Baltasar comia tranquilamente enquanto Dalila aguardava impaciente o retorno de Maximiliano a sua cabana. — Onde Maximiliano se enfurnou? — A jovem exigiu saber com as mãos plantadas na cintura. Lamentando que a garota não tivesse ido embora meia hora atrás, quando informou que Maximiliano tinha saído para resolver seus assuntos no porto, deixou de lado o espeto de linguiça para responder as questões da atual amante do capitão. — Como disse, está cheio de trabalho com a próxima viagem — comunicou sem tirar os olhos do espeto que sustentava a poucos centímetros da boca. — Mas você disse que eram coisas rápidas — resmungou irritada com a falta de notícias. — Também disse que podia se demorar — Baltasar retrucou antes de se entregar ao prazer de levar a comida à boca. — Assim que chegar, informo que esteve aqui atrás dele — garantiu com a boca cheia. — Pois diga para ele que não virei essa noite. Dando uma última olhada para o homem sem esconder seu enojo e falta de paciência com a
Audaz, da mesma forma que escapuliu de casa, Dalila entrou de forma sorrateira na residência de sua família, atravessando a porta da varanda de seu quarto e fechando-a com aborrecimento. Depois de não encontrar seu amante ainda teve de dar explicações a idiota da amiga de Joana, exasperou-se tirando o disfarce e o guardando embaixo do colchão. Abriu o guarda-roupa e escolheu uma blusa de alcinhas, a seda branca se ajustava aos seus seios destacando-os, também pegou uma calça de alfaiataria azul-céu justa e sandálias leves. De joias escolheu um colar simples e brincos pequenos. Queria estar elegante e linda para o caso de seu futuro marido a visitar. Batidas suaves à fez destrancar a porta para abri-la. Não se surpreendeu ao encontrar Paula apavorada. Essa reação da servente era frequente após cada encontro secreto que tinha com Maximiliano. — Dalila, seus pais já retornaram da igreja. Por sorte não perguntaram de você — informou a jovem após entrar no recinto e trancar a porta. — O
Certas coisas nunca mudariam, pelo menos não na opinião de Joana. Ignorando o quanto seu pedido seria cruel e sabendo que Joana seria incapaz de se recusar, Dalila praticamente arrastou a irmã mais velha até seu quarto para ajudá-la na escolha da melhor roupa para jantar na casa dos Orleans. Mesmo odiando, orgulhosa, Joana engoliu qualquer expressão de desagrado e incomodo e aceitou, embora o fizesse de modo aleatório, sem sequer olhar para qualquer uma das peças que a irmã lhe mostrava cheia de empolgação. — Estou bonita? — Dalila quis saber dando uma volta em torno de si mesma para que Joana pudesse ver cada detalhe do traje escolhido. — Sim! — Foi sua resposta simples e curta. Dalila sorriu com cinismo e perguntou fazendo uma pose sensual: — Acha que Adriano vai gostar do meu visual? O vestido curto na cor rosa, tinha um espetacular decote nas costas e terminava bem acima dos joelhos. Não era o tipo de roupa que Joana usaria, nem que seus pais e sua madrinha aprovariam, mas a
Joana pulou para longe, um grito baixo de susto vencendo a rigidez dominando todo seu corpo. Mesmo sentindo as pernas trêmulas, conseguiu dar alguns passos vacilantes para longe do homem que a agarrou. Com a expressão paralisada pelo susto, Joana fixou seus olhos azulados sobre o intruso. Ambos se encaravam em silêncio, Joana com medo e Maximiliano com curiosidade. Novamente por um engano do destino, sem máscaras ou disfarces, naquele momento ocorreu o encontro de dois mundos. De um lado a pureza de Joana, criada em meio aos cuidados e restrições dos pais e de sua madrinha. Do outro, um homem temido que por vezes viu a pior face dos seres humanos. — Você?! O que faz aqui? — Joana questionou ao reconhecê-lo como o homem que viu na praia dias antes. Maximiliano observou a jovem de cima a baixo, também a reconhecendo do inusitado encontro da praia. Percebendo seu erro, Maximiliano deslizou seus olhos negros pelas vestes, face pálida, cabelos negros presos em um coque austero e com f
Ansioso, Adriano andava de um lado para o outro, aguardando impaciente a chegada dos Savoia para o jantar. — O que aconteceu com Dalila e sua família? — Questionou para sua mãe que o observava do sofá. — Eles deveriam estar aqui para jantar conosco há meia hora. — Talvez tenham se atrasado por causa da Joana. Ou nem venham... — Por quê? Pensei que já tínhamos resolvido essa situação. Joana foi bem compreensiva quando expliquei meus motivos para não seguir com o casamento. — Filho, para todos foi um golpe terrível, principalmente para Joana — esclareceu Kassandra segurando a mão do filho. — Quando soube que você retornou a cidade, ela pensou que o casamento seria celebrado rapidamente. Com sua negativa ficou desolada, ao ponto que ofereci envia-la para nossa casa em Portugal. — Em uma derradeira tentativa de fazê-lo desisti comentou: — Filho, pense melhor. Você e Joana estão juntos há tanto tempo... — Não tenho o que pensar, mãe. — Adriano a interrompeu, um sorriso bobo se moldand
Acostumado com agressões surpresa, Maximiliano tinha o sono leve. Ao ouvir passos se aproximarem de sua casa, despertou de imediato e com a arma em punho foi para a porta. Abriu e apontou para a pessoa que se aproximava na escuridão. Seu movimento instintivo, porém calculado em anos de cuidado com sua segurança, era suficiente para surpreender quem quer que fosse. — Maximiliano... Sou eu, Dalila. Reconhecendo a voz da amante, abaixou a arma e abriu espaço para ela entrar. — Como sempre, rápido e atento como um felino — ela murmurou com um sorriso. Não era a primeira vez que algo assim ocorria quando aparecia no meio da noite e torcia para não ser a última. Achava atraente o perigo que rodeava o Gonzalez. — Preciso ser — Maximiliano retrucou lhe acariciando a face. Aproximou seu corpo ao dele e acariciou o peito nu do amante. — Vim mais cedo mais não te encontrei. — Estava arrumando o Diablo para a viagem que farei depois de amanhã — contou fechando a porta. — Beije-me que já e
Assim que entrou no quarto de Dalila, Joana só viu a irmã sentada penteado seus cabelos. Após um breve espanto, Dalila sorriu com falsidade, empurrando com o pé a sacola com as roupas e peruca que retirou assim que atravessou a porta da varanda. — Porque não arrumou minhas coisas? — Disfarçou arrumando o cabelo desgrenhado pelas horas nos braços de Maximiliano. — Esqueci das roupas após um homem entrar no quarto a sua procura — Joana respondeu encarando a irmã com fúria. — O que levou esse bandido a te procurar, Dalila? Segurando a vontade de expulsar Joana de seu quarto, Dalila continuou a mirar o próprio reflexo sem dar à mínima importância a irmã. — É só um vendedor de peixe deslumbrado pela minha beleza — disse confiante e com um largo sorriso. — Um pobre coitado sem importância — Não sou idiota — Joana a interrompeu tentando a muito custo manter o tom baixo. — O que faria um vendedor de peixe te procurar em seu quarto? — Questionou irritada pela clara mentira de Dalila. —
No abrigo das frias paredes do escritório da escola religiosa, com lágrimas geladas a cobrir sua face e um sentimento total de abandono, Joana buscava no trabalho um consolo. No entanto, como em todos os outros dias, nada parecia surtir efeito. Sua mente insistia em mostrar imagens de sua irmã vestida de branco ao lado de seu amado e não conseguia terminar todos os relatórios que seriam passadas a pessoa que ficaria em seu lugar. Sendo sincera consigo, não queria sair da cidade, talvez por isso não tenha finalizado suas funções e passou muitas horas ali se avançar em nenhuma tarefa. Também era uma forma de chegar em casa só no fim do dia, evitando com isso seus pais e sua irmã. Há muito não sentia vontade de comer e passava horas em claro, trabalhando até cansar inclusive quando chegava em casa, para não sonhar com o impossível: reaver o noivo. Ao ouvir passos cada vez mais próximos, enxugou rapidamente as lágrimas e não se voltou para a porta, mantendo o olhar fixo na tela do compu