Troféu De Decepções

Era a primeira vez que ficava tão próxima de um corpo feminino que não fosse o seu próprio. Aquele era o patamar mais alto que conseguira atingir. Gabrielle só havia visto outras mulheres nuas quando tomava banho com as companheiras de luta nos vestiários das academias de treinamento. Não por falta de interesse do outro lado, muito pelo contrário, Gabrielle era o sonho de muitas garotas a quais esbarrou ao longo de sua vida.

Ela arrancava suspiros por onde passava. Porém, seu foco sempre fora os ringues e nada além disso. Sim, era difícil de acreditar mas Gabrielle Saturno era virgem aos dezoito anos.

No chuveiro ela evitava os olhares de desejo e fingia que nada estava acontecendo. Não dava muita bola para aquilo tudo. Porém, a tendência homossexual ficava guardada a sete chaves no fundo do oceano.

A lutadora não gostava de rapazes, mas também tinha vergonha de investir em alguma garota. Ao dezesseis anos, ela deu seu primeiro beijo, Bianca era o nome da felizarda, e fora o momento mais caótico de sua vida. Logo depois vieram as outras garotas, seis no total. Uma mais problemática do que a outra e da falta de sanidade, já bastava Gabrielle. Então, preferiu se concentrar em outras coisas e deixar essa história de relacionamento de lado.

A japonesa percebeu que Gabrielle estava demorando mais que o suficiente em sua coluna, e moveu o corpo pra frente para fugir da investida:

- Já é o bastante - disse ela, levantado as alças do vestido.

Gabrielle corou de vergonha na mesma hora, por sorte a moça ainda estava de costas virada pra ela:

- Ah.. A.. - gaguejou a lutadora - espero que você se recupere logo.

- Preciso limpar essas manchas de sangue do vestido. Onde tem um banheiro por aqui?

- É naquela porta a esquerda. - apontou Gabrielle.

- Ok. - A japonesa entrou no banheiro, trancou a porta e se olhou demoradamente no espelho. Nisso começou a chorar copiosamente.

O pranto que ela havia abafado por estar na presença da brasileira. Seu choro não era por causa das feridas ou por causa das dores físicas mas pelos motivos que ela fazia questão de esconder de qualquer um.

Logo ela fundiu as lágrimas com a água da pia ao lavar o rosto. Secou com uma toalha que estava pendurada a sua frente. Olhou para o seu reflexo por mais alguns minutos o seu reflexo e saiu para voltar a sala. Ela parou metros na porta quando viu um troféu esculpido artesanalmente com uma lutadora de muay thai, com o nome de Gabrielle Saturno gravado nele.

A temperatura do corpo de Gabrielle havia esquentado com todo o esforço que ela havia feito. Ela descartou seu blazer no sofá e arregaçou as mangas de sua camisa social. Gabrielle abriu mais um botão da camisa e sentou no sofá, soltando um suspiro de alívio, quando foi interpelada pela voz fina da da japonesa ao dizer :

- Obrigada...

- Exatamente pelo o que você está me agradecendo?

- Por tudo... Ah e me desculpe por ter enfiado o salto na sua garganta - Gabrielle sorriu e lembrou do que havia pensando naquele momento e da visão maravilhosa que tinha obtido.

- Não por isso. - ela respondeu - E você, me desculpe por ter te seguido.

A japonesa abriu um largo sorriso, lindo de ser apreciado, cruzou os braços e se encostou na parede da sala de estar, entre o sofá e um pilar. Notando que ela não respondeu, a lutadora de dispôs a reforçar:

- Sério, normalmente eu não me comporto assim mas voltando ao assunto do golpe. Você mostrou uma ótima aptidão para a luta, poderia ter se defendido daquele cara, por que não o fez?

- Não é da sua conta, Gabrielle Saturno.

- Como sabe o meu nome? - perguntou a lutadora - Não me lembro de ter dito.

- Vocês, lutadores, são todos iguais. Adoram se exibir. Mas saiba, garota, que braços fortes não sobrepõe inteligência, disciplina e concentração.

- Ah... Você viu o troféu. - respondeu Gabrielle, arfando. - Mas eu não sou assim. Então não generalize.

- É sério? Então esta me dizendo pra confiar que você não é uma babaca igual aos outros?

- O que você tem contra nós?

- Ainda tem coragem de me perguntar isso ? A maneira desumana com que subjugam covardemente os aparentes fracos, chega a ser patético.

Gabrielle deu alguns passos na direção da japonesa, ficando a poucos metros uma da outra :

- Você não me conhece.

- Nem você a mim, garota. - Disse ela, agora ficando cara a cara com a brasileira - Você será apenas um fantoche aqui. Nada além disso.

- Do que você está falando?

- Eu tenho que ir embora! - disse a japonesa pegando sua bolsa; que havia deixado em cima do sofá quando chegou.

- Você ja vai?

- Sim... - ela respondeu, já abrindo a porta.

- Espera! - exclamou Gabrielle, desesperada - Você nem me disse o seu nome.

- Você não precisa saber nada sobre mim.

- E por que não? - insistiu a lutadora.

- Porque é a primeira e a última vez que nos encontramos, Gabrielle.

- Eu pensei que...

- Pensou errado! - respondeu a japonesa.

Ela saiu pela porta apressada fechando a mesma sob o olhar frustrado de Gabrielle, que suspirou novamente.. Decepcionada.

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