A prostituta e o mafioso
A prostituta e o mafioso
Por: Flávia Saldanha
1- Novo cliente

Maia

Como estou cansada! Resolvo relaxar em minha banheira enorme, cheia de espumas e água morna. Meu último cliente tinha sido um ogro, pelo menos me encheu de joias caras, fora o pagamento maravilhoso que recebi.

Meu telefone toca e quando olho, vejo a cara do Ruy brilhar na tela. Decido não atender. Afundo a cabeça na água e fico assim até meu fôlego acabar. Infelizmente ele é insistente, e se conheço bem esse imbecil, ele vai insistir até que eu atenda. A menos que desligue o celular, mas se fosse sobre trabalho seria pior.

Quando o celular toca outra vez, eu atendo.

— O que é, Ruy? Estou relaxando, será que não posso?

— Relaxe depois, Maia, precisa vir ao escritório agora.

— Ah não, mais trabalho, não. Cheguei esta noite e estou morta de cansada. Sem contar que terei que dormir no gelo pra estar pronta pra outra depois daquele ogro.

O cachorro do Ruy se escangalha de tanto rir, imbecil.

— Sério, Maia? Não foi agradável, então.

— Não, não foi. Mas ganhei muitas joias então até que valeu a pena. A questão é que não tenho condições de atender clientes hoje.

— Não enrole, Maia. Não é pra hoje, terá três dias para se recuperar. Agora, venha logo. – Ele diz e desliga o celular. Peste.

Nem descansar mais eu posso. Duas semanas de trabalho e não posso nem relaxar em paz na minha banheira.

Me arrumo com o básico: Um vestido tubinho florido e uma jaqueta de couro devido ao frio do inverno, uma sandália simples de salto e pronto, arrumada para encarar a cobra do Ruy.

Dirijo até lá. Estaciono o carro no amplo estacionamento onde fica o escritório que Ruy trabalha, e então sigo até ele.

— Entra. – Respondeu quando bati na porta.

— Oi, Ruy.

— Uau! Cada vez mais gata.

— Fala logo o que quer, Ruy.

— Quem quer não sou eu, é esse cara aqui. – Diz ele mostrando-me a foto do cliente, como de costume. – Dmitry Zorkin, integrante de uma família poderosa na Rússia. O cara tem muito dinheiro, Maia, e ele escolheu você.

— Vou pra Rússia? – Me animo. – Nunca fui pra lá, sempre quis conhecer...

— Não... – Ruy me interrompe. – Ele vem pro Brasil, chega em três dias.

— Então não quero. – Me sento em sua frente. – Acabei de chegar de uma viagem de trabalho, pode dizer a ele que estou indisponível.

— Não posso. Já disse que estava livre e o cara vai pagar uma boa grana. – Ele me apresenta a folha com o valor do contrato, realmente é uma boa quantia, mas já tive trabalhos mais caros.

— Então aumente o preço, se ele pagar eu vou. – Me levantei e fui até a porta. – E não invente que não pode fazer isso, porque pode.

— Ok, madame. Te ligo avisando.

— Certo. – Deixo a sala e sigo para meu carro. Tentaria finalmente descansar e se esse cara resolvesse pagar mais caro, eu teria que me preparar.

Consegui por fim tomar meu banho relaxante, dormi o restante da tarde e ia até um salão fazer minhas unhas quando meu celular tocou. Era Ruy.

— Fala! – Atendo.

— O cara topou, Maia. Esteja pronta em três dias, em breve te ligo com mais informações.

— Ok. – Bufo. Se o cara tem tanto dinheiro, é claro que ele ia pagar.

Fui fazer minha unha e eu teria que dormir no gelo de verdade, ou não daria conta do recado.

***

Três dias se passaram voando. O voo de Dmitry está programado para chegar às 19:00h. Recebi instruções de que seria buscada em casa por um motorista e seguranças contratados por ele, que me levariam até o aeroporto onde nos encontraríamos.

Segui suas instruções e no horário combinado eu já estou pronta. Os homens gostam de vermelho, então caprichei no vestido vermelho provocante.

O voo atrasou, o que não é de se estranhar, mas pelo menos não foi tanto tempo de espera, até que vejo um homem impossível de não notar. Alto, deveria ter quase dois metros de altura, os cabelos claros bem cortados e rente a cabeça, os olhos azuis eram tão luminosos que era impossível não ser hipnotizada por eles, e o que mais me deixa excitada em um homem: tatuagem. A camisa social está enrolada até os antebraços, e o que tem de pele exposta neles, está coberta de tatuagem. Acho que valeu a pena ter feito um pequeno esforço por este cliente. O cara é simplesmente um gato, pela foto ele era bonito, mas pessoalmente é de tirar o fôlego.

Ele se aproxima, possivelmente me reconhecendo, assim como o reconheci. Não estou mais arrependida de ficar aqui no Brasil, com esse homem eu iria até no meio da Floresta Amazônica, de salto quinze e tudo mais.

— Mr Dmitry. Welcome! – O cumprimento em inglês, já que meu russo não é grande coisa.

— Você deve ser Maia? – Ele responde em português, mas com um sotaque muito gostoso.

— Fala português, então. – Digo charmosa. – Sim, sou eu mesma.

Ele me dá um sorriso de molhar qualquer calcinha, e me estende o braço. Passo minha mão pelo seu braço forte e com a outra mão, ele acaricia a minha.

O motorista segue à frente, nos conduzindo até o carro. Dois seguranças vêm logo atrás.

Ao chegarmos no carro, havia outro nos esperando. É maior e mais bonito. Um motorista já nos aguarda. O outro motorista, que nos conduziu até ali, abre a porta traseira do carro para que nós pudéssemos entrar, e então ele e os dois seguranças ocupam o carro em que me trouxeram e nos seguem até o hotel.

Todo o tempo Dmitry acaricia minha mão. Além de lindo ainda é carinhoso, como pode um homem como esse existir e eu ainda não ter conhecido?

Mas infelizmente quando chegamos na a suíte reservada para ele, o encanto acaba.

— Descanse. – Ele diz ao libertar minha mão. – Sairemos amanhã bem cedo. Depois iremos para São Paulo e depois de dois dias para Santa Catarina. 

— Tudo bem. – Eu digo me distanciando, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, mas em vez disso ele vai até o banheiro e se tranca.

Fico olhando para a porta fechada sem entender nada por alguns segundos, então fui até a grande cama e me sentei. Alguns minutos se passa. Tiro meu vestido vermelho, o estendendo em uma poltrona no canto. Visto minha camisola preta, talvez ele não goste tanto de vermelho, e me deito. Não ouço qualquer barulho vindo do banheiro, então espero deitada até que adormeço, antes que ele pudesse parecer..

***

Dmitry

A garota que escolhi para acompanhante é linda, ela é a melhor e eu mereço o melhor, porque sou o melhor no que faço. Ao vê-la me esperando no aeroporto, alguma coisa dentro de mim se acendeu e eu não quero isso, não quero e não posso.

Vim a trabalho e para visitar minha irmã, uma acompanhante sempre eleva seu status, mas é só isso que quero. Ela não tem culpa de meu passado. Tentei ser cordial, mas tudo tem seu limite, e quando o perfume dela, seu cabelo sedoso e seu corpo lindo começavam a me despertar... eu precisava me esfriar. Precisava me afastar dela, e foi isso que fiz quando cheguei ao quarto de hotel.

Sei que fui grosso, minha atitude não foi a mais acertada, mas se continuasse daquele jeito eu acabaria cedendo, e eu não posso.

Mergulhado na banheira fria, eu fecho os olhos e a vejo sorrindo. Porra! Nem trancado no banheiro, mergulhado nessa banheira fria eu não tiro seu sorriso da minha cabeça, e isso me deixa uma sensação de culpa. Sou um traidor por estar pensando na mulher que deixei no quarto, por sentir tesão por ela?

Tem somente dois meses que minha mulher, Olga, faleceu, e desde então, não tinha olhado para nenhuma mulher do jeito que olhei Maia hoje. A culpa me corrói. Já faz mais de uma hora que estou na banheira e meus dedos frios e enrugados começam a me incomodar.

Me levanto, visto o roupão e deixo o banheiro. Quando saio, a visão que tenho não me ajuda nem um pouco: ela está deitada, vestindo uma camisola preta transparente, que não esconde nada de seu corpo gostoso. Sua pele clara e macia se destacando com seus cabelos escuros, seus olhos fechados, seu rosto relaxado pelo sono tem um toque de tristeza. Aquilo também mexe comigo.

Para não cair em tentação, não me deito ao seu lado. Vou até a poltrona, onde encontro aquele maldito vestido vermelho que ajudou a mexer comigo mais cedo. Retiro-o com cuidado e o coloco na cama, no lado onde me deitaria. Me aconchego ali para tentar dormir, se é que conseguiria, pois o banho frio pouco ajudou depois da cena que presenciei ao sair do banheiro.

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