Capítulo 4

Orion Black

21 anos antes.

— Papai, podemos ir…

Eu iria fazer um convite ao meu pai mas ele passou por mim sem me dar atenção, ignorando-me totalmente. Já faz alguns dias que seu tratamento está ainda mais frio comigo.

— Esqueça, Orion. Preciso levar Kennedy ao treino de futebol.

Ouvi meu pai falar enquanto levava meu irmão caçula em suas costas.

Meu irmão caçula com apenas 4 anos de idade parecia muito feliz com a situação que acontecia à sua volta, seus olhos brilhavam em satisfação.

— Mas pai, eu preciso do senhor para…

Se virando para mim, meu pai lançou um olhar repreensor, sem nem ouvir o que realmente eu precisava, então me interrompeu grosseiramente.

— Estou ocupado. Peça a sua mãe. É mais do que obrigação dela fazer as coisas para você.

Naquele instante, a decepção foi grande e minha garganta estava ardendo enquanto eu segurava as lágrimas por tamanha frustração e raiva. Fechando as mãos em punho, respondi não me importando se receberia punição pela minha ousadia.

— Também é sua obrigação cuidar de mim. Sou o seu filho mais velho.

O olhar que meu pai direcionou a mim foi tão frio e indiferente, que recuei alguns passos quando ele se aproximou de mim e sem eu esperar, desferiu um tapa em meu rosto, que foi forte o suficiente para me derrubar no chão e me encolhendo, ouvi meu pai cuspir palavras raivosas.

— Nunca mais ouse responder para mim, Orion.

As lágrimas que tanto segurei a minutos atrás, desceram pelo meu rosto como se fossem uma cascata e minha mãe surgiu como uma luz no meio daquela escuridão e me tomou em seus braços de uma forma protetora, enquanto me embalava com carinho, eu sentia cada vez mais a raiva do meu pai crescer em meu peito.

Eu já estava com 14 anos, quando memorizei a sensação de raiva do meu pai, e depois daquela agressão, minha mãe e eu saímos de casa, decididos a nunca mais botar nossos pés naquela residência.

Apesar da pouca idade, eu sabia o que estava acontecendo. Eu conseguia entender tudo perfeitamente. Meu pai sempre me tratou com indiferença e apesar de me esforçar para chamar sua atenção de um jeito positivo, ainda assim só recebia retaliações e críticas.

Mas tudo passou a fazer sentido quando descobri que meu pai havia traído mamãe e teve um filho fora do casamento, e quando vi Kennedy pela primeira vez, imaginei que não teria problema em ser próximo do meu irmão caçula, uma vez que nós não temos nenhuma culpa do que aconteceu entre os adultos então decidi que eu faria o meu papel de irmão mais velho mas Kennedy adotou uma postura completamente ofensiva contra mim, fazendo piadas sobre minha mãe e até mesmo sobre nosso relacionamento então eu tive a certeza de que meu pai falava mal de nós para a atual mulher e o filho e a partir disso, comecei a me posicionar como filho mais velho, cobrando atenção sem me preocupar com meu irmão mais novo, mas com decepção, vi que não fazia diferença nenhuma para meu pai.

Com um pouco mais de 10 anos de diferença, eu e meu irmão passamos a não nos ver e isso foi a escolha certa a se fazer durante nosso crescimento. 

Minha mãe estava divorciada, mas devido as empresas que meu avô deixou de herança recebíamos uma boa quantia em dinheiro para nos sustentar, com isso, minha mãe nunca se incomodou, podíamos viver bem e sozinhos, pois estávamos felizes daquela forma.

Nunca mais direcionei uma palavra ao meu irmão até o dia em que ele tomou Lilian de mim, e apesar de querer aceitar a escolha dela, é difícil aceitar que ela está comprometida justamente com ele.

              —  Orion, como você está lindo, querido.  

Marisa Black murmurou enquanto me abraçava na sala de desembarque, após 6 anos morando em Londres sem expectativas de retorno, finalmente voltei para Nova Iorque, cheio de desejos, conquistas maiores e um amor não correspondido que terei que engolir a todo custo.

—  Mamãe, que saudade.  

Guardando meu óculos escuro no bolso, envolvi minha mãe em um abraço cheio de saudades e fechei meus olhos ao me sentir tão bem em sua presença.

É muito bom desfrutar desse momento com ela depois de tanto tempo fora, aparentemente não mudou nada, seus cabelos continuam castanhos da mesma forma que eu me lembrava há anos, e apesar de estar com quase 60 anos, minha mãe ainda está em ótima forma.  

Sorri ao me sentir tão bem recebido que por um momento quase não percebi que havia mais pessoas se juntando a nós. 

E para minha infelicidade, vejo que é Kennedy e meu pai, o senhor Ângelo Reed.

Engoli a vontade de mandá-los embora, pois não preciso fazer uma cena imatura na frente da minha mãe e engoli tudo o que queria dizer a eles, mesmo que isso signifique ter que fingir simpatia para os dois.

—  Meu filho, espero que não se importe, sua mãe permitiu nos juntar a vocês.

  

Me afastei da minha mãe enquanto olhava para meu pai e depois para meu irmão que estava sorrindo igual a um idiota enquanto falava ao telefone e um frio atravessou minha espinha quando imaginei quem deveria ser.

Com certeza era ela. 

Meu coração acelerou só em pensar na possibilidade e engolindo em seco me aproximei do meu pai que logo me abraçou e mais uma vez vejo que não senti nada em relação a sua aproximação, me dando total certeza de que foi a melhor escolha ter me afastado dos dois e então começamos a andar para fora do aeroporto, e fiquei aliviado por estarmos saindo daqui pois não quero engolir tudo isso por muito tempo.

Apesar de continuar dedicado a minha mãe, que é a única que considero minha família, eu havia criado um escudo que me protege de toda tentativa de afeto confuso e maléfico que meu irmão e meu pai podem ter por mim, pois não preciso de nada que venha deles, hoje sou homem o suficiente para sustentar a mim e a minha mãe, por isso, não sou obrigado a tolerar nada.

 O meu escudo logo me domina e sinto a máscara impassível em meu rosto surgir à frente dos dois, deixando claro que não me importo em vê-los, deixando claro que não me importo com a presença deles.

Já com as malas em mãos, nos direcionamos a saída, e assim que chegamos no estacionamento, Kennedy largou o celular pela primeira vez e num tom provocativo perguntou enquanto se aproximava de mim, forçando uma intimidade que ele sabe bem não existir entre nós.

—  E aí irmão, pegou muitas mulheres?  

Ele começou a rir da própria piada e controlei a vontade de revirar os olhos com seu comentário, sem paciência nenhuma para seus joguinhos, contei até 10 mentalmente para não acabar com essa farsa de família e respondi controlando até a minha voz pois a minha raiva já estava nas alturas e faltava pouco para ser extravasada.

 — Os papéis infantis eu deixo para você. 

Fiquei com a expressão impassível no rosto e ele se aproximou demais, jogando seus braços a minha volta e rapidamente o impedi, jogando-o para o lado e respondi entre dentes.

 —  Não me provoque, Kennedy.

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