Avisei apenas meu pai sobre a pequena viagem que eu iria fazer; não revelei o motivo da viagem. Ele me pediu muito para eu abrir mão de Tamara, pois eu já tinha feito muito mal a ela. Meu pai tentou me avisar que ela não era mais minha companheira e que o sentimento que eu sentia por ela era apenas porque ela estava fora do meu controle. Então, como explicar minha vida ter ido totalmente para fora dos trilhos? Era como se até respirar tivesse se tornado difícil. Ninguém poderia me dizer o que eu deveria fazer quando se tratava da minha companheira. A viagem foi muito rápida; antes mesmo do anoitecer, eu já estava em frente ao endereço que praticamente roubei de Luís. Vi o exato momento em que ela entrou no prédio com uma mulher que eu nunca tinha visto. A mulher ao lado de Tamara falava muito, mas o que aumentou minha ira contra ela não foi ela não permitir que eu ouvisse a voz da minha companheira, e sim ela insinuar que o encontro que Tamara poderia ter terminaria em um namoro. A m
Após o breve resumo de como foi minha noite de encontro com Ian, minha amiga foi embora e mal deu tempo de tirar a roupa que eu estava. Eu mal tinha tirado minha jaqueta quando ouvi a porta e, como tinha certeza de que seria Rosana, fui até a porta sem a jaqueta. — Você sempre volta. — Abri a porta, sem nem mesmo olhar para a pessoa, mas o que me surpreendeu foi a pessoa que estava à minha frente, e não era Rosana. — Alfa? — Será que eu deveria chamá-lo assim mesmo após ter cortado o laço com a sua alcateia? — O que traz você aqui? Está tudo bem com Túlio? — Ele continuou me olhando como se procurasse as palavras certas. — Então? — Não. — Sua voz saiu rouca, então ele limpou a garganta. — Quero dizer, está tudo bem, mas eu precisava falar com você. — Ele deu a entender que queria entrar em minha casa, porém eu não permiti. — Eu não tenho nada a conversar com você. — Me coloquei à frente da porta. Jonathan desceu seu olhar por meu corpo. — Deixei bem claro quando saí da alcateia,
No momento em que a porta se abriu e o corpo de Tamara se materializou na minha frente, meus olhos percorreram cada centímetro dela. Tamara estava com a mesma roupa que usara em seu encontro, só que, naquele momento, ela estava sem a jaqueta, o que deixou o decote dos seus seios à mostra para quem quisesse ver. O cheiro daquele idiota exalava dela, como se fosse o seu próprio cheiro. Rocco rosnou. Ele queria arrancar as roupas do corpo dela com a intenção de tirar o cheiro dele do corpo da nossa companheira. Meus olhos desciam e subiam por seu corpo quando ouvi sua voz, já sem paciência. — Então? — Sua voz subiu alguns tons. — O que ela perguntou mesmo? — indaguei ao meu lobo. — Ela está pensando que o motivo de sua visita é porque aconteceu algo com seu irmão. — Não. — Esse não era para ser dirigido ao meu lobo, mas percebi que eram meus pensamentos. Limpei minha garganta. — Quer dizer, está tudo bem, mas eu precisava falar com você. — Caminhei em sua direção e ela se colocou
Ela me mandava embora. Eu via o sofrimento em seus olhos, mas não queria sair com aquela dúvida que me consumia há mais de um ano. Tinha que perguntar a ela se o que Talita me falou antes da tragédia acontecer era verdade. Aquele não era o momento certo, mas eu necessitava ouvir dela. E se fosse verdade que em algum momento Tamara tivesse sentido algo por mim, então significava que, lá no fundo do coração dela, poderia existir algum resquício do seu sentimento por mim. — Tamara, eu vou embora, mas antes preciso te perguntar algo... — Coloquei minhas mãos em seus ombros e apertei um pouco, chamando sua atenção. — Peço que você olhe em meus olhos e me responda o mais sincero possível. — Tamara encarou-me. — Se isso te fizer ir embora da minha casa, então pergunte. — Para me mostrar que estava tudo bem para ela, minha companheira sorriu, mas o sorriso não saiu dos seus lábios. — Eu prometo responder e serei bem sincera. — Eu te deixo tão desconfortável assim? — Seus olhos piscaram e
Estava tudo indo tão bem. Conversamos, lembramos de Talita juntos e foi bom saber que minha irmã não tinha me esquecido, que ela, como sempre, soube me ler. Porém, Jonathan tinha que ser ele mesmo. Como pude ter acreditado na história de que ele me deixaria viver a minha vida da forma que eu quisesse? Nunca iria aprender. Jonathan me jogou em uma cela, por culpa dele perdi a minha loba e, para piorar ainda mais a situação, agora estava marcada como propriedade sua. Jonathan estava me beijando quando eu senti uma dor em meu pescoço. Eu estava entregue ao beijo de uma forma que não tinha me dado conta do momento em que ele parou para me morder. Na minha inocência, pensei que ele iria beijar meu pescoço ou algo assim. Como pude me deixar levar daquela forma? Deveria ter o parado antes mesmo de ele conseguir me beijar. — Minha! — Sua voz saiu rouca. — Nunca serei sua. — O empurrei para longe de mim. Estava arrepiada, mas eu queria acreditar que estava daquela forma por puro ódio e nã
Meus pensamentos me atormentavam; a voz em minha cabeça me culpava pelo desmaio de Tamara. “Está vendo o que causou a sua impaciência?” “Tudo que você faz é para destruir a vida dela.” Eu tentava calar a voz da minha consciência, tentava calar a voz de Rocco, meu lobo, mas os dois estavam certos: eu não deveria ter marcado ela sem sua permissão. Tinha que ter respeitado sua decisão de viver a vida dela sem ter nenhuma amarra comigo. — Eu te imploro. — Nunca fui de fazer prece à deusa, mas naquele momento eu iria usar qualquer coisa a meu favor para ver Tamara de olhos abertos. — Eu imploro. — Quando você vai deixar de agir por impulsos? — A voz do meu pai veio em minhas memórias. — Você é um homem de vinte e três anos e age como se fosse um moleque de quinze. — Ele ficou furioso ao saber que eu tinha ido atrás de Tamara e marcado ela sem sua autorização. — Jonathan, será que foi um erro ter entrado a alcateia em suas mãos? Pois estou vendo que você não está adaptado para tomar deci
Ao chegar no hospital, fui direto para a sala de Rosana; esse era o nosso ritual. Todo dia, quando eu chegava ao hospital, ficava na sala dela até dar o horário em que o doutor Ian chegava para começarmos o expediente. O escritório de Rosana estava vazio; creio que ela deve ter ido fazer sua ronda matinal. Fui até a cafeteira que ela colocou em sua sala para fazermos o desjejum juntas. Antes de entrar no hospital, passei por uma panificadora e comprei uns bolinhos para nós duas. Enquanto a cafeteira trabalhava para preparar o café, minha mente trabalhava sem parar; não conseguia esquecer tudo que aconteceu algumas horas antes, na noite anterior. No momento em que eu pensava que tinha deixado minha vida antiga para trás, ela voltou com tudo, tentando atropelar meu novo eu. Meu coração acelerou ao ver Jonathan na minha porta e acelerou ainda mais quando ele me beijou, mas não era com ele que eu queria viver. Na verdade, eu não tinha planos de me envolver com ninguém; tinha traçado outr
O dia ocorreu muito bem; para minha sorte, Ian teve uma emergência, o que o deixou fora do consultório o dia todo. Não é que eu não quisesse vê-lo, apenas queria dar um descanso para minha cabeça; meus pensamentos não paravam. Estava lutando contra a minha razão, que me dizia a todo momento que Jonathan era o melhor para mim, que eu tinha que aceitá-lo na minha vida. Entretanto, meus sentimentos eram fortes em relação ao doutor Ian. Então, agradeci à deusa quando ele me ligou avisando que, infelizmente, não nos veríamos mais naquele dia. Terminei todo o trabalho que eu tinha para aquele dia e, ao finalizar tudo, fui em direção à minha casa. Com o passar do dia, a temperatura do meu corpo foi aumentando, conforme Jonathan disse que iria. No momento em que saí do hospital, a temperatura já começava a ficar insuportável; por esse motivo, eu torcia para que ele estivesse na minha casa. Entrei no elevador do meu prédio, desejando estar debaixo de um chuveiro para tentar aplacar o calor qu