Maia
Como estou cansada! Resolvo relaxar em minha banheira enorme, cheia de espumas e água morna. Meu último cliente tinha sido um ogro, pelo menos me encheu de joias caras, fora o pagamento maravilhoso que recebi.
Meu telefone toca e quando olho, vejo a cara do Ruy brilhar na tela. Decido não atender. Afundo a cabeça na água e fico assim até meu fôlego acabar. Infelizmente ele é insistente, e se conheço bem esse imbecil, ele vai insistir até que eu atenda. A menos que desligue o celular, mas se fosse sobre trabalho seria pior.
Quando o celular toca outra vez, eu atendo.
— O que é, Ruy? Estou relaxando, será que não posso?
— Relaxe depois, Maia, precisa vir ao escritório agora.
— Ah não, mais trabalho, não. Cheguei esta noite e estou morta de cansada. Sem contar que terei que dormir no gelo pra estar pronta pra outra depois daquele ogro.
O cachorro do Ruy se escangalha de tanto rir, imbecil.
— Sério, Maia? Não foi agradável, então.
— Não, não foi. Mas ganhei muitas joias então até que valeu a pena. A questão é que não tenho condições de atender clientes hoje.
— Não enrole, Maia. Não é pra hoje, terá três dias para se recuperar. Agora, venha logo. – Ele diz e desliga o celular. Peste.
Nem descansar mais eu posso. Duas semanas de trabalho e não posso nem relaxar em paz na minha banheira.
Me arrumo com o básico: Um vestido tubinho florido e uma jaqueta de couro devido ao frio do inverno, uma sandália simples de salto e pronto, arrumada para encarar a cobra do Ruy.
Dirijo até lá. Estaciono o carro no amplo estacionamento onde fica o escritório que Ruy trabalha, e então sigo até ele.
— Entra. – Respondeu quando bati na porta.
— Oi, Ruy.
— Uau! Cada vez mais gata.
— Fala logo o que quer, Ruy.
— Quem quer não sou eu, é esse cara aqui. – Diz ele mostrando-me a foto do cliente, como de costume. – Dmitry Zorkin, integrante de uma família poderosa na Rússia. O cara tem muito dinheiro, Maia, e ele escolheu você.
— Vou pra Rússia? – Me animo. – Nunca fui pra lá, sempre quis conhecer...
— Não... – Ruy me interrompe. – Ele vem pro Brasil, chega em três dias.
— Então não quero. – Me sento em sua frente. – Acabei de chegar de uma viagem de trabalho, pode dizer a ele que estou indisponível.
— Não posso. Já disse que estava livre e o cara vai pagar uma boa grana. – Ele me apresenta a folha com o valor do contrato, realmente é uma boa quantia, mas já tive trabalhos mais caros.
— Então aumente o preço, se ele pagar eu vou. – Me levantei e fui até a porta. – E não invente que não pode fazer isso, porque pode.
— Ok, madame. Te ligo avisando.
— Certo. – Deixo a sala e sigo para meu carro. Tentaria finalmente descansar e se esse cara resolvesse pagar mais caro, eu teria que me preparar.
Consegui por fim tomar meu banho relaxante, dormi o restante da tarde e ia até um salão fazer minhas unhas quando meu celular tocou. Era Ruy.
— Fala! – Atendo.
— O cara topou, Maia. Esteja pronta em três dias, em breve te ligo com mais informações.
— Ok. – Bufo. Se o cara tem tanto dinheiro, é claro que ele ia pagar.
Fui fazer minha unha e eu teria que dormir no gelo de verdade, ou não daria conta do recado.
***
Três dias se passaram voando. O voo de Dmitry está programado para chegar às 19:00h. Recebi instruções de que seria buscada em casa por um motorista e seguranças contratados por ele, que me levariam até o aeroporto onde nos encontraríamos.
Segui suas instruções e no horário combinado eu já estou pronta. Os homens gostam de vermelho, então caprichei no vestido vermelho provocante.
O voo atrasou, o que não é de se estranhar, mas pelo menos não foi tanto tempo de espera, até que vejo um homem impossível de não notar. Alto, deveria ter quase dois metros de altura, os cabelos claros bem cortados e rente a cabeça, os olhos azuis eram tão luminosos que era impossível não ser hipnotizada por eles, e o que mais me deixa excitada em um homem: tatuagem. A camisa social está enrolada até os antebraços, e o que tem de pele exposta neles, está coberta de tatuagem. Acho que valeu a pena ter feito um pequeno esforço por este cliente. O cara é simplesmente um gato, pela foto ele era bonito, mas pessoalmente é de tirar o fôlego.
Ele se aproxima, possivelmente me reconhecendo, assim como o reconheci. Não estou mais arrependida de ficar aqui no Brasil, com esse homem eu iria até no meio da Floresta Amazônica, de salto quinze e tudo mais.
— Mr Dmitry. Welcome! – O cumprimento em inglês, já que meu russo não é grande coisa.
— Você deve ser Maia? – Ele responde em português, mas com um sotaque muito gostoso.
— Fala português, então. – Digo charmosa. – Sim, sou eu mesma.
Ele me dá um sorriso de molhar qualquer calcinha, e me estende o braço. Passo minha mão pelo seu braço forte e com a outra mão, ele acaricia a minha.
O motorista segue à frente, nos conduzindo até o carro. Dois seguranças vêm logo atrás.
Ao chegarmos no carro, havia outro nos esperando. É maior e mais bonito. Um motorista já nos aguarda. O outro motorista, que nos conduziu até ali, abre a porta traseira do carro para que nós pudéssemos entrar, e então ele e os dois seguranças ocupam o carro em que me trouxeram e nos seguem até o hotel.
Todo o tempo Dmitry acaricia minha mão. Além de lindo ainda é carinhoso, como pode um homem como esse existir e eu ainda não ter conhecido?
Mas infelizmente quando chegamos na a suíte reservada para ele, o encanto acaba.
— Descanse. – Ele diz ao libertar minha mão. – Sairemos amanhã bem cedo. Depois iremos para São Paulo e depois de dois dias para Santa Catarina.
— Tudo bem. – Eu digo me distanciando, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, mas em vez disso ele vai até o banheiro e se tranca.
Fico olhando para a porta fechada sem entender nada por alguns segundos, então fui até a grande cama e me sentei. Alguns minutos se passa. Tiro meu vestido vermelho, o estendendo em uma poltrona no canto. Visto minha camisola preta, talvez ele não goste tanto de vermelho, e me deito. Não ouço qualquer barulho vindo do banheiro, então espero deitada até que adormeço, antes que ele pudesse parecer..
***
Dmitry
A garota que escolhi para acompanhante é linda, ela é a melhor e eu mereço o melhor, porque sou o melhor no que faço. Ao vê-la me esperando no aeroporto, alguma coisa dentro de mim se acendeu e eu não quero isso, não quero e não posso.
Vim a trabalho e para visitar minha irmã, uma acompanhante sempre eleva seu status, mas é só isso que quero. Ela não tem culpa de meu passado. Tentei ser cordial, mas tudo tem seu limite, e quando o perfume dela, seu cabelo sedoso e seu corpo lindo começavam a me despertar... eu precisava me esfriar. Precisava me afastar dela, e foi isso que fiz quando cheguei ao quarto de hotel.
Sei que fui grosso, minha atitude não foi a mais acertada, mas se continuasse daquele jeito eu acabaria cedendo, e eu não posso.
Mergulhado na banheira fria, eu fecho os olhos e a vejo sorrindo. Porra! Nem trancado no banheiro, mergulhado nessa banheira fria eu não tiro seu sorriso da minha cabeça, e isso me deixa uma sensação de culpa. Sou um traidor por estar pensando na mulher que deixei no quarto, por sentir tesão por ela?
Tem somente dois meses que minha mulher, Olga, faleceu, e desde então, não tinha olhado para nenhuma mulher do jeito que olhei Maia hoje. A culpa me corrói. Já faz mais de uma hora que estou na banheira e meus dedos frios e enrugados começam a me incomodar.
Me levanto, visto o roupão e deixo o banheiro. Quando saio, a visão que tenho não me ajuda nem um pouco: ela está deitada, vestindo uma camisola preta transparente, que não esconde nada de seu corpo gostoso. Sua pele clara e macia se destacando com seus cabelos escuros, seus olhos fechados, seu rosto relaxado pelo sono tem um toque de tristeza. Aquilo também mexe comigo.
Para não cair em tentação, não me deito ao seu lado. Vou até a poltrona, onde encontro aquele maldito vestido vermelho que ajudou a mexer comigo mais cedo. Retiro-o com cuidado e o coloco na cama, no lado onde me deitaria. Me aconchego ali para tentar dormir, se é que conseguiria, pois o banho frio pouco ajudou depois da cena que presenciei ao sair do banheiro.
MaiaQuando abro os olhos, percebo que passei a noite sozinha, quem me fez companhia foi o vestido vermelho que ele deve ter odiado. Quando olho para a poltrona onde o havia colocado, quem está lá é ele, dormindo todo torto. Vai acordar com torcicolo e eu vou rir da cara dele, escondida é claro, mas que vou rir, vou. Nunca vi isso, o homem me contrata e nem do meu lado deita, será que se decepcionou? Será que ele me achou muito mais bonita por foto que presencialmente? E se ele pedisse pra trocar de acompanhante, que vergonha seria! Eu tinha que descobrir do que esse russo gosta e investir.Ele disse que sairíamos cedo, mas acho que acordei cedo demais. O céu ainda está escuro, a noite está muito fria e a roupa fina não está me ajudando a me esquentar. Resolvi cochilar por mais alguns minutos ou horas, nem sei que horas são, então puxo a colcha da cama e me aconchego embaixo dela.Mal eu havia deitado e me sinto como se estivesse na máquina de lavar sendo chacoalhada de um lado para o
DmitryO dia já começou uma bosta. A noite mal dormida na poltrona me rendeu uma dor infernal no pescoço, e só para tornar meu dia ainda pior, aquela mulher ainda mais infernal resolveu me provocar, tive que voltar para o banheiro e tomar outro banho gelado.Decidido a não tornar aquela situação ainda mais complicada para mim, e por isso falaria apenas o necessário. Ela é minha acompanhante e só isso. Mas seus questionamentos no elevador mexeram comigo, o que podia haver de errado com ela? Maia é perfeita. Ela não entende meu comportamento, e eu deveria esperar por isso, pois não houve nenhuma explicação de minha parte. A mulher se sentia frustrada, talvez até amedrontada em não estar agradando um cliente. Por isso decido que deixarei de ser um idiota com ela, e vou tentar a linha da amizade.E quando Vargas a olhou de modo sugestivo, já entendo o que ela é, me senti mal em permitir que os outros a vejam daquela forma.Agora estou na sala de reuniões, explicando o básico a ela, os meu
MaiaEu simplesmente não sei como reagir. O que está acontecendo aqui? Eu fui contratada para ser acompanhante, é o que eu sei ser. Charmosa, provocadora, sensual e boa de cama. Mas pagar de executiva? Essa foi nova para mim, e não sei ser assim. Resultado: desastre total.Quando ele me perguntou se quero novamente fazer o papel de executiva, foi estranho o sentimento que me tomou, e acabei dando a resposta errada. Ele estava sendo gentil comigo novamente, queria tanto que ele voltasse a ser gentil e quando ele fez isso eu não soube cultivar e agora foi ainda pior, ele jogou na minha cara o que eu sou: uma mera prostituta. Isso me deixou triste.Então eu entendi que ele me ofereceu um meio de não parecer para os outros o que realmente sou para não ser humilhada, o que já aconteceu comigo incontáveis vezes, e então eu tive raiva... raiva de mim por ser tão burra.Durmo a viagem toda. Alguém me chacoalha e quando abro os olhos era ele. Novamente não sei como agir. O que eu sou afinal? U
DmitryAssim que saio do avião, mais uma vez abalado por ela, meu celular toca e quando o pego, vejo que é Mikhail, meu primo.Atendi em russo.— Alguma alteração, Mikhail? – Ele sempre me mantém informado de tudo, uma ligação sua significava que algo aconteceu.— Como está sua negociação aí no Brasil?— Indo bem até agora.— Os Romanov pegaram o Nikolai.— O quê? Que porra aconteceu?— Emboscada.— Como caíram em uma emboscada?— Fizeram direitinho, cara. – Ele se deteve. – É seguro?— Claro que é seguro. Pode falar. Ninguém está por perto e nossos aparelhos são especiais, não tem erro.— Ok! Chegou uma carga, tudo normal. Fomos notificados como sempre, seguimos todo o protocolo e quando chegamos no galpão para o transporte, os caras estavam lá. – Ele suspira. Não posso sair por um dia que já dá merda nessa porra!— É só eu sair que dá merda, o que tem com vocês? – Me exalto com ele. Não posso amolecer, não é por ser meu primo que as coisas são mais fáceis.— Já disse, foi tudo bem f
Maia— Mais alguma reunião hoje, senhor? – pergunto provocando-o, enquanto observo a paisagem passar pela janela do carro.— Não, senhorita – respondeu, fazendo o jogo. Um belo sorriso brilhando em sua face.— Então para onde iremos agora?— Para o hotel, minha assistente. Jantar e dormir, temos uma reunião no interior de são Paulo amanhã. A viagem será de carro, mas será longa. Sairemos cedo. — Ele volta o olhar para alguns papéis que estão sobre a pasta aberta em seu colo,— Mais contratos de compra e exportação? – Até parece que sou uma assistente de verdade,— Talvez algumas aquisições – fala ele. – E é claro que falaremos de outros negócios também. – Completou.— Que tipo de aquisição, senhor? – Confesso que estou gostando da brincadeira enquanto o carro percorre as estradas de São Paulo em direção ao hotel onde estamos hospedados.— Cavalos.— Ah. – Fico parecendo uma boba sem saber o que falar. Se ele já possuía uma fazenda, é claro que tinha cavalos.— Quem sabe no futuro eu a
DmitryMe arrependi no segundo que abri a boca. Os olhos dela perderam o brilho, sua face divertida se contorceu, eu podia estar meio alterado devido ao álcool, mas não estava maluco, notoriamente o rosto dela mudou com minha pergunta.Achei que ela entraria e se trancaria, mas ela andou até a beirada da varanda, apoiando-se no ferro gelado do gradeado, suspirou fundo e olhou para o alto. A noite estava fria, para mim estava muito agradável, tinha até aberto um pouco a camisa, mas ela estava com os braços cruzados apertando o agasalho ao corpo, não sei bem se do frio da noite ou para espantar alguma sensação.— Não precisa falar se não quiser. – Disse me aproximando dela, deu para ver que havia muito por trás disso tudo.— Não vou contar tudo. – Suspirou novamente. Olhou para a lua que brilhava límpida no céu e então olhou para mim. – Eu era pobre, meus pais não tinham dinheiro e eu ajudava minha mãe a vender coisas na rua. Quando adolescente surgiu uma suposta oportunidade, uma que s
MaiaSenti a mudança no corpo dele. No instante que as coisas começaram a esquentar ele mudou. Mas desde o início eu sabia, depois do que ele havia declarado é lógico que ele não iria muito longe, e eu ficaria feliz de ir até onde ele pudesse. Nunca fiquei tão empolgada em dividir a cama com um cliente, justamente aquele que estava ferido demais para ter qualquer coisa comigo, era quem eu desejava mais e quem eu sabia que não o teria. Talvez se eu tivesse alguma sorte e ele me contratasse novamente depois de mais alguns meses ou anos, quem sabe então eu conseguiria saciar esse desejo. Mas por enquanto um beijo até que foi mais do que eu esperava e no mais, uma boa ducha gelada terá que bastar.Quando deixei o banheiro ele entrou em seguida. Não esperei ele sair de lá, sabia que o clima ficaria um pouco tenso, então me deitei na cama e me cobri completamente, deixando espaço mais que o suficiente para ele na cama. O sono me pegou segundos depois.Acordei novamente como se estivesse den
DmitryA manhã foi agradável, mas o dia seria cansativo. Depois de uma viagem longa até o interior, agora teríamos que voltar e nos preparar para a viagem à Santa Catarina. O clima lá é bem mais frio que aqui em São Paulo e Maia não está habituada a climas frios, por isso preciso comprar agasalhos para ela. Sei que como acompanhante de luxo, ela é acostumada a ganhar muitos presentes, e não seria muito bem visto se não desse a ela presentes, já que esse é um costume no ramo.Novamente Maia dormiu durante a viagem toda, talvez tivesse sido melhor assim. Devo a Falcão o motivo de termos alguma conversa leve no início da viagem, mas quando o assunto se extinguiu o silêncio tomou conta do ambiente, então algum tempo depois ela estava dormindo. Eu não consegui dormir, até tentei, fechei os olhos, mas o sono não veio. Então tive que passar a viagem toda olhando pela janela, ouvindo o som baixo que tocava no carro.Mais uma vez eu tinha a tarefa de acordar a bela adormecida que desta vez não