Respirando fundo, Maximiliano endireitou o corpo e voltou-se para a sogra, observando-o com claro pavor. Imaginava que esperava alguma reação colérica dele, uma demonstração de ser inadequado como Dalila alegou, péssimo para qualquer uma das filhas. Parado no vão da porta, comentou: — Só vim com Joana para avisar que regressaremos a Sanmarino manhã pela manhã. Só permaneço essa noite porque é perigoso percorrer as estradas precárias e nenhuma iluminação há essa hora — ele informou mal humorado. — Meus amigos, que estavam presos aqui, fazendo trabalhos forçados por ordens de seu querido genro, estão livres e amanhã cedo iremos embora. Já abusamos da hospitalidade dos Orleans e teremos muitas coisas para fazer com a aproximação do casamento. Tinha muito a resolver e quanto antes o fizesse mais rápido deixaria os moradores de Recanto Dourado com seus problemas para trás. — Também regressaremos a Sanmarino amanhã — Carmem comunicou, oferecendo para a filha: — Que horas nos encontraremo
Ainda em meio às amargas lágrimas, Dalila regressou correndo ao seu quarto, sua intempestiva atraindo a atenção de Adriano e seu choro o preocupando. — De onde vem? Porque está chorando? — Adriano perguntou. — Fui ver minha mãe — disse, aproveitando a voz embargada para despertar a piedade do marido e manipulá-lo. — Está deprimida com toda essa situação. Tem medo que Maximiliano não faça Joana feliz... E receio o mesmo — falou se jogando nos braços dele, dando vazão ao choro. Sentando na cama, os dedos esfregando o cabelo da esposa, Adriano comentou sobre a estranha concordância de Kassandra com o futuro casamento de Joana. — Até essa manhã ela parecia contra, firme no rancor de anos contra ele, de repente mudou de ideia. — Temos que fazer algo, meu amor... — Dalila disse entregue a desespero. — Não podemos aceitar um delinquente na nossa família... Desenganada, dobrada sobre si ao lado do marido, dominada por náuseas, Dalila não aceitava perder para sua irmã. Sentindo o sofrime
Observando o rosto adormecido de Joana, em silêncio Maximiliano pensou na conversa que ouviu entre a sogra e a cunhada. Mesmo não sendo de propósito, pois nenhuma delas sabia que escutaria, as palavras ofensivas e carregadas de enojo o atingiram, o fez relembrar que não era bem vindo entre os ricos e poderosos de Sanmarino. Passada a raiva que o dominou, voltou a culpar os Orleans pelos constantes ataques que recebia. Se Kassandra não tivesse perseguido sua mãe, difamado sua família e colocado à guarda atrás deles, sua vida seria diferente, ele seria diferente. Não importava quanto dinheiro acumulou após a perda dos pais, nem que agora sua fortuna estivesse nos conformes, para pessoas como os Orleans e os Savoia ele não passava de escória, um ladrão indigno de afeto, de amor verdadeiro. Deslizou a mão pela bochecha de Joana, o dedo mindinho aproveitando para tocar a curva do lábio inferior. Precisava seguir com sua vingança e reaver os bens roubados para ter paz de espírito, mas na
Dobrando a camisola que usou a noite, Joana lançou um olhar para o banheiro, vendo através da porta aberta Maximiliano terminar de fazer a barba. Ele estava muito calado e sério desde a noite anterior, após ouvirem por acidente a discussão entre Carmem e Dalila. Não que fosse de falar muito, ou sorrissem com facilidade, mas havia algo errado nele, só não sabia o que era e nem como conseguir arrancar o motivo. Suspeitava que fosse por ainda ser apaixonado por Dalila e ter se magoado com as ofensas que ela lançou para desistirem do casamento. Seria mais fácil ele se esquecer do que teve com Dalila e se apaixonar por ela, Joana, que o amava de corpo e alma. Mas no coração não se manda, lamentou inspirando fundo. Como se notando que era observando, Maximiliano moveu o olhar para ela. Foi só por um segundo, logo ele voltava a se concentrar no que fazia, mas teve o efeito imediato e intenso nela. Com o coração disparado, Joana desviou a atenção para a camisola apertada em suas mãos, sen
Da janela, com os olhos inchados de horas de choro raivoso, Dalila observava a movimentação no pátio, os carros que se aprontavam para partir após o café-da-manhã levando seus pais, sua aborrecida irmã, seu ex.amante e os amigos dele. Pronto para descer e tomar o café com os demais, Adriano se entristecia pelo desconsolo da esposa. Compreendia o desespero dela. Ele mesmo levou horas para digerir os últimos acontecimentos. — Não vai descer para o café? — Questionou por ela ainda estar de camisola. — Não — ela respondeu seca, ainda perdida no vai e vem dos funcionários. Viu Paula colocar as malas de seus pais no carro dos Orleans, que Adriano emprestou para leva-los até Sanmarino. Lamentava perder uma aliada, quase uma amiga com a qual compartilhava seus segredos e ambições. Estaria sozinha e tinha certeza que sua sogra, que vivia criticando-a, a trataria ainda pior por causa da descoberta de seu caso com Maximiliano. — Nem para se despedir dos seus pais? — Não suporto ver o sofrim
Após o café da manhã, antes de sair em busca de Maximiliano, Joana foi até a cozinha da mansão e pediu a cozinheira e seus ajudantes pães, frutas e uma garrafinha do suco feito naquela manhã. Arrumou todos os itens em uma cesta, incluindo itens básicos de primeiros socorros e medicamentos que arranjou com outro empregado da mansão. Maximiliano deu uma olhada rápida para a enorme cesta, mas não disse uma palavra sobre, simplesmente pegou o objeto pesado e se encaminhou para o jipe com Joana ao seu lado. — Joana! Maximiliano! Esperem! Joana virou-se, estranhando ver seu cunhado andando apressado até eles. Supôs que nenhum dos Orleans, incluindo sua irmã, se despediria deles. Ficou tensa quando Adriano a estreitou em um abraço, algo que não fazia desde o fim do relacionamento deles. Olhando para o lado, notou a irritação subir ao rosto de Maximiliano. — Apesar das nossas diferenças nos últimos dias, espero novas visitas suas antes da festa de noivado — incentivou o Orleans. Largando
Ao descer do jipe, deixando Maximiliano carregar a cesta, Joana envolveu a mão dele com a sua, conduzindo-o até o galpão em que foi levada na visita que fez ao colono ferido. Com seus dedos envolvidos pela mão macia e pequena de Joana, Maximiliano se deixou levar pela área dos colonos, reparando superficialmente nos peões observando-os passar com curiosidade e receio. Focou nas construções degradadas pelo tempo, com portas improvisadas, nas poucas mulheres no local, com idade acima dos cinquenta e aparência cansada, nas crianças com barriga inchada e roupas puídas. A diferença do tempo que passeou ali com Nicolas era gritante. Lembrava-se de casas bem cuidadas, homens saudando com alegria, mulheres de várias idades e crianças brincando, correndo, todos felizes. A felicidade morreu com o antigo patrão. Declínio e pobreza estavam em seu lugar apesar da fortuna acumulada e das terras que os Orleans obtiveram sugando a vitalidade daquelas pessoas. Olhou para Joana, que não parecia perce
Sozinho com a família Santos, Maximiliano aproveitou a oportunidade que se apresentava a sua frente. — Maria, pegue suas coisas e se junte a minha noiva. Irá conosco para a cidade — contou para a jovem que pulou animada, até olhar preocupada para o irmão e o tio. — Meu irmão e meu tio podem vir comigo? Não tinha pensado no tio, que sempre se conformou com as ordens de Tarcísio, até ver o estado em que ele estava. Tinha medo que ele, não podendo trabalhar como os demais, fosse jogado na rua ou morto por Tarcísio. — Levarei seu tio também — Maximiliano decidiu para a tranquilidade da jovem. — Seu irmão recebeu uma proposta de Adriano Orleans, por isso quero falar com ele a respeito disso, para que decida o melhor a fazer. Torcendo para o irmão seguir com eles para a cidade, Maria não necessitou juntar nada dela, recolheu apenas uns poucos itens de seu tio e o guiou devagar para fora do galpão. Gabriel se ajeitou na cama, o estrado rangendo e o móvel enferrujado sacolejando, aparent