No momento em que a porta se abriu e o corpo de Tamara se materializou na minha frente, meus olhos percorreram cada centímetro dela. Tamara estava com a mesma roupa que usara em seu encontro, só que, naquele momento, ela estava sem a jaqueta, o que deixou o decote dos seus seios à mostra para quem quisesse ver. O cheiro daquele idiota exalava dela, como se fosse o seu próprio cheiro. Rocco rosnou. Ele queria arrancar as roupas do corpo dela com a intenção de tirar o cheiro dele do corpo da nossa companheira. Meus olhos desciam e subiam por seu corpo quando ouvi sua voz, já sem paciência. — Então? — Sua voz subiu alguns tons. — O que ela perguntou mesmo? — indaguei ao meu lobo. — Ela está pensando que o motivo de sua visita é porque aconteceu algo com seu irmão. — Não. — Esse não era para ser dirigido ao meu lobo, mas percebi que eram meus pensamentos. Limpei minha garganta. — Quer dizer, está tudo bem, mas eu precisava falar com você. — Caminhei em sua direção e ela se colocou
Ela me mandava embora. Eu via o sofrimento em seus olhos, mas não queria sair com aquela dúvida que me consumia há mais de um ano. Tinha que perguntar a ela se o que Talita me falou antes da tragédia acontecer era verdade. Aquele não era o momento certo, mas eu necessitava ouvir dela. E se fosse verdade que em algum momento Tamara tivesse sentido algo por mim, então significava que, lá no fundo do coração dela, poderia existir algum resquício do seu sentimento por mim. — Tamara, eu vou embora, mas antes preciso te perguntar algo... — Coloquei minhas mãos em seus ombros e apertei um pouco, chamando sua atenção. — Peço que você olhe em meus olhos e me responda o mais sincero possível. — Tamara encarou-me. — Se isso te fizer ir embora da minha casa, então pergunte. — Para me mostrar que estava tudo bem para ela, minha companheira sorriu, mas o sorriso não saiu dos seus lábios. — Eu prometo responder e serei bem sincera. — Eu te deixo tão desconfortável assim? — Seus olhos piscaram e
Estava tudo indo tão bem. Conversamos, lembramos de Talita juntos e foi bom saber que minha irmã não tinha me esquecido, que ela, como sempre, soube me ler. Porém, Jonathan tinha que ser ele mesmo. Como pude ter acreditado na história de que ele me deixaria viver a minha vida da forma que eu quisesse? Nunca iria aprender. Jonathan me jogou em uma cela, por culpa dele perdi a minha loba e, para piorar ainda mais a situação, agora estava marcada como propriedade sua. Jonathan estava me beijando quando eu senti uma dor em meu pescoço. Eu estava entregue ao beijo de uma forma que não tinha me dado conta do momento em que ele parou para me morder. Na minha inocência, pensei que ele iria beijar meu pescoço ou algo assim. Como pude me deixar levar daquela forma? Deveria ter o parado antes mesmo de ele conseguir me beijar. — Minha! — Sua voz saiu rouca. — Nunca serei sua. — O empurrei para longe de mim. Estava arrepiada, mas eu queria acreditar que estava daquela forma por puro ódio e nã
Meus pensamentos me atormentavam; a voz em minha cabeça me culpava pelo desmaio de Tamara. “Está vendo o que causou a sua impaciência?” “Tudo que você faz é para destruir a vida dela.” Eu tentava calar a voz da minha consciência, tentava calar a voz de Rocco, meu lobo, mas os dois estavam certos: eu não deveria ter marcado ela sem sua permissão. Tinha que ter respeitado sua decisão de viver a vida dela sem ter nenhuma amarra comigo. — Eu te imploro. — Nunca fui de fazer prece à deusa, mas naquele momento eu iria usar qualquer coisa a meu favor para ver Tamara de olhos abertos. — Eu imploro. — Quando você vai deixar de agir por impulsos? — A voz do meu pai veio em minhas memórias. — Você é um homem de vinte e três anos e age como se fosse um moleque de quinze. — Ele ficou furioso ao saber que eu tinha ido atrás de Tamara e marcado ela sem sua autorização. — Jonathan, será que foi um erro ter entrado a alcateia em suas mãos? Pois estou vendo que você não está adaptado para tomar deci
Ao chegar no hospital, fui direto para a sala de Rosana; esse era o nosso ritual. Todo dia, quando eu chegava ao hospital, ficava na sala dela até dar o horário em que o doutor Ian chegava para começarmos o expediente. O escritório de Rosana estava vazio; creio que ela deve ter ido fazer sua ronda matinal. Fui até a cafeteira que ela colocou em sua sala para fazermos o desjejum juntas. Antes de entrar no hospital, passei por uma panificadora e comprei uns bolinhos para nós duas. Enquanto a cafeteira trabalhava para preparar o café, minha mente trabalhava sem parar; não conseguia esquecer tudo que aconteceu algumas horas antes, na noite anterior. No momento em que eu pensava que tinha deixado minha vida antiga para trás, ela voltou com tudo, tentando atropelar meu novo eu. Meu coração acelerou ao ver Jonathan na minha porta e acelerou ainda mais quando ele me beijou, mas não era com ele que eu queria viver. Na verdade, eu não tinha planos de me envolver com ninguém; tinha traçado outr
O dia ocorreu muito bem; para minha sorte, Ian teve uma emergência, o que o deixou fora do consultório o dia todo. Não é que eu não quisesse vê-lo, apenas queria dar um descanso para minha cabeça; meus pensamentos não paravam. Estava lutando contra a minha razão, que me dizia a todo momento que Jonathan era o melhor para mim, que eu tinha que aceitá-lo na minha vida. Entretanto, meus sentimentos eram fortes em relação ao doutor Ian. Então, agradeci à deusa quando ele me ligou avisando que, infelizmente, não nos veríamos mais naquele dia. Terminei todo o trabalho que eu tinha para aquele dia e, ao finalizar tudo, fui em direção à minha casa. Com o passar do dia, a temperatura do meu corpo foi aumentando, conforme Jonathan disse que iria. No momento em que saí do hospital, a temperatura já começava a ficar insuportável; por esse motivo, eu torcia para que ele estivesse na minha casa. Entrei no elevador do meu prédio, desejando estar debaixo de um chuveiro para tentar aplacar o calor qu
Tamara entrou no banheiro e vislumbrei ali a minha deixa para ir embora do seu apartamento. Sentia meu peito ainda aquecido pela noite que passamos juntos. Sei que não rolou nada muito extravagante; entretanto, cada segundo ao lado dela foi mágico. Creio que um apelido nunca serviu tão bem a uma pessoa quanto o que eu dei para Tamara, pois, enquanto ela estava dormindo, era como se eu estivesse na presença de uma deusa. Ela é minha deusa. Saí do apartamento de Tamara com a intenção de encontrar um quarto em qualquer hotel próximo ao prédio em que ela morava. Fui até a recepção do prédio de Tamara pedir ao porteiro alguma dica de onde ficava o hotel, e algo me surpreendeu: nunca tinha visto um humano tão gentil. O porteiro, que descobri se chamar Samuel, me informou que no prédio existia um apartamento para aluguel e que ele ficava no andar abaixo de Tamara. Não pensei nem duas vezes e já o informei que eu queria o apartamento o quanto antes possível. Assinamos o contrato e, antes mes
As aulas da faculdade de medicina começaram dois meses após eu ser aprovada. Lembro que o primeiro dia de aula foi uma loucura. Ian quis se afastar por uma semana do hospital apenas para me acompanhar na minha nova jornada, porém não permiti, pois ele tinha responsabilidades com seus pacientes e não podia deixá-los esperando. Eu e Ian nos aproximamos bastante nesses dois meses; posso dizer que meu coração b**e cada vez mais acelerado por ele. Ian sabe dizer as palavras certas nos momentos certos e sabe aproveitar cada momento a seu favor para eu me apaixonar ainda mais por ele. A cada dia, tenho mais certeza de que ele é quem eu quero para a vida. Sei que devem estar se perguntando o que aconteceu com Jonathan! Bem, ele também está ao meu lado; entretanto, nesses dois meses, Jonathan tem sido minha companhia diária. Eu o vejo bem mais do que Ian, já que todas as noites ficamos juntos. Quando não dormíamos sentados no sofá, assistíamos a filmes ou séries juntos, e ele ficava até a mad