Após sua oração matinal antes de ir para o trabalho, Joana ergueu-se para sair de seu quarto. Teve que se segurar no encosto de sua cama ao sentir uma leve tontura. Deslizou a mão trêmula pela face gélida, inspirou e expirou diversas vezes para afastar a fraqueza. Nas últimas semanas começou a jejuar como penitencia pelos sonhos pecaminosos que tinha com Maximiliano. Agora que começava a superar a inveja do relacionamento da irmã, a última coisa eu precisava era fantasiar com um homem de fama duvidosa. Tinha travado todos os dias daquele mês uma luta interna contra os sentimentos que aprendeu a nutrir por Adriano, aos poucos abandonando o rancor, raiva e inveja. O problema foi substituir esses sentimentos por um inimigo maior que a atormentava toda noite. Tinha dias que culpava Dalila pelo que estava lhe ocorrendo. Por ter atraído o amor de Adriano, fazendo-o rejeitá-la, e por ter colocado Maximiliano em seu caminho, para atormenta-la em seus sonhos. E ao fazer isso se obrigava a re
Recebendo a visita de Joana, Donato ouviu em silêncio as queixas da jovem contra Maximiliano, permanecendo assim por vários minutos diante do visível incomodo dela com a relação de Margô e o Gonzalez. Logo que o recepcionou, o advogado notou que a jovem sustentava um olhar severo demais para sua idade. Com sua costumeira paciência, o Herrera sentou ao lado dela e escutou a indignada reclamação de Joana, culpando Maximiliano de iludir Margô. Os problemas que Margô causava após seu ingresso na escola religiosa só aumentavam, lamentou. Não se passava um dia sem que sua presença fosse solicitada ou recebesse um bilhete das freiras reclamando dela. Agora teria de zelar pela honra do Gonzalez. — E ela o proclama com orgulho, como se ser uma entre várias fosse uma honra — finalizou Joana com exaltação, o asco visível em sua tez estranhamente lívida, dando a jovem o aspecto de estar doente. — Maximiliano não é amante dela, ao contrário, a vê como uma irmã — retrucou Donato, decidido a contr
Com os olhos úmidos da despedida, Joana observava pela janela do ônibus a paisagem da estrada que a levava para a capital, de onde pegaria um avião para longe de seu país e de tudo que conhecia. Na rodoviária, sentiu um misto de tristeza e frustação. O segundo motivado pelo que via na face de seu pai, a decepção dele por, além de ser um fracasso em tudo que ele planejou para ela, ainda fugiria. Tristeza pelas lágrimas que enchiam os olhos de sua mãe. Dalila era a única feliz com sua partida e Joana sabia bem o motivo. Suspirou apertando sua mochila contra o peito. Não queria se mudar. Mas se ficasse, presumia que Carmem formaria uma fila de pretendentes, seu pai acabaria por se zangar quando rejeitasse todos e vislumbrava um futuro era escuridão, dor e mais humilhação. Seguiria sua vida longe, formando um casulo para protegê-la da rejeição e suavizar sua dor. Também se manteria alheia ao casamento que deveria ser seu. Com o curso em que se matriculou online, ficaria ocupada e talv
Irritada com a estridente música que ecoava pela sala, Carmem foi até a caixa de som que Adriano presenteou Dalila para acabar com aquela tortura que começava todas as manhãs, após a saída de Iago e só cessava pouco antes dele voltar. Dalila parou sua dança e encarou a mãe com raiva. — O que foi? Temos que ficar em constante luto porque Joana foi embora? — Não use sua irmã como desculpa — retrucou cansada de Dalila sempre falar isso, mesmo após quase dois meses de seu noivado com Adriano. — Kassandra se queixou que você se levanta muito tarde e não faz nada o dia todo. — Acha que me importa o que minha tia diz? — Deveria se importar, afinal, ao ficar com Adriano ela passou a ser sua sogra — respondeu saindo da sala antes que começassem a brigar como sempre acontecia quando mencionavam o casamento. Doía ter uma filha longe, sofrendo sozinha, enquanto Dalila cantava e dançava. Queria que ambas encontrassem a felicidade e orava fervorosamente para que algo tirasse Joana da prisão qu
A caminho da escola, Margô parou para conversar com Gilberto, o jovem que ajudava em pequenos trabalhos dos amigos de Maximiliano no porto e que agora trabalhava no Crista do Mar, recebendo a notícia do sumiço, e possível prisão, do Gonzalez. — Não pode ser verdade... — Donato também acha isso, mas Cristiano não consegue falar com eles há dias. Esquecida do horário escolar, Margô seguiu com Gilberto para o bar Crista do Mar. — O que faz aqui? — Cristiano perguntou irritado pela jovem entrar ali, após a proibir de fazê-lo. — Gilberto me contou o que aconteceu com Maximiliano e vim saber o que estão fazendo para encontra-lo — ela respondeu. Cristiano encarou Gilberto com aborrecimento, ao que o jovem pediu desculpa baixinho, e depois voltou à atenção para Margô. — Sinto muito, mas deve sair agora mesmo. Maximiliano não te quer dentro do meu bar. — Não vou até ter notícias dele. O Silva abriu a boca para argumentar e enumerar os motivos que deveria cumprir a vontade de Maximilian
Aproveitando que a manhã estava agradável e ensolarada, e que não teria aula naquele dia, Joana decidiu dar uma volta pelo porto. Recebendo uma leve e agradável brisa em sua face, admirava os diversos barcos ancorados, enquanto falava com Tereza pelo celular. — Aproveite muito essa temporada no exterior e arrume um homão pra esfregar na cara da sua irmã traidora quando voltar. Joana riu. Era bom ter um ombro amigo, mesmo que a distância. — Estou aqui a estudos, Tê — disse enquanto carregava nas mãos um jornal com vagas de emprego, que indicavam sua intenção de não retornar a cidade natal. Estava a semanas procurando um trabalho e tinha marcado várias entrevistas, tudo para garantir que teria como se manter mesmo sem o dinheiro dos Orleans. — Mas pode aproveitar as paisagens masculinas. Esse será o maior castigo pra víbora, ver você feliz. — Deixo isso a cargo de Deus — disse desviando de um grupo de pessoas. — Ora, Joana! Não coloque Deus na conversa. Ele ajuda quem tem perseve
Ambos ergueram-se se fitando, ela com olhos arregalados e o coração pulando acelerado pela surpresa, ele com um sorriso. Maximiliano tinha acabado de atracar quando viu uma mulher passando e, ao reconhecê-la, desceu indo até ela só para saber se era mesmo Joana ou alguém muito parecido. — O que faz aqui? — Joana perguntou confusa. — Trabalho — ele respondeu devolvendo o celular para ela. — E você? Joana passou um instante olhando para a tela do celular, vendo que foi destruída e a ligação tinha se perdido. — Droga! Não dá pra mexer em nada — lamentou deslizando os dedos pela tela trincada, sem conseguir acessar nada. Todos os seus contatos estavam no aparelho, não sabia nem mesmo o número de casa sem olhar nele. — Tem um lugar para reparo aqui perto — Maximiliano disse olhando ao redor. — Ali! De repente agarrou o cotovelo de Joana e a guiou em meio à aglomeração de pessoas. Joana pensou em detê-lo e se afastar, até perceber que, seja por sua altura e força ou pela aura de obedi
Furioso, Maximiliano retirou algumas notas, colocou na mesa e saiu do estabelecimento apressado. Sabendo que o Gonzalez era capaz de cumprir o que acabará de dizer, Joana agarrou sua bolsa e o seguiu, quase correndo, enquanto ele empurrava tudo e todos que atrapalhassem sua passagem em direção a um navio de casco preto. O chamou, pedindo que parasse e a escutasse, mas Maximiliano parecia surdo. O seguiu até que ele atravessou uma rampa que levava para dentro do barco. Sem pensar, subiu logo atrás, enquanto o ouvia ordenar ao primeiro homem que apareceu a sua frente. — Beto, chame todos de volta! Partiremos imediatamente! Foi só nesse momento que ela conseguiu alcança-lo, parando desesperada ao lado dele. — O que houve, capitão? — Beto questionou se aproximando e olhando com curiosidade a jovem encarando Maximiliano com nervosismo. — Junte todos! Partiremos de volta a Sanmarino! — O cliente da última mercadoria ainda não pareceu pra pagar pela encomenda — Beto indicou apontando p