CariocaEu tava cheio de fome e mandava um prato de comida pra dentro quando meu celular tocou. Achei que fosse a Leandra, que já ligou antes, mas não tô afim de papo com ela, não.No visor do aparelho, apareceu o nome de Robertão. Atendi de imediato, afinal, Fernanda tava na pista com o Gabriel e minha mãe. Robertão tava na escolta deles e me ligaria se qualquer coisa saísse do padrão.— Fala, Robertão. — Minha voz saiu ríspida, sem paciência para enrolação. Meu humor, que não é um dos melhores, tá ainda pior com tudo que tem acontecido.— Chefe, acho que temos um problema aqui no shopping. — a voz dele tremia. Algo estava errado.— Um problema? Que tipo de problema? — No meu pensamento já vinha o desgraçado do Barreto fazendo alguma coisa com a minha mulher e o meu filho, e a comida já ficou indigesta.— É a senhora sua esposa, chefe... — ele hesitou. — Ela entrou no banheiro com o seu filho e já tem mais de 15 minutos que não saem de lá. Alguém da manutenção tá tentando abrir
CariocaDepois que o Japah organizou tudo com os nossos homens, mesmo contra a própria vontade dele porque não concordava com a minha decisão de sair da comunidade pra buscar a Fernanda, um forte esquema de segurança foi armado pra eu sair da favela. Era muito arriscado o que eu iria fazer, e por isso Japah era contra. Ele inclusive, meteu uma pressão na mulher dele e no amigo dela e da Fernanda pra saber se realmente eles não sabiam de nada. Mas a verdade é que a Fernanda agiu sozinha nessa porrä.Um plano foi montado rapidamente e por isso a chance de eu me fod¢r era grande. Lance feito a pressas pode dar errado.Dois carros seguiriam na frente, cheios de meus homens, pra abrir caminho. Outro carro viria atrás, garantindo que ninguém nos seguiria e logo estávamos indo. ***Enquanto percorríamos as ruas fora da favela, em horário avançado da noite, entrando na madrugada, minha mente tava na neurose total e o ódio no coração. Sentado no banco de trás
FernandaO carro corria pela estrada. Felipe dirigia em alta velocidade, seus olhos fixos no caminho à sua frente, seu rosto enfurecido e furioso.Um carro ia à nossa frente e dois atrás.Eu estava no banco do passageiro. Não tive poder de escolha e precisei voltar com ele. Gabriel dormia profundamente no banco de trás.Depois do tumulto no hotel, ele tinha acordado, tomado suco e comido alguns biscoitos. Quando viu Felipe, seus olhos brilharam de alegria e ele correu para abraçar o pai. Um é louco pelo outro, isso não posso negar.— Felipe, por favor, diminua a velocidade. — pedi, quebrando o silêncio entre nós, que se estabeleceu desde que entramos no veículo. — Gabriel está dormindo e eu não quero que ele acorde assustado.Felipe não respondeu, nem sequer olhou para mim. Seu olhar continuava feroz, os dedos apertados no volante. Eu sabia que ele estava lutando contra seus demônios internos, e eu não precisava de mais tumulto, principalmente na presença do meu filho.— Felipe
NO ESCRITÓRIO DA BOCA:Felipe, Japah e LC reunidos conversando.Ângela entra pela porta segurando um envelope de cor parda.— Pô, dona Ângela, pra que se dar a esse trabalho todo? Eu mandava alguém buscar, já falei que aqui não é lugar pra você! — Carioca diz.— Ficava no meu caminho, filho, e eu queria participar deste momento também. Todos esses dias aguardando o resultado me deixou ansiosa. Estou curiosa assim como vocês. — Ângela coloca a bolsa na cadeira, abre o envelope e coloca o resultado sobre a mesa. — Anda, abram logo. O resultado está aí! — ela diz.Todos se olham, mas ninguém pega o papel.— Bom, então se ninguém tem coragem de ler, eu leio! — Ângela pega o papel e começa a ler. Segundos depois, ela abre um sorriso e diz:— Aqui diz que as chances de grau de parentesco são de 99%, ou seja, vocês são irmãos!Japah se aproxima e pega o papel, depois Carioca faz a mesma coisa e passa para LC ler também.Um silêncio predomina até eles processaram o que acabaram de ou
CariocaA Fernanda fod¢ com meu psicológico, ela fod¢ com tudo dentro de mim. Sempre.Aquela tentativa de fugir com meus filhos me deixou puto, eu tive vontade de quebrar ela inteira, na moral. Mas ela tá grávida e não ia fazer essa covardia com meu filho. Mas longe de mim, ela não vai viver. Isso nunca.A Fernanda não entende porrä nenhuma, não facilita nada. Pelo contrário, ela dificulta tudo.Daqui a pouco é o baile e eu tô na casa da Leandra, acabei de dar um trato nela, que agora tá no banho. Fumo meu baseado olhando a favela pela janela.Como pode minha vida e a da Fernanda estar desse jeito?Era pra estar tudo perfeito, dentro de uma perfeição que a minha vida do crime permite, é claro, mas ainda assim era pra estar tudo bem entre nós.Mas a porra do meu ciúme e a ingenuidade dela, fudeu com tudo. E agora eu tô aqui com a Leandra e não tem mais volta.Saio da janela com cortina longa, olho o quarto pequeno, mas bem organizado.Luminária com a inicial do nome dela em ci
CariocaTô no camarote com LC e o Japah. O bonde pesadão com cordões e anéis de ouro, roupas caras, porque a gente não anda de qualquer jeito, e as glocks na cintura. Todos naquele pique.Em um canto mais ao fundo, em uma mesa, estamos conversando enquanto muitos soldados circulam com os fuzis pra todo lado, fazendo a segurança. Quanto maior o evento, maior deve ser a atenção.Alimentação e bebidas da melhor qualidade, som muito alto e quadra lotada. Comemoração é sem miséria.Meu rádio toca.Me afasto e vou até onde não tem tanto barulho. Atendo.— Fala!— Senhora sua esposa saiu de casa, agorinha!— Cola nela, então!— Um dos homens já tá na escolta! — Bode responde do outro lado da linha.— Já é!Desligamos.Volto com os caras.Leandra chega no camarote.Vestido dourado, curto e justo, cordão de ouro com a letra C no pescoço, batom vermelho conforme falou que usaria.Ela se aproxima, sorrindo, e senta em meu colo.LC e Japah levantam e se afastam indo até suas fiéis
FernandaSubi pro camarote com tanta raiva que sinceramente, a minha vontade era voltar embora, mas não vou dar esse gostinho ao Felipe e muito menos para aquela vagabundä, que, inclusive, ficou me olhando dos pés à cabeça quando eu retornei ao camarote.Me aproximo dos meus amigos novamente.— Estava onde, Fernanda? — Dani perguntou.— Tá louca, Dani? Não sabe onde ela estava? Estava era com o chefe da porrä toda por aí! — Andrey diz.— Pior que eu estava mesmo, se ele pensou que eu iria sair chorando e voltaria para casa, se enganou feio!— Olha Fernanda, não sei como você aguenta, viu? Eu no seu lugar, já tinha acertado a cara daquela puta! — Rebeca fala, enquanto segura o copo quase encostado na boca, olhando em direção à Leandra.— Por que a primeira-dama tem classe, Rebequinha! — Andrey fala, enquanto faz um passinho de funk.Olho para os lados, não vejo o Felipe. Ele não deve ter subido de volta ao camarote ainda.Minha garganta está seca, preciso beber algo, mas não p
ÂngelaEm um elegante bar de Copacabana, acompanhada de excelente companhia, eu tomo meu drink predileto, um Marguerita.Sempre que saio, deixo meu celular no modo silencioso, afinal, nenhuma rede social deve ser prioridade maior do que uma conversa olho no olho.Após algum tempo de conversa leve e descontraída, percebo uma chamada perdida do Felipe. Hoje é a noite do maldito baile em que ele vai assumir aquela desqualificada.Retorno a chamada, mas agora quem não atende é ele.Envio uma mensagem, perguntando se algo havia acontecido.Nenhuma resposta.Mando mensagem também para a Fernanda, que me responde, dizendo estar tudo bem e eu fico mais tranquila.Pouco depois, recebo uma foto enviada pelo Felipe, abro a imagem.Foto de um batom com a logomarca do Maxime Remy e achei que ele pudesse ter enviado errado.Maxime Remy é um estilista renomado na França e meu amigo de longa data, tenho inúmeras roupas da coleção dele.“Que foto é essa, Felipe?” — digito e envio.Logo vei