Cold Aos poucos, a vida vai voltando à normalidade dentro do possível, e à tranquilidade paira sobre a comunidade. As vendas estão com um bom faturamento e os soldados todos na disciplina. E o resto? Bom, o resto vai indo. O tempo cura tudo, tem que curar. A Rafa, uns dias atrás, veio com uma tentativa de falar da Ant... Porrä, nem quero falar esse nome, é melhor nem lembrar pra não ficar maluco. Minha prima é muito intrometida, além de ser amiga dela. Ela falou que a Chocolatinho tá indo embora do país, e eu já cortei o assunto. Se vai embora, que vá, será melhor assim. Hoje é noite de baile e a quadra tá lotada. Os moradores estavam sentindo falta. Há um bom tempo o MT não tava liberando, mas, como eu disse, a vida voltou à normalidade. Saio do banho, coloco uma calça jeans preta, camiseta branca, tênis da mesma cor, corrente no pescoço e é isso, tô pronto. Chego no baile acompanhado de quatro soldados fazendo minha segurança, dois na frente e dois atrás. Eu nem curto
ThierryMais um dia sem ânimo pra nada. Nem sei qual foi a última vez que fui pra casa e, mais uma vez, tô me enchendo de maconha, tentando ficar sempre na onda, mas a erva já não me satisfaz como antes. Me deixa na brisa, claro, mas não me faz relaxar como no começo, e a vontade de usar algo mais forte tá tomando conta de mim. Mas eu sei que, se experimentar outra coisa, não vou conseguir parar.Não fui mais no Morro da Pedreira desde o dia em que aquela amiga da Milena me viu lá. Ela deve ter contado na mesma hora, então tive que arrumar outro ponto pra comprar, mas isso não é difícil.Minha cabeça pensa o tempo todo nessa loucura de ser ou não filho do Carioca. Um dia eu cheguei a querer fazer o DNA, mas hoje não quero mais. O que isso mudaria na minha vida agora?Ele, sendo meu pai, faria o quê? Me daria uma boca de fumo pra assumir e faturar uma grana, assim como ele e a família toda?Eu não quero isso pra mim, não. Já me meti em pequenos crimes e sei que não compensa. Ser trafic
MilenaThierry estava sendo muito duro comigo, sem que eu pudesse entender o motivo. Eu compreendo e não julgo esse rancor que ele sente pelo meu tio, acho até compreensível, mas por que ele estava me tratando assim?Então, quando ele disse que me viu aos beijos com o Leco, comecei a entender por que ele não quis mais contato comigo. A última vez que rolou um beijo entre Leco e eu já faz muito tempo, e, pela descrição do Thierry, foi exatamente no dia em que fui até a Penha para ficar com a Antonela e a Thayla. Inclusive, passei na sorveteria para pegar os potes de sorvete e, na saída, o Leco me abordou. Com certeza foi nesse dia, pois lembro que ele me agarrou e me beijou.— Thierry, me deixa explicar. Rolou um beijo, sim, mas o Marcelo me agarrou, e eu logo o empurrei!— Ah, tá bom, Milena. Corta essa! Vai ser sempre assim? Ele chega, te agarra, te beija, e fica por isso mesmo? Dá um tempo! — Ele bebe um gole grande da cerveja e senta na cama. Aparentemente, ter falado o que acontec
G4 Essa parada de filho entrou na minha mente. Isso mexe com a cabeça de qualquer homem, pelo menos de sujeito homem de verdade. Eu já pensei em ser pai, mas isso no futuro, não agora. Sou novo ainda, e essa vida que eu levo… Hoje tô aqui, amanhã só Cristo sabe. Não quero colocar um moleque no mundo pra ser criado sem pai. No começo, achei que era caô da Bruna, mas, com os exames que ela deixou, não há dúvida: ela tava grávida mesmo. E não vou negar que comecei a fazer as contas e imaginei que, se ela não tivesse abortado, o moleque estaria grandão agora. Mais mil coisas passaram pela minha cabeça. O que ela ganharia vindo contar isso só agora? Culpa? Peso na consciência? Ou simplesmente querendo causar treta, como sempre foi o jeito louco dela? A terceira opção é a que mais se encaixa com ela. Bruna sempre foi maluca e, embora fosse gostosa pra caralhö, nunca senti amor por ela. Era paixão, uma parada de adolescência e só isso, muito diferente do que eu sinto pela Thayla.
ThaylaPassei o dia todo tentando falar com o Gabriel, que simplesmente sumiu. Eu não gosto de ser o tipo de mulher que fica no pé de homem nenhum, mas ele não me atender e só responder minha mensagem à noite, dizendo que não está bem e que conversaremos amanhã, me deixou irritada. Não, isso não está legal. Algo me diz que não está.Tento ligar novamente. Telefone desligado. Mando mais mensagens, que não são entregues. Tento mudar o foco e ler um livro da faculdade, mas não consigo me concentrar em nada, pois meu pensamento está no Gabriel e meu coração está angustiado. Minha avó sempre dizia que o nosso coração sente as coisas antes mesmo de elas acontecerem.Fecho o livro, desligo a luminária do criado-mudo e tento dormir. Viro de um lado para o outro na cama, mas o sono não vem. As horas vão passando. Olho diversas vezes o celular durante a madrugada, e a angústia não passa. Isso não pode ser normal.Assim que o dia amanhece, antes mesmo de minha tia levantar, eu decido: irei até
ColdO dia estava prestes a amanhecer quando me preparava para sair da Pedreira rumo a uma tentativa ousada de conseguir a grana que eu precisava. Não que eu não tivesse a minha grana. Eu tinha, claro. Mas precisava de mais, muito mais.O ar da madrugada indo embora era pesado, cheio de tensão espalhada por cada célula do meu corpo. Era um plano ousado, com um risco enorme. Essas paradas nunca são fáceis, e sempre pode dar alguma merda.Perto do portão da minha casa, traguei o cigarro devagar, soltando a fumaça para o alto enquanto deslizava os dedos pelo celular. Meu coração estava acelerado, mas minha expressão permanecia fria.O barulho de passos se aproximando fez meus olhos desviarem do telefone. Era o MT.— Vai fazer essa loucura mesmo? — Ele perguntou, se encostando ao meu lado.Mantive meus olhos nos seguranças que nos observavam à distância antes de se afastarem, respeitando meu espaço.— Qual foi, MT? Caiu da cama hoje?— Claro, acordei cedo pra ver de perto se você ia mesmo
ThaylaSaio da frente da casa do Gabriel com tanta raiva que, naquele momento, talvez eu fosse capaz de matar alguém. Eu não sou uma pessoa ruim, muito menos agressiva, mas também não tenho sangue de barata. Fui exposta ao ridículo na frente dos seguranças dele e do Leco, enquanto aquela garota saiu de lá com pose de mulher do Gabriel. Não, definitivamente ele não merecia a chance que eu dei. E só provou aquilo que eu já sabia: bandido não se contenta com uma mulher só. Eles têm varias. E eu não me presto a esse papel. Ou sou a única mulher na vida de um homem, ou então ele não me terá.A cena dele ali, completamente nu e visivelmente cansado pela noite intensa que teve com aquela garota, não sai da minha cabeça. Só de lembrar, meu estômago revira.Corro para o primeiro lugar mais afastado que encontro — uma pedra enorme onde, às vezes, alguns meninos sobem para empinar pipa — e não consigo conter o vômito que sobe pela minha garganta. Com o corpo parcialmente abaixado e as mãos apoia
Milena— Acorda, preguiçosa! — Thierry sussurra no meu ouvido, beijando meu pescoço com um toque de carinho e desejo. Acordo de repente, lembrando que, mais uma vez passei a noite na casa dele. Isso acontece direto agora.Meus pais já estão ficando loucos com isso, eles querem que o Thierry se mude para uma casa na VK, assim eu não preciso ficar indo para a pista. Mas, sinceramente, estou mais feliz do que nunca, e é isso que importa agora.— Que coisa mais gostosa acordar assim... só você mesmo pra me fazer levantar tão cedo! — digo, ainda com a voz sonolenta, sentindo o cheiro de algo delicioso no ar. — Que cheiro bom é esse?Thierry, sempre tentando melhorar a vida dele, está atrás de outro emprego todos os dias, e eu estou dando o meu apoio total.— Pão quentinho! Fui na padaria comprar. — Ele sorri, tentando me animar. — Bora, levanta aí! — ele diz, dando um tapa na minha bunda, me fazendo rir.Mando uma mensagem para a Antonela, querendo saber como ela está, e me levanto para to