Camila
LUIGI olha para mim com brilho nos olhos, como se estivesse esperando que eu me jogue em seus braços. Eu até faria isso se Henrique não estivesse mantendo seu abraço em minha cintura tão firmemente. Volto meus olhos para ele e o encontro medindo Luigi da cabeça aos pés, como um macho alfa espreitando o seu adversário.
Eu conheci Luigi há dois anos atrás. Ele já era amigo de Caíque há algum tempo, que fez a ponte entre nós dois. Luigi é um bom homem e sabe tratar uma mulher como ninguém. Seu sorriso cativante, seu sotaque italiano e seus olhos e cabelos negros chamam a atenção de qualquer mulher que o veja. Mas não é só isso. Seu coração é ainda mais bonito que o seu corpo. Sua generosidade e seu respeito pelas pessoas foram o que me fez admirá-lo. Relutei em ficarmos juntos por saber que ele queria muito mais que apenas uma noite, e isso, eu não estava disposta a ter com homem nenhum. Pelo menos não até conhecer Henrique.— Mi sei mancato, affetto —
CamilaSINTO dedos roçarem carinhosamente a minha face. Pisco algumas vezes e tento me adaptar à luz natural que envolve o ambiente, focando meus olhos em Henrique, que me observa com um sorriso doce nos lábios.— Bom dia, meu amor — diz ao trazer seu corpo ao meu encontro e depositar um beijo em minha testa.— Bom dia — respondo com minha voz um pouco sonolenta. — Quanto tempo faz que você acordou?— Tempo suficiente para contemplar seu sono — fala acariciando novamente o meu rosto com a ponta dos seus dedos.Lembro-me de quando Henrique falou ontem que acordaria mais vezes antes de mim para velar o meu sono. Fiquei feliz em ouvir isso, mas tomada pela decepção ao me recordar que no dia seguinte seria com Cristina que ele acordaria, e, no entanto, é ao meu lado que ele está novamente. E amanhã? É ao lado dela que ele irá acordar? A bile vem à minha garganta com esse simples pensamento.Henrique olha para mim com o semb
HenriqueACENO rapidamente para os dois seguranças que me cumprimentam quando saio do elevador, e conduzo meus passos pelo extenso corredor do escritório Veiga & Lopes. As salas estão quase todas com suas portas fechadas, demonstrando que boa parte dos advogados associados já iniciaram o seu dia de trabalho.Eu e Marcone montamos o escritório do zero, financiados pelo dinheiro que recebemos com os estágios remunerados que fazíamos ainda na faculdade e das consultorias que prestávamos à empresas de pequeno porte. Foi difícil no começo. Dois advogados empresariais que queriam ter seu próprio escritório, com autonomia para escolher as empresas que gostariam de trabalhar sem necessariamente estarem vinculados a uma única. Ajudamos empresas praticamente falidas a voltarem a crescer em pouco tempo, e, desse modo, conquistamos o nosso espaço no mercado. Hoje, além de outros advogados empresariais, contamos também com advogados de outras áreas.Laís levanta-se de sua m
Camila— POR favor, que seja negativo — repito várias vezes na minha cabeça. Sinto como se o chão estivesse se abrindo sobre os meus pés; como se a gravidade estivesse sendo roubada de mim. Minha mãe e Bruna estão sentadas ao meu lado. Ambas seguram minhas mãos firmemente. Nós estamos há duas malditas horas no consultório de Leila esperando pelo resultado do exame Beta HCG. — Por favor, que seja negativo — volto a repetir.Leila adentra ao consultório com um envelope branco em mãos. Toma seu lugar em frente a nós, me dando seu sorriso gentil. Ela ajudou minha mãe a trazer-me ao mundo e é minha ginecologista desde a minha adolescência. Sei que deve está me achando uma irresponsável, apesar de não ter me criticado. Como eu pude esquecer de tomar a injeção? Ela abre o envelope e direciona seus olhos castanho-claros por todo o conteúdo do papel, esboçando um leve sorriso.— Parabéns, Camila — deseja olhando fixamente para mim. — O exame deu positivo. Você está
Cristina— APENAS respire — falo mentalmente. — Apenas respire. Não consigo fazer com que minhas lágrimas cessem. É como se o mundo estivesse desabando sobre mim. O meu mundo está ruindo. E o pior é ter a consciência que, de certa forma, eu já esperava por isso, e mesmo assim deixei acontecer.Quando Henrique começou a me contar tudo fez sentido. Vislumbrei na minha cabeça todos os acontecimentos das últimas semanas. Desde a noite em que ele chegou muito tarde à sua explosão no almoço da casa de sua mãe. Foi tudo tão rápido. Aconteceu ao alcance dos meus olhos e eu não fiz nada para impedir.— Mas o que você poderia fazer? — questiona uma vozinha na minha cabeça. — O que você teria feito, Cristina? — Nada. Pura e simplesmente nada. Poucas vezes tomei atitudes por mim mesma na minha vida. As únicas ocasiões em que realmente lutei por algo foram para conseguir fazer minha graduação em Serviço Social, que acabei desistindo no sexto semestre, e
CamilaDESDE pequena eu tinha liberdade para fazer somente aquilo que tivesse vontade. Meus pais nunca me impuseram nada; educaram-me para ser uma mulher consciente das suas ações, que poderia levar sua vida segundo os seus desejos e vontades desde que mantivesse o seu caráter e não fizesse nada que pudesse magoar outras pessoas em prol da sua felicidade.Eu segui por muito tempo esses ensinamentos como os norteadores da minha vida, mas ultimamente tenho fechado os meus olhos para tanta coisa... Eu costumava ponderar as consequências dos meus atos, e agora, por permitir que a paixão falasse acima da razão, perdi totalmente o controle sobre a minha vida.Não me arrependo em nenhum momento por ter me envolvido com Henrique. Fiquei com ele sabendo que era casado. Com outros homens eu não teria nem pensado duas vezes antes de me afastar, mas com ele... Foi algo além de mim. Um desejo intenso que não fui capaz de controlar, e que me fez camuflar os olhos par
CamilaA água quente escorre pelo meu corpo juntamente com algumas lágrimas que persistem em banhar minha face. Envolvo minhas mãos ao redor dos meus quadris e luto para não ser massacrada pela aflição que domina o meu peito.— Por que estou com tanto medo? — me questiono mentalmente. — Eu sou uma mulher forte. Eu consigo fazer isso sozinha.A certeza em mim de que Henrique irá renegar esta criança é tão grande que antes mesmo de ouvir as palavras da sua boca eu já estou sofrendo. Mal chegamos ao apartamento e eu corri direto para o banheiro, trancando a porta por dentro. Viemos durante todo o trajeto sem proferir uma única palavra. Apenas a sua mão sobre a minha, apertando-a forte a cada sinal vermelho. Ele nem sequer ousou tentar abrir a porta. Talvez por ter percebido que eu precisava de um tempo sozinha.— Por que você está com medo, Camila? Por quê? — Muitas pessoas acham que eu sou forte e na maioria das vezes eu tento ser. O único
CamilaUM leve arrepio me percorre ao sentir os dedos de Henrique tracejarem as finas estrias esbranquiçadas do meu quadril esquerdo. Sua outra mão repousa sobre o meu ventre, e sua barba faz deliciosas cócegas na curvatura do meu ombro.Ainda domina na minha cabeça as palavras que mamãe proferiu durante a ligação que a fiz há minutos atrás. Mesmo não tendo dito, percebi pela mudança na sua voz que ela não esperava que Henrique fosse aceitar a minha gravidez. Muito menos que ele teria a coragem de pedir o divórcio. Eu entendo sua insegurança com relação a ele, mas não me agrada em nada saber que minha mãe não gosta do homem que escolhi para ter ao meu lado. Henrique não disse nada, mas sei que também ficou chateado. Ele estava bem próximo a mim, e mesmo não estando no viva-voz, pôde ouvir a tudo que minha mãe disse. Só espero que com o tempo ela possa desfazer a má impressão que construiu dele.— Tem certeza que não quer que eu a acompanhe? — pergunta Henr
Henrique— POSSO entrar? — pergunta Marcone segurando a porta entreaberta da minha sala.— Claro — confirmo fechando a janela do Excel e voltando minha atenção para ele.— Nós mal conversamos desde que você voltou de viagem, cara — elucida indo até o mini-bar, servindo-se de uma dose de uísque.— Por que você sempre vem pra cá quando quer beber? — indago erguendo minhas sobrancelhas para ele.— Porque alguém precisa beber essa belezinha, meu amigo — explica ao levar o copo aos lábios, caminhando até a minha mesa e sentando-se de frente para mim. — Então, alguma novidade? — pergunta, curioso.— Sim, pedi o divórcio e vou ser pai — comunico. Marcone tosse, quase esgasgando-se com a bebida, e olha para mim completamente perplexo.— Que merda é essa, Henrique? Isso lá é brincadeira que se faça? — questiona, irritado, passando a manga do palitó sobre os lábios.— Eu não estou brinc