ALEXANDER CARUSO O corredor estava silencioso quando saí da UTI onde Laura e Júlia estavam sendo monitoradas. Cada passo meu, parecia pesar toneladas, meu corpo cansado, mas minha mente ainda agitada. Eu precisava estar forte, por elas. Sempre. Mas, dentro de mim, as emoções estavam demais.Enquanto eu caminhava em direção ao elevador, fui interrompido por vozes. Ao levantar os olhos, vi Peter e Katy, que estavam indo entre os quartos. Peter me olhou, como se esperasse que eu dissesse algo, e Katy sorriu de forma calorosa, tentando aliviar a situação. — Alex, você… como está? — Peter perguntou, sua voz cautelosa. Ele sabia o quanto esse momento era difícil para mim.Eu respirei fundo, tentando manter a compostura.— Elas estão estáveis. Mas Laura ainda está em estado crítico, e Júlia… está sendo monitorada, por precaução.Katy olhou para mim com preocupação.— Sinto muito, Alex. Eu sei o quanto elas significam para você.Eu acenei com a cabeça, o peso no peito não aliviava.
ALEXANDER CARUSO Dois dias nunca pareceram tão longos. A cada hora, a cada minuto, eu contava o tempo para ouvir boas notícias. Ficava na porta da UTI, andando de um lado para o outro, esperando por qualquer atualização sobre Laura e Júlia. Às vezes, entrava para vê-las. Júlia dormia tranquila na incubadora, e Laura parecia um pouco mais forte a cada visita, mas ainda frágil.Quando os médicos finalmente me chamaram, senti o coração disparar.— Senhor Caruso — disse o doutor com um leve sorriso no rosto. — Sua esposa e sua filha responderam bem aos cuidados. Estamos transferindo as duas para o quarto.As palavras dele pareceram abrir um céu que estava pesado sobre mim. Era isso. Elas estavam bem o suficiente para saírem daquele ambiente sufocante da UTI.A primeira coisa que fiz foi correr até a sala onde Laura estava. Encontrei-a sentada, ainda um pouco pálida, mas sorrindo, com aquele brilho nos olhos que eu tanto amava. Júlia estava nos braços de uma enfermeira, enrolada em um
ALEXANDER CARUSO Eu estava sentado no quarto ao lado de Laura, observando enquanto ela cochilava. Júlia dormia no bercinho ao lado, seu pequeno peito subindo e descendo em uma paz que parecia quase mágica. Meu mundo estava ali, completo. Ainda assim, havia algo no ar, algo que eu não conseguia identificar de imediato.Foi quando olhei para o calendário na parede do quarto e percebi: era véspera de Natal.Como eu pude esquecer? O caos dos últimos dias, com Laura e Júlia lutando para superar os desafios do parto, a data havia passado despercebida. Mas agora que sabia, algo dentro de mim acendeu. Este era o primeiro natal da minha filha. Nosso primeiro natal como uma família. E não podia deixar que fosse qualquer coisa.Peguei o celular imediatamente.— Peter? Preciso de você agora. E traga a Katy. Temos que fazer algo grande.Em menos de meia hora, Peter e Katy chegaram no quarto, onde eu os encontrei com o mesmo entusiasmo que sentia ao fechar um grande negócio.— Alex, o que e
LAURA STRONDDA CARUSOA magia daquela noite parecia ter contagiado cada canto do salão. As luzes cintilavam como estrelas, refletindo nos olhos maravilhados das crianças de todos os tamanhos, e seus diferentes sorrisos. O coral entoava músicas natalinas com suavidade, e o cheirinho de canela e chocolate quente preenchia o ar. Júlia, aninhada em meus braços, olhava para tudo com curiosidade, mesmo tão pequenininha. O calor dessa noite me fazia esquecer os desafios que havíamos enfrentado nos últimos dias.Alex tinha realmente superado todas as expectativas. Eu sabia que ele era determinado, mas transformar a fundação em um paraíso natalino em poucas horas era algo que nem mesmo ele fazia com frequência.— Está feliz, amore mio? — Alex sussurrou em meu lado, segurando minha mão.— Mais do que você imagina, siciliano. — Sorri, sentindo os olhos marejarem. — Não sei como conseguiu isso, mas é perfeito.Ele tinha um sorriso cheio de satisfação, o tipo de sorriso que me fazia lembrar por qu
LAURA STRONDDA CARUSOO salão estava vibrante. Cada canto parecia ter sua própria melodia, um riso aqui, uma exclamação de alegria ali, e o barulho suave das taças. O aroma das mesas fartas – perus assados, massas frescas e os doces típicos que Fabiana havia feito questão de incluir – se misturava ao cheiro de canela e chocolate quente ainda no ar. Era como se o lugar tivesse sido abraçado pelo espírito natalino.Alex estava ao meu lado, segurando Júlia em seus braços. Ela parecia analisar as luzes do grande lustre.— Acho que temos uma nova fã de lustres na família — brinquei, cutucando Alex de leve.Ele riu baixinho, olhando para nossa filha.— Não vou negar, ela puxou o bom gosto da mãe.Dei uma risada, balançando a cabeça. — Ou talvez o fascínio do pai por grandiosidades, quem sabe?Enquanto conversávamos, meu olhar se voltou para as mesas cheias. As mulheres da fundação, que haviam enfrentado tanto, agora estavam cercadas por seus filhos, saboreando cada prato com olhos
PETER MARINOO salão da fundação estava cheio de vida. O som de crianças correndo, o riso das mulheres que antes carregavam semblantes pesados e agora esboçavam sorrisos genuínos. Era impossível não sentir um aperto no coração, mas dessa vez, não de tristeza. Era uma mistura de gratidão e alívio.— Você está pensativo, Peter. — Katy apareceu ao meu lado, sorrindo, enquanto ajeitava o cachecol em volta do pescoço.Dei de ombros, ainda com o olhar fixo nas mesas repletas.— Só estou... processando. Acho que nunca imaginei que um dia veria algo assim.Ela me olhou com aquele jeito calmo, sempre tentando entender o que eu não dizia em palavras.— Algo em especial?Respirei fundo, desviando o olhar para Bianca, que estava sentada perto de uma das janelas. Seu filho estava no colo dela, e ela parecia absorta, acariciando o rostinho dele enquanto ria de algo que uma das outras mulheres tinha dito.— Bianca — respondi, apontando sutilmente com a cabeça na direção dela. — Ela me faz pe
LAURA STRONDDA CARUSOA noite continuava cheia de risos e vozes alegres, mas minha atenção foi capturada quando vi Rebeca atravessando o salão apressada. Ela tinha acabado de deixar os gêmeos com sua mãe, que parecia encantada em ter os netos por perto, mas o que me chamou a atenção foi a expressão no rosto dela. Determinada, quase... predatória.Fiquei curiosa e decidi segui-la. Rebeca cruzou o salão com passos rápidos, ignorando os olhares curiosos de quem tentava interceptá-la para uma conversa casual. Ela estava focada, e eu sabia que isso significava uma coisa: algo ou alguém tinha provocado aquela reação.Quando ela saiu para o jardim, apressei meus passos, mantendo uma distância segura. Ao virar o corredor que levava ao lado externo da fundação, ouvi vozes e me escondi atrás de uma das colunas.Rebeca estava parada diante de Enzo, que conversava animadamente com uma mulher. Ela era bonita, com um vestido elegante e um sorriso que parecia feito para encantar. Rebeca cruzou o
LAURA STRONDDA Um ano depois, o Natal chegou novamente, e nossa casa estava cheia do mesmo espírito caloroso, mas com um toque especial. Júlia, agora com um ano, havia sido o centro de todas as atenções o dia inteiro. Sua energia parecia infinita, mas finalmente consegui colocá-la para dormir, com suas bochechas rosadas e um sorriso sereno. Fechei a porta do quarto com cuidado, respirando fundo.Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi um som baixo vindo do quarto que dividia com Alex. Assim que entrei, a cena que encontrei quase me fez explodir de tanto rir.Lá estava ele, meu siciliano maluco, deitado na cama com uma cueca vermelha, uma espécie de gorro natalino na cabeça e uma arma na mão. A luz suave do abajur iluminava seu sorriso descarado. Analisei cada detalhe do seu rosto.— Laura, feche a porta — ele ordenou com uma voz grave.Ergui uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto o encarava.— Alex, eu prefiro evitar essa versão do Papai Noel, obrigada. Acho que não estou