No silêncio do carro, apenas o ruído dos pneus na estrada acompanhava o pulsar rápido do coração de Nora. Ela olhava para Andrew, inconsciente, ainda pálido, a respiração suave, mas com o semblante cansado. De repente, ele abriu os olhos devagar, o olhar confuso, enquanto tentava se situar.— Onde estamos? O que aconteceu? — perguntou Andrew, com um tom assustado e um pouco desorientado.Nora se virou para ele, contendo as lágrimas.— Estamos voltando para casa, amor. Você... você desmaiou na frente de todo mundo.Ele suspirou, tentando lembrar.— Sério? Acho que girei demais enquanto dançava…Ela forçou um sorriso breve, mas a expressão em seu rosto logo se fechou. A tensão acumulada era tanta que ela não conseguiu mais se conter.— Andrew, eu não aguento mais essa situação — disse ela, com um fio de voz, mas com uma intensidade que ele nunca tinha visto antes. — Não aguento ver você tossindo sangue, te ver desmaiando e com o nariz sangrando… Sua vida está se esgotando a cada dia. —
O sol da manhã penetrava pelas frestas da cortina do quarto, iluminando suavemente o ambiente. Nora despertou sentindo um desconforto no estômago, que logo se transformou em náusea intensa. Mal teve tempo de pensar; levantou-se às pressas e correu para o banheiro. De seu lado na cama, Andrew ouviu o som vindo do banheiro e despertou com um sobressalto. Levantando-se rapidamente, ele foi até lá e encontrou Nora ajoelhada ao lado do vaso, visivelmente desconfortável. "Nora, meu amor, você está bem?" perguntou, preocupado, enquanto se abaixava ao lado dela e acariciava suas costas com delicadeza. Ela respirou fundo e, com uma expressão cansada, tentou esboçar um sorriso. "É só... enjoo matinal", respondeu, tentando tranquilizá-lo. "Acho que vou precisar me acostumar com isso." Andrew assentiu, mas a preocupação em seu rosto era evidente. Ele segurou a cabeça dela com cuidado enquanto ela tentava se recompor. "Vem, vamos deitar um pouco. Eu vou cuidar de você," ele sussurrou com t
Dias se passaram após o velório da mãe de Andrew. Desde então, o peso do reencontro com os irmãos, as memórias do passado e a proximidade implacável da própria mortalidade haviam deixado Andrew em uma névoa de sentimentos conflitantes. A vida ao lado de Nora, que sempre lhe trouxera paz, agora parecia entrelaçada com um medo profundo.Deitados lado a lado naquela manhã, Andrew tentava ancorar-se na presença dela, sentindo-se mais vulnerável do que jamais estivera. Até então, ele nunca tivera motivos para sentir ciúmes de Nora; o amor e a confiança entre eles eram inquestionáveis. Mas o choque da morte da mãe, e o vazio da reconciliação tardia, haviam deixado Andrew com a dolorosa lembrança de que o tempo pode acabar sem aviso, e agora, o medo de perder Nora – e o filho que ela carregava – era um peso em seu coração que ele mal conseguia suportar.Enquanto ele acariciava suavemente o cabelo dela, perdido em pensamentos, o som do celular de Nora começou a vibrar sobre o criado-mudo, rom
Nora acordou cedo, animada e ansiosa. Fazia muito tempo desde que finalizara a biografia de Andrew, e agora, com uma nova proposta de trabalho, ela sentia a inspiração voltar. Escolheu um vestido leve, passou uma maquiagem suave e ajeitou o cabelo com um sorriso discreto nos lábios. Quando estava prestes a sair do quarto, viu Andrew observando-a da porta, com uma expressão que misturava preocupação e algo mais sombrio, algo que ela sabia que ele tentava esconder. “Vai sair?” ele perguntou, tentando parecer casual, mas seus olhos traíam um toque de insegurança. Nora assentiu, ajustando a bolsa no ombro. “Sim. Marquei de encontrar o Adam para entender melhor sobre o projeto dele. Te falei ontem amor!" Andrew ficou em silêncio por um instante e então, decidido, declarou: “Acho que vou para a empresa hoje.” Nora ergueu uma sobrancelha, surpresa. Era raro ele demonstrar vontade de ir à Haartcorp ultimamente, desde que soubera sobre o tumor. “Você tem certeza de que está bem o suficien
Enquanto Adam explicava sobre o projeto, Nora tentava se concentrar, mas seus pensamentos insistiam em vagar até Andrew. A culpa a consumia; ela se sentia egoísta por estar ali, quando ele mal tinha alguns meses de vida, segundo o médico. A data marcada para a morte de Andrew se aproximava rapidamente, e só de pensar em perdê-lo, uma angústia apertava seu coração. Finalmente, incapaz de continuar, Nora interrompeu Adam com um leve aceno. "Sinto muito, senhor Adam. Eu... não posso aceitar o trabalho. Desculpe, mas eu preciso ir." Ela se levantou apressada e saiu do restaurante, pegando o primeiro táxi que avistou. Durante o trajeto, a ansiedade tomou conta; tudo o que queria era chegar até ele. Assim que entrou no prédio da Haartcorp, memórias vieram à tona. Foi ali que conheceu Andrew, naquele mesmo local, onde tudo começou. Seu coração acelerou conforme se aproximava da porta do escritório dele. Quando finalmente entrou, Andrew estava sentado, perdido em pensamentos, a expressã
Enquanto Andrew e Nora entravam em casa, a noite já havia caído e o silêncio tomava conta do ambiente. Nora abriu a porta e, ao cruzar o limiar, sentiu um arrepio involuntário percorrer sua espinha. Parou por um instante, observando cada detalhe do hall de entrada."Tem alguma coisa errada," murmurou, com uma expressão de estranheza.Andrew franziu a testa, olhando para ela com um sorriso de lado, quase cético. "O que foi, Nora? Está tudo exatamente como deixamos."Ela olhou em volta novamente, tentando decifrar o que lhe causava aquela sensação incômoda. "Não sei… Só parece que alguém esteve aqui."Ele riu levemente, tentando acalmá-la. "Provavelmente só coisa da sua cabeça. Fica tranquila."Nora deu de ombros, tentando afastar a sensação e seguiu para a cozinha, enquanto Andrew subia as escadas. "Vou tomar um banho rápido," avisou ele."Ok, vou preparar algo pra gente comer," respondeu ela da cozinha, ainda sentindo uma vaga inquietação. Enquanto lavava os legumes, tentava concentra
Um novo dia se iniciava, mas o clima entre Andrew e Nora estava longe de ser leve. A tensão entre eles ainda pairava no ar após a discussão da noite anterior. Nora, sentada à mesa da cozinha, tomava seu café da manhã em silêncio, ainda sentindo o peso da discussão. Estava frustrada com a teimosia de Andrew em não iniciar o tratamento, enquanto ele, por outro lado, sentia-se atacado e incompreendido por ela insistir tanto.No quarto, Andrew dormia profundamente, tentando se recuperar das emoções intensas que o haviam exaurido. Subitamente, foi despertado por uma sequência de notificações no celular. O som contínuo e insistente o tirou do sono, e ele, ainda sonolento, pegou o celular do lado da cama.Ele mal conseguia acreditar no que via: dezenas, talvez centenas de mensagens e ligações não atendidas. Notificações de mensagens, e-mails e até menções nas redes sociais explodiam na tela do celular. Confuso e alarmado, ele começou a abrir algumas mensagens, tentando entender o motivo daqu
Andrew ficou em choque. Sentado no sofá, ele olhou ao redor, sentindo o vazio da casa como se ela estivesse se fechando em torno dele. Ele murmurou, quase sem perceber que estava falando em voz alta: "A casa é dela... ela saiu... e eu fiquei." A culpa começou a consumir seus pensamentos, e ele murmurou para si mesmo, com uma pitada de arrependimento: "O que eu fiz?" Desorientado, abaixou a cabeça, deixando os ombros caírem. A notícia do tumor agora era de conhecimento público, e ele sabia que as pessoas falariam, especulariam e julgariam. Tudo parecia estar desmoronando ao redor dele. Enquanto isso, Nora caminhava pela rua em estado de choque, sem saber para onde ir. Sentia-se traída, vazia e sem forças. Olhava para os lados, vendo rostos desconhecidos, cada um parecendo carregado de curiosidade e julgamento. As vozes das pessoas a chamavam, perguntando coisas que a faziam sentir-se ainda mais vulnerável. "Nora Allins? É você, não é? A namorada do bilionário Andrew Haart?" "É verd