Na noite de domingo, em visita a Adriano Orleans, Bruno encontrou o fazendeiro sentado em um canto escuro de seu escritório, um copo na mão e uma garrafa de conhaque vazia pousada ao lado. Tão desnorteado como da última vez que o visitou, só que agora com a letargia do álcool nublando sua expressão.— Tem visto e falado com Dalila? — perguntou sentando ao lado de Adriano.— Não, mas amanhã irei à casa dos meus sogros para que assine o divórcio — respondeu erguendo-se ainda segurando o copo, movendo-se a passos cambaleantes em direção ao barzinho no escritório. — E aproveitarei para falar com Joana.Bruno conteve a vontade de rir do absurdo de Adriano pretender divorciar-se da esposa para casar com a cunhada, pois, além de não ajudar a devolver a racionalidade ao Orleans, podia ofender o orgulho já chamuscado de seu amigo.— Acho insana essa sua determinação de correr atrás da sua cunhada — Bruno limitou-se a indicar pela enésima vez desde que ouviu os planos futuros do amigo. — Com su
Não se passou nem meia hora que Joana estava em sua casa, conversando com Carmem e Tereza sobre a viagem, em que pouco falava por não querer mentir para sua mãe, quando a campainha fez Paula passar correndo pela sala.Não estranhou ao ver Adriano entrar com um ramalhete de rosas.— Tão clichê — Tereza murmurou fazendo Joana segurar o riso.O Orleans trocou algumas palavras com Paula e depois se aproximou delas, estendendo o ramalhete para Joana.— Obrigada! — Joana agradeceu sem se mover do lugar e nem aceitando as flores. — Mas creio que deveria dar essas rosas a sua esposa — indicou evitando olhá-lo.— Ah, Paula, leve as flores para a sala de jantar — Carmem pediu querendo quebrar o clima tenso. Mesmo não querendo dar esperanças aos avanços do genro sobre Joana, aceitou as flores para não despertar a raiva de seu marido. — Vai ficar para o almoço? — questionou pela aproximação do horário da refeição.Apertando as mãos no colo, Joana estava esperançosa que a resposta fosse negativa.
Os três homens na sala do falecido delegado Ônix Queiroz, se encararam após o juiz Marcus Martin fechar a porta, isolando-os da plateia de policiais ávidos em saber o que aconteceria.Um clima de tensão pairava no ar enquanto o juiz ocupava um assento após indicar os outros, seus olhos perspicazes intercalavam entre o fugitivo Maximiliano Gonzalez, conhecido como o temido capitão do barco Diablo, e o advogado Donato Herrera.— Revisei seu caso. O juiz anterior e o falecido delegado cometeram grave delito ao ditar a sentença antes dos procedimentos de lei e marcar a transferência para o presídio estadual — o juiz Martin iniciou com uma expressão austera focada em Maximiliano. — As provas são circunstanciais e as testemunhas não são confiáveis. Como seu advogado me mostrou enquanto o senhor esteve foragido. — O juiz colocou sobre o tampo da escrivaninha dados do processo. — O certo seria prendê-lo imediatamente e reiniciar o processo, mas ficou claro que o estado falhou em seu caso — o
Depois da conversa que teve com Tereza, tendo que voltar ao trabalho só no dia seguinte, Joana pegou as compras feitas pela amiga e Maria na capital e seguiu para o bar Crista do mar.Seguiu para a porta dos fundos, tocou a campainha e aguardou. Maria a abriu e sorriu amplamente ao vê-la.— Entre! — A jovem pediu dando passagem.Maria pegou metade das sacolas e juntas atravessaram o pátio com roupas estendidas, entrando na cozinha em que depositaram as sacolas sobre a mesa de quatro lugares.— Pensei que seria Tereza a trazer as sacolas — Maria comentou oferecendo uma bebida gelada para a Savoia.— Ela voltou ao trabalho hoje — Joana explicou aceitando o suco de limão. — E também não achamos adequado que a liguem ao grupo. Pelo menos não enquanto a fuga está fresca na mente do povo.— Deixarei as sacolas aqui por enquanto. O salão está cheio — Maria disse apontando para a pilha de louça que tinha para lavar. — Os marinheiros do porto estão todos aqui para falar da volta do Maximiliano
Planejando um modo de entrar em casa e evitar qualquer conversa com Adriano, Joana levou um susto ao ter a passagem para o portão bloqueada por ele.— Joana, precisamos conversar sobre o que aconteceu... — ele iniciou tentando segurar seu braço.— Não tenho nada a falar com você — ela o interrompeu recuando de seu toque e se desviando para entrar em casa, não querendo prolongar qualquer contato direto.— Temos muito a conversar sobre nós. Lamento como me comportei, mas não pode continuar a me ignorar — Adriano disse irritado com o tratamento frio dela. — Sei que cometi um erro terrível com você, e não somente naquela noite. Estive fora de mim quando te troquei por Dalila, quero reiniciar o que tínhamos.Joana o encarou, sentindo uma mistura de raiva e dor.— Nossa história acabou há muito tempo. Não há mais nada para discutir — revidou firme, cruzando os braços ao declarar com amargor: — Ficou evidente naquela noite que nem respeito sobrou entre nós. E só não fiz queixa contra o que m
Tereza chegou ao trabalho após o almoço, como definido quando pediu a folga no fim de semana usando suas horas extras. Em poucos minutos foi atualizada sobre tudo que aconteceu em sua falta. Até porque, mesmo durante a viagem, foi solicitada diversas vezes por mensagens. Aparentemente seus colegas, que sempre diminuíam sua contribuição na cadeia, não sabiam fazer nada sem ela indicando. A novidade mais recente era que Maximiliano estava de volta à cadeia, esperando o pagamento de sua fiança. Fato que a deixava feliz. Logo Joana e o noivo estariam juntos novamente e sem precisar se esconder para isso. Poucos minutos em que estava trabalhando, finalizando as convocações que enviaria antes do fim do sai, foi surpreendida ao ser chamada a sala do falecido delegado, agora ocupada pelo novo juiz. O juiz Marcus Martin, um homem atarracado, revisava alguns documentos, quando ela entrou no escritório. — Por favor, sente-se. Tereza fez o que foi indicado, sua costumeira confiança e descont
Após a saída de Adriano, Joana, ansiosa em sair da casa de seus pais, pediu para Maximiliano acompanha-la para dentro da residência, de modo que pudesse pegar sua bolsa e partirem para a cabana.Ao entrarem ficou evidente que Maximiliano não era bem vindo, pelo menos não para o pai de Joana, que do mesmo modo agressivo de Adriano questionou sua presença ali quando todos na cidade sabiam que estava foragido da justiça.— Aguardarei o processo em liberdade — Maximiliano explicou ignorando o olhar desconfiado e carregado de aborrecimento do sogro.— Não se preocupe, pai. Irei pegar minhas coisas para retornar a cabana do Max hoje mesmo.— Não liguem para o meu pai, ele só se preocupa com o bem estar da família — Dalila disse com um sorriso ladino ao indicar: — Embora, sendo noivo de Joana, é quase da família. Se é que esse casamento um dia acontecerá...Maximiliano permaneceu em silêncio, as mãos nos bolsos e o olhar focado em Joana, que respondeu a irmã curta e seca:— Daqui a alguns di
O som das chamas crepitando e o cheiro de fumaça enchiam o ar. Descendo da picape de Lucas, sem ter muito que fazer, Maximiliano observou sua cabana completamente em chamas. No fundo de seus olhos reluzia o medo e angústia que sua face ocultava atrás da máscara de impenetrável.A ligação de Lucas, avisando que via fumaça vinda do Monte do Diabo o preocupou, mas pensou se tratar de algo próximo ao lar que construiu com as próprias mãos, preparando-se para apagar antes que chegasse a cabana. Não estava preparado para ver as labaredas dominando sua cabana.Havia simbolismos naquela construção, feita tanto para abriga-lo quando para conectá-lo aos familiares. O pai que o ensinou carpintaria, o irmão que planejava construir uma cabana naquele exato local.Mesmo ao ganhar seu primeiro milhão, no lugar de comprar uma grande propriedade, preferiu permanecer naquele lugar, pequeno, humilde, mas que em cada parede conseguia visualizar sua família. Os ensinamentos, os sonhos que tinham para ele,