostaria de atuar, mas eu não a conheço, não sei da sua vida, de seus gostos e não vou me meter em nada. Em algumas semanas voltarei para a Rússia e nunca mais verei Maia.

Ao fim da reunião, que me rendeu mais algumas reuniões futuras, olho para Maia e a vejo guardando os documentos e as folhas que ela usou para fazer anotações na pasta, parecia uma executiva de verdade.

— O que achou da experiência? – pergunto, tentando ser agradável.

— Sabe que gostei! Não esperava fazer algo assim um dia, mas achei interessante.

— O que escreveu? – Já tínhamos deixado o escritório e caminhávamos para o elevador.

— Tudo o que achei importante, como disse. Talvez tenha escrito coisas demais.

— Depois quero ver.

— Ah, deixa pra lá, Dmitry. Deve estar uma porcaria, j**a aquilo no lixo.

Ela está insegura, e é engraçado ver aquilo nela, porque a mulher parece uma muralha de segurança e autoestima.

Apesar de termos retornado em silêncio, não foi um silêncio estranho como foi na ida para o escritório. Agora estávamos indo para o jatinho que aluguei para que fique à minha disposição enquanto estiver aqui no Brasil. Ela sobe as escadas à minha frente e é impossível não olhar seu rebolado, essa mulher é uma provocadora, mesmo quando não está querendo ser.

Ela se senta e eu me sento a seu lado.

— Deixe-me ver. – Falo.

— O quê? – Ela se faz de desentendida.

— Suas anotações.

Ela revira os olhos e abre a pasta que ainda carrega como se fosse realmente sua função. Retira o papel de dentro e me entrega.

— Se rir da minha cara, vou embora e te deixo sem acompanhante e sem assistente – decreta e acho graça.

Abro os papéis e passo a analisar o que escreveu. Ela realmente anotou coisas demais, mas tudo o que era importante estava ali. Todos os detalhes dos contratos, as datas e horários das reuniões, quem estaria presente e o assunto de cada uma, tudo muito bem detalhado.

— Tem certeza que foi sua primeira vez?

— Uma das poucas que me restavam. – Responde e não fiquei assustado com a forma direta da mulher.

— Então fico feliz em ser aquele que a tirou – respondo na mesma provocação. O que estou fazendo? Se minha intenção é manter as coisas no profissional, não poderia ter respondido daquela forma. Ah, foda-se! 

Ela sorri. Um sorriso muito bonito.

— Falando profissionalmente... – Comecei. – Está perfeito, considerando que é sua primeira vez. Já cogitou em trabalhar nessa área?

— O que eu quero não conta, Dmitry. – Não gostei do jeito que o seu sorriso sumiu.

— Por que não?

— Porque não. – E eu sei que o assunto acabou ali, mas não estou a fim de permanecer em um silêncio puro até São Paulo.

A aeromoça vem até nós e pede para que nos preparemos para o voo. Colocamos o cinto e assim que a turbulência passa, volto a falar.

— Quer continuar sendo minha assistente enquanto estiver aqui?

— Por que não trouxe sua própria? – Pergunta e eu não entendo o porquê, se ela aparentemente gostou da experiência.

— Porque sempre fiz tudo sozinho.

— Então por que precisa de mim agora?

— Não preciso – disse sério, já estou me irritando com esse joguinho dela, essa mudança de humor. – Pode ficar esperando do lado de fora se quiser, e parecer ser exatamente o que é aos olhos daqueles homens.

Seus olhos mostram-se tristes, mas logo a tristeza se torna raiva e ela se levanta calada, indo até o último banco da aeronave. Maia coloca o protetor nos olhos, o tampão nos ouvidos e adormece, ou pelo menos pareceu dormir.

Que merda eu falei!

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