Parte 3...
Enzo
— Você parece estar longe, irmão.
Eu me virei, girando a cadeira. Meu irmão mais novo, Alessandro, entra com uma pasta na mão. Somos parecidos fisicamente, mas Alessandro ainda é muito relaxado com relação às nossas obrigações. Ele trabalha para mim diretamente e mexe com a parte financeira dos negócios lícitos que usamos como cobertura para o que fazemos de mais lucrativo.
— Você é quem deveria estar longe, Alessandro – guardei a foto de Isabella na gaveta — Não tinha uma inauguração hoje à noite em Roma?
— Tinha – ele largou a pasta em cima da mesa — Mas seu irmão decidiu ir no meu lugar e me mandou ficar aqui e te ajudar – abriu os braços.
Ele falava de nosso irmão mais velho, Victor. Deveria ser ele a comandar a família agora, mas decidiu ficar com outras responsabilidades e eu entendo. Além disso, eu sempre estive mais envolvido no modo de trabalho do que ele.
Passei muito tempo ao lado de nosso pai, aprendendo os truques e macetes desse meio, entendendo como deveria agir para não acabar com algemas nos pulsos ou com formiga na boca.
Eu gosto desse modo de vida, ainda que seja muito exigente e estressante. Creio que nasci para isso, me sinto bem sendo um Don, tendo poder e pessoas abaixo de mim. Meus irmãos são os chefes de cada setor.
— O que eu quero, você já sabe – bati a mão na cadeira — Faltam quinze dias para o fim do mês – apontei o dedo para ele — Quero o nome de quem nos dedurou para a DIA.
— Estou trabalhando nisso, não se preocupe. Vamos saber quem foi – ele puxou a cadeira e sentou — Estava olhando a foto da garota? – apontou com um gesto de cabeça — Em poucos dias será o casamento. Está ansioso?
— E porque eu estaria? – apertei os lábios e dei de ombro — Já sabia desse dia desde que o acordo foi feito, anos atrás, no Brasil.
— E não está curioso sobre sua esposa?
— Alessandro... – cocei a testa — É só uma convenção, irei me casar para manter a paz e os negócios, como até hoje está sendo feito. É só isso.
— Ela está bem bonita – ele se reclinou — Já pensou em como vai ser a hora de tirar o selo dela – deu risada.
— Não seja nojento – fiz uma careta — E isso não é de sua conta.
— Claro que é – ele gesticulou — Ela vai ser minha cunhada... Se você não tiver interesse em tirar o selo, pode passar para mim que eu me sacrifico por você.
Ele deu uma risada descarada. Abri a gaveta e peguei minha pistola, colocando em cima da mesa e virando para ele, olhando com cara de desafio para ele.
— Vai insistir na brincadeira?
Ele levantou as mãos para cima e segurou o riso.
— De forma alguma, que Deus me livre. Só queria saber se você vai ou não inaugurar a garota, afinal, esses anos todos em colégio interno, ela com certeza deve ser virgem e isso é quase um milagre mesmo.
Eu sei que ela é virgem. A ideia de colocar Isabella em um colégio interno foi do pai dela, para esconder a filha de seus inimigos. Eu pensei em sua proteção e claro, em não deixar que nenhum homem se aproveitasse dela, já que estava prometida a mim.
Eu não me incomodo com essa bobagem de virgindade, mas sendo minha esposa e futura mãe de meus filhos, é bem melhor que eu tenha a certeza de ser seu único amante. Até porque, se ela resolver pular a cerca, eu a mato.
— Você procure sua própria virgem, se quer tirar o selo de alguém. Isabella é inocente nesse quesito e vai continuar assim, até que eu a ensine.
Alessandro riu alto, batendo as mãos. Senti vontade de rir também.
— Você a colocou lá por isso mesmo, não tente me enganar, irmão. Sei que tem muitas amantes, mas nunca quis se casar antes, exatamente porque esperava por sua noivinha virgem.
— Nunca me casei porque já estava comprometido. Eu nunca volto atrás com minha palavra, você sabe disso.
Era verdade, eu procuro cumprir o que prometo e raras foram as vezes em que mudei de ideia e geralmente porque aconteceu algo que me fez mudar. Sobre querer uma noiva virgem, sim, pensei nisso. É bom saber que é o primeiro homem na vida de uma mulher.
Gosto que sejam experientes, mas uma tela em branco também pode ser divertido. Pelo menos se ela não for uma beata chata. Depois de ficar o dia resolvendo as coisas que vão surgindo, o melhor mesmo é ter um corpo quente me esperando na cama para me satisfazer, mas se ela for uma dessas malucas religiosas, vou ter que procurar alguma amante de antes ou achar outra nova.
— Seja honesto irmão. Você é tão machista como qualquer um de nós – ele fez uma careta engraçada — Só quer posar de homem moderno. Deixou a garota todos esses anos presa em um convento na Suíça, para que nenhum outro chegasse na sua frente.
— Alessandro, você tem a boca grande demais, sabia?
— Só estou dizendo a verdade – ele ergueu a mão — Ela mudou muito com o tempo.
Isso era verdade. Eu me lembro bem até hoje, do dia em que a conheci e fui pego de surpresa, pensando que seria uma adulta. Mas o acordo foi feito. A mãe dela chorava quando saímos da casa.
Eduardo trazia a filha pela mão, com dois empregados atrás, carregando malas. Isabella andava despreocupada, com uma boneca na mão. Meu Deus, ela ainda brincava de boneca e já era minha noiva.
Foi tudo tão absurdo que até eu fiquei meio sem ação diante daquilo. Victor ao meu lado, me lembrava que eu precisava me casar com a menina para não perder o caminho aberto para alguns anos de paz e muito ganho financeiro.
Tudo era pelo bem da família, pelo bem dos negócios. E como seria eu a comandar a família, então o sacrifício deveria ser meu. Entrei solteiro na residência dos Bianchi e saí noivo, com um contrato de casamento.
Meu acordo com o pai dela era que ficaria na Suíça até ter idade de se casar, que Eduardo achou melhor ser vinte e dois anos. O motivo dessa idade eu não sei e nem questionei. Só queria voltar para casa e continuar minhas obrigações.
— Ei... Está me ouvindo? – Alessandro bateu com o dedo na mesa.
— Sim, estava pensando no passado... Continue...
— Deixando de lado sua futura e gostosa esposa... Calma, é brincadeira... Falando sério agora, eu trouxe alguns documentos que você precisa ler e assinar e também – ele pegou o celular — Um recado para você.
Ele me passou o celular e apertei a tecla para ouvir. Era um recado desaforado de Bianca Martinelli, uma ex amante e também a chefe de toda a máfia da Calábria, conhecida como “La Rosa Calabrese”.
Fazia um bom tempo que eu a vinha evitando e não queria mais me envolver com ela, mas Bianca era insistente. E por eu não mais atender suas chamadas e recados, ela agora encontrara outro jeito, através de Alessandro.
“— Mio querido, Enzo... Cosa ti è successo? Per favore, mi manchi... Ho davvero bisogno di te, vieni a trovarmi.”
“— Meu querido, Enzo... O que aconteceu? Por favor, sinto sua falta... Eu preciso muito de você. Venha me ver.”
Devolvi o celular e mandei que apagasse a mensagem.
— Quando ela usar você novamente, bloqueie o número – enchei o peito de ar, me sentindo cansado — Não quero que Bianca fique cercando minha família.
— Tudo bem, só não fiz isso ainda porque não sabia o que você queria.
— Por mim, ela pode ir para o inferno.
Tive um breve relacionamento com Bianca, mas com certeza foi uma das maiores burrices de minha vida. E ela pelo jeito ainda queria continuar, como se nada tivesse acontecido. Eu não esqueci que ela tentou me manipular para dar cabo de um de nossos inimigos em comum.
Apesar de ser uma mulher linda, dona de um charme único e que sabe como agradar um homem na cama, Bianca não é uma mulher de confiança. Ainda bem que abri os olhos logo cedo e melhor ainda que já estava compromissado, foi mais fácil usar isso como uma desculpa para cortar nosso caso.
Parte 4...Isabella— Posso entrar?Olhei para trás, Susan tinha colocado a cabeça para dentro de meu quarto. Passava pouco mais de dez horas. Achei estranho que ela estivesse ali.— Claro que pode, professora.Ela entrou e fechou a porta devagar, depois sentou em minha cama, perto de mim. Parecia um pouco ansiosa.— Não consegue dormir? – eu fiz que não com a cabeça — Imagino... Eu também não e por sua culpa.— Por minha culpa? – franzi os olhos — O que eu fiz?Eu não me recordava de ter feito algo de errado. Era bem difícil, aliás, que eu fizesse algo que fosse considerado errado. Tendo crescido aqui entre essas paredes, eu havia criado o comportamento mais calmo, mais brando. Sentei.— Isabella... – ela respirou fundo — Eu sei que todos esses anos em que você está aqui, na verdade eu trabalhei para a família Ricci, vigiando você, lhes passando informações de seus dias aqui dentro.Eu fiz que sim com a cabeça. Houve uma época em que isso me deixou triste, depois revoltada e com raiv
Parte 5...EnzoMe sinto diferente hoje e creio que é por causa do casamento amanhã. A última vez que recebi notícias de Isabella foi há três semanas, através de Melody, que me disse que ela continua como sempre, a mesma boa garota de antes.Eu não tenho preocupação com relação a ela. Vou me casar como foi combinado e a levarei ao altar na basílica mais imponente de toda Sicília. A Catedral de Palermo.A Catedral possui uma mistura de estilos arquitetônicos e dentro dela, verdadeiros túmulos de reis e uma decoração absurdamente rica, com muita história. Será um evento que irá ser falado por muito tempo, em especial pelos outros grupos de mafiosos que vão saber que agora tenho ainda mais apoio, me unindo a família Bianchi, que comanda a máfia brasileira.Não será nenhuma surpresa, pois isso vem sendo falado há tempos e foi um dos motivos também, que Eduardo achou melhor enviar Isabella para a Suíça. Muitos de nossos inimigos e concorrentes iriam querer atrapalhar essa união de forças,
Parte 6...Enzo— Enzo... Venha aqui um instante... Por favor!Eu achei estranho o modo de Manollo falar. Já encerrei minha atividade de hoje e deixei claro que não me incomodem. Quero ir para casa e receber minha noiva. Preciso conversar com ela um pouco, para que se familiarize com a família.Minha mãe espera ansiosa por ela e até Victor já me ligou para saber quando ela chega. É a novidade da família. Acho que até os empregados que estão por dentro da agitação estão curiosos.E de certa forma, vai ser bom para Isabella. Ela vai ter atenção. Depois de tanto tempo dentro dos muros, com as mesmas pessoas, ter novos contatos vai fazer bem a ela e isso pode ser bem para aliviar a pressão do casamento.— O que foi, Manollo? – fechei a porta do escritório — Não me venha com problemas agora, tenho que ir para casa.— É... – ele encheu o peito de ar — Desculpe, mas é isso mesmo. Problema.Já não gostei da cara dele. O que seria agora?— O que foi? Algum problema com a entrega de hoje à tard
Parte 1... Enzo Joguei o copo com raiva contra a parede e ele se fez em pedaços. Manollo deu um pulo, erguendo a mão para proteger o rosto dos cacos que se espalharam. Já era o segundo copo que eu quebrava, mas minha vontade mesmo era quebrar o pescoço da vaca que ajudou Isabella a fugir de sua obrigação. — Eu quero essa Susan, entendeu? – falei alto, muito irritado. — Eu já sabia disso, senhor... Meus homens estão atrás dela. A outra vigia, Melody, também já foi pega. — Ela estava junto nisso? — Não senhor... – ele balançou a cabeça — Meus homens a seguraram e tiveram uma conversa com ela. A conversa na verdade era um interrogatório. Se a verdade era necessária, ela seria retirada de um jeito ou de outro. A própria Melody sabia bem como isso funcionava. — E o pessoal do convento? — Ninguém sabe de nada, Enzo – ele apertou as mãos — Pelo que conseguimos captar, nas últimas semanas a
Parte 2...Enzo— É muito melhor ser temido do que amado.Foi a minha explicação para Alessandro, quando ele questionou porque eu havia atirado em Susan.— O que ela fez foi alta traição – limpei as mãos no lenço que era branco e que agora estava manchado com o sangue de Susan — Com toda certeza que os comentários sobre o casamento adiado já estão rodando por todos os corredores de cada recanto dessa cidade e isso não pode acontecer.— Pelo menos você já sabe onde ela está?— Sim... Ela enviou Isabella para Portugal.— Que porra! – Alessandro se espantou — A filha da pu*a fez o serviço bem feito. Com certeza ela tem mais alguém ajudando. E as outras duas?— Não participaram da fuga, mas tiveram um castigo também.Eu nã
Parte 3...IsabellaEu nunca pensei que o vento, o céu, o barulho em volta... Tudo, até mesmo o calor, fosse melhor quando a gente é livre. Aqui perto tem uma linha de trens. Na primeira noite isso me causou alguns sustos, mas depois meu cérebro registrou que era apenas o trem passando. Agora eu até acho bom. Sei que estou fora dos muros do convento, em outro país, longe de todos.O casal me ajudou muito. Dava para perceber que eles estavam com medo, mas fizeram o combinado. Mônica me arranjou roupas mais de acordo e também venderam algumas joias para que eu pudesse ter dinheiro comigo.Já se passaram dois dias e até agora não recebi notícia de Susan. Não sei o que pode estar acontecendo por lá e nem se meu noivo já sabe que escapei de suas garras. Mônica disse que eu não entre em contato com meus pais de forma alguma, pois eles devem estar sendo vigiados.Eu confesso que pensei em ligar, mas isso passou depois que eu entendi que seria uma burrice de minha parte. Se em todo esse tempo
Parte 4...IsabellaMinha barriga está roncando de novo. Vou ter que sair e comprar algo para comer que não sejam biscoitos e água. Mônica e Tadeu desapareceram, não tive mais notícias deles. Já se passaram quatro dias agora.Ainda não sei o que fazer e nem pra onde ir. Nem sei quanto tempo eu tenho para ficar nessa casa. Depois que aquele homem me disse aquilo em frente ao supermercado, minha ansiedade aumentou e minha cabeça está cheia de pensamentos conflitantes.Eu queria liberdade, mas agora não sei o que fazer. Não tem ninguém para me guiar. O dinheiro que Susan me deu já acabou e estou usando o que consegui com a venda das joias. Mas agora eu vou precisar vender mais e Mônica não está aqui para fazer isso pra mim.Dei um pulo de susto, ao ouvir um barulho alto de coisa quebrando. Vinha ali de perto,
Parte 5...Enzo— Eles vão matar a garota, Enzo!Victor estava tentando me fazer reagir. Ainda estou com muita raiva da traição cometida por Susan, mas ela já pagou por isso. Eu não admito que alguém mude meus planos. Agora que já sabemos onde está Isabella, sabemos também que outra facção está atrás dela.Antoanie Dubois, o chefe da máfia L´Eclipse Noire, já está com seus homens atrás dela. E pode ser viva ou morta. Eles sempre quiseram ter uma fatia dos negócios na América do Sul e a família Bianchi sempre foi a detentora dessa parte.Agora que ele sabe que Isabella não está comigo, vai fazer de tudo para colocar as mãos em cima dela e usá-la como quiser, para forçar Eduardo a ceder diante de seus desejos. E Antoanie é conhecido