LAURA STRONDDA CARUSOA magia daquela noite parecia ter contagiado cada canto do salão. As luzes cintilavam como estrelas, refletindo nos olhos maravilhados das crianças de todos os tamanhos, e seus diferentes sorrisos. O coral entoava músicas natalinas com suavidade, e o cheirinho de canela e chocolate quente preenchia o ar. Júlia, aninhada em meus braços, olhava para tudo com curiosidade, mesmo tão pequenininha. O calor dessa noite me fazia esquecer os desafios que havíamos enfrentado nos últimos dias.Alex tinha realmente superado todas as expectativas. Eu sabia que ele era determinado, mas transformar a fundação em um paraíso natalino em poucas horas era algo que nem mesmo ele fazia com frequência.— Está feliz, amore mio? — Alex sussurrou em meu lado, segurando minha mão.— Mais do que você imagina, siciliano. — Sorri, sentindo os olhos marejarem. — Não sei como conseguiu isso, mas é perfeito.Ele tinha um sorriso cheio de satisfação, o tipo de sorriso que me fazia lembrar por qu
LAURA STRONDDA CARUSOO salão estava vibrante. Cada canto parecia ter sua própria melodia, um riso aqui, uma exclamação de alegria ali, e o barulho suave das taças. O aroma das mesas fartas – perus assados, massas frescas e os doces típicos que Fabiana havia feito questão de incluir – se misturava ao cheiro de canela e chocolate quente ainda no ar. Era como se o lugar tivesse sido abraçado pelo espírito natalino.Alex estava ao meu lado, segurando Júlia em seus braços. Ela parecia analisar as luzes do grande lustre.— Acho que temos uma nova fã de lustres na família — brinquei, cutucando Alex de leve.Ele riu baixinho, olhando para nossa filha.— Não vou negar, ela puxou o bom gosto da mãe.Dei uma risada, balançando a cabeça. — Ou talvez o fascínio do pai por grandiosidades, quem sabe?Enquanto conversávamos, meu olhar se voltou para as mesas cheias. As mulheres da fundação, que haviam enfrentado tanto, agora estavam cercadas por seus filhos, saboreando cada prato com olhos
PETER MARINOO salão da fundação estava cheio de vida. O som de crianças correndo, o riso das mulheres que antes carregavam semblantes pesados e agora esboçavam sorrisos genuínos. Era impossível não sentir um aperto no coração, mas dessa vez, não de tristeza. Era uma mistura de gratidão e alívio.— Você está pensativo, Peter. — Katy apareceu ao meu lado, sorrindo, enquanto ajeitava o cachecol em volta do pescoço.Dei de ombros, ainda com o olhar fixo nas mesas repletas.— Só estou... processando. Acho que nunca imaginei que um dia veria algo assim.Ela me olhou com aquele jeito calmo, sempre tentando entender o que eu não dizia em palavras.— Algo em especial?Respirei fundo, desviando o olhar para Bianca, que estava sentada perto de uma das janelas. Seu filho estava no colo dela, e ela parecia absorta, acariciando o rostinho dele enquanto ria de algo que uma das outras mulheres tinha dito.— Bianca — respondi, apontando sutilmente com a cabeça na direção dela. — Ela me faz pe
LAURA STRONDDA CARUSOA noite continuava cheia de risos e vozes alegres, mas minha atenção foi capturada quando vi Rebeca atravessando o salão apressada. Ela tinha acabado de deixar os gêmeos com sua mãe, que parecia encantada em ter os netos por perto, mas o que me chamou a atenção foi a expressão no rosto dela. Determinada, quase... predatória.Fiquei curiosa e decidi segui-la. Rebeca cruzou o salão com passos rápidos, ignorando os olhares curiosos de quem tentava interceptá-la para uma conversa casual. Ela estava focada, e eu sabia que isso significava uma coisa: algo ou alguém tinha provocado aquela reação.Quando ela saiu para o jardim, apressei meus passos, mantendo uma distância segura. Ao virar o corredor que levava ao lado externo da fundação, ouvi vozes e me escondi atrás de uma das colunas.Rebeca estava parada diante de Enzo, que conversava animadamente com uma mulher. Ela era bonita, com um vestido elegante e um sorriso que parecia feito para encantar. Rebeca cruzou o
LAURA STRONDDA Um ano depois, o Natal chegou novamente, e nossa casa estava cheia do mesmo espírito caloroso, mas com um toque especial. Júlia, agora com um ano, havia sido o centro de todas as atenções o dia inteiro. Sua energia parecia infinita, mas finalmente consegui colocá-la para dormir, com suas bochechas rosadas e um sorriso sereno. Fechei a porta do quarto com cuidado, respirando fundo.Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi um som baixo vindo do quarto que dividia com Alex. Assim que entrei, a cena que encontrei quase me fez explodir de tanto rir.Lá estava ele, meu siciliano maluco, deitado na cama com uma cueca vermelha, uma espécie de gorro natalino na cabeça e uma arma na mão. A luz suave do abajur iluminava seu sorriso descarado. Analisei cada detalhe do seu rosto.— Laura, feche a porta — ele ordenou com uma voz grave.Ergui uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto o encarava.— Alex, eu prefiro evitar essa versão do Papai Noel, obrigada. Acho que não estou
CAPÍTULO 1 Laura Strondda — Pronta? — ouço aquela voz vindo do meu lado direito e sorrio para minha cunhada, Fabiana. — Eu não tenho medo! No fundo, meu pai e meu irmão, me deixaram dar a palavra final, e aceitei com boa vontade esse acordo. Alexander Caruso é um bom homem, vem de família muito honrada que segue melhor do que a gente, muitos princípios. A máfia da Sicília tem regras rígidas. — me expressei, apertando os dedos e estralando para acalmar os nervos. — Isso na teoria, né? — Rebeca, irmã da Fabiana mencionou enquanto verificava as unhas. — Vamos, é melhor não atrasar! — Fabiana gargalhou ao dizer, então apenas sorri e segui com ela até o carro. Jamais quis um casamento arranjado, mas Alexander é tão prestativo e bom, que me fez pensar que isso não seria tão complicado como dizem. Quando chegamos, a igreja já estava lotada. Alex estava no altar me esperando, e senti um frio na espinha ao perceber que ele estava muito mais sério do que o norm
CAPÍTULO 2 Com facilidade ergui aquele vestido branco, coloquei a perna direita à frente, puxei a minha menor faca, daquele impecável espartilho que eu mesma fiz à mão. Aquela pequena faca que jurei para mim mesma que não precisaria usar, porque confiei no Alex, coloquei apenas por hábito ali… “Guardaria assim que estivesse segura, seria apenas uma lembrança”. — Idiota... fui uma idiota. Lancei com destreza a faca, ao olhar naqueles olhos traidores que agora eu desejei fechar. — PUTTANA DEL DIAVOLO! — sorri ironicamente ao ouvi-lo gritar ao fugir do meu “perfeito arremesso” — pelo menos, seria... se ele não fosse bom o suficiente para escapar quando viu o meu brinquedinho voando lindamente. Seu corpo mudou de lugar em milésimos de segundos. — Hoje é seu dia de sorte! Nunca deixo as minhas belezinhas separadas! — falei com sarcasmo ao olhar para a faca. — Maledetta! — resmungou. Eu deveria estar muito irritada, mas o semblante desesperador do Alex ao perceber que não era o dono da
CAPÍTULO 03 Alexander Caruso“Merda! Mil vezes merda! Eu só precisava ter esperado até amanhã, mas não... perdi a paciência e entreguei o jogo, hoje!“ — Meti chutes naquela porta para ir atrás dela, não me lembrava que havia deixado tudo tão fortificado aqui, levei alguns segundos a mais do que planejei para colocar a baixo, então vi meu primo Peter chegando assim que derrubei. — Não me diga que deixou ela escapar? — logo perguntou de olhos arregalados. — Como iria imaginar que essa maledetta era tão boa, nisso? Se no dia que a sequestrei ela parecia uma gatinha com medo? — respondi enquanto abri o cofre do quarto e peguei outra arma. — Claro, demos medicação para ela dormir, ninguém reage com aquilo! — ele disse enquanto saíamos andando por toda a casa atrás dela. Fiquei em silêncio, pois sei melhor que ninguém, de tudo o que havia acontecido naquele sequestro quando estávamos de casamento arranjado, onde os Russos foram apenas usados como laranjas, e usei aquilo para conseguir