AntonelaOlho para a porta do meu quarto e vejo ali aquela figura elegante, impecavelmente cuidada e linda como sempre, dando uma leve batidinha na porta.Eu me levanto, correndo em direção a ela. Minha mãe estava ali, e nós nos abraçamos de um jeito muito terno, enquanto ela afagava minhas costas e meu cabelo. Eu queria poder me fundir naquele corpo que sempre foi meu porto seguro.Só de sentir o cheiro tão familiar dela, já me trouxe paz, e receber outra vez todo esse amor que ela sempre me deu foi a melhor coisa que eu poderia ter naquele momento. Que saudade gigante eu estava dela.— Meu amor… — sussurrou, sua voz embargada, e aquilo só me fez chorar mais.Eu queria dizer tanta coisa. Queria contar o quanto estava doendo, o quanto me sentia perdida e cansada, mas tudo o que consegui fazer foi me agarrar a ela e sentir seu calor. Ela me apertava contra si, como se tentasse me proteger do mundo, como se quisesse me remendar peça por peça.— Eu tô aqui, meu bem… A mamãe tá aqui… — re
Thierry Quando a Milena falou que a Thayla foi embora, eu quase não acreditei. Como é que ela mete o louco e some assim, sem falar com ninguém? Ela não voltou pra Penha, então o único lugar que imaginei que minha irmã pudesse ter ido era Rio das Flores. Afinal, não temos amigos ou familiares em outros lugares. Mas não, ela não foi pra lá. Fui até o local, conversei com os nossos antigos vizinhos e pude constatar que, por lá, ela não passou. Dois dias depois de sumir, Thayla me ligou de um número não identificado. Fiquei puto com isso, mas, ao mesmo tempo, aliviado em saber que ela está bem. Ela apenas quer ficar um pouco distante e tem seus motivos pra isso. Agora que os papéis se inverteram, que não sou eu quem sumiu e sim ela, eu posso sentir a angústia que minha irmã sentia quando toda vez que eu desaparecia. Isso é horrível, e não vou mais repetir nunca mais. Chego na entrada da Penha e já percebo vários homens do bando do Carioca falando em seus rádios. Com certeza,
RafaelaMeu telefone toca. Levanto da cama para pegar o celular que estava carregando. Era meu pai do outro lado da linha. Estranhei, pois ele saiu daqui de casa há pouco tempo. Então, diminuo o volume da televisão e atendo.— Oi, pai!— Rafa, o pessoal da contenção me avisou que tem visita pra você na entrada da comunidade.— Quem é, pai? — pergunto, mexendo nas unhas, vendo que preciso urgentemente ir à manicure e achando essa ligação muito estranha, porque meu pai nunca faz isso.Ele suspirou do outro lado da linha antes de falar novamente.— É a Antonela quem tá aí!Me assusto ao ouvir. Meu pai me fez bloquear o número dela, por não querer confusão, e eu não sabia que ela estava de volta ao Brasil.— Você não vai impedir a entrada dela não, né, pai? — Falo, levantando e já colocando uma rasteirinha, porque, caso ele não a deixasse entrar, eu pegaria o carro e iria atrás dela. — Pai, eu não falei mais com ela, como você mandou, mas ela está aqui. Seria desumano não deixá-la entrar.
Antonela Estar dentro da casa do Alexandre me trouxe tantas lembranças que fizeram meu coração acelerar e minha cabeça girar. Ali, naquela casa, eu fui ao céu e ao inferno ao lado dele, vivi momentos lindos, deliciosos e também a nossa terrível despedida, quando ele repetiu veementemente que não me queria — uma mentira para que eu me afastasse. Agora eu sei. Porque Rafa contou que ele estava decidido a ir me encontrar na França, e MT sabia do plano. Alexandre me queria. Ele me queria mesmo com tudo controverso em sua mente. Então era isso mesmo? Não foi tudo mentira? Ele realmente passaria por cima de seu rancor, do seu ódio pelo meu pai e deixaria tudo para trás para ficar comigo? Mesmo ouvindo da boca da Rafa, meu cérebro demorou um pouco para processar a informação. Ela me garantiu que sim, e por alguns minutos fiquei confusa em relação a isso, pois, se Alexandre fez mesmo aquele assalto para ter mais dinheiro para ir até a França, foi por minha causa que ele morreu. Mas Rafa
G4— Pô, G4, vacilação do carälho da Josiane com aquela parada da Patricinha! Só espero que não fique nenhuma dúvida quanto à minha lealdade com vocês! — Gonça fala enquanto eu tô aqui na frente da boca esperando meu pai e o Thierry conversarem.Gonça é um dos nossos gerentes há anos, sempre mostrou disposição e lealdade. A mulher dele fez uma merda das grandes ajudando a Bruna, e é claro que ia respingar no Gonça. Mas ele provou que é responsa e não deixou barato a trairagem da Josiane, ele agiu com firmeza.— Você ia sofrer as consequências junto com ela, tá ligado? Mas mostrou mais uma vez por que tá num cargo de confiança, Gonça! Caráter e lealdade são algo valioso demais pra mim e pro meu pai!— Tô ligado! — ele fala, chutando uma pedrinha no chão de terra batida.— E é verdade que você passou mesmo a zero nela? — pergunto, indo um pouco pro lado, onde o sol não pegaria na minha cara. Esse tipo de fofoca sempre se espalha rápido na comunidade.— A zero não foi, mas cortei na altu
ThaylaSaí da casa onde estava hospedada sem olhar para trás, sentindo o peso da minha decisão nos ombros. Caminhei até um ponto de ônibus próximo dali, com o coração acelerado e a mente inquieta. A linha era intermunicipal, e quando finalmente desci na rodoviária, um alívio momentâneo percorreu meu corpo. Mas eu sabia que não poderia ficar ali por muito tempo. Se Gabriel descobrisse onde eu estava, poderia aparecer a qualquer momento. Não queria colocar Milena e Thierry em risco. Ou, até mesmo, arrumar problema para a mãe da Milena, que gentilmente me ajudou também. Eu sabia que Gabriel era capaz de tudo.Fiquei em uma pequena pousada próxima à rodoviária, um lugar simples e discreto, onde passei alguns dias tentando organizar meus pensamentos. A cada noite mal dormida, minha certeza aumentava: eu precisava desaparecer de verdade. Não bastava mudar de endereço, era necessário sair da cidade.Depois de um tempo, decidi ir para Rio das Flores. Esperei o suficiente para que parassem de
G4— Tá livre agora, Carioca? — Gonça voltou perguntando.— Agora tô. Bora lá conversar! — Meu pai responde, gesticulando com a cabeça em direção à sala da boca. — Você também, Gabriel!Ao entrar, tudo igual como sempre. Sentamos na cadeira, Gonça e eu acendemos um baseado, e meu pai serve um copo de uísque para cada um. É como um ritual nos segundos que antecedem as conversas que acontecem nessa sala.— Tu é de responsa mesmo, Gonça! Gosto de atitudes como as suas. É de gente assim que eu preciso no meu bonde, e é por isso que tu tem cargo de confiança!— Eu sou pelo certo, Carioca! Se a pessoa tá no erro, não é porque é minha mulher que eu vou fechar os olhos. Fez merda, vai ser cobrada!— É justo! — Falo, colocando meu copo em cima da mesa. — Mas quem garante que ela não vai fazer outra vez?— Eu garanto, G4! Se a Josiane sair da linha outra vez, não vai ser só esculacho e corte de cabelo, não. Eu mesmo passo ela sem dó, e ela sabe disso! — Gonça responde firme. Ele sempre foi o ti
Thayla— Quando você voltou, Thayla? Eu não fazia ideia de que você estava aqui! — Adriano se aproxima com um sorriso surpreso, mas antes que eu possa reagir, ele me puxa para um abraço apertado. Meu corpo enrijece, e ele percebe, mas não se afasta.— Eu só vim tirar uns dias, Adriano! Não vim para ficar! — Respondo, me desvencilhando devagar.— Por quê? Você tem que voltar pra cá, aquele lugar não é para você! Eu tava morrendo de saudade.— Realmente ficarei aqui só por poucos dias... — falo, baixinho.— Hum, entendi. E como anda a sua vida? — Ele segura meu rosto entre as mãos e deposita um beijo na minha bochecha. O gesto, tão íntimo e inesperado, me deixa desconfortável.— Vai indo... E a sua? — Tento disfarçar, afagando suas costas durante o abraço. Depois, sentamos no chão, um ao lado do outro, como tantas vezes antes.— O de sempre, né, Thayla? Trabalhando, estudando pra fazer um concurso público, uma diversão de vez em quando... Essa vidinha aqui de Rio das Flores, que você sa