Faz quatro dias que Aram havia chegado a cidade e ele e Bill iam todos os dias almoçar no restaurante. Lucine estava ficando ótima em ignorar a presença dele, ou fingir que ele não passava de um cliente comum. Ela gostou que Aram realmente cumpriu sua promessa e não forçou nenhuma aproximação. Era educado e simpático quando ela os atendia, mas não havia tentado abordá-la e nem foi outra vez à casa de Lucine. Lucine também o encontrou uma noite, quando ela e Lira estavam na feira que ficava na praça central na alta temporada. Havia várias bancas de artesanato, e a amiga insistiu para que elas fossem juntas para comprar um presente para o bebê de Lucine. As duas caminhando de braços dados olhando as bancas.— Eu queria alguma coisa original, que simboliza as origens e a ancestralidade do bebê. Sabe, uma coisa meio esotérica, você sabe que eu tenho um lado meio esotérico.Lira tagarelava sem parar o que divertia Lucine. Não sabia como explicar a amiga sua ancestralidade, não sem mencio
À medida que sua barriga crescia ela sentia mais os efeitos do calor. Seus pés começaram a inchar ao final de cada turno e pegar turnos dobrados estava ficando cada vez mais extenuante. Porém ela seguia pegando pelo menos dois por semana, pois precisava muito guardar o dinheiro para quando tivesse a bebê. Não sabia quanto tempo teria que ficar sem trabalhar, ou como seriam as coisas depois que sua filha nascesse. Então precisava juntar o maior montante que conseguisse. A renda do aluguel da casa de seus pais ajudava bastante, já que garantia que pagasse o seu próprio e ainda sobrava algum dinheiro.Naquele final de manhã em especial, ela estava sentindo uma moleza no corpo, certamente sua pressão devia estar baixa devido ao calor. Lucine também não havia melhorado muito de seus episódios de depressão. A sua médica disse que era normal se sentir triste às vezes, em virtude dos hormônios da gravidez. Mas a verdade é que havia lutado muito para construir uma segurança e tranquilidade p
Lucine tentou manter a naturalidade enquanto terminava de servir o almoço, mas a verdade é que a conversa com Aram a havia abalado bastante. Ele voltou à sua mesa e almoçou normalmente com Bill, mas lhe lançava olhares fortuitos.O calor parecia estar pior a cada minuto, e a sensação de vertigem estava ficando mais forte. Ela se mantinha em pé com dificuldade e quando limpava uma mesa que havia vagado, desmaiou, deixando a bandeja com os pratos que havia recolhido cair no chão. O barulho estrondoso dos pratos e copos se partindo fez com que todos olhassem em sua direção.Ela foi perdendo os sentidos e tudo ficou muito longe, as vozes ao redor e o barulho do ambiente. Lucine viu tudo preto e mal sentiu o baque de seu corpo no piso gelado. Quando começou a voltar a si, estavam quase todos ao seu redor, Lira pedia aos espectadores para liberar espaço para que ela pudesse respirar e Aram estava ajoelhado ao lado dela, a segurando em seus braços, tentando fazê-la reagir.— Lucine, você est
O sol já estava começando a se pôr quando Lucine chegou ao barco de Aram. Ela o viu debruçado sobre o motor, com as mãos sujas de graxa e uma expressão determinada no rosto. Ao vê-la se aproximar, o olhar de Aram se iluminou com um sorriso caloroso.— Lucine, que surpresa agradável. Já se sente melhor?Lucine respondeu com um sorriso tímido.— Bem melhor, obrigada. Pelo visto você está bastante ocupado com o motor do barco.Aram sorri, evidenciando as covinhas que tanto a desestabilizavam e balança a cabeça. — Sim, estou tentando. Acho que consegui resolver o problema, essa é hora da verdade.Ela assentiu e observou enquanto Aram gira a chave, o motor ruge e para a alegria de ambos, dá partida. Lucine aplaude com entusiasmo, um pouco surpresa por ele ter tido sucesso.— Incrível, alfa! Parece que você continua ótimo, consertando coisas.Lucine se acomoda em um banco próximo na polpa da chalupa sem esperar convite, enquanto ele guarda suas ferramentas.— E, sobre a aldeia, como as co
Aram segurou o rosto de Lucine com as duas mãos, e a surpreendeu com um beijo. O toque de seus lábios era suave e o beijo tranquilo. No primeiro momento ela ficou paralisada com a surpresa, mas não era como se não desejasse aquela aproximação. Ela se ajeitou no banco para que ficasse mais próxima dele, o que o estimulou a intensificar o contato. O beijo foi ficando mais intenso e apaixonado, as lembranças dos momentos íntimos como aquele, passaram como um filme na cabeça de Lucine. Ela descobriu naquele momento que nada sabia de si, se achava realmente que poderia viver sem aquilo. Agora ela era uma pessoa diferente, podia viver sua vida livremente, ir onde quisesse e com quem quisesse. Mas bastou um simples beijo para o coração despertar e ela ter certeza que nos braços dele era onde queria estar.No início aquele beijo foi um choque, mas depois ela foi relaxando o corpo e se deixando envolver. As lembranças do toque dele ainda estavam marcadas em sua pele, em seu coração. O toque d
Quimera permanecia entre as sombras que envolviam a noite no píer da pequena cidade. O casal, objeto de sua vigilância, parecia desfrutar de uma harmonia aparentemente serena. O macho ostentava uma expressão satisfeita, alheio à presença obscura que o observava. Quimera, no entanto, não era um mero espectador; era um instrumento sinistro nas mãos do Império da Noite, era uma entidade cujo papel transcendia a simples filiação.Conhecido como a Quimera no submundo do crime organizado, ele era o cão de caça da Máfia Vampírica, encarregado das tarefas mais sujas que exigiam habilidades especializadas. Seu currículo incluía interrogatórios, tortura, assassinatos e a ocultação de cadáveres. Contudo, estas eram apenas algumas das suas habilidades, forjadas e estimuladas desde a infância pela organização. A verdadeira natureza da Quimera era envolta em mistério; sua figura era pouco mais do que uma lenda, e ele apreciava essa aura de desconhecido. Em sua função, quanto menos se soubesse sobre
Lucine acordou após o nascer do dia, se sentindo estranhamente confortável e envolta em um abraço quente e apertado. Quando abriu os olhos viu a pequena cabine do barco onde Aram estava morando, e se deu conta de como estava com saudade de acordar sentindo aquele perfume familiar. Procurou o celular para verificar o horário e viu que já estava com o tempo curto para ir até sua casa se trocar e depois ir trabalhar.Quando chegou ao restaurante, notou olhares especulativos de vários colegas, principalmente Lira, que a mirava como se quisesse comentar algo, mas permanecia em silêncio. Lucine ficou em dúvida se estavam todos tentando preservar sua privacidade, ou apenas sem coragem para iniciar um interrogatório a respeito de seu inesperado marido.Quando arrumavam juntas a mesa onde disponibilizavam café para os clientes, a amiga não se segurou mais e começou a falar.- Eu não sei se consigo te perdoar Lucine, todo esse tempo fazendo mistério sobre o pai do bebe. Eu cheguei até a cogitar
Aram passou a noite inquieto após a resposta concisa de Lucine. Os pensamentos tumultuavam em sua mente, e ele se questionava se as coisas estavam realmente tão bem entre eles. A necessidade de entender a situação o instigava a chamá-la, mas ele reconhecia a importância de dar espaço a ela. Decidido a enfrentar suas próprias emoções, ele acordou determinado a agir com calma. Resolveu ir para o trabalho caminhando pelas ruas vazias da pequena cidade litorânea, o som suave das ondas do mar ao fundo. Ele refletia sobre a noite que compartilharam, pensando em como cada momento foi inesquecível para ele. As dúvidas sobre o que Lucine estava sentindo o atormentavam.— Preciso dar a ela espaço para processar o que aconteceu entre nós. Mas e se eu estraguei tudo indo rápido demais?Ele conversava com si mesmo. Porém havia sido impossível refrear os próprios sentimentos. E ver que ela era receptiva só o deixou ainda mais disposto a ir adiante. Agora já estava feito, apenas lhe restava espera