Recebi a ligação do laboratório depois de ter comido oito colheres enormes de brigadeiro. Lee não soube se conter até o dia seguinte, logo tomou o telefone da minha mão para pedir que a médica nos aguardasse no consultório, pois logo chegaríamos. — Sabe… Eu não posso acreditar em como as coisas mudaram em poucos dias —, falei enquanto o via dirigir pela cidade em direção ao consultório. — Semanas atrás eu estava me afogando em lágrimas por causa de um babaca e hoje estou indo ao obstetra saber sobre a paternidade do meu filho.Lee estava tão nervoso que eu conseguia ver suas mãos apertando firmemente o volante e a todo instante ele dizia com todas as letras que aquele era só mais um exame bobo e que não tinha dúvidas de ser o pai da criança que eu estava carregando, só que mesmo sabendo disso, ele também dizia que não estava preparado para o impacto emocional que a confirmação iria lhe trazer.— Eu não quero que isso mude nada entre nós —, disse ele finalmente quebrando seu silêncio
Alguns dias depois, os pais de Lee chegaram à cidade vindos da Coreia. Eles não ficaram nada contentes ao me ver morando com meu chefe, pareciam desaprovar a noiva do filho desde o início, e a notícia da minha gravidez só piorava ainda mais a situação. Nosso primeiro jantar não foi exatamente o que eu havia pensado. Claro que eu não tinha previsto um conto de fadas incrível, mas jamais cogitei que teríamos uma discussão em meio a troca de pratos.Lee estremecia enquanto seu pai seguia dizendo o quão irresponsável seu filho foi ao engravidar uma qualquer e eu acho que a forma como me chamara foi o que mais incomodou o senhor Jung-suk, pois a cada insulto direcionado a mim, eu via os punhos fechados do meu chefe se apertarem mais a ponto de esbranquiçar sua pele de forma medonha.Quando a mãe de Lee insinuou que eu estava tentando reter seu filho por meio de uma gravidez, Lee bateu suas mãos contra a mesa pesada e o som percorreu toda a casa junto com um calafrio enorme que me subiu do
A 19° semana de gestação estava me deixando fora de controle. O estresse foi o maior dominador do meu ser e a fome era sua companheira. Precisei parar de usar meus anéis favoritos, isso porque meus dedos passaram a inchar constantemente e às vezes as argolas sufocavam minha circulação. Com os pés não foi diferente. Eles chegavam ao final do dia tão inchados quanto duas bolas de futebol. Em uma bela mãe de café, antes de ir para o trabalho eu e os pais de Lee estávamos à mesa comendo em silêncio — Já tinha duas semanas que aqueles dois iam e vinham da Coreia e se hospedavam na casa de Lee… minha casa, sem que fossem convidados. — E foi com a presença deles que eu tive um momento lindo. Coloquei um pedaço do bolo de frutas vermelhas na boca e enquanto mastigava senti um movimento incomum bem no canto inferior da barriga. Isso me fez pular na cadeira e ao ouvir o som do arrastar da madeira no piso de mármore, se misturando ao meu anúncio, Lee surgiu na escada com seus olhos arregalado
Despertei sentindo uma pequena pressão no braço. A voz de Lee ao lado de fora tinha a mesma potência de raiva de quando ele discutia com algum patrocinador no escritório e isso me fez revirar os olhos. Observei o local onde estava e me vi em um quarto de hospital bem diferente dos que eu geralmente ia. A pressão no meu braço continuava e algo percorria minhas veias parecendo me dar mais vitamina. Olhei em direção ao meu braço direito para saber o que seria e vi o acesso ligado ao meu organismo. Acompanhei o longo caminho que a mangueira fazia, até meus olhos encontrarem o soro próximo da minha cabeça. Isso me fez suspirar. Eu realmente havia passado mal por ver uma cena besta de um traste qualquer. Sentei-me na cama para me certificar de que eu já estava melhor e não me senti tonta ou enjoada naquele momento, então ousei tocar meus pés no chão para tentar encontrar minhas coisas. Porém, não vi minha bolsa em lugar algum. Dei outro suspiro pensando que o estúpido pai da minha bebê
Depois de duas semanas, eu estava na frente do computador da empresa em busca de apartamentos para morar. Eu queria algo simples com um bom valor e que pudesse ser confortável para duas mulheres. Ou para uma mulher e uma bebê. Muitas vezes durante os dias, eu pensei em voltar para a casa de Lee. Porém, depois de de tanto tempo distantes um do outro, ele parecia ter se esquecido da promessa de não desistir de mim. Mas estava tudo bem, afinal eu sempre soube que o amor avassalador o qual ele dizia sentir por mim, não era verdadeiro. Ao menos agora, isso era evidente. Estávamos entrando em um período agitado do ano. A emissora tinha que correr para elaborar os comercias de fim de ano junto as mensagens de agradecimentos aos telespectadores e isso tinha sempre um estresse gigantesco, pois precisávamos integrar toda essa correria com as programações dos eventos que aconteciam pelo país. Os festivais e principais shows, que por exemplo, aconteciam entre agosto e fim de novembro. Es
Estava se tornando desafiador ficar na casa de Ana. Embora tivéssemos tido muitos anos de convivência, a chegada de um bebê mudou as coisas. Antes, Ana saia e volta com seus parceiros, sem me incomodar. No entanto, a gravidez despertava o dom da queixa em mim. Já o tinha antes, mas agora me via chorona, cansada, inchada e irritada.Além dos gemidos noturnos, passei a enfrentar o barulho da obra no apartamento acima, inclusive aos sábados, pois alguém comprara os últimos andares na intuição de unificar os apartamentos. Para mim, parecia exagero, dado que o prédio originalmente tinha apartamentos únicos por andar, espaçosos o suficiente para uma família.Naquela manhã, os trabalhadores começaram cedo, às 7h30, interrompendo meu sono. A preguiça de levantar era tanta que recorri aos fones, abafando o barulho com música alta.Com a segunda-feira sendo feriado, teria três dias em casa para refletir antes de voltar à rotina de trabalho, sem a presença do senhor Jung-suk, uma boa notícia. Le
— Gosta mesmo dele —Ana disse assim que entrei. Meus pés foram acariciados pela pequena quantidade de água que já invadia nosso apartamento e eu pensei em como iríamos tirar aquela bagunça dali. — Acho que sim — confessei. — Então porque está tentando mantê-lo distante? — questionou-me ela e tudo o que fiz foi dar de ombros. — Lana, você sabe que aquela palhaça armou aquele beijo. Sabe que ele está louco por você e tem certeza que ele não sente mais nada pela ex. Então pra que lutar?— Nada disso importa, Ana — joguei as mãos no ar em um pedido para que ela parasse de falar naquilo e peguei o rodo para começar a tirar a água que tentava criar uma piscina em nosso apartamento. — Por que não?— Porque o beijo aconteceu mesmo com todas essas coisas e ver ele beijando outra doeu como se fosse extremamente importante para mim. Ana suspirou, me observando enquanto eu tentava lidar com a água que se infiltrava pelo nosso espaço. O silêncio entre nós foi interrompido apenas pelo som da á
Os gestos de Júlia durante sua conversa com Lee, eram capturados pela transparência da janela de vidro que formavam uma discussão silenciosa. A curiosidade me impelia a decifrar o que estava sendo dito naquele escritório, enquanto a tensão no ar sugeria que a reunião não era apenas uma formalidade rotineira.Cada movimento, cada expressão, traçava linhas invisíveis de qualquer coisa que escapavam à minha audição, mas que, de alguma forma, ecoavam em minha percepção. O escritório, antes um espaço familiar, transformava-se em um palco de intriga, com a conversa entre eles evocando questionamentos que se multiplicavam em minha mente.Enquanto a situação ia além, a sensação de estar à margem de algo crucial me envolvia. E tudo o que eu tinha era uma janela de vidro, em seu papel de silenciosa, como minha a única fronteira entre o que era dito naquele escritório e minha necessidade incessante de saber.A troca de olhares entre Lee e eu através do vidro da sala dele criava uma briga silenci