Enquanto ele saía para mobilizar os homens, fiquei sozinha em meu escritório, analisando mapas de Nápoles e do porto. O galpão era um alvo arriscado, mas essencial. Um ataque bem-sucedido ali poderia desestabilizar os Carrillo e enviar a mensagem de que não toleraríamos mais nenhum movimento deles.Apesar do cansaço que começava a pesar, sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando.Com a saída de Romero, permaneci por alguns minutos em silêncio, olhando para o vazio. A imagem de Carlos veio à minha mente. Sua firmeza e determinação sempre foram o pilar da nossa família. Não importava a situação, ele carregava o peso de proteger todos nós sem hesitar. Agora, ele estava longe, mas eu podia sentir sua presença em cada decisão que tomava.Suspirei, tentando afastar o turbilhão de pensamentos. Não era hora de me deixar levar pela emoção. Decidi ir ao meu quarto para um banho rápido. Enquanto a água quente escorria, senti meus músculos tensos relaxarem um pouco. Por mais que o ca
Após quase duas horas de combate intenso, os últimos guardas do galpão foram neutralizados. O chão estava coberto de destroços, e o cheiro de pólvora era forte. Nenhum dos meus homens sofreu ferimentos graves, e as perdas do lado inimigo foram significativas.— Conseguimos, Srta. Mendez — disse Romero, limpando o suor da testa enquanto inspecionava o local.— Certifiquem-se de que tudo de valor aqui seja destruído. Nada pode sobrar — ordenei, ainda em alerta.Enquanto as equipes queimavam as mercadorias ilegais, observei o galpão em chamas com uma sensação mista de alívio e cansaço. A primeira batalha havia sido vencida, mas eu sabia que a guerra estava longe de terminar.Voltamos ao palácio por volta das nove da manhã. O sol estava alto, e o cansaço pesava em cada músculo do meu corpo. Quando entramos, fomos recebidos por todos os membros do conselho e suas famílias, que haviam sido informados do sucesso da operação.Ao me verem, começaram a aplaudir. O som ecoou pelo salão principal
Dois dias se passaram, e a tensão pairava no ar. Todo o planejamento para interceptar o carregamento no porto de Amalfi estava concluído. Romero e sua equipe coordenaram cada detalhe, e eu novamente decidi participar ativamente da operação. Sabia que estar à frente era essencial para manter a confiança de todos.Às três da madrugada, seguimos em veículos discretos até o ponto de interceptação. O porto estava silencioso, iluminado apenas pelas luzes de alguns galpões e postes espalhados pela área. Nos posicionamos estrategicamente, aguardando a chegada do comboio dos Carrillo.Quando os caminhões apareceram, acompanhados por dois carros armados, a operação começou. A emboscada foi rápida e precisa, como planejado. Nossos homens bloquearam a estrada, forçando-os a parar, e o confronto começou.— Cuidado com os atiradores nos veículos! — gritei, enquanto nos posicionávamos atrás das barreiras.Os tiros eram incessantes. Meu treinamento me manteve calma enquanto disparava contra os homens
Após algumas horas no escritório, Alejandro e Carlos se reuniram comigo para revisar as próximas etapas da luta contra os Carillo. O clima era de foco, mas também de alívio por estarmos juntos novamente, mesmo que por pouco tempo. Alejandro, como sempre, trazia sua postura estratégica, analisando cada detalhe enquanto Carlos, mais direto, focava nos possíveis ataques que poderiam surgir em retaliação.— Temos informações de que o ataque ao carregamento foi um golpe severo para eles. Eles perderam não apenas os produtos, mas também a confiança em suas rotas de transporte. No entanto, sabemos que não ficarão quietos. Precisamos nos preparar para uma resposta violenta — explicou Alejandro, traçando possíveis movimentos no mapa sobre a mesa.Enquanto eles discutiam, uma pergunta surgiu em minha mente, e não consegui segurar.— Alejandro, e minha cunhada? Como ela está? Ela está segura? — perguntei, olhando diretamente para ele.Alejandro suavizou a expressão, algo raro vindo dele.— Ela e
Com cuidado, virei-me na cama, mas ao olhar para o outro lado, percebi que Carlos não estava lá. Um misto de preocupação e curiosidade tomou conta de mim. Respirei fundo, ignorei a dor que insistia em pulsar no meu ombro, e me levantei devagar. No canto do quarto, uma pequena mesa de mogno abrigava algumas garrafas de uísque e copos de cristal. Caminhei até lá, peguei um copo e servi uma dose. Abrindo o frigobar, coloquei dois cubos de gelo, cujo tilintar quebrou o silêncio opressor do ambiente.Com o copo na mão, sentei-me na poltrona em frente à janela. O tecido macio da poltrona parecia oferecer um abraço reconfortante enquanto eu observava o jardim do palácio. Lá fora, o sol se punha, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. No gramado, crianças brincavam despreocupadas, suas risadas ecoando ao longe. Era uma visão que há muito tempo eu não via por aqui. Finalmente, o Palácio dos Mendez parecia ter voltado à vida.De repente, o som suave da porta se abrindo atrás de mim interrom
Senti meu rosto esquentar. As palavras me pegaram de surpresa, mas havia algo reconfortante em ouvir aquilo.— Apenas fiz o que era necessário — respondi, tentando manter a compostura, mesmo sentindo um orgulho secreto crescer dentro de mim.Alejandro me lançou um leve sorriso — raro, vindo dele —, deu um aceno breve e seguiu seu caminho para os aposentos.Carlos observou tudo em silêncio, mas quando olhei para ele, havia um brilho nos seus olhos. Ele sabia o quanto aquelas palavras significavam para mim.Quando voltamos para o palácio, Carlos parou na entrada do corredor que levava aos nossos quartos.— Preciso resolver algumas coisas antes de ficar com você — disse ele, inclinando-se para me beijar na testa. Sua voz era suave, mas firme, como sempre.Assenti, entendendo que ele carregava responsabilidades que não podiam ser ignoradas.Subi para o quarto e me joguei na cama. Estava exausta, mas o sono parecia distante. Fiquei olhando para o teto, ouvindo o silêncio ao meu redor, exce
A noite se foi como um sussurro no escuro, e quando abri os olhos, um raio dourado do amanhecer invadia o quarto pelas frestas da janela. O peso confortável do braço de Carlos sobre minha cintura era um lembrete da noite passada. Seus cabelos bagunçados caíam sobre a testa, e sua respiração era tão tranquila que me fez hesitar antes de me mover. Mas com cuidado, levantei seu braço e deslizei para fora da cama. Peguei uma toalha próxima e caminhei para o banheiro, tentando não fazer barulho.A água quente deslizou sobre minha pele, trazendo memórias vivas de nós dois juntos. A lembrança de seus toques e risadas enchia meu peito, e um sorriso teimoso escapou. Eu estava apaixonada. Isso era inegável e, ao mesmo tempo, aterrorizante. Mas, de repente, uma pontada no abdômen me fez dobrar o corpo. A dor era avassaladora, cortante, e eu me agarrei à pia, tentando me equilibrar. Olhei para baixo e vi o sangue escorrendo. Um pânico frio tomou conta de mim, e meus joelhos cederam, me levando ao
Fui levada para uma sala ampla e esterilizada. A dor ainda pulsava no meu abdômen, mas agora era acompanhada por uma angústia crescente. Clara pediu que eu deitasse na maca e colocou as luvas com movimentos precisos, examinando-me com cuidado.— Cristina, isso é sério. — começou ela, ajustando o tom para algo mais delicado. — Você está sofrendo um aborto em andamento. Vou fazer uma ultrassonografia para verificar se o feto ainda está vivo ou se perdeu.Minha respiração ficou pesada. Um aborto? Um feto? As palavras dela ecoavam na minha mente enquanto a máquina era ligada. O gel frio tocou minha pele, e o silêncio na sala tornou-se ensurdecedor. Quando a tela do monitor se iluminou, Clara focou atentamente, ajustando o transdutor com perícia.— Espere... — ela murmurou, os olhos arregalados. — Ele ainda está aqui. O coração está batendo.Meu próprio coração quase parou. Olhei para a tela, e lá estava: uma pequena forma indistinta, mas viva, com um pulsar rítmico no centro. As lágrimas