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Assuntos intrigantes

O senhor Almeida me pediu para ajudá-lo nos gráficos para o jornal da emissora e isso tomou toda minha manhã. Notei que iríamos precisar de uma nova equipe de áudio e vídeo em breve, pois muitos estavam saindo, se promovendo e a equipe atual ficava cada vez menor. 

— Precisamos de alguém para tomar conta das admissões e desligamentos. Isso está uma bagunça. — Falei para o meu chefe de 1,45m de altura. O senhor Almeida não pareceu feliz com aquela observação embora não tivesse dito nada, sua cara era mais do que a prova para mim e eu sabia que ele não tinha gostado, pois quem cuidava dessa parte era sua ex-esposa. — Me desculpa por lembrá-lo disso. 

— Precisamos encontrar alguém para substituir aquela vaca — disse o senhor Almeida e eu segurei o riso. — Mas por enquanto está tudo certo, Lana. Obrigada por hoje. Você já almoçou? 

— Bem — senti minhas bochechas esquentarem naquele instante, pois eu não sabia como dizer sem sentir aquela sensação. — Vou encontrar meu… meu…

— Seu namorado. — Ele concluiu e eu sorri sem jeito. Já o senhor Almeida tinha um riso preso no olhar. — Não precisa fazer rodeios, querida. Não tem uma pessoa nessa empresa que não saiba de vocês já que meu amigo Lee só falta te pedir para andar em câmera lenta de tanto que baba por você. 

— Ele baba por… — controlei a empolgação que surgiu repentinamente na minha e deixei um pigarro escapar antes de seguir. — Quero dizer… você acha isso, é?

Meu chefe mais antigo deixou o riso desconfiado escapar, levando-me ao constrangimento total. 

— Sim, ele está muito envolvido — seguiu dizendo. — Parece que não só ele, certo? 

Dessa vez o sorriso sem graça saiu de uma forma alta que eu não consegui conter, não fora algo como um deboche, mas sim espontâneo por ter deixado tão evidente o que estava acontecendo por trás da empresa. Mesmo assim, o senhor Almeida não disse mais nada sobre aquele assunto.

Era a primeira vez que eu estava ansiosa para fazer algo. Eu observava o ponteiro do relógio com toda sua paciência enquanto sentia cada fibra do meu corpo gritar. Aquele era um dia que me fazia implorar para que a hora voasse e para o meu desagrado, isso não ocorreu. 

Ainda fiquei mais quarenta minutos ajudando o senhor Almeida com as demais tarefas até ele receber uma ligação importante e me dispensar finalmente para o meu almoço. 

Eu corri do escritório dele para o banheiro feminino daquele andar, pois já fazia quatro horas que eu não dava uma retocada na maquiagem e como era um dia extremamente quente, deduzi que minha cara já estava derretida. 

Mas para minha felicidade tudo ainda estava em ordem e eu só precisei passar mais um pouco de batom. Olhei atentamente para minha aparência no espelho e dei um sorriso singelo em uma tentativa de imaginar minha expressão quando o encontrasse. 

Eu havia escolhido um vestido colado ao corpo com ponto Suíço e manga de bishop na cor damasco. Ele tinha um cinto de amarra na mesma tonalidade do vestido e essa cor dava um contraste muito bonito com a minha pele. Meu Scarpin era de salto baixo, fino e tinha a mesma cor do vestido. Era extremamente confortável e me deixava espetacular. 

Apertei os grampos que prendiam o coque do meu cabelo e dei um suspiro de ansiedade ao aprovar meu look. 

— Senhorita Guedes. — Olhei pelo espelho para a mulher que havia acabo de entrar no banheiro sentindo um tremor enorme percorrer meu corpo. 

 — Senhora Gusmão. 

— Está bonita. Como sempre — ela me deu um sorriso simplório e eu retribui. Júlia caminhou até o espelho ao meu lado, olhou para o seu reflexo e arrumou o borrado do seu batom na boca. — É você quem cuida dos horários do senhor Jung-suk, certo? 

— Sim.

— Preciso conversar com ele sobre alguns números e me disseram para pedir que você me arrume um horário. 

— Bom senhora Gusmão, essa semana a agenda de Lee… digo, do senhor Jung-suk, está muito apertada e…

— Lana, são questões do trabalho. Não precisa me ver como uma ameaça, são apenas negócios. 

— Não a vejo como ameaça, Júlia — usei um tom de voz mais duro, pois suas palavras estúpidas me tiraram do sério. — Estou dizendo justamente que o senhor Jung-suk tem muito a fazer essa semana e que se for algo extremamente urgente, recomendo que vá direto a sala dele quando puder. Vou avisá-lo para que ele tire uns instantes e possa lhe atender. Porém é impossível marcar uma reunião no momento. 

— Muito obrigada — respondeu ela de forma rude, mas logo seu rosto esboçou um largo sorriso. — Ah! Ontem eu estava falando com a mãe do senhor Jung-suk e estávamos recordando os tempos que íamos visitá-los, ela disse que sente muita falta de nós dois então recomendo que oriente o filho dela a visitá-la. 

— A mãe dele gosta de você. — Repeti aquilo na minha cabeça mais vezes do que eu queria. Acredito que meu olhar de desespero refletiu nos olhos da mulher em minha frente, pois ela sorriu abertamente. 

— Claro! Eu sempre conversei com Hye-jin e fui muito bem tratada por todos, mesmo sendo uma completa intrusa. Uma pena que não demos certo. 

— Sim, uma pena. 

Meu telefone tocou e minhas mãos trêmulas foram em direção a bolsa em cima da pia do banheiro. Tirei o celular dali de dentro e vi o nome do meu chefe na tela de bloqueio. Ele já havia ligado antes e eu não tinha escutado, pois havia uma ligação perdida. Então me apressei para atender. 

— Me desculpa, Lee. Fiquei enrolada com o senhor Almeida, mas já estou descendo. 

Tentei não dar tanta atenção a Júlia, tratei-a como uma colega de trabalho qualquer e dei-lhe um tchau breve enquanto me apressava para sair dali ouvindo meu chefe dizer ao telefone dizer que tinha ficado preocupado com minha demora. 

Embora o elevador continuasse trabalhando no seu ritmo normal, parecia que naquele dia ele havia resolvido ir com calma. A lentidão era o carma da minha ansiedade, pois tudo parecia caminhar em passos leves e tranquilos enquanto eu queria que as coisas fossem mais rápidas do que nunca. 

Quando as portas finalmente se abriram no primeiro andar, Lee surgiu em minha frente. Seus olhos estavam focados no elevador ao lado, mas logo tomei toda sua atenção.  

Ele estava charmoso como sempre, com seu terno cinza e camisa azul céu muito bem passados. Tinha aparado os cabelos recentemente, pois estavam mais baixos do que eu me lembrava e tinha uma boa quantidade de gel os segurando firmemente para trás. Ele colocou seu melhor sapato social preto e os olhos brilhavam cheios de um charme que ninguém conseguiria imitar.

— Nossa — disse meu chefe ao me olhar de cima a baixo com a expressão de um homem encantado. — Você está linda.

— Obrigada pelo vestido — falei, pois havia colocado a peça que tinham deixado em cima da minha cama pela manhã.

— Eu sabia que ele ficaria exuberante nessas curvas. —  Senti uma certa angústia ao ouvir aquilo, pois recordei que no dia anterior minha calça jeans já estava subindo com dificuldade pelas minhas coxas e isso queria dizer que as curvas haviam começado seu processo de mudança. Então me veio a insegurança, um suspiro escapou de mim ao sentir isso enquanto Lee franzia as sobrancelhas. — O que foi? 

— Eu ganhei peso esses dias. — Comentei. Os olhos do grande homem à minha frente se iluminaram. 

— Vem cá. — Ele estendeu a mão em minha direção e quando a segurei com firmeza, meu corpo girou e Lee me colocou de frente ao grande espelho do saguão. Seu corpo se pôs logo atrás de mim e ele aproximou a boca da minha orelha direita. — Está vendo aquela mulher? 

— Sim — respondi à sua pergunta.

— Ela é a pessoa mais incrível que eu já conheci em toda minha vida. É uma garota sagaz, divertida quando está bêbada, inteligente, astuta e desconfiada. Meu Deus como ela é desconfiada — ele sorriu quando deixei o riso escapar. Depois deu um suspiro gostoso no pé do meu ouvido. — Ela tem um sorriso lindo, um olhar marcante, um ar de mulher poderosa e eu estou louco por ela, mesmo que ela não me deixe dizer o que realmente parece que sinto. 

Olhei nos olhos de Lee através do enorme espelho e vi o brilho intenso cravado em seus orbes que soltavam faíscas do meu coração. Virei-me de frente para o grande homem na esperança de ter o mesmo vislumbre e para minha felicidade, seu olhar mantinha a intensidade. 

— Você está empenhado em me levar para cama hoje — brinquei e ele riu, mas seus olhos mantiveram o charme. 

— Nós não vamos transar essa noite, senhorita Guedes. 

— Que? Como assim não vamos?

O senhor Jung-suk apenas riu da minha expressão perplexa, mesmo que ela deixasse claro que eu queria uma explicação daquela história, mas ele se limitou a pegar em minha mão, numa tentativa de me tirar do prédio. 

Seu toque deu uma vibração boa em meu estômago e isso me fez recordar de suas palavras carinhos em frente ao espelho do saguão. Meus pés fizeram uma pausa quando um calafrio delicioso me percorreu e isso o fez parar de caminhar também, não o deixei ter tempo de perguntar, quando ele se virou para dizer algo, eu dei um passo para frente, ficando nas pontas dos pés para lhe arrancar um beijo rápido que acabou durando um pouco mais do que eu esperava, pois ele me segurou firme pela cintura para aprofundar nosso contato.

Ele sorriu ao se afastar de mim. Um largo sorriso abobado que me deixou sem ar.

— O que foi? — Perguntei-lhe e ele se inclinou em minha direção para dizer novamente aos sussurros em meu ouvido.

— Você me beijou na frente de muita gente da empresa. — Ao ouvir aquilo me recordei que ainda não tínhamos saído do nosso local de trabalho e minhas bochechas pegaram fogo quando olhei em volta e me deparei com diversos olhos curiosos em mim. Lee endireitou sua postura e deu um pigarro fazendo todos voltarem seus olhos aos seus afazeres. — Precisamos agilizar certas coisas, venha.

— Como assim? 

— Hoje não. Depois conversamos. Hoje nós vamos almoçar juntos, depois ir a sua consulta e então para casa, pois aprendi a fazer umas coisas na cozinha e quero cozinhar para nós.

— Interessante.

— Depois vamos assistir um filme e ir dormir.

— Até parece — brinquei e o grande homem me deu um sorriso singelo que me deixou intrigada, porém ele não respondeu a minha afronta, apenas segurou firme em minha mão e me tirou do prédio rumo ao nosso dia juntos.

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