Olhos abertos

CAPÍTULO 05

Laura Strondda

Me senti humilhada da forma como saí daquele quarto. Por mais que eu não o queira, e não iria ceder a nada que esse homem quisesse, me senti um nada, uma mulher qualquer na vida do homem que pensei que pelo menos gostasse um pouco de mim.

“O que estou pensando?“ Não posso ficar pensando isso, sou uma mulher forte, não a coitada que ele pensa que casou sei lá pra quê, embora coisa boa, com certeza não seja.

Caminhei com a mala toda torta, as roupas bagunçadas, tentando entender qual daqueles seria o meu quarto.

Dei um passo de cada vez, meu orgulho jamais permitiria que eu chorasse ou lamentasse, até porque sempre fui treinada e trabalho para resolver assuntos, e jamais para lamentar... vou resolver isso.

Entrei num quarto que vi a luz apagada, assim que entrei aquela mulher que vi quando cheguei, apareceu do nada, parecia um fantasma, credo!

— Esse quarto a senhora não pode ficar! — a mulher disse e olhei para os lados e não vi nada em especial além de alguns objetos femininos, mas fui direto ao ponto.

— Então, onde posso dormir? — questionei.

— Me acompanhe! — a mulher empinou o nariz e virou as costas, então ajeitei aquela grande mala e outra vez saí pelo corredor. Se a intenção do Siciliano era me humilhar, infelizmente está conseguindo. — Pode ficar aqui! — a mulher entrou em um quartinho pequeno, havia apenas uma cama de solteiro de madeira, um guarda-roupa velho, de cor diferente da cama, e um espaço pequeno para se movimentar, parecia muito com um quarto de funcionário.

— Por que não posso ficar no outro, se está disponível? — perguntei, mas a mulher foi saindo.

— Era da senhora Anita, o patrão ficaria furioso se ficasse lá! Boa noite...

Eu iria perguntar quem era Anita, mas a mulher fechou a porta do quartinho e saiu, eu não me humilharia mais. Até porque, a mãe dele eu sei que não é Anita, então é melhor evitar perguntar até que eu resolva a situação dos meus pais, e caso seja uma amante... mato depois, com certeza.

Por sorte eu havia levado uma roupa mais comportada para dormir, com as outras. Embora sensual, cobria a bunda e a barriga, então já era alguma coisa.

O quarto estava meio empoeirado e não tinha coberta. Joguei uma blusa minha sobre o corpo e deitei naquela cama dura, olhando para o teto e tentando entender onde foi que errei.

Fui fiel ao Alex, ele só não sabe sobre o meu trabalho durante as noites e algumas fugas durante o dia, mas isso é uma coisa que eu só diria com o tempo, quando tivesse confiança, e agora provavelmente ele nunca saberá, ninguém da minha família sabe, porque eu diria, agora?

Apaguei a luz, eu precisava dormir, pois não sabia o que iria me esperar na próxima manhã, precisaria estar de olhos bem atentos.

Senti o meu coração doer, sufocado no peito. Não entendo de sentimentos, e não amo esse homem, mas isso tudo me magoou muito, se imaginasse algo parecido jamais teria me casado... agora é tarde.

Senti o meu corpo mole, já havia passado bastante tempo. Percebi que uma luz acendeu, embora eu não tenha conseguido abrir os olhos, o sono me venceu.

Quando acordei me assustei. Eu estava coberta. Olhei rapidamente para a porta e dei de cara com o Alex parado, me olhando sem dizer nenhuma palavra. Ele teria me coberto? Mas, quando?

Me sentei na cama. — O que faz aqui? — questionei. Ele me olhava intensamente, mas eu tinha dificuldade em entender, pois agora sei que não o conheço, Alexander Caruso é um completo desconhecido pra mim, não sei o que esperar, e nem muito menos o que fazer.

— Te olhando dormir esqueço quem você é... preciso tomar cuidado, porque o único envolvimento que terei com você é sexual. Você sabe que devemos consumar o casamento, não sabe? Ele precisa se tornar válido. — debochei olhando e virando a cabeça para o lado. “Como se eu quisesse tamanha idiotice”, ri comigo mesma.

— E, pra quê? Você não me suporta, eu não te suporto... — balancei a cabeça, ele gesticulou as mãos, veio caminhando devagar, até chegar na beira da cama.

— O nosso casamento foi arranjado há muitos anos! Essas coisas não importam mais, agora você é minha mulher, quero ter filhos! Se você não é mais virgem, não importa, pelo menos posso te pegar como gosto, sem manha. — falou devagar, parecia mais calmo hoje, embora suas palavras estivessem tão afiadas. Não sei qual a sua verdadeira intenção ao dizer isso, ele tem duas faces, ou é só o idiota que não percebi ser a tempo.

— Porque me fez tudo isso? Se queria que funcionasse, por que me tratou como fez ontem? Eu não sou burra, e nem muito menos me entregaria a você, sabendo que tem os meus pais na sua mira, e também por que é um babaca completo.

— Se for boazinha e me obedecer, posso tirar os meus homens de lá, é só eu não ficar olhando as imagens, certamente a raiva passará... — sentou na beira da cama e esticou a palma da mão sobre o lençol, vindo em direção às minhas pernas, mas puxei.

— O que os meus pais te fizeram? — ele bufou.

— Eu estou tentando melhorar alguma coisa, mas você não está ajudando! — virou o rosto olhando para a cortina que estava parcialmente fechada.

— Melhorar o quê? Por acaso é louco? — quando falei isso, Alex saltou o corpo sobre mim, parcialmente me prendendo na cama. Nossos olhos firmaram um no outro, fiquei tensa. Não sou desse tipo que se amedronta, mas o Alex consegue me deixar imóvel algumas vezes, e me faz pensar que não sei o que estou fazendo, e agora ele está tão perto...

Seu olhar é diferente, segurando seus braços, sinto que ele é bem quente, e preciso me conter para não ceder, mas… ele está chegando mais perto... droga! Ele olhou para a minha boca, não pode me beijar, não pode!

Sem que eu terminasse de respirar, ele me roubou um beijo. Eu não quis, tentei evitar, mas ele estava pesado, acabei ficando numa posição ruim.

Alex não foi carinhoso como de costume, no noivado, parecia querer machucar a minha boca e vi que precisava pará-lo. Tentei virar o rosto, senti a sua barba rala no meu pescoço com certa força. Ele passou a língua e por um momento senti algo estranho no meu corpo, a sensação não era ruim, era nova, paralisei.

Ele repetiu o movimento com a língua mais algumas vezes, e deixei que me lambesse, aquilo era bom. Virei o rosto para ele outra vez, então percebi que me beijaria novamente, não fechei os olhos, o deixei me beijar, porém, fiquei o olhando para ver o que pretendia e estranhamente ele não fechou os olhos também, ele estava me beijando de olhos abertos, não tinha emoção nenhuma nele, me senti um objeto.

Do nada senti uma dor nos meus lábios quando ele me viu olhá-lo, e reclamei quando senti um pequeno gosto de sangue.

— Ai, você me mordeu! — arrumei forças, quando ele parou ao me ouvir, e o tirei de cima de mim, puxando a faca maior que deixei de baixo do colchão. — Sai de perto de mim! — ele levantou-se da cama e ficou me olhando enquanto limpava a boca.

— Já estou farto da sua chatice! Nunca posso fazer nada! Já não basta tudo que me fez? — fiquei parada com a faca apontada pra ele, eu não queria que Alex me tocasse mais, porém me surgiu uma dúvida:

— Porque me beijou de olho aberto? — ele me olhou de forma dura.

— Nunca te beijei de olho fechado. Tomo esse cuidado, justamente para não esquecer o rosto de quem estou beijando! Nunca espere nada de mim, pois só terá sexo e desprezo! — saiu do quarto, batendo a porta.

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