Capítulo 7
Rafael apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos, observando Patrícia com intensidade. - Sei que você está aqui porque precisa do trabalho - começou ele, sem rodeios. - Seu avô está doente e os custos hospitalares são altos. Patrícia sentiu um aperto no peito. Não esperava que ele soubesse sobre sua situação. - Sim - respondeu com cautela. Rafael assentiu, como se já esperasse aquela resposta. - Preciso que você aceite um acordo comigo. Ela franziu o cenho. - Que tipo de acordo? Ele respirou fundo antes de continuar: - Meu pai, Augusto Avelar, pode acordar a qualquer momento. Mas tem uma pessoa que não quero que se aproxime dele de jeito nenhum. E, para garantir isso, eu preciso que você finja ser... a esposa dele. O silêncio que se seguiu foi absoluto. Patrícia piscou, achando que tinha entendido errado. - O quê? - perguntou, boquiaberta. Rafael manteve a postura firme. - Sei que parece absurdo, mas essa mulher, Estela, não pode voltar para a vida do meu pai. Ele esteve perto da morte e não quero que ela se aproveite da situação. Se ele acordar acreditando que tem uma esposa ao seu lado, talvez isso a mantenha afastada. - Mas... - Patrícia balançou a cabeça, tentando assimilar aquilo. - Isso é loucura. - Eu sei - Rafael admitiu, inclinando-se um pouco para a frente. - Mas é a única forma que encontrei de protegê-lo. Ela sentiu o coração acelerar. - Você quer que eu finja ser a esposa dele? Que tipo de farsa seria essa? - Algo simples. Não precisa fingir estar apaixonada nem agir de forma inadequada. Apenas quero que, quando ele acordar, ele veja uma presença confiável ao lado dele. E, principalmente, que Estela acredite que ele já tem alguém. Patrícia ainda estava atônita. - Isso... Isso não tem como dar certo. E se ele não acreditar? E se eu disser algo errado? - Eu confio em você - Rafael afirmou, sério. - Você tem sido a única pessoa ao lado dele. Meu pai vai reconhecer isso. Ela desviou o olhar, sentindo a cabeça girar. - E se eu não aceitar? Rafael suspirou. - Não vou forçá-la a nada. Mas, se aceitar, eu me certificarei de que seu avô tenha o melhor tratamento possível. Patrícia prendeu a respiração. - Você... você está tentando me comprar? - Estou tentando ajudá-la, enquanto você me ajuda - Rafael corrigiu. - Pense nisso como um acordo. Você cuida do meu pai e evita que Estela se aproxime, e eu cuido do seu avô. O peso daquela proposta caiu sobre Patrícia como uma avalanche. Era arriscado. Absurdo. Mas também era a chance de garantir a melhor assistência para seu avô. Ela fechou os olhos por um instante, sentindo-se encurralada. Então, respirou fundo e olhou para Rafael. - Eu... preciso de um tempo para pensar. Ele assentiu. - Entendo. Mas não demore muito. Meu pai pode acordar a qualquer momento. Patrícia se levantou, sentindo as pernas bambas, e saiu do escritório. Seu coração martelava no peito. Ela realmente poderia aceitar algo assim? - Se eu aceitar... o que você vai fazer? - Patrícia perguntou, parando na porta e se virando para encará-lo. Rafael não hesitou. Seu olhar era firme, decidido. - Vou marcar o casamento. O coração dela deu um salto. - Casamento? - repetiu, atordoada. - Você quer mesmo levar essa mentira tão longe? Ele se levantou e caminhou até ela com calma, as mãos nos bolsos. - Preciso que pareça real, Patrícia. Um simples boato não manteria Estela afastada. Mas se ela acreditar que meu pai é um homem casado, será mais difícil que tente se reaproximar. Ela o encarou, tentando encontrar alguma hesitação em sua expressão, mas ele parecia determinado. - E se ele acordar e não acreditar? - Vamos torcer para que a recuperação dele seja lenta o suficiente para que a história faça sentido. Patrícia soltou uma risada nervosa. - Isso é loucura. Rafael deu de ombros. - Talvez. Mas é a melhor solução que encontrei. Ela mordeu o lábio, o peso da decisão esmagando seus ombros. - Eu preciso pensar... - Pense o quanto precisar - ele disse, inclinando a cabeça ligeiramente. - Mas saiba que, se aceitar, eu cuidarei de tudo. Inclusive do seu avô. Patrícia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela saiu do escritório sem dizer mais nada, com a mente fervilhando. No quarto, Patrícia suspirou, torcendo os dedos enquanto observava o senhor Avelar adormecido. - Que situação... - murmurou para si mesma. Seus olhos vagaram pelo rosto dele, como se o enxergasse pela primeira vez. Já havia notado a grande beleza de Augusto Avelar, o porte imponente, os traços fortes, a elegância natural. Mas, além da aparência, ela não sabia nada sobre ele. Não conhecia sua voz, seu olhar, suas expressões. Ele ainda era um completo desconhecido. E, mesmo assim, em breve, ela teria que chamá-lo de marido. A ideia a fez engolir seco. O que aconteceria quando ele acordasse? E se a rejeitasse? E se se revoltasse ao descobrir que, enquanto dormia, sua vida havia mudado drasticamente? Mas, por outro lado, não havia escolha. Seu avô precisava do tratamento, e aquela era sua única chance. Ela apertou a mão do senhor Avelar levemente, sentindo-se culpada por estar tomando uma decisão tão grande sem seu consentimento. - Eu vou ter que aceitar, senhor Avelar... Sinto muito. Seus olhos se fecharam por um instante, tentando afastar os pensamentos. Não podia hesitar mais. Respirando fundo, se levantou e caminhou com passos firmes até a sala de estar, onde encontrou Rafael. Ele se virou ao vê-la, esperando sua resposta. - Eu aceito - disse, tentando demonstrar mais confiança do que realmente sentia. Um sorriso satisfeito surgiu no rosto de Rafael. - Ótimo. Vou ver se tem como casar vocês amanhã mesmo. O coração de Patrícia disparou. - Amanhã?! - Quanto mais rápido, melhor - ele afirmou, pegando o celular para dar início aos preparativos. Patrícia sentiu as pernas fraquejarem, mas não recuou. Ela já tinha tomado sua decisão. E agora não havia mais volta. Ela voltou para o corredor, sentindo o cansaço pesar sobre seus ombros. Com passos lentos, abriu a porta do seu quarto e, sem pensar, trancou-a atrás de si. Estava exausta, mas precisava de um momento para si mesma. Despiu-se rapidamente, deixando a roupa cair ao chão, e foi direto para o banheiro. A água quente do chuveiro parecia aliviar o peso do dia, e ela se permitiu alguns minutos de silêncio e tranquilidade, tentando afastar as tensões acumuladas nas últimas horas. Após o banho, sentiu-se renovada, mas ao sair do banheiro, o ambiente parecia estranho. Algo havia mudado. Um leve som, como se alguém estivesse mexendo no quarto ao lado, a fez parar. Sem pensar duas vezes, ela se apressou a abrir a porta do quarto, imaginando que o senhor Avelar finalmente tivesse acordado. O coração acelerado a fez caminhar rapidamente, e com a mão trêmula, ela abriu a porta do quarto ao lado, esperando ver o homem que estivera inconsciente por tanto tempo. Porém, ao entrar no quarto, não encontrou Avelar acordado, mas sim o filho dele, Rafael. Ele estava de pé, com a camisa do pai nas mãos, ajustando cuidadosamente o colarinho, como se estivesse preparando o pai para acordar. Ela ficou ali, paralisada por um momento, seu rosto se incendiando ao perceber que estava de pijama de ursinho, algo que ela normalmente usava apenas em casa, longe de olhares curiosos. Rafael a olhou com um sorriso discreto, um olhar divertido ao vê-la ali, tão envergonhada. Ela sentiu seu rosto queimar, mas tentou manter a postura. - Achei que ficaríamos sozinhos... - ela disse com suavidade. - Já é tarde. Ele a observou por um instante, então, com um gesto calmo, finalizou o abotoamento da camisa do pai e olhou para ela novamente. - Eu tinha que banhá-lo - respondeu Rafael, com uma voz grave, mas tranquila. - Acredito que seja a última vez. Mesmo sem querer, um sorriso tímido apareceu em seus lábios, misturado com o desconforto da situação. - Talvez seja melhor você descansar... posso ficar com ele agora.Capítulo 8Rafael assentiu com a cabeça, o sorriso se suavizando enquanto ele se preparava para sair do quarto.- Boa noite - disse ele, deu um último olhar para o pai e para ela antes de sair, deixando-os sozinhos. A porta se fechou silenciosamente atrás dele, deixando Patrícia sozinha no quarto com o futuro marido.Ela se aproximou da cama, sentindo um nó apertar em seu peito. A partir do dia seguinte, ele seria oficialmente seu marido, a realidade a envolveu de maneira suave. O silêncio no quarto era quase palpável, a única luz vindo da lâmpada ao lado da cama, iluminando suavemente os contornos dos objetos.Patrícia se deitou ao lado dele, sentindo a maciez dos lençóis, mas a sensação de desconforto ainda permanecia. Ela olhou para ele, observando os contornos de seu rosto, que agora parecia mais sereno, quase em paz.O cansaço parecia ter tomado conta de seu corpo, mas havia algo ali que ainda a fazia ficar acordada, perdida em pensamentos.Era difícil imaginar que, em apenas alg
Capítulo 9O dia transcorreu tranquilamente, e Patrícia tentou se acostumar com sua nova realidade. Agora que era oficialmente a senhora Avelar, guardou o jaleco e vestiu roupas comuns, algo mais confortável.Quando a fome começou a incomodá-la, desceu até a cozinha para pegar algo para comer. No entanto, assim que entrou, o mordomo a viu e imediatamente se aproximou, mantendo seu tom educado e respeitoso.— Senhora Avelar, permita-me acompanhá-la até a sala de jantar.Patrícia piscou, surpresa.— Ah… eu só ia pegar algo rápido…— Com todo respeito, senhora, agora sua posição nesta casa é diferente. A sala de jantar está pronta para recebê-la.Ela hesitou por um instante, ainda se sentindo deslocada com essa mudança repentina de status, mas logo cedeu e assentiu com um pequeno sorriso.— Tudo bem, então. Obrigada.O mordomo indicou o caminho e Patrícia o seguiu. Ao entrar na imponente sala de jantar, sentiu um leve frio na barriga. A mesa estava perfeitamente posta, e a louça refinada
Capítulo 10Após o jantar com o filho do marido Patrícia voltou para o quarto, ele havia se mexido novamente um braço estava perto do rosto.Ficou feliz, pois ele está quase despertando, se aproximou e sentou do lado dele.— Você precisa fazer a barba e cortar um pouco o cabelo... Não que assim não está lindo... Acredito que é lindo de qualquer jeito — falou afastando uma mexa do cabelo dele.O contato foi breve, mas suficiente para fazê-la sentir um pequeno arrepio percorrer sua pele.Patrícia rapidamente puxou a mão de volta, sentindo-se um pouco tola por esse gesto impulsivo. Ficou ali, apenas observando-o, sua respiração calma e estável, os lábios ligeiramente entreabertos.De repente, um pensamento lhe ocorreu.Eles não se beijaram.Não houve um beijo no casamento. Nenhuma troca simbólica que selasse aquela união inesperada.E agora? Como fariam?Seu olhar deslizou até os lábios dele.O coração acelerou ao considerar a possibilidade. O que aconteceria quando ele finalmente acorda
Capítulo 11Augusto respirou fundo, sentindo seu coração bater mais forte. Seu olhar voltou para a mulher adormecida ao seu lado. Aquele corpo delicado, mas cheio de curvas, mexia com algo dentro dele. Mas quem era ela?Ele estendeu a mão hesitante, afastando devagar os cabelos que cobriam o rosto dela. Assim que seus dedos roçaram sua pele macia, ela se remexeu levemente, soltando um pequeno suspiro antes de se virar na cama.Foi então que ele finalmente viu o rosto dela.Seus olhos se estreitaram. Ela não lhe era familiar. Quem era aquela mulher?Antes que pudesse formular mais perguntas, um estalo veio à sua mente: e se ele realmente tivesse perdido a memória de algo importante?Sentindo um aperto no peito, tentou puxar alguma lembrança recente, mas sua mente era um borrão.Foi nesse momento que a mulher abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focá-lo. O susto estampou-se em seu rosto.— Você… acordou? — a voz dela soou trêmula, quase um sussurro.Ele permaneceu em
Capítulo 12Augusto sentiu o coração bater mais forte, como se cada batida ecoasse no silêncio do quarto. Seus dedos, que antes hesitavam, agora deslizavam suavemente pela pele dela, como se temessem quebrar algo frágil e precioso. Ele não era um homem de muitos romances, nem de envolvimentos passageiros. Sua vida sempre fora regida por uma certa distância emocional, uma barreira que ele mesmo construíra para se proteger. Mas ali, naquele momento, com aquela mulher de olhos profundos e voz suave, ele sentia algo diferente. Algo que o fazia questionar todas as suas certezas.— Você é real? — ele sussurrou, sua voz quase sumindo no ar pesado entre eles. A pergunta saiu involuntária, como se ele ainda não conseguisse acreditar que aquilo não era um sonho.Ela olhou para ele, seus olhos brilhando com ternura e algo mais profundo, algo que ele não conseguia nomear.— Eu sou real — ela respondeu, sua voz tão suave quanto o toque de seus dedos ao roçar o rosto dele. — E você também é.Ele fe
Capítulo 13Do outro lado da porta do quarto, o mordomo, um homem de meia-idade com postura impecável e expressão sempre serena, passava pelo corredor carregando uma bandeja com chá e biscoitos. Ele havia sido encarregado de verificar se o patrão Rafael precisava de algo, como fazia todas as noites. No entanto, ao se aproximar da porta, ele ouviu algo que o fez parar abruptamente.Um grito suave, seguido de um gemido profundo e intenso, ecoou do quarto. O mordomo piscou várias vezes, como se tentasse processar o que acabara de escutar. Suas sobrancelhas se ergueram, e uma expressão de surpresa e confusão tomou conta de seu rosto normalmente impassível.— Meu Deus... — ele murmurou para si mesmo, segurando a bandeja com mais firmeza, como se precisasse de algo para se apoiar. — Será que ele acordou?Por um momento, o mordomo ficou paralisado, sua mente trabalhando rapidamente para entender a situação. Se o patrão pai havia acordado, isso era uma notícia extraordinária.Preocupado e cur
Capítulo 14Patrícia sentia cada centímetro de Augusto entrando e saindo dela, seus movimentos ritmados e precisos, como se ele conhecesse cada curva do seu corpo melhor do que ela mesma. Seus lábios pareciam ter vida própria, incapazes de se conter, deixando escapar gemidos que ecoavam pelo quarto, misturando-se à respiração ofegante de ambos. "Que homem gostoso... que pau gostoso...", o pensamento passou pela mente dela, embora ela mal conseguisse formular palavras naquele momento. Tudo o que ela sentia era ele, o calor, a intensidade.- Ahh... Ahh... - ela gemeu, suas mãos agarrando-se às costas dele, as unhas cravando-se levemente em sua pele, como se precisasse de algo para se segurar.Augusto, com os olhos fixos nela, observando cada reação, cada tremor, cada suspiro, sorriu satisfeito. Ele se inclinou sobre ela, seus lábios próximos ao seu ouvido, e sussurrou com a voz rouca e carregada de promessas:- Goza de novo pra mim, pequena... quero te sentir toda molhada...As palavra
Capítulo 15Patrícia voltou para o quarto com passos leves, ainda carregando a leve dor no corpo que a noite anterior havia deixado. Quando abriu a porta, encontrou Augusto sentado na cama, as mãos segurando a cabeça, os olhos fechados e a expressão confusa. Ele parecia estar lutando para entender algo, como se estivesse tentando juntar os pedaços de um quebra-cabeça que não fazia sentido.- Augusto... - ela chamou, sua voz suave, quase como se estivesse tentando não assustá-lo. - Você está bem?Ele abriu os olhos lentamente, olhou para ela, perplexo. A dor de cabeça ainda latejava em suas têmporas, mas algo na presença dela parecia acalmá-lo, mesmo que ele não conseguisse entender exatamente por quê.- Onde estou? - ele perguntou, sua voz rouca, cheia de confusão. - Por que minha cabeça dói tanto? E por que... por que não consigo me levantar?Patrícia se aproximou dele, sentando-se na beirada da cama com cuidado. Ela olhou para ele, com um olhar preocupado, mas também de uma ternura