Fernando foi a uma cafeteria próxima da boate e aguardou o tempo para poder entrar e encontrar o seu amigo. Até aquele momento, não conseguia entender o motivo de ter aceitado o convite para conhecer uma de suas amigas, soava meio desesperado, pior do que entrar num site de namoro, não era fã de encontros desse tipo, mas, por consideração, resolveu topar. Lembrou-se da mulher da ponte, fazia muito tempo que não sentia uma atração tão forte e principalmente por alguém desconhecido. Tudo foi tão rápido que surpreendeu-se com o seu próprio comportamento, já que não era um homem impulsivo, ao contrário, era extremamente controlado. A visão da sua boca carnuda e vermelha, bem como dos seios, deixou-o excitado e acabou beijando-a sem que ela permitisse, aspecto que poderia até ser considerado como assédio. Balançou a cabeça tentando livrar-se dos pensamentos eróticos que povoavam sua mente, irritou-se pelo fato de não ter ido atrás dela, visto que possivelmente nunca mais a veria.
Já cansado de pensar, após algumas horas de espera, resolveu entrar na boate e encarar o seu encontro. A pista de dança estava simplesmente lotada, foi necessário atravessá-la, assim passou no meio de braços, pernas, bundas que se contorcem num louco frenesi e perdeu as contas de quantos beliscões e passadas de mãos indiscretas teve de suportar enquanto tentava cortar, como uma quilha, aquele mar de pessoas. Não gostava de aglomerações, na realidade odiava espaços lotados, parou irritado decidindo se ia ou não embora. Pegou o celular para enviar uma mensagem ao seu amigo, porém, ao levantar os olhos, mudou rapidamente de ideia pois, à sua frente, dançando de uma forma extremamente erótica, diria até pecaminosa, a misteriosa mulher da ponte. Fernando não acreditou! Aproveitou o fato de ela estar de costas e deixou os seus olhos passearem lentamente, por cada pedacinho de curva do seu corpo. Ela movia-se com tanta sensualidade que era praticamente impossível desviar o olhar, aquela dança era uma exaltação ao sexo.
Nesse instante, nem um minuto a mais e nenhum a menos, Mariana sentiu algo estranho e virou-se, esbarrando numa montanha de músculos. Levantou a cabeça assustada e deu de cara com o estranho da ponte. Segurou a respiração, processando rapidamente o que faria. As mãos dele tocaram a sua cintura e, como da vez anterior, puxou-a de encontro ao seu corpo de forma possessiva. Os olhos dele brilhavam, mas, agora, com um tom mais escuro que deixou Mariana novamente sem ar. O DJ fez o favor de contribuir com a situação colocando ‘Make it rain’, Ed Sheeran. Mariana sentiu um arrepio na espinha e afastou-se um pouco tentando absorver um pouco dele, em seus quase 1,90. Seus ombros eram largos e fortes, a barba por fazer delineando um queixo bem definido e másculo, lembrando um desses mafiosos de filme de ação, olhos verdes e grandes, eram intensos, e a pele morena, Jesus! Mariana tremeu, o homem é simplesmente o pecado em carne viva, daqueles que, mesmo sem falar, lhe faz perder a compostura e deixa o desejo à flor da pele. Mariana estava tão perto que podia ouvir os seus batimentos e quando ele sussurrou em seu ouvido, seus pelos, no caso todos os pelos do seu corpo, eriçaram, e uma sensação estranha que surgiu no meio das suas pernas foi se espalhando tipo como uma descarga elétrica, tomando conta de tudo.
— Quero dançar com você. — ele sussurrou.
Mariana piscou atordoada, o cheiro amadeirado de sândalo invadiu as suas narinas. Respirou fundo, olhou disfarçadamente para um lado e depois para o outro, buscando alguma forma de fugir daquela situação. Seu cérebro lhe alertava pedindo que corresse, pois estava em perigo, contudo seu corpo lhe traía, e ele, percebendo claramente a luta que se passava em sua cabeça, prendeu-a ainda mais. Mariana estava excitada e podia também sentir a dele através do volume na calça.
— Não. — conseguiu falar uma palavra, uma pequena palavra que não demonstrava força, mas dúvida. Foi uma tragédia total.
— Não? — ele perguntou com um sorriso no canto da boca.
— Quer dizer… não… desculpa, mas é que eu estou acompanhada! — deu uma risada boba, enrolando uma mecha de cabelo no dedo, assinando o atestado de idiota total.
— Eu não me importo.Ele não se importa? Que cachorro!
— Como? Não entendi? — a sua pergunta saiu tão fraca que teve medo de não ser compreendida.
— Eu disse que não me importo se você está acompanhada, continuo querendo você...digo, dançar com você.
Mariana colocou as duas mãos em seu peito e respirou fundo, enquanto ele começa a se mover no ritmo da música, a tensão sexual crescendo entre os dois.
— Por favor…
— Por favor, o quê? — murmurou ele, aproximando-se de seu rosto.
— Eu...eu preciso ir. — Mariana implorou.
— Então vamos.
— Não! Não com você!
— Mas se você for comigo vai ser melhor ainda.
Mariana estava encurralada, paralisada e queria fugir, mas também queria ficar. A excitação dele aumentou, a boca pousou em seu ombro e subiu lentamente por seu pescoço, deixando para trás um rastro de beijos, enquanto suas mãos acariciavam suas costas, subindo e descendo. Por fim, as suas bocas se encontraram num jogo de línguas erótico e sedutor. Mariana não saberia dizer por quanto tempo permanecem entrelaçados, pois sentia-se anestesiada.
— Nossa! — Ele gemeu. — Será que existe a possibilidade de você sair daqui comigo?
— Só nos seus sonhos. — Mariana conseguiu recobrar a lucidez. — De jeito nenhum! Olha, acho melhor pararmos!
Mariana juntou forças e o empurrou conseguindo libertar-se, deu meia volta para ir embora, saiu apressada buscando a segurança de suas amigas. Precisava fugir dali, pois, caso contrário, não se responsabilizaria por seus atos. Estava ofegante, trêmula e, principalmente, indignada consigo mesma. Não conseguia entender o que estava acontecendo, logo ela, a senhora razão e responsabilidade, que não cedia à tentação de envolver-se em relacionamentos. Tomou um susto com o aparecimento repentino de Luíza, enquanto caminhava até o bar.
— Amiga, o que foi aquilo?
— Ai! Você vive me assustando! Aquilo? Aquilo foi o idiota da ponte! — Mariana praticamente gritou com Luíza, tentando descarregar a tensão do seu corpo.
— Mariana, eu acho que de idiota ele não tem nada! Realmente é um gato! Minha nossa! É tudo o que você falou.
— Antes que você fale alguma besteira, pode ficar com ele. É todo seu! E, sim, eu percebi que ele é lindo!
— Tem certeza de que vai abrir mão dele, sem antes conhecê-lo? Acho melhor esperar para ver como a noite vai se desenrolar.
Luíza alfinetou e Mariana parou de andar, deu uma olhada discreta em torno, procurando o estranho, mas nem sinal dele. Cruzou os braços, olhando para Luíza que não parava de falar.
— Mariana, querida, adoraria acordar todos os dias com um deus desses espalhado na minha cama. Menina, esse homem veio ao mundo somente por um motivo.
— Tenho certeza de que você vai me dizer qual é. — afirmou Mariana.
— Dar prazer! Só de olhar para ele, o coração bombeia o sangue mais rápido.— abanou o rosto com as mãos.
— Luíza, posso falar? —Mariana estava começando a perder a paciência.
— É claro que pode falar.
— Luíza, você fala demais! Estou ficando tonta! Às vezes me pergunto se você está plugada na tomada 24h por dia! Já disse que você pode ficar com ele! Vamos parar?
— O que ele queria? — Luíza perguntou curiosa.
— Ele queria saber se existia a possibilidade de eu sair daqui com ele.
— O quê? E o que você disse?
— Disse que não existia a mínima possibilidade de isso acontecer.
— Mariana, você deveria ter saído daqui com ele e ido para algum lugar mais confortável, no caso o motel mais próximo. Imagina ele te jogando na parede e te chamando de lagartixa. Deus! Deve ser uma loucura!
— Não delira, Luíza!
— Você é muito sortuda! — deu uma cotovelada de leve em Mariana.
— Luíza, estou aqui boquiaberta e chegando à conclusão de que o seu tico e o teco não batem muito bem, é sério? Você percebeu que enquanto fala interpreta tudo, não é? — Virou Luíza na direção de uma mesa com dois homens que a devoravam com os olhos. — Está vendo aqueles dois senhores ali, a baba deles já chegou na Ásia.
Luíza deu uma gargalhada sonora e Mariana continuou a falar.
— Já decidi, vou te encaminhar para um psiquiatra, só pode ser algum transtorno de personalidade. Não se preocupe, que depois de 10 sessões de eletrochoque e uma penca de banana você fica curada.
— Mariana, estou chocada! — levou a mão ao peito dando um tom dramático. — Não sabia que era adepta à tortura de almas? Pensei que a sua visão fosse mais humanista.
— Não sou adepta à tortura, mas, no seu caso, vou abrir uma exceção. Quem sabe uma lobotomia, ou melhor, vamos voltar um pouco mais no tempo e usar a trepanação, para aliviar a pressão no seu cérebro.
— Trepana o quê? — Luíza perguntou aturdida. — Olha aqui, mocinha, deixa eu esclarecer uma coisa, há séculos indivíduos repressores, como você, tentam calar espíritos livres como o meu, mas já vou adiantando que um pássaro engaiolado, sempre foge.
— A história não é bem assim. Alguns são devorados por gatos e outros são eternamente perseguidos. Lembra do Frajola e do Piu-piu?
Luíza riu da referência.
— Mariana, você é muito neurótica! Vive tensa, estressada e com raiva de tudo! Vai deixar o Henrique te enlouquecer ainda mais? Vamos ver quem vai acabar numa camisa de força? — perguntou fingindo ingenuidade.
— Por que você falou no Henrique?
— Pra você entender que a vida continua, independente da existência dele. Esquece de uma vez o que ele fez.
— Você é engraçada, Luíza. Fica me dando lição de moral, sendo que você mesma não consegue superar as próprias angústias. O sujo falando do mal lavado.
— Não entendi! — exclamou Luíza.
— Não se faça de burra! Eu estou falando desse papel que você resolveu interpretar desde a morte do Miguel.
Os olhos de Luíza estreitaram.
— Resolveu navegar por mares perigosos? — perguntou Luíza. — Eu não interpreto nenhum papel!
— Interpreta sim!
— Não seja ridícula! Que papel você acha que eu interpreto?
— De femme fatale devoradora de homens! Você não é assim, está sofrendo há anos e não aceita ajuda.
— Nós não estamos conversando sobre mim, mas sobre você. Não mude o foco. — Luíza virou o rosto. — Então, sabe para onde ele foi?
— Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!
Luíza desatou a rir.
— Amiga, esse ditado só serve pra mulheres neuróticas.
— Você acabou de me chamar de neurótica, pela segunda vez, cuidado!
— Foi mesmo? Não lembro, acho que estou com problemas de memória, tadinha de mim! E afinal, por que não saiu com ele?
— Droga, Luíza! Eu não vou mais discutir com você!
Luíza ignorou e continuou.
— Com aquela tensão sexual inundando a pista de dança, é de admirar o seu autocontrole. Ele com certeza quer te pegar.
— Mas eu não quero! Principalmente porque não estou afim e porque estou acompanhada. — disfarçou o sorriso.
— Não está a fim? Conta outra piada, amiga! E de onde tirou essa ideia de que está acompanhada? — os olhos de Luíza brilharam. — Mentirosa! Mariana, você mentiu descaradamente! A sua cara não treme?
Mariana ignorou o comentário, deu as costas encerrando a conversa e foi até o bar, sendo seguida por Luíza, pediu ao garçom uma taça de vinho e tomou toda de uma só vez, o que foi um grande erro, pois lhe deixou mais quente do que nunca! Pediu outra taça e foi em direção à mesa onde Marcelo estava, enquanto Luíza esperava sua bebida.
— E então, Marcelo, já conseguiu acalmar o espírito da Vívian? Estou impressionada que você ainda esteja respirando. — riu.
— Eu também! — falou com um sorriso — Não sei porque essa raiva toda só por uns minutinhos de atraso.
— Minutinhos? Você atrasou mais de duas horas! — Mariana deu uma bela risada. — Tenho a impressão de que vai se tornar escravo dela, sem a mínima possibilidade de conseguir uma carta de alforria.
— Tudo bem, admito que atrasei, mas estou tentando me redimir. — deu um largo sorriso, olhando para a pista de dança onde Vívian estava dançando sozinha.
— E como você está? — perguntou Mariana, observando o olhar apaixonado de Marcelo para Vívian. Eles se conhecem há 6 anos e são almas gêmeas.
— Estou bem. Só trabalhando muito.
— Faz um tempão que não nos vemos. Pelo menos um mês, não é?
— Tudo isso! — exclamou Marcelo. — Minha vida anda meio agitada, o trabalho, a Vivian e o casamento têm consumido os meus dias.
Mariana riu descontraída.
— Imagino! Também estou trabalhando muito.
— Já abriu a clínica? Vívian me disse que pediu um empréstimo para fazer algumas reformas no espaço. Deu certo?
— Sim, foi um pouco difícil, mas consegui, ainda estou organizando tudo. É um lugar simples e ainda tenho poucos pacientes. Ah! Antes que me esqueça, estou fazendo um precinho camarada, se tiver alguém para me indicar, agradeço.
— Jura! E para amigos, também não tem um precinho camarada?
— Adoraria, mas não posso atender amigos, não é ético, mas posso atender algum amigo seu.
— Pode deixar, qualquer coisa te aviso.
— Então, como está o trabalho, Marcelo? Vívian disse que está com um novo sócio, é verdade? — perguntou Luíza, interferindo na conversa.
— O mercado de trabalho está dificílimo! A crise econômica no país parou todo o setor de construção civil, os projetos estão cada vez mais escassos. Conheço vários engenheiros e arquitetos que estão desempregados. Quanto ao sócio, sim, estou trabalhando com um colega de faculdade que retornou de Portugal há alguns meses, ele tem capital e resolveu investir. Iniciamos uma empresa juntos, as coisas ainda estão caminhando.
— Acredito que está complicado para todas as áreas. Além dos atendimentos, ministro cursos e dou assessoria na área de saúde e educação. — falou Mariana.
— Quando Vívian me disse que reformaria o espaço da clínica pensei que nos contrataria para fazer o projeto. — colocou Marcelo.
— Ainda não fiquei rica! Os seus projetos estão além das minhas posses, para conseguir dinheiro teria que vender um dos meus rins.
— Que nada, uma córnea é o suficiente! — brincou Marcelo. — Da próxima vez que for reformar, faremos um projeto dentro do seu orçamento.
Antes que Mariana pudesse responder, o homem que tinha lhe abordado na ponte e também na pista de dança aproximou-se e interrompeu a conversa. Mariana ficou vermelha, afinal o que ele estava fazendo ali? Estava lhe perseguindo? Ele mais uma vez parecia ler os seus pensamentos e lhe olhava nos olhos.
— Boa noite!
Nossa! O sorriso que ele deu poderia derreter um iceberg, deixando desabrigadas várias famílias de ursos polares, pensou Mariana, agitada.
— Fernando! — exclamou Marcelo com um grande sorriso, levantando-se para cumprimentá-lo. — Cara, pensei que não fosse mais aparecer!
Mariana tomou um gole de vinho para disfarçar o nervosismo. O coração voltou a bater rápido, taquicardia talvez, precisava marcar um cardiologista, pensou ansiosa. Quando a abordou, na ponte e na pista de dança, não havia observado suas roupas, mas agora, de onde estava, a visão era sublime. Ele vestia uma camisa azul escura, com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, com os primeiros botões abertos, deixando à vista uma pequena amostra do seu peito. Um pouco mais abaixo, via-se um jeans despojado que marcava a sua virilha. Quando Mariana levantou o rosto encontrou um par de olhos fixos nela, com um maldito sorriso de canto, como quem pergunta se ela está gostando do que vê. Virou o rosto envergonhada e ele voltou o olhar para Marcelo.
— Eu cheguei cedo, mas resolvi dar uma volta na ponte dos ingleses, fazia muito tempo que não ia lá. — enquanto falava, Fernando deu outra olhada para Mariana que mantinha o rosto virado, tentando ignorar a sua presença. Não estava acreditando no que via, não era o tipo de pessoa que acreditava em destino, ao contrário, era muito cético, mas começava a mudar de ideia.
— Muito prazer, homem da ponte e da pista de dança! — brincou Luíza estendendo a mão. — Coincidência, não?
Fernando levantou a sobrancelha, apertou a mão de Luíza com uma expressão curiosa, mas não respondeu. Luíza olhou para Mariana e como sempre não segurou a língua.
— Olha, Mariana, que coincidência, outra pessoa, assim como você, que gosta de ficar parado feito uma estátua, olhando para a imensidão do mar.Pronto! Agora ela fechou com chave de ouro! Mariana beliscou a perna de Luíza por debaixo da mesa, que revidou dando um tapa em sua mão. Marcelo virou-se para apresentar o seu amigo formalmente às duas.
— Fernando, deixa eu te apresentar duas amigas queridas, Luíza Sampaio, que já se apresentou, e esta é a Mariana Guedes. — estava ficando louca ou Marcelo deu ênfase ao seu nome. — Meninas, esse é o Fernando, colega de faculdade, grande amigo e atualmente o meu sócio. — ambas o cumprimentaram.— Fernando, senta e fique à vontade. Antes de você chegar, eu pretendia levar uma bebida para a Vívian. — comentou Marcelo.
— Onde ela está? — perguntou Fernando.
— Na pista de dança, tenho que mimá-la até o fim dos tempos.
— Por quê? — perguntou Fernando curioso.
— Só porque atrasei alguns minutos!
— Você chegou duas horas atrasado, Marcelo. — reclamou Luíza.
— Que seja! — virou-se para Fernando — Amigo, as mulheres sempre têm razão, lembre-se disso! Meninas, cuidem do meu amigo, volto daqui a pouco. — deu uma piscada de olho e saiu.
Luíza como sempre muito atirada logo respondeu:
— Pode deixar com a gente! — trocou de lugar e sentou-se ao lado de Fernando.
— Então, Fernando, o que você quer beber? — perguntou Luíza jogando todo o seu charme.
— Vou pedir um uísque, mas não precisa se preocupar. — Fernando acena para o garçom que rapidamente o atende.
— Há quanto tempo conhece o Marcelo? — Luíza começou a dar uma de detetive.
— Desde a faculdade, há uns 16 anos, se não estou enganado.
— Que legal! Vocês são amigos há muito tempo. Marcelo disse que você voltou de Portugal, é verdade? O que fazia lá? — continua Luíza, assumindo o papel de detetive particular.
— Luíza! — Mariana chamou a sua atenção.
— O que foi? Só fiz uma pergunta, quer dizer, duas.
— Tudo bem, eu respondo. — falou Fernando sorrindo. — Eu trabalho para uma grande empresa de arquitetura. Como temos uma filial aqui, fui enviado para ver alguns projetos.
— E você, Luíza, o que faz? — Fernando perguntou.
— Sou designer de moda.
— Que interessante, não deve ser nada entediante, não?
— Com certeza! A liberdade de expressão é o que mais me seduz nessa profissão. A palavra censura para mim não existe. — colocou a mão na coxa de Fernando e foi subindo lentamente até o momento em que ele tocou sua mão, impedindo-a de chegar aonde queria. Mariana olhou para Luíza balançando a cabeça, tentando colocar um pouco de juízo em sua cabeça, pois havia passado dos limites, mas ela não lhe deu atenção. Aproveitando a situação, um tanto constrangedora, Fernando virou-se para Mariana.
— E você, Mariana, trabalha com o quê?
Nossa! O seu nome realmente soava melodioso na boca dele.
— Sou psicóloga. — falou de maneira seca, esforçando-se para demonstrar falta de interesse.
— Psicóloga! Mas você não é daquelas que fica analisando todo mundo o tempo todo não, né?
— Somente se for necessário.— respondeu ao comentário petulante.
— Fernando, você não quer dançar? — perguntou Luíza interrompendo a conversa.
— Desculpe, Luíza, no momento, prefiro beber e conversar, se não se importa? — Fernando não tirava os olhos de Mariana.
Luíza olhou para os dois e finalmente entendeu a mensagem. Levantou-se decepcionada.— Muito bem, crianças! Vou dar uma volta e depois retorno.
— Para onde vai, Luíza? — perguntou Mariana com um olhar suplicante.
— Vou dançar em campos mais férteis. — piscou e saiu, perdendo-se no meio da multidão.
Fernando, agora sem nenhuma testemunha presente, sentiu-se mais à vontade.
— Então, Mariana, estou muito intrigado com você.
—Por que queimaria os seus neurônios ficando intrigado comigo? — perguntou insolente.
— Porque fugiu de mim, duas vezes, e onde está o seu, como você disse, acompanhante? Então, onde ele está? — perguntou Fernando com um sorrisinho cínico.
— Eu não fugi, agora, venhamos e convenhamos, você foi bem invasivo, não acha? Me abraçar e beijar sem ter permissão.
— Quer dizer que não gostou nem dos abraços e muito menos dos beijos?
— O que você acharia se uma mulher te abraçasse e te beijasse sem pedir permissão?
— Se essa mulher fosse você, eu simplesmente adoraria. — respondeu sorrindo.
— Você é muito cínico, sabia?
— E você fica linda quando está irritada! Agora, voltando à história do beijo, tive a nítida impressão de que você retribuiu.
— Não retribuí!
— Retribuiu sim, mas se você quer negar é um direito seu.
— Nossa, você é tão convencido!
Mariana levantou-se, mas Fernando segurou o seu braço.
— Nós ainda não terminamos de conversar, e o seu namorado, onde ele está?
— Não é da sua conta!
— Por que está tão nervosa?
— Eu não estou nervosa! Olha, se você quer tanto saber onde meu namorado está, vou te falar. Ele saiu já faz algum tempo e até agora não retornou, mas deve estar por aí dançando e bebendo. — respondeu sem olhar diretamente para Fernando, que deu uma gargalhada gostosa.
— Nossa! Como você é desprendida! Seu namorado está por aí, bebendo, dançando, talvez beijando outra mulher e você aqui, firme, uma rocha, sem nenhuma gota de ciúme. — fitou-a por um tempo. — Ou, então, está mentindo para mim descaradamente!
— Temos um relacionamento aberto e tem mais, quem lhe deu o direito de me chamar de mentirosa?
— Relacionamento aberto? — Fernando levantou e sentou ao lado de Mariana, encostou-se na cadeira e olhou-a com intensidade pegou uma de suas mãos e levou à boca para beijar. — Se você fosse minha, jamais compartilharia com outro homem. — Mariana puxou a sua mão e ajeitou os cabelos atrás da orelha tentando disfarçar o nervosismo que a proximidade dele causava. Fernando franziu a testa e pensou que talvez estivesse indo rápido demais, o que com certeza a assustava.
— Então, com que direito me chama de mentirosa? — Mariana desconversou.
— Quem me autorizou a chamá-la de mentirosa foi você mesma.
— Não entendi? — fingiu-se de boba.
— Você mentiu dizendo estar acompanhada só para me dispensar, mas eu vou ser generoso e dizer, digamos, que omitiu o fato de não ter um namorado.
— Como você é eficiente! Por acaso é algum especialista em detectar pessoas mentirosas? A Polícia sabe dessa sua habilidade?
Fernando não se controlou e deu uma gargalhada.
— Você realmente é muito interessante!
— Então, você é assim tão habilidoso em todas as áreas?
— Depende.
— Depende do quê?
— De qual área você está falando? Profissional ou sexual? — insinuou-se. — Você precisa ser mais específica, dessa forma, a minha resposta pode ser bem mais objetiva e esclarecedora.
Fernando estava se divertindo às custas de Mariana que resolveu não lhe dar mais munição.
— É claro que é a área profissional. — falou em tom irritado.
Fernando sorriu com olhos travessos e resolveu continuar com a brincadeira, pois ela realmente fica linda irritada.
— Ah, eu sou muito eficiente e, até hoje, não recebi nenhuma reclamação. Sou muito requisitado.
— Imagino! Então, talvez o seu problema seja excesso de competência, não acha?
— Excesso de competência?
— Pessoas extremamente competentes tendem a ser autoritárias, ansiosas, individualistas, narcisistas, enfim, o ego é tão grande que não cabe dentro de si.
— Análise interessante. Isso tem base científica ou é material colhido no senso comum?
— Tão lindo, você!
— Obrigada, Tulipa, mas estou aqui pensando, você fez essa análise da minha personalidade só conversando comigo nesses… o quê? — olhou para o relógio de pulso — Cinco minutos? — voltou a se aproximar de Mariana, que não moveu um músculo — Sinto lhe decepcionar, você chutou, mas a bola bateu na trave. Eu não sou egocêntrico, nem individualista, muito menos ansioso e autoritário, mas sou muito, muito determinado e quando quero algo, só paro quando consigo.
— E esse comportamento vale para tudo, inclusive mulheres?
— Sim, principalmente, mulheres.
— Então, as mulheres para você são meros objetos sexuais.
— Eu não disse isso, essa foi a sua interpretação.
— Sim, mas se somarmos um mais um o resultado é igual a objeto sexual. É assim que os homens pensam.
— Você está generalizando, nem todos os homens são assim. — Fernando parou para observar a expressão de dor que surgiu em seu olhos. — Quem magoou você desse jeito?
— Quem me magoou? O fato de eu acreditar que os homens tratam as mulheres como objetos sexuais não significa dizer que eu fui magoada. Você está completamente enganado. — Mariana segurou a emoção, pois ele acertou em cheio, porém não deixaria nada transparecer, assim continuou no jogo. — Não esperava que concordasse comigo, ainda está na fase da negação.
Fernando entendeu a mensagem.
— Estou em fase de negação? Tem certeza?
—Absoluta! Até você chegar à fase da aceitação, o caminho é longo e tortuoso.
— Muito bem! — Fernando recostou-se na cadeira e olhou fixamente para Mariana. — Temos um problema aqui, como vamos resolver?
— Não temos nada para resolver! — Mariana deu uma risadinha.
—Não, senhorita! É claro que temos! A sua descrição da minha personalidade é completamente equivocada. Calúnia é crime.
Mariana não conseguiu mais se controlar e começou a rir.
— Eu não te caluniei, só fiz uma pequena leitura da sua personalidade com os dados que me forneceu.
Antes que Fernando pudesse responder foram interrompidos por um homem, visivelmente embriagado, que puxou Mariana pelo braço.
— O que é isso? Me solta! — gritou assustada.
— Vamos comigo para a minha casa! — o homem não lhe deu ouvidos, arrastando Mariana. Fernando já estava em pé e posicionou-se na frente do bêbado.
— Solta ela! — falou de forma ameaçadora.
— Cara, sai da minha frente! — rugiu o bêbado empurrando Fernando.
— Mandei você soltá-la!
Fernando falou com um tom ainda mais ameaçador, dessa vez, com os punhos cerrados. O homem soltou Mariana e tentou esmurrá-lo que, agilmente, se afastou, deixando-o cair em cima da mesa à sua frente. Com o estrondo, algumas pessoas gritaram e pararam para ver o que acontecia.
— Você está bem? — perguntou Fernando aproximando-se de Mariana, que parecia em transe. Segurou-a pelos ombros e deu uma sacudida leve, fazendo-a voltar à realidade.
— Você falou? Desculpa! — Mariana estava tão chocada que não conseguia desviar os olhos do homem, que tentava se levantar com dificuldades.
— Perguntei se você está bem. Está tremendo. — aproveitou e massageou os seus braços.
— Eu, eu… acho que estou bem. Cuidado! — gritou novamente e colocou as mãos no rosto. O homem levantou e tentou bater novamente em Fernando. A cabeça sangrava e os olhos eram de puro ódio.
— Vou matar você! — avançou em direção a Fernando, mas foi impedido de agredi-lo por dois seguranças que o agarraram, arrastando-o aos berros para fora da boate. Foi uma cena deplorável.
— Ei! — Fernando levantou o seu queixo, passando o polegar delicadamente. —Tudo bem? Parece que o seu namorado resolveu aparecer, não é?
Mariana olhou sem entender para Fernando, então deu uma risada nervosa.
— E você me chamou de mentirosa.
— Pois é, nunca mais duvido da sua palavra. Pode ter certeza!
Vívian, Luíza e Marcelo apareceram preocupados.
— O que foi aconteceu? — perguntou Marcelo aturdido.
— Gente, que loucura foi essa? — Luíza perguntou apavorada.
— Não sei, foi tão rápido e tão louco! — respondeu Mariana ainda confusa.
Enquanto Fernando explicava tudo para Marcelo e o gerente, que veio pedir desculpas pelo incômodo da situação, Mariana foi ao toalete, sendo seguida por Vívian e Luíza. Antes que elas perguntassem o que havia acontecido, Mariana começou a chorar.
— Gente, eu me senti na época das cavernas, sendo arrastada por aquele homem, só faltou o tacape.
— Afinal, o que ele queria? — perguntou Vívian ajudando Mariana a limpar o rosto.
— Queria que eu fosse pra casa com ele! Pode? — deu uma risada trêmula.
— Nossa! Imagine se estivesse sozinha? Você quer ir embora? — perguntou Luíza. — Por mim tudo bem.
— Por mim também. — falou Vívian.
— Não, eu estou bem. Já tiraram ele do bar, não foi? Não vamos deixar essa situação estragar a nossa noite.
— Os seguranças colocaram ele para fora. Acredito que também tenham chamado a polícia. — falou Vívian. — Você vai querer ir na delegacia e fazer um boletim de ocorrência?
— Não, não quero, eu sei que deveria, mas vamos esquecer e terminar de aproveitar a noite. — disse Mariana.
— Tem certeza? — perguntou Luíza.
Mariana balançou a cabeça positivamente.
— Muito bem! Então, estraga essa maquiagem e fica muito feia, que é para ver se voltamos para casa vivas. — brincou Luíza.
— Eu sabia que você não ia perder a piada, não é? — deu um empurrão leve no ombro de Luíza. — Boba, você!
— Perco a amiga, mas não perco a piada! Vamos que eu ainda não dancei o suficiente e nem agarrei a metade dos homens que eu quero!
Ao retornarem à mesa, tudo estava tranquilo, nem parecia que havia tido uma confusão.
— E então, está tudo bem? — perguntou Fernando à Mariana.
— Estou, vamos torcer para que o resto da noite seja normal. — respondeu Mariana.
— No que depender de mim será. — Fernando a tranquilizou, olhando-a com carinho.
A conversa continuou noite adentro tranquila e divertida. Fernando tinha uma risada linda e empolgante, Mariana não admitiria às suas amigas, mas sentia-se atraída por ele, todavia sabia que não levaria nada adiante, talvez sexo casual e nada mais. Retornou de seus pensamentos ao ouvir o comentário de Luíza.
— Você é muito engraçado! Não me parece o tipo de homem que fica sozinho por muito tempo. Então, é um solteiro por opção? — perguntou Luíza interessadíssima em tudo o que Fernando dizia.
— No momento, estou solteiro por opção, sim. — Fernando respondeu de forma tranquila.
— Você está diferente, Fernando! De acordo com Marcelo, antes você tinha uma namorada para cada dia da semana. O que foi que aconteceu? — perguntou Vívian.
— Que exagero, Marcelo! As meninas vão pensar que sou um mulherengo descontrolado!
— Não acho que seja mulherengo, acredito que esteja à procura do grande amor da sua vida, estou enganada? — perguntou Luíza empolgada, movendo os cílios de forma sensual.
Fernando não respondeu e Mariana aproveitou para entrar na conversa.
— Então, você realmente não tem ninguém? — perguntou Mariana.
— Por que é tão difícil de acreditar? — Fernando devolveu a pergunta, olhando-a com aquelas íris esverdeadas lindas.
— Não seja sonso! Sabe que é um homem bonito. — brincou Mariana.
— Sou? — perguntou num tom interessado. — Por que é tão difícil de acreditar? Muitas pessoas passam um bom tempo sem ter relacionamentos.
— Vamos lá, Fernando, confesse que tem nem que seja uma ex-mulher. — brincou Luíza.
Marcelo olhou discretamente para Fernando, que adivinhou seus pensamentos, e tentou mudar o tom da conversa.
— Não posso confessar nada! — levantou as mãos em tom de defesa. — As coisas estão bem difíceis pra mim! — falou com uma expressão divertida. — Todos os dias coloco o seguinte anúncio no jornal: solteiro, boa pinta, charmoso, 36 anos, procura a mulher da sua vida. — deu uma piscada com um risinho.
— Gostei do anúncio, porém, se acrescentar que lava, passa e cozinha, alguém aparecerá rapidinho. Ah, e se tirar uma foto com um bebê e um cachorro, vai chover mulher na sua horta. — completou Mariana rindo.
— Olha, você é bem criativa! Vou te contratar! Você é boa para agenciar, devia largar a psicologia. — comentou Fernando.
— De jeito nenhum! Nem pensar! — exclamou Mariana.
Fernando parou um instante e olhou para Mariana, desejando que todos à sua volta sumissem, principalmente, Luíza que parecia estar interessada nele. Já perdera a conta de quantas vezes as pernas dela roçaram nas suas, por debaixo da mesa. Estava muito interessado em Mariana, a sua personalidade forte, a forma como se irritava quando a provocava e o desejo estampado em seu rosto e, principalmente, a chama que ardia em seu corpo o impulsionava a ir adiante. Precisava dela e faria qualquer coisa para conquistá-la. Infelizmente seus pensamentos foram interrompidos por Marcelo.
— Fernando, vou dar uma saída para fumar. Você vem comigo?
— Sim, vamos aproveitar e falar um pouco sobre trabalho.
Na realidade, Fernando queria uma nova oportunidade de ficar a sós com Mariana de beijá-la e senti-la novamente em seu corpo, mas decidiu sair e conversar com Marcelo, adiando por um tempo seu desejo.
— Gente, quando vocês vão acabar com esse vício horroroso? — perguntou Vívian.
— Tudo no seu tempo, meu amor. — falou Marcelo dando um beijo em sua cabeça.
Quando os dois já estavam longe, Vívian deu um olhar matador para as duas.
— Vocês duas estão disputando o Fernando?
— Não! — Luíza e Mariana responderam ao mesmo tempo.
— Pois acho que estão! Meninas, vamos esclarecer as coisas, nós somos amigas! Então, não quero saber de briga por causa de um homem, mesmo que ele seja lindo de morrer, como o Fernando, ouviram?
— Vívian, eu não estou interessada no Fernando. — mentiu Mariana. — Agora, não posso responder por Luíza. Então, se vocês me derem licença, vou dar uma volta para desanuviar a minha mente.
— Luíza? — indagou Vívian.
— Na realidade, estou só um pouquinho interessada. — alertou Luíza.
— Um pouquinho que pode desencadear a terceira guerra mundial, não é? — Vívian perguntou irritada.
— Gente, estou saindo. — Mariana virou-se para Luíza.— Façam o que quiserem!
Mariana levantou, mas parou ao ouvir o seu nome. Virou-se tentando identificar de onde vinha o chamado.
— Paulo! Que coincidência! — Mariana exclamou sorrindo.
Paulo foi em sua direção e a abraçou.
— Muita coincidência, com certeza! Está sozinha? — perguntou Paulo.
— Não, estou com alguns amigos.
— Mariana, não vai nos apresentar? — interrompeu Luíza.
— É claro que vou, Luíza! — fuzilou-a com o olhar. — Paulo, essas são Luíza e Vívian, duas grandes amigas.
— Muito prazer! — Paulo as cumprimentou, estendendo a mão.
— Paulo é o meu companheiro de academia, nós dançamos juntos.
— Interessante! Talvez eu faça uma aula teste para saber como é. — falou Luíza demonstrando interesse.
— Acho que também vou qualquer dia desses. Deve ser super relaxante. Mariana adora! — comentou Vívian.
— Apareçam! Vocês vão gostar muito! — Paulo virou-se para Mariana. —Então, vamos nos acabar no dancing? — estendeu a mão e ela prontamente a pegou, caminhando para a pista de dança. Depois que se afastaram, Vívian se virou para Luíza.
— Você está fazendo de novo, não é? Parece criança!
— Fazendo o quê? — perguntou, fingindo ingenuidade.
— Dando em cima de todo homem que demonstra interesse por Mariana, no caso Fernando e agora esse último, o tal do Paulo.
— Eu? Que injustiça! Só estou sendo simpática! Vívian, você conhece a Mariana, ela não quer nenhum relacionamento sério, eu só estou ajudando. Quanto ao Fernando, gostaria de me defender deixando claro que ela deu ele de bandeja para mim!
— Deixa de ser sonsa, Luíza! E desde quando você quer um relacionamento sério? Eu também te conheço e sei que você faz isso só para provocar. Seu discurso não cola, então não me tome por idiota! — falou Vívian irritada.
— Vívian, no amor e na guerra vale tudo, então, que vença a melhor. — Luíza saiu e não deixou Vívian falar mais nada.
Vívian não gostava desse sentimento de competição que Luíza nutria com relação à Mariana. Não era a primeira vez que isso acontecia, balançou a cabeça e suspirou cansada. Quando pensava em ir dançar, trinta minutos depois, Marcelo e Fernando retornaram.
— Então, meu amor, sentiu a minha falta? — perguntou Marcelo.
— É claro que sim! O cigarro foi rápido, hein? Espero que o câncer também. — respondeu Vívian.
— Engraçadinha, você! — comentou Marcelo. — Eu não vou ter câncer.
— Se você parar de fumar, com certeza não vai ter, mas, se insistir nesse vício maldito, não ponho minha mão no fogo.
— Vívian, às vezes você é tão exagerada!
— Marcelo, acho melhor não aumentar a sua dívida comigo, porque posso deixá-lo de castigo a semana inteira.
— Como assim de castigo?
— Sem beijinho, sem sexo…
— Se fizer isso me enterro numa clínica psiquiátrica! Não vai querer que eu surte, não é?
— E eu que sou exagerada?
— Gente, desculpa interromper esse momento de afetividade, mas onde está a Mariana? — perguntou Fernando.
— Ela saiu para dançar, com um amigo, há uns trinta minutos atrás. — respondeu Vívian.
Fernando não gostou nem um pouco do que Vívian falou. Mariana resistia homericamente às suas investidas, mas, nesse exato momento, dançava com outro homem. A ideia de vê-la nos braços de outro não foi muito bem digerida por ele.
Paulo e Mariana, eram parceiros de dança há um bom tempo, já saíram juntos algumas vezes, mas só para curtir. Ao chegar na pista de dança, o DJ colocou ‘Diamonds’, Rihanna. Paulo adorou e puxou-a pela cintura, mas parou para afastar os seus cabelos do rosto, e encostou o queixo em seu ombro, mas não sem antes beijá-lo. — Paulo, por favor, nós somos amigos, só isso! — reclamou Mariana. — Você não pode culpar um homem por tentar, não é? — Posso, principalmente porque esse homem já foi avisado de que não existe a mínima possibilidade de termos algo sério. — Tudo bem! Então vamos só curtir o momento, certo? — É c
Mariana abriu a bolsa, procurando a chave para abrir a porta, sua mão tremia ao colocá-la na fechadura. Fernando sorriu, achando a sua reação deliciosa e provocante. Pôs sua mão sobre a dela e ajudou-a a girar a chave. Mariana sentia-se pueril, como se fosse perder a virgindade, estava estranhamente nervosa, e seu corpo não apresentava resistência nenhuma às investidas de Fernando, ao contrário, lhe impulsionava em direção ao prazer. Acendeu a luz, jogou a bolsa no console ao lado da porta, suspirou, agora não tinha mais volta. Caminhou até o som, permanecendo de costas, e colocou ‘Caught out in the rain’, Beth Hart. Parou um instante e deixou a música subir lentamente pelo seu corpo, envolvendo-a numa nuvem de tesão, erotismo e luxúria. Fernando percebeu seu nervosismo, o tremor e os suspiros que ressaltam um cer
Mariana acordou com um gosto estranho na boca e o mundo girando. Nunca mais na vida beberia! Espreguiçou-se um pouco, aproveitando o macio da cama e quando esticou o braço tocou num peito forte e musculoso. Tateou um pouco mais e virou imediatamente a cabeça, dando de cara com um corpo inteiro pelado em sua cama. Tomou um grande susto! Escorregou devagarinho até a beirada da cama e levantou em silêncio, relembrando o que havia acontecido e quanto mais lembrava, mais ficava vermelha. Ao levantar a cabeça, viu que Fernando havia acordado, e olhava-a com cobiça e desejo, adorando o fato de ela estar nua. Conseguiu desviar do olhar, procurando rapidamente por algo para se cobrir e pegou uma toalha minúscula jogada na poltrona ao seu lado. Nesse instante, ouviu a voz rouca e melodiosa de Fernando. — Bom dia! Por que o repentino pudor? — perguntou com um largo sorriso. Mariana não respondeu e olhou
Mariana entrou no carro e ao chegar à rua, observou que o tempo estava nublado, torcia para que não chovesse, mas, na hora em que parou de pensar, começou a chover. Para completar, a chuva veio com o pacote completo: trovão, vento e raio. Estendeu a mão para conectar o celular e colocar uma música para relaxar um pouco, pois o caminho seria longo, quando, de repente, o carro parou de funcionar. Brincadeira! Estava distante de casa e não podia voltar a pé e pedir ajuda. Ligou para Luíza, depois para Vívian e nenhuma das duas atendeu o telefone. Encostou a cabeça no volante e pensou no inconveniente da situação. Ligou a sinaleira e a loucura atrás do seu carro foi geral, nunca ouviu tanta buzina. A sorte é que o carro parou próximo da calçada, assim não atrapalha tanto o trânsito. Resolveu se acalmar e ligar para o seguro, o jeito seria esperar. Depois de duas horas e muita chuva, o seguro apareceu e levou o carro. Agora, a maratona seria conseguir um t
Mariana adorava a cafeteria da Dália, os cafés eram maravilhosos e o espaço muito aconchegante, com uma decoração rústica e o grão moído na hora. Pediu um cappuccino, afinal, em todo drama um café é sempre bem-vindo. Sentou-se numa mesinha próxima da janela, para continuar vendo a chuva, o dia realmente tinha um tom bucólico. Observou o trânsito através da janela de vidro embaçada, a cidade mergulhada no caos. Se Luíza estivesse presente, com certeza perguntaria que filme faria referência a esse dia chuvoso, só para irritá-la. As pessoas fugiam da chuva como quem foge da própria sombra, escondem-se dentro das lojas, debaixo das bancas de revistas ou em minúsculas sombrinhas. O mundo girando rapidamente e ela mergulhada em suas lembranças. Considerava-se uma pessoa sem expectativas para o amor, contudo Luíza e, principalmente, Vívian não compreendiam e continuavam a lhe apresentar um pacote de homens que não acabava nunca. Escutou
Mariana pulou da cama atrasada! Esperava que o dia fosse mais tranquilo. O seguro ligou avisando que o carro só ficaria pronto no final da tarde, então, Uber de novo! Iniciou os atendimentos às 8h em ponto, receberia um novo paciente, às 9h, assim tirou cinco minutinhos de intervalo para tomar um café, mas teve que mudar de ideia, pois ouviu um burburinho na recepção e abriu a porta para ver o que era, deparando-se com um buquê de tulipas brancas. — A senhora é a Dona Mariana? — Sim, sou eu. — Confirmou. — Essas flores são para a senhora, assine aqui por favor. Recebeu as flores e assinou o comprovante. Entrou na sua sala seguida por uma trop
Acordou com o barulho do despertador que mais parecia um congo ecoando dentro da sua cabeça. Eram 9h da manhã e Mariana não estava nem um pouco empolgada para ir trabalhar. Ligou para a clínica e pediu para sua atendente remarcar os seus pacientes para o dia seguinte. Laura quase pirou, pois, de acordo com ela, não teria como encaixar tantos pacientes no mesmo dia. Desligou o telefone e deixou o pepino para ela resolver. Quando finalmente saiu do quarto, não encontrou as meninas. Tomou café e voltou para a cama. Rolou para um lado e para o outro, levantou, arrumou suas gavetas, leu, analisou alguns artigos, almoçou e quando deu por si já eram 18h. O celular tocou, era o Pedro. — Mariana, sou eu o Pedro. — Eu sei, reconheci a sua voz. — Você está melhor da enxaqueca? Mariana despertou assustada, como se alguém estivesse lhe observando. Olhou em volta, a porta estava fechada e silêncio total. O sono sumiu completamente, então, resolveu levantar e tomar um banho. Abriu a porta do quarto e caminhou em direção à cozinha, exatamente no momento em que Luíza saía do quarto. — Bom dia, Mariana! Quer dizer que perdi todas as chances, não é? — Bom dia! Não estou entendendo?— respondeu Mariana. — Querida, depois daquela demonstração de posse de ontem, resolvi tirar o meu cavalinho da chuva. — deu uma risada. — Então, como foi a sua noite? Tive a impressão de que ouvi uns gritos e gemidos, não? — Luíza! Será que você sempre tem que ser desagradável? Se você ouviu, sinto muito, ok? Agora, eu gostaria que você não saísse colocando Capítulo 10 - O pecado dorme ao lado