CariocaA experiência de ter a Antonela nos meus braços pela primeira vez foi algo surreal e sem explicação, exatamente como no dia em que conheci o Gabriel. Meus filhos, com certeza, são a melhor parte de mim, talvez a única parte boa que eu tenha.Quando a Fernanda chegou do hospital com ela tão pequena nos braços, eu não sabia se beijava o rosto da minha filha ou a boca da minha mulher, tamanha felicidade que eu sentia.Antonela parece tão frágil e indefesa, mas sei que será forte e guerreira como sua mãe, inclusive, mesmo ainda tão pequena, os traços são todos, claramente da Fernanda. Minha filha vai ser linda assim como a mãe é, a mini-Fernanda, assim como o Gabriel é o mini-Carioca.Sorrio com esse pensamento.Que família linda a gente construiu junto. Porrä...Ao pegar Antonela no colo, eu sentia medo de derrubar, machucar ou qualquer coisa assim. Quando conheci o Gabriel ele já era grande e nunca o tive em meus braços quando era bebê. Foi uma emoção tão forte que não con
ÂngelaAcordo da pancada que levei, olho ao redor, sentindo tudo girar e minha cabeça doer.— Acordou a nossa doce Ângela?Ao escutar a pergunta irônica de Luciana, tento levantar e percebo que estou com os pés e as mãos amarrados com fitas.— O que você está fazendo, Luciana?— Você acreditou mesmo na minha historinha da esposa que com medo do marido, fugiu do país? Você realmente continua a mesma tonta da época da escola.— Sim, eu sou uma tonta para você, mas essa tonta aqui se casou e teve filhos com o Jorge. E você? Se contentou em ficar com o Juninho, um homem que mesmo após eu estar casada, seguiu me perseguindo. — cuspi as palavras, pois senti uma raiva tão grande por ter acreditado na mentira dela.Luciana se aproxima e dá um tapa na minha cara.— Não diz nem mais uma palavra ou então passo a fita na sua boca também!— Por que você está fazendo isso? Eu estava disposta a te ajudar!— Me ajudar? — ela pergunta rindo —Você quase destruiu a minha vida!— Você me odeia
JapahDia de receber carregamento no Cascata e era pro Carioca ter ido, mas achei melhor ele ficar curtindo esse momento com a filha dele que acabou de completar 01 mês, afinal, com o Gabriel ele não teve nada disso.Quero ver esse morro bombando, mas o faturamento não tá bom e eu acho que pode melhorar muito. Eu vou meter a cara nisso aí.Assim que recebemos e vimos que estava tudo certo com a carga, Doca e eu, trocamos uma ideia do que deve ser melhorado e ajustado.Pouco depois, o fogueteiro mandou o alerta, estava tendo invasão.Que porrä é essa?Aqui é uma comunidade pequena, nunca tem invasão.Isso não podia estar acontecendo. Estávamos em menor quantidade, tanto no número de soldados quanto no armamento.Mais fogos são estourados, Doca e eu nos olhamos.Não havia dúvida, os fardas estavam entrando.Atravesso o fuzil no peito, Doca também.Viro a aba do boné pra trás, jogo fora o cigarro que eu recém tinha acendido.Saímos dali o mais rápido que pudemos, e minutos de
BarretoLevanto novamente o fuzil que eu havia baixado pra atender o telefone, mas meu soldado não baixou em nenhum segundo, estava pronto pra acabar com o marginal.— Eu já sei que você invadiu o Cascata pra pegar o Felipe, mas ele está na Penha! — ela diz do outro lado da linha.— Aí que você engana! Tô com meu fuzil apontando pro Japah nesse momento, e o Carioca, com o dele mirando na minha direção. — Carioca havia acabado de entrar pela porta, até parecia meu aniversário hoje, ganhei de presente de acabar com os dois de uma única vez.— Baixa a porrä da arma agora e solta o meu irmão! — Carioca fala grosso, e eu percebo que ele está sangrando.Sorrio outra vez, ignorando o que ele disse.— E por que não posso fazer isso? — pergunto irônico no telefone, continuando a chamada.— Porque o Eduardo é seu filho! — Ângela diz do outro lado da linha, desesperada ao ouvir a voz do Carioca.Meu olhar se volta outra vez para ele, que continua me encarando. Carioca faz a mesma coisa.
LCFicamos em alerta total após o aviso de invasão, mas nada aconteceu na Penha e nem na VK.Carioca então avisa que tá indo pro Cascata, pois os vermes desgraçados invadiram lá.Sem pensar duas vezes, coloco meu bonde na pista, armado até os dentes, de armas, munição e ódio. Não vou deixar na mão meu irmãos. Irmãos de vida e de sangue.Chegamos pelo mesmo local onde o helicóptero nos buscou quando fomos resgatar a Fernanda, na época do sequestro.É difícil acessar o morro por ali, tem muito mato, pedras e praticamente precisa escalar, mas nós conseguimos.Chegamos metendo bala em todos os fardas que apareciam na nossa frente, mas a baixa de homens do nosso comando foi grande também.Depois de muita troca de tiros, consigo chegar até onde estão o Japah, Carioca e o Barreto.Não tomo nenhuma atitude precipitada. Tenho o Barreto na minha mira e com a calma necessária, aguardo.No meu campo de visão tenho os dois fardas e o Japah, mas o Carioca não. Mas sei que ele tá ali.Assi
Ângela — Nunca! — ele responde e nos beijamos. Um beijo intenso e demorado. Após alguns minutos, pego sua mão e o faço entrar. — E então? Foi muito difícil fazer com que meus filhos te liberassem para largar o bando? — Um pouco com o Japah, com o Carioca foi mais tranquilo. — Eles não poderiam te negar isso. — falo. — Fiz isso porque amo você! Sorrio ao ouvir isso. — E você acha que eles desconfiam pra onde você veio? — O Japah talvez não, inventei uma história de problemas na família. Mas o Carioca talvez desconfie, acho que tem quase certeza, na verdade. — Sou adulta e já perdi muito tempo da minha vida! — falo colocando minhas mãos em volta de seu pescoço e ficando na ponta dos pés. Robertão então me agarra com força, cheira meu pescoço, me pega no colo e me leva até a cama para matarmos a saudade de alguns meses. Estamos juntos outra vez, vivendo o agora, pois é isso que importa, amar, sentir e viver, sem se importar com o depois, pois o depoi
PRÓLOGOAponto meu fuzil na cara dele, não tem pra onde ele correr, tiro e bomba pra todo lado, está encurralado. Esse momento é a glória pra mim.Meu companheiro também tem a mira apontada pra ele.— Demorou mas chegou tua hora! — falo na cara dele.Sujeito ruim, ele me encara sem demonstrar sentir medo algum da morte.Movimento o dedo pra apertar o gatilho. Meu telefone toca, atendo sem tirar os olhos dele.Do outro lado da linha, aquela voz tão familiar:— Você não pode matar ele!A porta se abre, me viro e ele aponta a arma pra mim, volto a atenção para a ligação novamente.– Ah não? Por quê? — Pergunto rindo, mas a resposta não foi nada engraçada.DIAS ATUAISSEGUE O MOMENTO EM QUE FERNANDA LÊ A MENSAGEM NO CELULAR DE FELIPE DURANTE A COMEMORAÇÃO DO CASAMENTO.FernandaDurante a tarde, precisei subir até o quarto para colocar o meu celular para carregar e na escrivaninha da cabeceira, o celular pessoal do Felipe que estava lá, vibrou algumas vezes. Não sei se por curiosidade ou i
FernandaEle me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo. — Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?Nessa hora eu gargalhei alto.— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa cr