ThaylaGabriel, que já me conhece um pouco, nem ousou voltar para o churrasco. Ele sabia que precisava me dar explicações e, em poucos minutos, estávamos entrando na garagem da casa dele.Assim que entramos na sala, ele tira a pistola da cintura e a coloca ao lado das chaves, em cima do suporte do televisor enorme. Tira também a camisa, jogando-a com força no sofá. Depois, vai até a cozinha e volta com duas latas de energético, me oferecendo uma, que recusei enquanto olhava para ele, esperando uma explicação que ainda não tinha vindo. Ele abre o lacre da lata, lê algo que está escrito nela e toma um gole grande.— Vai ficar bicuda assim? — Gabriel se aproxima, tentando tocar em meu rosto, e eu o impeço, empurrando sua mão.— Tô esperando uma explicação ou você vai continuar fingindo que não aconteceu nada? — pergunto, ainda em pé, encostada na parede, cruzando os braços.— Quer saber o quê?— Você é cínico mesmo ou só se faz?Gabriel suspira, toma mais um gole, deixa a lata na mesinha
G4 Depois da tarde maneira com a Thayla, onde transamos, conversamos, transamos de novo, comemos um lanche que mandei os soldados buscarem e depois transamos outra vez, as horas passaram, e eu levei ela pra casa. Por mim, ela teria dormido aqui, mas Thayla não quis, dizendo que a Célia não ia gostar. Eu achei que ela ia surtar e querer me dar um pé na bunda por causa da Bruna. Mas não, ela agiu na postura e isso me deixou felizão, até porque não tem ninguém acima dela na minha vida, e ela já tá se ligando nisso. Assim que deixei ela em casa, liguei pro Gonça e disse pra ele ir no outro dia na boca. Não falei o motivo, apenas mandei ele ir pra gente conversar. Se a mulher dele tá pensando que vai ficar de graça com a Bruna, vai se atrasar comigo. Porque ela estando no erro, Gonça como marido, tem que tomar atitude, ou então, aguenta as consequências junto com ela. No outro dia, levantei mais cedo que o normal, mandei uma mensagem pra Thayla e parti logo pra boca, já sabendo que ia s
MilenaChegando lá, fui mais uma vez até a porta de número 138 e bati várias vezes, mas ninguém atendeu. Aparentemente, não havia ninguém ali no momento. Fiquei aguardando um pouco, pensando no que fazer.Será que ele estaria ali e não quis atender?Minutos depois, uma moça, que certamente era uma das moradoras, passou por ali, e eu perguntei se o proprietário morava próximo. Inventei que estava à procura de aluguel. Ela falou que a dona era uma mulher e mostrou uma casa grande no térreo, no final de um corredor ao longe. Agradeci e fui até lá.Bati na porta de madeira com pintura antiga e vi, na parede, uma plaquinha escrita “Faço costuras”.Logo apareceu uma senhora de cabelos levemente grisalhos, soltos na altura dos ombros, segurando uma fita métrica na mão.— Boa tarde! — disse ela, me olhando com curiosidade.— Boa tarde! A senhora é a proprietária dos imóveis?Antes de responder, ela colocou os óculos, que estavam pendurados numa corrente metálica no pescoço, e senti que me med
Cold Aos poucos, a vida vai voltando à normalidade dentro do possível, e à tranquilidade paira sobre a comunidade. As vendas estão com um bom faturamento e os soldados todos na disciplina. E o resto? Bom, o resto vai indo. O tempo cura tudo, tem que curar. A Rafa, uns dias atrás, veio com uma tentativa de falar da Ant... Porrä, nem quero falar esse nome, é melhor nem lembrar pra não ficar maluco. Minha prima é muito intrometida, além de ser amiga dela. Ela falou que a Chocolatinho tá indo embora do país, e eu já cortei o assunto. Se vai embora, que vá, será melhor assim. Hoje é noite de baile e a quadra tá lotada. Os moradores estavam sentindo falta. Há um bom tempo o MT não tava liberando, mas, como eu disse, a vida voltou à normalidade. Saio do banho, coloco uma calça jeans preta, camiseta branca, tênis da mesma cor, corrente no pescoço e é isso, tô pronto. Chego no baile acompanhado de quatro soldados fazendo minha segurança, dois na frente e dois atrás. Eu nem curto
ThierryMais um dia sem ânimo pra nada. Nem sei qual foi a última vez que fui pra casa e, mais uma vez, tô me enchendo de maconha, tentando ficar sempre na onda, mas a erva já não me satisfaz como antes. Me deixa na brisa, claro, mas não me faz relaxar como no começo, e a vontade de usar algo mais forte tá tomando conta de mim. Mas eu sei que, se experimentar outra coisa, não vou conseguir parar.Não fui mais no Morro da Pedreira desde o dia em que aquela amiga da Milena me viu lá. Ela deve ter contado na mesma hora, então tive que arrumar outro ponto pra comprar, mas isso não é difícil.Minha cabeça pensa o tempo todo nessa loucura de ser ou não filho do Carioca. Um dia eu cheguei a querer fazer o DNA, mas hoje não quero mais. O que isso mudaria na minha vida agora?Ele, sendo meu pai, faria o quê? Me daria uma boca de fumo pra assumir e faturar uma grana, assim como ele e a família toda?Eu não quero isso pra mim, não. Já me meti em pequenos crimes e sei que não compensa. Ser trafic
MilenaThierry estava sendo muito duro comigo, sem que eu pudesse entender o motivo. Eu compreendo e não julgo esse rancor que ele sente pelo meu tio, acho até compreensível, mas por que ele estava me tratando assim?Então, quando ele disse que me viu aos beijos com o Leco, comecei a entender por que ele não quis mais contato comigo. A última vez que rolou um beijo entre Leco e eu já faz muito tempo, e, pela descrição do Thierry, foi exatamente no dia em que fui até a Penha para ficar com a Antonela e a Thayla. Inclusive, passei na sorveteria para pegar os potes de sorvete e, na saída, o Leco me abordou. Com certeza foi nesse dia, pois lembro que ele me agarrou e me beijou.— Thierry, me deixa explicar. Rolou um beijo, sim, mas o Marcelo me agarrou, e eu logo o empurrei!— Ah, tá bom, Milena. Corta essa! Vai ser sempre assim? Ele chega, te agarra, te beija, e fica por isso mesmo? Dá um tempo! — Ele bebe um gole grande da cerveja e senta na cama. Aparentemente, ter falado o que acontec
G4 Essa parada de filho entrou na minha mente. Isso mexe com a cabeça de qualquer homem, pelo menos de sujeito homem de verdade. Eu já pensei em ser pai, mas isso no futuro, não agora. Sou novo ainda, e essa vida que eu levo… Hoje tô aqui, amanhã só Cristo sabe. Não quero colocar um moleque no mundo pra ser criado sem pai. No começo, achei que era caô da Bruna, mas, com os exames que ela deixou, não há dúvida: ela tava grávida mesmo. E não vou negar que comecei a fazer as contas e imaginei que, se ela não tivesse abortado, o moleque estaria grandão agora. Mais mil coisas passaram pela minha cabeça. O que ela ganharia vindo contar isso só agora? Culpa? Peso na consciência? Ou simplesmente querendo causar treta, como sempre foi o jeito louco dela? A terceira opção é a que mais se encaixa com ela. Bruna sempre foi maluca e, embora fosse gostosa pra caralhö, nunca senti amor por ela. Era paixão, uma parada de adolescência e só isso, muito diferente do que eu sinto pela Thayla.
ThaylaPassei o dia todo tentando falar com o Gabriel, que simplesmente sumiu. Eu não gosto de ser o tipo de mulher que fica no pé de homem nenhum, mas ele não me atender e só responder minha mensagem à noite, dizendo que não está bem e que conversaremos amanhã, me deixou irritada. Não, isso não está legal. Algo me diz que não está.Tento ligar novamente. Telefone desligado. Mando mais mensagens, que não são entregues. Tento mudar o foco e ler um livro da faculdade, mas não consigo me concentrar em nada, pois meu pensamento está no Gabriel e meu coração está angustiado. Minha avó sempre dizia que o nosso coração sente as coisas antes mesmo de elas acontecerem.Fecho o livro, desligo a luminária do criado-mudo e tento dormir. Viro de um lado para o outro na cama, mas o sono não vem. As horas vão passando. Olho diversas vezes o celular durante a madrugada, e a angústia não passa. Isso não pode ser normal.Assim que o dia amanhece, antes mesmo de minha tia levantar, eu decido: irei até