G4 Essa parada de filho entrou na minha mente. Isso mexe com a cabeça de qualquer homem, pelo menos de sujeito homem de verdade. Eu já pensei em ser pai, mas isso no futuro, não agora. Sou novo ainda, e essa vida que eu levo… Hoje tô aqui, amanhã só Cristo sabe. Não quero colocar um moleque no mundo pra ser criado sem pai. No começo, achei que era caô da Bruna, mas, com os exames que ela deixou, não há dúvida: ela tava grávida mesmo. E não vou negar que comecei a fazer as contas e imaginei que, se ela não tivesse abortado, o moleque estaria grandão agora. Mais mil coisas passaram pela minha cabeça. O que ela ganharia vindo contar isso só agora? Culpa? Peso na consciência? Ou simplesmente querendo causar treta, como sempre foi o jeito louco dela? A terceira opção é a que mais se encaixa com ela. Bruna sempre foi maluca e, embora fosse gostosa pra caralhö, nunca senti amor por ela. Era paixão, uma parada de adolescência e só isso, muito diferente do que eu sinto pela Thayla.
ThaylaPassei o dia todo tentando falar com o Gabriel, que simplesmente sumiu. Eu não gosto de ser o tipo de mulher que fica no pé de homem nenhum, mas ele não me atender e só responder minha mensagem à noite, dizendo que não está bem e que conversaremos amanhã, me deixou irritada. Não, isso não está legal. Algo me diz que não está.Tento ligar novamente. Telefone desligado. Mando mais mensagens, que não são entregues. Tento mudar o foco e ler um livro da faculdade, mas não consigo me concentrar em nada, pois meu pensamento está no Gabriel e meu coração está angustiado. Minha avó sempre dizia que o nosso coração sente as coisas antes mesmo de elas acontecerem.Fecho o livro, desligo a luminária do criado-mudo e tento dormir. Viro de um lado para o outro na cama, mas o sono não vem. As horas vão passando. Olho diversas vezes o celular durante a madrugada, e a angústia não passa. Isso não pode ser normal.Assim que o dia amanhece, antes mesmo de minha tia levantar, eu decido: irei até
ColdO dia estava prestes a amanhecer quando me preparava para sair da Pedreira rumo a uma tentativa ousada de conseguir a grana que eu precisava. Não que eu não tivesse a minha grana. Eu tinha, claro. Mas precisava de mais, muito mais.O ar da madrugada indo embora era pesado, cheio de tensão espalhada por cada célula do meu corpo. Era um plano ousado, com um risco enorme. Essas paradas nunca são fáceis, e sempre pode dar alguma merda.Perto do portão da minha casa, traguei o cigarro devagar, soltando a fumaça para o alto enquanto deslizava os dedos pelo celular. Meu coração estava acelerado, mas minha expressão permanecia fria.O barulho de passos se aproximando fez meus olhos desviarem do telefone. Era o MT.— Vai fazer essa loucura mesmo? — Ele perguntou, se encostando ao meu lado.Mantive meus olhos nos seguranças que nos observavam à distância antes de se afastarem, respeitando meu espaço.— Qual foi, MT? Caiu da cama hoje?— Claro, acordei cedo pra ver de perto se você ia mesmo
ThaylaSaio da frente da casa do Gabriel com tanta raiva que, naquele momento, talvez eu fosse capaz de matar alguém. Eu não sou uma pessoa ruim, muito menos agressiva, mas também não tenho sangue de barata. Fui exposta ao ridículo na frente dos seguranças dele e do Leco, enquanto aquela garota saiu de lá com pose de mulher do Gabriel. Não, definitivamente ele não merecia a chance que eu dei. E só provou aquilo que eu já sabia: bandido não se contenta com uma mulher só. Eles têm varias. E eu não me presto a esse papel. Ou sou a única mulher na vida de um homem, ou então ele não me terá.A cena dele ali, completamente nu e visivelmente cansado pela noite intensa que teve com aquela garota, não sai da minha cabeça. Só de lembrar, meu estômago revira.Corro para o primeiro lugar mais afastado que encontro — uma pedra enorme onde, às vezes, alguns meninos sobem para empinar pipa — e não consigo conter o vômito que sobe pela minha garganta. Com o corpo parcialmente abaixado e as mãos apoia
Milena— Acorda, preguiçosa! — Thierry sussurra no meu ouvido, beijando meu pescoço com um toque de carinho e desejo. Acordo de repente, lembrando que, mais uma vez passei a noite na casa dele. Isso acontece direto agora.Meus pais já estão ficando loucos com isso, eles querem que o Thierry se mude para uma casa na VK, assim eu não preciso ficar indo para a pista. Mas, sinceramente, estou mais feliz do que nunca, e é isso que importa agora.— Que coisa mais gostosa acordar assim... só você mesmo pra me fazer levantar tão cedo! — digo, ainda com a voz sonolenta, sentindo o cheiro de algo delicioso no ar. — Que cheiro bom é esse?Thierry, sempre tentando melhorar a vida dele, está atrás de outro emprego todos os dias, e eu estou dando o meu apoio total.— Pão quentinho! Fui na padaria comprar. — Ele sorri, tentando me animar. — Bora, levanta aí! — ele diz, dando um tapa na minha bunda, me fazendo rir.Mando uma mensagem para a Antonela, querendo saber como ela está, e me levanto para to
📍 Rua Mouffetard, Market – ParisAntonelaSaio do famoso e conceituado fast-food do marido da minha avó e ando pelas ruas próximas, olhando algumas vitrines, sentindo no rosto a brisa leve do final da primavera parisiense, tentando me animar. Sinto que estou um pouco melhor. Talvez os milhares de quilômetros entre o Cold e eu me ajudem a não lembrar tanto. Digo não lembrar, pois esquecer, eu sei que jamais esquecerei.Minha avó e o marido dela são tão acolhedores e me tratam muito bem. Isso torna as coisas menos difíceis. Roberto é um homem muito educado e trata minha avó com devoção. Já ouvi comentários de que ele fazia parte do bonde do meu pai e que os dois se apaixonaram; que ele veio para ficar com ela aqui na França e abriu o seu comércio com o dinheiro que juntou quando era do mundo do crime. Se tudo isso é verdade, eu não sei, pois nada falam sobre isso na família. Eles são discretos, mas muito felizes juntos, e isso é nítido.Caso seja verdade, Roberto largou o crime, a famí
BrunaJosiane e eu temos afinidade desde o tempo em que eu frequentava a Penha, anos atrás, e inclusive mantínhamos contato por redes sociais durante o tempo em que morei fora.Meu pai sempre foi um homem autoritário e metido em negócios escusos e, depois da morte dele, precisei voltar ao Brasil após um longo período morando no exterior.Morar na Europa é incrível, mas eu vivia lá por exigência dele, por questão de segurança, e caso eu não obedecesse, ele cortaria meus cartões e minha mesada. Ele ameaçou até mesmo me deserdar. Sem a grana dele, eu não poderia manter o padrão de vida que gosto e ao qual estou acostumada.Eu sempre gostei de curtir a vida, de frequentar todo tipo de lugar: baladas, cruzeiros luxuosos e bailes de favela. E foi exatamente em um baile que cheguei até o Gabriel, ficando rapidamente fascinada por esse mundo de crimes, armas e drogas ao qual ele faz parte. Assim como me apaixonei por ele, não demorou muito para eu descobrir que estava grávida.O plano do meu
LecoColocamos no G4 somente um short de jogador de futebol, que foi a primeira coisa que encontrei pelo quarto dele, e partimos no pique de corrida de Fórmula 1 para o postinho de saúde. Eu passaria por cima de qualquer um que se metesse no caminho. Durante o trajeto, mandei avisar o Carioca, que chegou lá mais rápido que nós.Será que o G4 comeu aquela piränha mesmo? Ele tá amarradão na Thayla, não é possível um negócio desses. Ainda se fosse qualquer outra, eu não acharia estranho, mas a Bruna? Alguma coisa não bate aí nessa história.Quando chegamos no postinho, foi uma correria, e um alvoroço se formou ao redor dele. A médica, que atendia um morador no momento, veio correndo atender o G4.Ela verificou os olhos dele com uma espécie de lanterna, enquanto uma enfermeira colocava um aparelho no braço dele e outro no dedo indicador. Logo, empurraram a maca com ele até outra sala e a médica me perguntava o que tinha acontecido.Eu respondi apenas o que vi: G4 deitado de bruços, desaco