📍 Rua Mouffetard, Market – ParisAntonelaSaio do famoso e conceituado fast-food do marido da minha avó e ando pelas ruas próximas, olhando algumas vitrines, sentindo no rosto a brisa leve do final da primavera parisiense, tentando me animar. Sinto que estou um pouco melhor. Talvez os milhares de quilômetros entre o Cold e eu me ajudem a não lembrar tanto. Digo não lembrar, pois esquecer, eu sei que jamais esquecerei.Minha avó e o marido dela são tão acolhedores e me tratam muito bem. Isso torna as coisas menos difíceis. Roberto é um homem muito educado e trata minha avó com devoção. Já ouvi comentários de que ele fazia parte do bonde do meu pai e que os dois se apaixonaram; que ele veio para ficar com ela aqui na França e abriu o seu comércio com o dinheiro que juntou quando era do mundo do crime. Se tudo isso é verdade, eu não sei, pois nada falam sobre isso na família. Eles são discretos, mas muito felizes juntos, e isso é nítido.Caso seja verdade, Roberto largou o crime, a famí
BrunaJosiane e eu temos afinidade desde o tempo em que eu frequentava a Penha, anos atrás, e inclusive mantínhamos contato por redes sociais durante o tempo em que morei fora.Meu pai sempre foi um homem autoritário e metido em negócios escusos e, depois da morte dele, precisei voltar ao Brasil após um longo período morando no exterior.Morar na Europa é incrível, mas eu vivia lá por exigência dele, por questão de segurança, e caso eu não obedecesse, ele cortaria meus cartões e minha mesada. Ele ameaçou até mesmo me deserdar. Sem a grana dele, eu não poderia manter o padrão de vida que gosto e ao qual estou acostumada.Eu sempre gostei de curtir a vida, de frequentar todo tipo de lugar: baladas, cruzeiros luxuosos e bailes de favela. E foi exatamente em um baile que cheguei até o Gabriel, ficando rapidamente fascinada por esse mundo de crimes, armas e drogas ao qual ele faz parte. Assim como me apaixonei por ele, não demorou muito para eu descobrir que estava grávida.O plano do meu
LecoColocamos no G4 somente um short de jogador de futebol, que foi a primeira coisa que encontrei pelo quarto dele, e partimos no pique de corrida de Fórmula 1 para o postinho de saúde. Eu passaria por cima de qualquer um que se metesse no caminho. Durante o trajeto, mandei avisar o Carioca, que chegou lá mais rápido que nós.Será que o G4 comeu aquela piränha mesmo? Ele tá amarradão na Thayla, não é possível um negócio desses. Ainda se fosse qualquer outra, eu não acharia estranho, mas a Bruna? Alguma coisa não bate aí nessa história.Quando chegamos no postinho, foi uma correria, e um alvoroço se formou ao redor dele. A médica, que atendia um morador no momento, veio correndo atender o G4.Ela verificou os olhos dele com uma espécie de lanterna, enquanto uma enfermeira colocava um aparelho no braço dele e outro no dedo indicador. Logo, empurraram a maca com ele até outra sala e a médica me perguntava o que tinha acontecido.Eu respondi apenas o que vi: G4 deitado de bruços, desaco
Milena Assim que cheguei na lanchonete da dona Célia, falei que precisávamos conversar a sós e então ela me levou para a parte de cima da casa dela. Ela estava muito nervosa, disse que estava há muitas horas tentando contato com a Thayla, sem sucesso. Eu expliquei tudo a ela, omitindo, é claro, alguns detalhes. — Eu sempre soube. Sempre soube que esse rapaz ia trazer muito sofrimento para a Thayla, mas ela não quis me ouvir! A história da mãe dela está se repetindo. — Não, dona Célia, não vai se repetir nada! Não vai acontecer nem parecido com o que aconteceu com a mãe da Thayla. Ela é uma menina de cabeça boa. — Cabeça boa que nada! Repare só, a Thayla teve que fugir e, antes disso, já passava as noites fora de casa sem me dizer nada. Ela não se importa mais com a faculdade, e tudo por causa de um rapaz envolvido no crime! Veja bem se isso é futuro?! Um rapaz que tem várias mulheres, mata pessoas a toda hora e, a qualquer momento, pode estar preso ou até mesmo morto. Engulo
G4Acordo atordoado na cama do postinho, querendo matar a filha da putä da Bruna. Mesmo com a mente confusa, eu me lembro que ela tava tirando minha roupa.Tento me levantar, mas a enfermeira me segura, e minha mãe corre até mim.— Calma, Gabriel, calma! — ela quase pula em cima de mim, após largar o tablet na cadeira.— Cadê meu pai, mãe? Onde ele tá? Preciso contar uma coisa muito importante a ele! — Tento me levantar, mas meu estômago e todo o meu corpo doem. Também sinto tontura e um pouco de enjoo.Perguntei pelo meu pai, que não estava ali, mas também olhei ao redor, percebendo que faltava alguém.Por que a Thayla não tava ali, assim como quando eu acordei do coma?Minha mãe beija várias e várias vezes a minha testa acariciando meu rosto, enquanto sorri de um jeito emocionado.— Calma, eu já vou ligar para ele, Gabriel! — ela diz, pegando o celular, enquanto passa a mão no meu cabelo e depois fala rapidamente com meu pai.— E a Thayla? Cadê ela, mãe? — perguntei assim que ela te
ALGUNS DIAS DEPOIS...AntonelaMeu pedido de retornar ao Brasil não foi atendido, pois, ao ver a reportagem, fiquei tão atordoada e desesperada que não me dei conta de que tudo tinha acontecido dois dias antes de eu descobrir. Então, eu não conseguiria uma passagem em cima da hora, muito menos participar do enterro, que provavelmente já tinha acontecido. Além disso, não tive autorização dos meus pais para retornar.Eles pediram para eu esperar alguns dias, pois disseram estar com vários problemas na comunidade, inclusive com o Gabriel, que mais uma vez está dando trabalho a eles, agora com problemas com drogas ou algo do tipo. Estou tão fora de mim que não entendi muito bem. Meus pais estão cheios de problemas, e eu não quero ser mais um. Também não tenho forças para bater de frente com ninguém neste momento.Milena conversa comigo diariamente, tentando me reconfortar com palavras carinhosas, assim como minha avó e o Roberto fazem.Meu pai e minha mãe me ligam mais de uma vez ao dia,
AntonelaOlho para a porta do meu quarto e vejo ali aquela figura elegante, impecavelmente cuidada e linda como sempre, dando uma leve batidinha na porta.Eu me levanto, correndo em direção a ela. Minha mãe estava ali, e nós nos abraçamos de um jeito muito terno, enquanto ela afagava minhas costas e meu cabelo. Eu queria poder me fundir naquele corpo que sempre foi meu porto seguro.Só de sentir o cheiro tão familiar dela, já me trouxe paz, e receber outra vez todo esse amor que ela sempre me deu foi a melhor coisa que eu poderia ter naquele momento. Que saudade gigante eu estava dela.— Meu amor… — sussurrou, sua voz embargada, e aquilo só me fez chorar mais.Eu queria dizer tanta coisa. Queria contar o quanto estava doendo, o quanto me sentia perdida e cansada, mas tudo o que consegui fazer foi me agarrar a ela e sentir seu calor. Ela me apertava contra si, como se tentasse me proteger do mundo, como se quisesse me remendar peça por peça.— Eu tô aqui, meu bem… A mamãe tá aqui… — re
ThierryQuando a Milena falou que a Thayla foi embora, eu quase não acreditei.Como é que ela mete o louco e some assim, sem falar com ninguém?Ela não voltou pra Penha, então o único lugar que imaginei que minha irmã pudesse ter ido era Rio das Flores. Afinal, não temos amigos ou familiares em outros lugares.Mas não, ela não foi pra lá. Fui até o local, conversei com os nossos antigos vizinhos e pude constatar que, por lá, ela não passou.Dois dias depois de sumir, Thayla me ligou de um número não identificado. Fiquei puto com isso, mas, ao mesmo tempo, aliviado em saber que ela está bem. Ela apenas quer ficar um pouco distante e tem seus motivos pra isso.Agora que os papéis se inverteram, que não sou eu quem sumiu e sim ela, eu posso sentir a angústia que minha irmã sentia quando toda vez que eu desaparecia. Isso é horrível, e não vou mais repetir nunca mais.Chego na entrada da Penha e já percebo vários homens do bando do Carioca falando em seus rádios. Com certeza, estão avisand