Parte 6...
Enzo
— Enzo... Venha aqui um instante... Por favor!
Eu achei estranho o modo de Manollo falar. Já encerrei minha atividade de hoje e deixei claro que não me incomodem. Quero ir para casa e receber minha noiva. Preciso conversar com ela um pouco, para que se familiarize com a família.
Minha mãe espera ansiosa por ela e até Victor já me ligou para saber quando ela chega. É a novidade da família. Acho que até os empregados que estão por dentro da agitação estão curiosos.
E de certa forma, vai ser bom para Isabella. Ela vai ter atenção. Depois de tanto tempo dentro dos muros, com as mesmas pessoas, ter novos contatos vai fazer bem a ela e isso pode ser bem para aliviar a pressão do casamento.
— O que foi, Manollo? – fechei a porta do escritório — Não me venha com problemas agora, tenho que ir para casa.
— É... – ele encheu o peito de ar — Desculpe, mas é isso mesmo. Problema.
Já não gostei da cara dele. O que seria agora?
— O que foi? Algum problema com a entrega de hoje à tarde? Não me diga que perdemos outro carregamento para o DIA.
Como Alessandro ainda não tinha me dito quem seria o dedo-duro, eu não podia agir diretamente. Ele disse ter uma pista e estou aguardando. Tem alguém de dentro da organização que está abrindo o bico para os federais.
— Não, sobre isso está tudo bem, nada aconteceu... É... Sua noiva...
Eu logo apertei os olhos. O que poderia ser? Chequei meu relógio.
— O que tem ela? Em poucas horas vai estar aqui e nós...
— Não vai, não – ele balançou a cabeça negando.
Apertei o punho, já pressentindo momentos de raiva.
— Abra o bico, Manollo.
— Vou fazer um resumo do que a Melody me contou... – ele ergueu as mãos.
— Puta merda... – esfreguei o rosto. Já sei que vem merda aí — Fale!
** ** **
Isabella
Estou de novo com o coração batendo acelerado e minhas mãos tremem. Não sei que milagre eu ainda consigo ficar de pé, de tão nervosa que estou.
Durante duas semanas, Susan e eu bolamos uma maneira de escapar do convento que me desse ao menos algumas horas de distância, para que eu pudesse chegar ao meu destino final.
Portugal.
Susan tem amigos em Lisboa e eles já estão à minha espera. Eu só preciso seguir todo o plano e chegar até lá. Depois será a segunda parte do plano, mas agora só tenho que focar nesse começo.
— Isabella – ouvi a voz baixa de Susan do lado de fora de minha janela — Já está acordada?
— Eu nem dormi – respondi baixinho também e abri toda a janela.
— Vamos – ela fez um gesto me chamando e olhando em volta — Não temos muito tempo antes que todos acordem.
Ainda era muito cedo. O sol nem mesmo tinha dado o ar da graça. Estava escuro, com uma iluminação leve dos postes dentro do convento. Eu prendi minha porta com a cama para dificultar a abertura.
Deu trabalho para puxar sem fazer barulho porque é uma cama de madeira antiga e pesada, mas consegui. Peguei uma das malas que cheguei aqui, quando meu pai me trouxe. Coloquei apenas duas mudas de roupa e o necessário como Susan me disse, para uma fuga sem levantar suspeitas.
Joguei a mala com cuidado para ela pegar lá embaixo. Não é alto, meu quarto é no primeiro andar. Joguei os sapatos também e depois me precipitei para baixo, descendo devagar, com o apoio de Susan embaixo.
— O carro está lá fora – ela falava baixo — Você está bem?
— Sim... Muito nervosa, mas estou bem – respirei fundo para ventilar o cérebro.
— Imagino o que está sentindo – ela alisou meu braço — Mas eu vou te ajudar, você precisa ter escolha, ter uma vida lá fora.
Eu senti vontade de chorar, mas não era o momento. Cada minuto que eu me demorava ali dentro, mais perto eu estava de ser levada para as mãos de Enzo Ricci. Melody já tinha me dito que ele enviara alguns de seus homens para me buscar e me levar até a Itália.
— Vamos – ela pegou minha mão e saímos devagar, passando por cada parte do convento e entramos no colégio — Daqui é melhor sairmos, o carro não vai chamar atenção de ninguém.
Saímos pelas portas do fundo. Susan tinha as chaves dos cadeados grandes que prendiam as correntes. Empurramos devagar e ouvimos o gemido das dobradiças, mas não foi alto.
Acho que as batidas do meu coração estavam bem mais altas. Eu estava com a boca seca e ainda assim engoli pesado. Minha respiração estava fora do normal.
— Por aqui – Susan pegou minha mão. Paramos no muro de pedra antiga, cheio de musgos — Suba aqui – ela já tinha deixado um pequeno banco de madeira escondido atrás de uma árvore.
Quando subi no muro e olhei para fora, tinha um carro branco parado e um homem de pé ao lado. Travei.
— Ele está comigo, não se preocupe – ela assoviou breve e o homem jogou o cigarro no chão, se aproximando — Passe para o outro lado.
Foi meio esquisito, mas consegui. Pra mim era tudo uma aventura. Eu me sentia uma outra pessoa. Jamais fui capaz de responder a alguém, o que dirá de participar de uma fuga. Mas agora era necessário e eu faria o possível.
Susan apenas me disse o nome do homem. Ele jogou minha mala no banco de trás e eu entrei junto. O carro era grande e confortável, um SUV, que deu para ver a marca. Era um BMW elétrico. Não fazia ruído, por isso que ela escolheu esse. E era rápido. O homem saiu devagar apenas até chegarmos à esquina, depois disso foi só pé no acelerador.
Susan ia falando comigo, se certificando de que eu havia entendido todo o plano e de como deveria proceder. Não consegui segurar mais e comecei a chorar, mas garanti a ela que era apenas a emoção do momento junto com o nervosismo, mas que estava segura do que queria fazer.
Chegamos ao aeroporto. Susan me passou um passaporte, dinheiro e uma outra mala pequena de mão.
— Esta mala contém todas as joias que foram enviadas de presente para você desde que chegou ao convento – segurou minha mão forte — Não a perca, será de grande importância. Poderá vender as joias e continuar sua fuga – ela me abraçou apertado — Não esqueça de mim.
Eu franzi a testa, achando estranho o modo como ela falou. Eu sei que é uma despedida, mas não será para sempre. A voz do alto-falante anunciou a saída do voo que me levaria para longe.
— Agora vá! – seus olhos encheram de lágrimas — Desejo de coração que tudo dê certo e que possa ser feliz – me abraçou de novo — Perdão por esses anos vigiando você... Eu gosto muito de você, Isabella.
— Eu também gosto muito de você, Susan – quase chorei de novo.
O homem me desejou boa sorte e eu passei pelo portão de embarque com o coração quase saindo pela boca. Foi a primeira vez na vida que eu tinha o gosto da liberdade.
*Autora Ninha Cardoso
O livro está completo e será postado após liberação. É importante frisar que o tema é controverso e não existe compromisso com a realidade. A opinião aqui não expressa minha opinião como autora, é apenas um enredo fictício. Também não apoio os comportamentos dos personagens aqui descritos e nem retrato a realidade das máfias.
Aproveite o livro!
Parte 1... Enzo Joguei o copo com raiva contra a parede e ele se fez em pedaços. Manollo deu um pulo, erguendo a mão para proteger o rosto dos cacos que se espalharam. Já era o segundo copo que eu quebrava, mas minha vontade mesmo era quebrar o pescoço da vaca que ajudou Isabella a fugir de sua obrigação. — Eu quero essa Susan, entendeu? – falei alto, muito irritado. — Eu já sabia disso, senhor... Meus homens estão atrás dela. A outra vigia, Melody, também já foi pega. — Ela estava junto nisso? — Não senhor... – ele balançou a cabeça — Meus homens a seguraram e tiveram uma conversa com ela. A conversa na verdade era um interrogatório. Se a verdade era necessária, ela seria retirada de um jeito ou de outro. A própria Melody sabia bem como isso funcionava. — E o pessoal do convento? — Ninguém sabe de nada, Enzo – ele apertou as mãos — Pelo que conseguimos captar, nas últimas semanas a
Parte 2...Enzo— É muito melhor ser temido do que amado.Foi a minha explicação para Alessandro, quando ele questionou porque eu havia atirado em Susan.— O que ela fez foi alta traição – limpei as mãos no lenço que era branco e que agora estava manchado com o sangue de Susan — Com toda certeza que os comentários sobre o casamento adiado já estão rodando por todos os corredores de cada recanto dessa cidade e isso não pode acontecer.— Pelo menos você já sabe onde ela está?— Sim... Ela enviou Isabella para Portugal.— Que porra! – Alessandro se espantou — A filha da pu*a fez o serviço bem feito. Com certeza ela tem mais alguém ajudando. E as outras duas?— Não participaram da fuga, mas tiveram um castigo também.Eu nã
Parte 3...IsabellaEu nunca pensei que o vento, o céu, o barulho em volta... Tudo, até mesmo o calor, fosse melhor quando a gente é livre. Aqui perto tem uma linha de trens. Na primeira noite isso me causou alguns sustos, mas depois meu cérebro registrou que era apenas o trem passando. Agora eu até acho bom. Sei que estou fora dos muros do convento, em outro país, longe de todos.O casal me ajudou muito. Dava para perceber que eles estavam com medo, mas fizeram o combinado. Mônica me arranjou roupas mais de acordo e também venderam algumas joias para que eu pudesse ter dinheiro comigo.Já se passaram dois dias e até agora não recebi notícia de Susan. Não sei o que pode estar acontecendo por lá e nem se meu noivo já sabe que escapei de suas garras. Mônica disse que eu não entre em contato com meus pais de forma alguma, pois eles devem estar sendo vigiados.Eu confesso que pensei em ligar, mas isso passou depois que eu entendi que seria uma burrice de minha parte. Se em todo esse tempo
Parte 4...IsabellaMinha barriga está roncando de novo. Vou ter que sair e comprar algo para comer que não sejam biscoitos e água. Mônica e Tadeu desapareceram, não tive mais notícias deles. Já se passaram quatro dias agora.Ainda não sei o que fazer e nem pra onde ir. Nem sei quanto tempo eu tenho para ficar nessa casa. Depois que aquele homem me disse aquilo em frente ao supermercado, minha ansiedade aumentou e minha cabeça está cheia de pensamentos conflitantes.Eu queria liberdade, mas agora não sei o que fazer. Não tem ninguém para me guiar. O dinheiro que Susan me deu já acabou e estou usando o que consegui com a venda das joias. Mas agora eu vou precisar vender mais e Mônica não está aqui para fazer isso pra mim.Dei um pulo de susto, ao ouvir um barulho alto de coisa quebrando. Vinha ali de perto,
Parte 5...Enzo— Eles vão matar a garota, Enzo!Victor estava tentando me fazer reagir. Ainda estou com muita raiva da traição cometida por Susan, mas ela já pagou por isso. Eu não admito que alguém mude meus planos. Agora que já sabemos onde está Isabella, sabemos também que outra facção está atrás dela.Antoanie Dubois, o chefe da máfia L´Eclipse Noire, já está com seus homens atrás dela. E pode ser viva ou morta. Eles sempre quiseram ter uma fatia dos negócios na América do Sul e a família Bianchi sempre foi a detentora dessa parte.Agora que ele sabe que Isabella não está comigo, vai fazer de tudo para colocar as mãos em cima dela e usá-la como quiser, para forçar Eduardo a ceder diante de seus desejos. E Antoanie é conhecido
Parte 6...IsabellaEu estou com fome, mas não quero sair do quarto agora, não é ideal. Respiro fundo e sento na cama, segurando a cabeça entre as mãos. Ainda não sei o que vou fazer. Não tenho notícias de Susan e nem do casal que me ajudou.Não posso continuar pulando de um lugar para outro, não foi esse o plano inicial, mas tudo mudou agora. Deus está me ajudando a escapar, mas não sei por quanto tempo ainda. E nem faço ideia de que lado são aqueles homens que estão atrás de mim.Podem ser enviados de meu pai ou de noivo. Suspirei e esfreguei os olhos. Ou talvez dos dois juntos. Eu quebrei um pacto feito muito tempo atrás e de certo ambos devem estar com muita raiva de mim agora.Perdi minha mala, estou apenas com a roupa do corpo. Tenho pouco dinheiro comigo e as joias para vender, mas quem faria isso
Parte 7...IsabellaEu estava cansada mesmo. O medo e a correria me tiraram muita energia. E ainda comi muito antes de dormir. Deixei a televisão ligada e acabei pegando no sono. Mas ainda assim, eu acordei ouvindo vozes.Primeiro achei que seria a televisão, mas estava passando um programa religioso. Sentei na cama para prestar mais atenção. E isso me já me deixou nervosa. Levantei e andei na ponta dos pés, encostando o ouvido na porta.— Tem certeza de que é ela?— Só pode ser – a outra voz disse, como em crítica — Não acha que é muita coincidência? Só pode ser ela.— Mas e se não for?— Se não for, a gente inventa uma desculpa.Tapei a boca com a mão. Meu Deus, eles estavam lá fora planejando invadir o quarto. E com certeza seriam os mesmos homen
Parte 1... Enzo Já estamos rodando pelas ruas de Braga há quase meia hora e nada dessa peste de garota. Minha preocupação maior é que alguém do concorrente chegue nela antes de nós. Aí vai ser foda, vou ser obrigado a começar uma guerra. — Manollo, que porra de demora é essa? — Desculpe, chefe, mas ela parece que... – ele se esticou de vez — Pare o carro, pare o carro – bateu no braço do motorista. — Que porra, Manollo... O que foi que... — Ali, Enzo... É ela... Olha lá – ele quase quebrou meu pescoço ao virar minha cabeça — Certeza que é ela! Eu enfiei a cara para fora da janela. E não tive problemas em reconhecer. Era mesmo Isabella. Ainda que eu apenas tivesse fotos dela, estava diante da própria, em carne e osso, encolhida em um banco de madeira, embaixo de um ponto de ônibus. — Pu*a que me pariu, Manollo... É ela mesma. — Vamos pegá-la agora, chefe – ele abriu a porta e desceu