Lilian Bronks
Apesar de não ser um prédio grande, consigo ouvir de longe todo o som e movimentação que vem do meu apartamento a essa hora da noite e soltei um suspiro de cansaço por saber que mais uma vez irei perder o pouco de paz que me resta.
Há quase 3 anos consegui um emprego como garçonete num bar noturno bem conceituado no centro de Manhattan e apesar de não ganhar bem, é o único trabalho remunerado que mantém os meus armários cheios, pois tirando isso, não existe nenhum outro benefício.
É um emprego que não agrega nada na minha vida.
Pensei inúmeras vezes em procurar outro trabalho, mas é muito difícil quando você tem apenas o ensino médio completo sem um complemento na grade curricular. Pois é, ninguém oferece uma chance melhor para uma jovem que não completou a faculdade, e eu acho isso injusto, pois eu trabalho e muito, sempre fui muito dedicada e acho que merecia uma chance de mudar a minha vida ao invés de suportar os idiotas bêbados dando em cima de mim, tentando tirar uma casquinha sempre que possível.
Eu não sou muito sociável, apesar de trabalhar como garçonete, eu sempre fico muito constrangida quando preciso colocar uniformes diferentes das demais pois o foco dos clientes acaba vindo diretamente para mim e isso sempre me coloca em problemas e situações constrangedoras, o que se torna um forte motivo de largar esse emprego, mas no momento estou de mãos atadas pois não tenho outro recurso que me garanta comida e um teto.
Depois de enfrentar uma noite intensa de trabalho, suspirei ao imaginar o que me espera assim que eu abrir a porta de casa, pois ainda preciso lidar com a bagunça e sujeira da minha irmã mais nova, Vivian.
Nossos pais morreram em um acidente de trânsito e ainda éramos jovens, e apesar de ela não gostar de morar comigo, sempre encontrava alguma amiga disposta a dividir as despesas, mas dessa vez ela não teve escolha e acredito que por isso não esteja facilitando minha vida.
Dividimos um apartamento depois que ela foi despejada de sua última moradia, segundo ela, a sua colega era silenciosa demais e por isso não conseguia fazer nada. Mas acredito que a pobre garota não seja a culpada, pois a Vivian é a pessoa mais barulhenta e festeira que conheço, perdendo apenas para meu namorado, claro.
Assim que abri a porta do nosso apartamento, encontrei no mínimo 10 pessoas espalhadas pela sala de estar, que é bem pequena e ficou ainda menor, e olhando melhor a cena, todos pareciam adormecidos.
Olhando em volta,arregalei os olhos ao ver a quantidade de caixas de pizza e latas de cerveja espalhadas pelo chão e franzindo a testa, tentei não pensar na quantidade de pessoas que estavam aqui mais cedo, caso contrário eu iria pirar.
Desviando a atenção das caixas, olhei em volta e vejo muita sujeira e bagunça, mas nenhum sinal da Lilian.
Sem dúvidas, amanhã iremos receber reclamações por isso.
Atravessando o corredor, decidi procurar pela minha irmã em seu quarto e por conta do som alto da música eletrônica que ainda tocava, não consegui ouvir nenhum movimento naquele cômodo e então abri a porta para procurá-la e me deparo com Vivian sem sutiã se esfregando em um homem na cama, os dois estavam alheios a todo e qualquer movimento fora do quarto então não perceberam a minha presença naquele quarto, e surpresa, recuei alguns passos querendo sair dali o mais rápido possível, mas antes de puxar a porta e fechá-la, vi um casaco que me pareceu muito familiar.
Era uma jaqueta de capitão de time que eu já havia visto antes, mas deixei aquilo de lado e fechei a porta me direcionando até meu quarto e girando a chave, consegui respirar tranquila sabendo que posso tomar um banho e dormir até mais tarde, pois dessa vez, não vou ajudar Vivian na limpeza da casa, já está na hora de ela amadurecer e se virar com as besteiras que faz.
Estou cansada demais.
Meu trabalho está me quebrando, mas o fato de minha irmã não me ajudar em nada, está me tirando a paz diariamente.
Assim que me despi, entrei no chuveiro e me permiti tomar um longo banho com a água quente para relaxar meu corpo. Sinto dores musculares por circular com um salto alto a noite inteira, e quem mais sofre são minhas panturrilhas, mas infelizmente não tenho escolha, eles dizem que sou a melhor garçonete do clube e que por isso preciso andar com saltos altíssimos, pois assim eu mantenho os clientes entretidos e satisfeitos com a bela visão das minhas coxas e por consequência, compram mais bebidas, ou seja, enquanto eles tentam tirar vantagem do meu corpo, automaticamente eles consomem mais.
Que nojo.
Enquanto a água descia pelo meu corpo, peguei o sabonete e me ensaboei, tentando massagear levemente meus músculos doloridos, na tentativa de diminuir a dor, pensando em deitar na cama e dormir por horas a fio para ter um bom descanso, mas então meus pensamentos me levaram ao moletom que estava no quarto da minha irmã mais uma vez, o que me fez lembrar do meu namorado, que já faz alguns dias que não dá nenhum sinal de vida e soltei um suspiro longo, ao me dar conta que sempre foi assim.
Meu namorado some por dias e volta como se fosse normal a sua ausência.
Na verdade, a desculpa dele é ser muito conhecido e popular na cidade e como é rico, precisa sempre comparecer em eventos chiques nos quais nunca coincidem com os dias que estou disponível, sem falar que ele nem me convida para acompanhá-lo.
Diferente de mim, que preciso trabalhar para comer, Kennedy já vem de berço de ouro e justamente por isso, diz que não consegue vir me ver, pois precisa cumprir sua “agenda” à risca.
Fecho meus olhos e penso no tempo que estou perdendo com ele.
Eu deveria estar com um homem que me ajude, que me apoie e me incentive a ir para frente, não com um cara que me abandona por dias, apronta todas e volta como se nada tivesse acontecido.
Não parece, mas eu sei de tudo o que Kennedy apronta pelas minhas costas e apesar de eu ter sofrido muito no inicio, hoje não faz mais diferença, o único problema é que nunca consegui terminar o que temos, é como uma dependência, eu me sinto mal com ele, mas me sinto pior sem ele.
Difícil explicar.
Pois o que me dá segurança, é saber que se eu realmente me sentir sozinha, basta procurá-lo independente se sumiu por dias pois sei que ao menos tenho ele, também acredito que Kennedy tenha me aceitado da forma que sou, e provavelmente ninguém mais iria me querer já que não tenho nada a oferecer então me contento com o que tenho e por isso aturo tudo calada.
Enrolada na toalha, saí do banheiro e me direcionei até meu pequeno roupeiro e alcancei um short curtinho e uma camiseta larga. Coloquei as roupas sem as peças íntimas, pois hoje preciso dormir sem nada me apertando pois quero me sentir confortável e preciso descansar o máximo possível pois terei um evento muito importante para trabalhar, e quem sabe eu consiga uma boa gorjeta, pois agora sei que vou precisar de mais dinheiro, pois com certeza, seremos expulsas desse apartamento.
Orion Black21 anos antes.— Papai, podemos ir…Eu iria fazer um convite ao meu pai mas ele passou por mim sem me dar atenção, ignorando-me totalmente. Já faz alguns dias que seu tratamento está ainda mais frio comigo. — Esqueça, Orion. Preciso levar Kennedy ao treino de futebol.Ouvi meu pai falar enquanto levava meu irmão caçula em suas costas.Meu irmão caçula com apenas 4 anos de idade parecia muito feliz com a situação que acontecia à sua volta, seus olhos brilhavam em satisfação. — Mas pai, eu preciso do senhor para…Se virando para mim, meu pai lançou um olhar repreensor, sem nem ouvir o que realmente eu precisava, então me interrompeu grosseiramente.— Estou ocupado. Peça a sua mãe. É mais do que obrigação dela fazer as coisas para você.Naquele instante, a decepção foi grande e minha garganta estava ardendo enquanto eu segurava as lágrimas por tamanha frustração e raiva. Fechando as mãos em punho, respondi não me importando se receberia punição pela minha ousadia.— Também
Orion BlackEle sem reação ficou em silêncio e puxei o ar para meus pulmões quando vejo que minha cota de paciência já havia chegado ao limite, então me direcionei ao nosso carro e entrei colocando meus óculos escuros, ignorando os dois homens que deveriam ser meus motivos de orgulho, mas que no fundo, não eram nada além de aparência. Um tremendo desastre de família.Fechei os olhos me perguntando em que momento tudo havia desmoronado, se foi quando meu pai me ignorou ou se foram todos esses anos longe que abriram ainda mais os meus olhos, pois em nenhum momento me ligaram para saber como eu estava.E essa foi a resposta final que eu precisava para finalmente excluí-los da minha vida. Foi a falta de cuidado e preocupação que acabou com o resto de sentimento que eu nutria por eles.Todo o trajeto foi em um silêncio confortável, minha mãe é uma mulher adorável, nunca se meteu em minha vida, sempre foi muito benevolente e se opõe quando necessário. Sempre soube o quanto amo Lilian, també
Orion Black— Aquela não é a Lilian…De repente, um barulho de bandeja caindo no chão quebrou meu estado de torpor, me trazendo de volta a realidade e então arregalei meus olhos ao ver uma loira de cabelos longos trajada com um uniforme de garçonete porém diferente de todos os outros que estão aqui trabalhando, ela olhava paralisada para o mesmo lugar em que eu olhava a instantes atrás.Lilian estava usando um vestido curtíssimo, com um avental de renda, e em suas coxas haviam cintas-ligas, com seus cabelos soltos que desciam lindamente em suas costas, sua expressão demonstrava irritabilidade com a cena que estava vendo, mas além disso, era possível ver o choque e cansaço. — Aquela é a…Não deu tempo de concluir a frase. Com passos decididos em cima de saltos altíssimos, ela atravessou o corredor, nem se importando com os olhares que chamou em volta e parou em frente ao meu irmão e sua acompanhante e de onde eu estou, consigo ver que estão bem alterados e arrisco dizer, estão até
Orion BlackA mulher que pensei que estava sendo feliz com ele e que por isso acabei abrindo mão dela para viver sua vida. Uma vida que pensei que era feliz. — Eu… espera, Orion.Eu neguei bruscamente e afastei meu braço do seu toque, já com a mão fechada em punhos, dei um soco em seu peito jogando-o longe, afastando-o completamente de mim.Um rosnado saiu do fundo da minha garganta, tentando controlar totalmente a minha vontade de enfiar meus punhos na cara do meu irmão caçula. — Como você tem coragem de enganar ela, Kenedy? Que porra de homem você é?Me aproximei do meu irmão sem controlar meus passos e o empurrei mais uma vez até que ele bateu de costas no muro. Nesse momento ele arregalou seus olhos de modo que deixasse evidente seu medo e sabendo que eu não iria me controlar muito mais, sai enfurecido daquela casa, voltando a direção que havia deixado meu carro, e a passos largos consegui ver de relance uma garota correndo em direção a rua apressadamente, estava usando unif
Lilian BronksNão consegui controlar a sensação estranha de contentamento ao saber que um homem igual ao meu cunhado iria cozinhar para mim.Sério. Orion Black, o advogado mais requisitado de Londres, irá me levar para sua casa e ainda cozinhar para mim.É bom demais para ser verdade.Mas então a paz acabou quando lembrei do que Kennedy fez e do motivo do meu cunhado estar fazendo isso por mim. Orion está se sentindo culpado pelo irmão caçula.Sempre soube sobre o caráter do meu namorado, ou melhor, ex-namorado. Ele sempre foi a pior espécie, sempre se vangloriando por causa de suas conquistas, quando na verdade não passa de uma criança mimada e com o ego inflado. Perdi muitas amizades por causa do Kennedy, se hoje sou uma pessoa solitária é por ter escolhido me dedicar ao nosso relacionamento e, por essas e outras, acabei ficando cheia de suas atitudes infantis, o auge foi quando ele não apareceu para me buscar depois do trabalho, prometendo que iriamos jantar juntos depois de dias
Lilian BronksNão consegui raciocinar direito, Orion estava tão próximo e enfurecido que dominou minha total atenção. Estava olhando para mim de um jeito tão possessivo e dominador que senti um arrepio percorrer meu corpo inteiro. Seus olhos estavam brilhando de raiva, mas ao mesmo tempo eram tão cativantes que me deixaram fascinada com sua beleza. Eu nunca havia ficado tão perto dele, e agora estou me sentindo tão hipnotizada que não consigo explicar. Seus olhos verdes me analisando atentamente, seu queixo rígido, mostrando sua mandíbula cerrada, cabelos penteados para trás, dando um visual ainda mais jovem para um homem próximo aos seus 34 anos, sua presença estava me deixando nervosa, de um jeito que nunca fiquei na vida, seu cheiro estava deixando sua marca registrada em minha memória olfativa com um perfume delicioso misturado ao cheiro natural de sua pele. Todo meu corpo estava sendo atraído para Orion, o que é muito estranho pois nunca senti algo parecido na vida.Nesse mome
Orion Black Posso dizer que sou um cretino, mas sou o cretino mais feliz do mundo. Sorri ao me jogar no sofá, pensando no beijo que Lilian me deu. Sentir aqueles lábios, aquele cheiro e aquela língua foi a minha realização, e apesar de eu não ter aceitado muito bem ela ter se afastado, confesso que estou em cima do muro. Meu irmão caçula sem dúvidas irá surtar, mas no fim, ele que a perdeu. A questão é que o relacionamento deles tem uma longa estrada e não vai ser tão fácil esquecer a sua rotina, mas ainda assim posso sonhar com meu momento. Cruzei meus braços abaixo da cabeça, imaginando como seria sentir a pele da Lilian com minha boca se eu prolongasse aquele momento. Passar minha língua pelo espaço entre seus seios, descer pelo seu abdômen e… De repente meu celular começou a tocar estrondosamente, e tirando o aparelho do meu bolso vejo que é o Guillermo, meu melhor amigo. — Fala. Atendi, e me ajeitei no sofá novamente quando ouço ele falar com sua voz mais agitada qu
Orion Black Segurando a haste de uma garrafa de vidro, Lilian parecia pronta para se defender de quem fosse necessário, até que vi um homem se aproximando mais do que deveria, como se não estivesse preocupado com o que ela poderia fazer com o objeto cortante em sua mão e ali não me segurei. Ninguém ali parecia se importar com o que estava prestes a acontecer, então não pensei duas vezes, quando dei por mim, meus dedos já estavam em volta do pescoço do desgraçado. Não levou muito tempo para uma multidão logo nos cercar, de repente todos pareceram se preocupar com a briga que nem havia começado, mas ninguém se aproximou para diminuir o dano que estava prestes a acontecer, pois no mínimo, eu iria pegar ele na porrada e antes que eu pudesse me desviar, fui atingido por um soco em meu ombro, mas foi tão inútil que quase nem senti, e olhando para a direção de onde veio o golpe, encontrei um cara mais baixo que eu, e travando a mandíbula cheio de raiva, apertei meus dedos no pescoço do prim