### Capítulo 7 – O Peso do Olhar A manhã seguinte ao jantar beneficente trouxe uma ressaca leve que Elena Carter não podia culpar inteiramente pelo champanhe. O zumbido em sua cabeça era mais do que o eco de taças tilintando ou da música suave que preenchera o Grand Plaza na noite anterior – era o peso do sonho, o rosto de Victor Blackwood marcado por séculos de tristeza, os olhos cinza brilhando com um tormento que ela não conseguia apagar da mente. O apartamento estava silencioso, exceto pelo gotejar intermitente da chuva contra a janela do beco, um som que parecia acompanhar o pulsar lento em suas têmporas enquanto ela se arrastava da cama. A luz cinzenta de março infiltrava-se pelas cortinas finas, projetando sombras tortas nas paredes descascadas, e o ar carregava um cheiro de umidade e café velho que ela não tinha energia para renovar. Elena ficou de pé por um momento, encarando o teto manchado de infiltração, os pés descalços contra o chão frio enviando um arrepio que a acordo
— Você foi ao jantar ontem — disse ele, a voz grave cortando o silêncio como uma lâmina, o tom neutro, mas carregado de uma intensidade que a fez engolir em seco. A menção ao jantar a pegou desprevenida, e ela inclinou a cabeça, o sarcasmo voltando como um escudo contra o desconforto que crescia em seu peito. — Fui — respondeu ela, o tom leve, mas com um toque de provocação que não resistiu em adicionar. — Não sabia que você era fã de eventos beneficentes, Sr. Blackwood. Você parecia bem à vontade no canto, segurando aquele medalhão como se fosse seu par da noite. Os olhos dele estreitaram-se por uma fração de segundo, a mandíbula apertando-se numa linha dura, e ela achou que ele responderia – que deixaria escapar algo, qualquer coisa, que explicasse o peso daquele olhar no salão. Ele abriu a boca, os lábios se movendo como se as palavras estivessem na ponta da língua, mas então recuou, fechando-se como uma porta batendo. O tormento nos olhos cinza era claro agora, uma tempestade qu
A noite caiu sobre o apartamento de Elena Carter como uma cortina pesada, o som da chuva contra a janela do beco um tamborilar constante que parecia acompanhar o pulsar inquieto em seu peito. Depois do confronto com Victor no escritório e da conversa com Damien, ela voltara para casa exausta, o peso das palavras dele – "um fardo eterno" – agarrado a ela como uma sombra que não conseguia sacudir. O apartamento estava silencioso, exceto pelo ranger ocasional das tábuas do chão sob seus pés e pelo zumbido fraco da geladeira que lutava para manter o pouco que havia dentro dela fresco. As paredes descascadas pareciam fechar-se ao redor, o teto manchado de infiltração encarando-a como um olho acusador enquanto ela jogava a bolsa na mesa bamba, o som metálico das chaves ecoando no vazio. Elena não se deu ao trabalho de comer – o cereal na pia ainda exalava um cheiro azedo que revirava seu estômago, e a ideia de cozinhar parecia um esforço monumental demais para o estado em que estava. Vestiu
— Livia, hein? Parece que ela tá virando sua colega de quarto imaginária — disse ele, inclinando-se mais perto, o tom conspiratório. — Olha, você tá trabalhando demais, lidando com o Victor e seus olhares de gelo. Esses sonhos são só o estresse falando. Que tal um café decente pra te tirar dessa névoa? Tem uma cafeteria no térreo que não te envenena como a máquina da copa. Elena hesitou, o convite pairando no ar como uma corda jogada para alguém se afogando. A ideia de sair do trigésimo andar, mesmo que por meia hora, era tentadora – um respiro da tensão que a sufocava, dos olhos de Victor que ela sabia que estavam em algum lugar, observando-a mesmo estando tão distante. O cansaço venceu, e ela assentiu, um movimento pequeno que parecia mais pesado do que deveria. — Tá bem, você venceu — disse ela, o tom leve, mas com uma sombra de alívio que não conseguia esconder. — Mas se o café for ruim, eu te culpo. — Fechado — respondeu Damien, o sorriso alargando-se em triunfo enquanto se lev
O fim da semana chegou como um alívio hesitante para Elena Carter, mas o peso dos últimos dias – os sonhos persistentes, os bilhetes enigmáticos, os olhares gélidos de Victor Blackwood – agarrava-se a ela como uma sombra que não conseguia dissipar. Era sexta-feira, o trigésimo andar da Blackwood Enterprises esvaziando-se lentamente enquanto os funcionários corriam para aproveitar o fim de semana, o zumbido do ar condicionado misturando-se ao som abafado de conversas e passos apressados no corredor. Elena terminou o último relatório por volta das 17h, as mãos dormentes de tanto digitar, os olhos ardendo de encarar a tela, e salvou o arquivo com um clique que parecia alto demais no silêncio que tomava conta do espaço. O bilhete de Victor – "Fique longe do que não entende" – estava dobrado na gaveta da mesa, um aviso que ela não podia ignorar, mas que só alimentava o fogo da curiosidade que queimava dentro dela. Ela pegou a bolsa, o blazer cinza amarrotado jogado sobre os ombros como uma
— Ele tá te ignorando de propósito — disse ele, a voz alta o suficiente para atravessar o bar, o tom carregado de uma provocação que fez os ombros de Elena enrijecerem. — O que acha, Victor? Veio curtir a noite ou só pra vigiar a sobrevivente aqui? Victor virou a cabeça lentamente, os olhos cinza encontrando os de Damien com uma frieza que parecia esmagar o ar, mas então deslizaram para Elena, e o peso daquele olhar era diferente – intenso, carregado de algo que não era só raiva, algo que parecia desejo reprimido misturado a um tormento antigo que ela reconhecia dos sonhos. O copo de uísque estava na mão dele, os dedos longos e pálidos apertando o vidro com uma força que ela podia ver mesmo estando tão longe, e o silêncio entre eles era sufocante, denso como a névoa da floresta que a perseguia. — Boa noite, Leclerc — disse Victor, a voz grave cortando o ar como uma lâmina, o tom neutro, mas carregado de uma tensão que fazia o bar parecer menor. — Cuide dos seus assuntos. Ele tomou u
A noite se instalou sobre a cidade como um manto de silêncio cortado apenas pelo ronco distante dos carros e pelo tamborilar insistente da chuva contra as janelas altas. Elena Carter deixou a Blackwood Enterprises tarde, o peso do encontro no bar com Victor – o silêncio carregado, o olhar de desejo reprimido, a carta enigmática "O tempo é o inimigo dele" – seguindo-a como um eco que não conseguia silenciar. O metrô estava quase vazio na volta para casa, o vagão balançando com um ritmo monótono que acompanhava o pulsar inquieto em seu peito. Ela se encostou na janela fria, o vidro embaçado pelo calor de sua respiração, e observou as luzes da cidade desfocarem-se em borrões de neon enquanto o trem cortava a escuridão. O blazer cinza amarrotado pesava nos ombros, uma armadura que já não escondia o cansaço, e os cabelos castanhos, soltos do coque, caíam em ondas desleixadas sobre o rosto, emoldurando olhos verdes que brilhavam com uma mistura de exaustão e determinação. Chegando ao prédio
— Os sonhos — disse ela, a voz firme, mas com uma vulnerabilidade que não conseguia esconder. — Eu vejo você neles. Na floresta, segurando aquele medalhão, chorando por uma mulher chamada Livia. Ela cai nos seus braços, e o tempo para. O que tá acontecendo, Victor? O que isso significa? O rosto dele mudou – a palidez natural da pele ficou quase translúcida, os olhos cinza arregalando-se por um instante antes de se fecharem numa máscara de pedra. Ele levantou-se, o movimento fluido como sempre, e caminhou até a janela, as costas para ela enquanto olhava para a cidade lá embaixo, o céu cinzento de março refletindo-se no vidro como um espelho escuro. O silêncio voltou, pesado como uma cortina de chumbo, e Elena sentiu o peso daquele gesto, a recusa dele em encará-la enquanto processava as palavras dela. — São apenas sombras — disse ele, finalmente, a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma frieza que parecia forçada. — Sonhos não significam nada, Senhorita Carter. São ecos do