O Grand Plaza era um mundo à parte, um salão de baile que parecia saído de um conto de fadas distorcido pela ostentação moderna. Lustres de cristal pendiam do teto abobadado, lançando luzes que dançavam sobre o chão de mármore polido, e as paredes eram decoradas com tapeçarias que pareciam custar mais do que o apartamento de Elena inteiro. Mesas redondas cobertas com toalhas brancas impecáveis estavam espalhadas pelo salão, cada uma adornada com arranjos florais que exalavam um perfume doce e enjoativo. Homens de smoking e mulheres em vestidos longos circulavam pelo espaço, taças de champanhe nas mãos, risadas falsas ecoando como música de fundo enquanto uma banda ao vivo tocava um jazz suave no canto. Damien guiou Elena pelo salão com uma facilidade que sugeria que ele pertencia àquele mundo, o braço dela encaixado no dele enquanto ele apontava convidados com comentários sussurrados que a faziam rir. "Aquele ali é o dono da NovaTech, acha que é o rei do universo," disse ele, apontand
### Capítulo 7 – O Peso do Olhar A manhã seguinte ao jantar beneficente trouxe uma ressaca leve que Elena Carter não podia culpar inteiramente pelo champanhe. O zumbido em sua cabeça era mais do que o eco de taças tilintando ou da música suave que preenchera o Grand Plaza na noite anterior – era o peso do sonho, o rosto de Victor Blackwood marcado por séculos de tristeza, os olhos cinza brilhando com um tormento que ela não conseguia apagar da mente. O apartamento estava silencioso, exceto pelo gotejar intermitente da chuva contra a janela do beco, um som que parecia acompanhar o pulsar lento em suas têmporas enquanto ela se arrastava da cama. A luz cinzenta de março infiltrava-se pelas cortinas finas, projetando sombras tortas nas paredes descascadas, e o ar carregava um cheiro de umidade e café velho que ela não tinha energia para renovar. Elena ficou de pé por um momento, encarando o teto manchado de infiltração, os pés descalços contra o chão frio enviando um arrepio que a acordo
— Você foi ao jantar ontem — disse ele, a voz grave cortando o silêncio como uma lâmina, o tom neutro, mas carregado de uma intensidade que a fez engolir em seco. A menção ao jantar a pegou desprevenida, e ela inclinou a cabeça, o sarcasmo voltando como um escudo contra o desconforto que crescia em seu peito. — Fui — respondeu ela, o tom leve, mas com um toque de provocação que não resistiu em adicionar. — Não sabia que você era fã de eventos beneficentes, Sr. Blackwood. Você parecia bem à vontade no canto, segurando aquele medalhão como se fosse seu par da noite. Os olhos dele estreitaram-se por uma fração de segundo, a mandíbula apertando-se numa linha dura, e ela achou que ele responderia – que deixaria escapar algo, qualquer coisa, que explicasse o peso daquele olhar no salão. Ele abriu a boca, os lábios se movendo como se as palavras estivessem na ponta da língua, mas então recuou, fechando-se como uma porta batendo. O tormento nos olhos cinza era claro agora, uma tempestade qu
A noite caiu sobre o apartamento de Elena Carter como uma cortina pesada, o som da chuva contra a janela do beco um tamborilar constante que parecia acompanhar o pulsar inquieto em seu peito. Depois do confronto com Victor no escritório e da conversa com Damien, ela voltara para casa exausta, o peso das palavras dele – "um fardo eterno" – agarrado a ela como uma sombra que não conseguia sacudir. O apartamento estava silencioso, exceto pelo ranger ocasional das tábuas do chão sob seus pés e pelo zumbido fraco da geladeira que lutava para manter o pouco que havia dentro dela fresco. As paredes descascadas pareciam fechar-se ao redor, o teto manchado de infiltração encarando-a como um olho acusador enquanto ela jogava a bolsa na mesa bamba, o som metálico das chaves ecoando no vazio. Elena não se deu ao trabalho de comer – o cereal na pia ainda exalava um cheiro azedo que revirava seu estômago, e a ideia de cozinhar parecia um esforço monumental demais para o estado em que estava. Vestiu
— Livia, hein? Parece que ela tá virando sua colega de quarto imaginária — disse ele, inclinando-se mais perto, o tom conspiratório. — Olha, você tá trabalhando demais, lidando com o Victor e seus olhares de gelo. Esses sonhos são só o estresse falando. Que tal um café decente pra te tirar dessa névoa? Tem uma cafeteria no térreo que não te envenena como a máquina da copa. Elena hesitou, o convite pairando no ar como uma corda jogada para alguém se afogando. A ideia de sair do trigésimo andar, mesmo que por meia hora, era tentadora – um respiro da tensão que a sufocava, dos olhos de Victor que ela sabia que estavam em algum lugar, observando-a mesmo estando tão distante. O cansaço venceu, e ela assentiu, um movimento pequeno que parecia mais pesado do que deveria. — Tá bem, você venceu — disse ela, o tom leve, mas com uma sombra de alívio que não conseguia esconder. — Mas se o café for ruim, eu te culpo. — Fechado — respondeu Damien, o sorriso alargando-se em triunfo enquanto se lev
O fim da semana chegou como um alívio hesitante para Elena Carter, mas o peso dos últimos dias – os sonhos persistentes, os bilhetes enigmáticos, os olhares gélidos de Victor Blackwood – agarrava-se a ela como uma sombra que não conseguia dissipar. Era sexta-feira, o trigésimo andar da Blackwood Enterprises esvaziando-se lentamente enquanto os funcionários corriam para aproveitar o fim de semana, o zumbido do ar condicionado misturando-se ao som abafado de conversas e passos apressados no corredor. Elena terminou o último relatório por volta das 17h, as mãos dormentes de tanto digitar, os olhos ardendo de encarar a tela, e salvou o arquivo com um clique que parecia alto demais no silêncio que tomava conta do espaço. O bilhete de Victor – "Fique longe do que não entende" – estava dobrado na gaveta da mesa, um aviso que ela não podia ignorar, mas que só alimentava o fogo da curiosidade que queimava dentro dela. Ela pegou a bolsa, o blazer cinza amarrotado jogado sobre os ombros como uma
— Ele tá te ignorando de propósito — disse ele, a voz alta o suficiente para atravessar o bar, o tom carregado de uma provocação que fez os ombros de Elena enrijecerem. — O que acha, Victor? Veio curtir a noite ou só pra vigiar a sobrevivente aqui? Victor virou a cabeça lentamente, os olhos cinza encontrando os de Damien com uma frieza que parecia esmagar o ar, mas então deslizaram para Elena, e o peso daquele olhar era diferente – intenso, carregado de algo que não era só raiva, algo que parecia desejo reprimido misturado a um tormento antigo que ela reconhecia dos sonhos. O copo de uísque estava na mão dele, os dedos longos e pálidos apertando o vidro com uma força que ela podia ver mesmo estando tão longe, e o silêncio entre eles era sufocante, denso como a névoa da floresta que a perseguia. — Boa noite, Leclerc — disse Victor, a voz grave cortando o ar como uma lâmina, o tom neutro, mas carregado de uma tensão que fazia o bar parecer menor. — Cuide dos seus assuntos. Ele tomou u
A noite se instalou sobre a cidade como um manto de silêncio cortado apenas pelo ronco distante dos carros e pelo tamborilar insistente da chuva contra as janelas altas. Elena Carter deixou a Blackwood Enterprises tarde, o peso do encontro no bar com Victor – o silêncio carregado, o olhar de desejo reprimido, a carta enigmática "O tempo é o inimigo dele" – seguindo-a como um eco que não conseguia silenciar. O metrô estava quase vazio na volta para casa, o vagão balançando com um ritmo monótono que acompanhava o pulsar inquieto em seu peito. Ela se encostou na janela fria, o vidro embaçado pelo calor de sua respiração, e observou as luzes da cidade desfocarem-se em borrões de neon enquanto o trem cortava a escuridão. O blazer cinza amarrotado pesava nos ombros, uma armadura que já não escondia o cansaço, e os cabelos castanhos, soltos do coque, caíam em ondas desleixadas sobre o rosto, emoldurando olhos verdes que brilhavam com uma mistura de exaustão e determinação. Chegando ao prédio