Parte 5...
Enzo
Me sinto diferente hoje e creio que é por causa do casamento amanhã. A última vez que recebi notícias de Isabella foi há três semanas, através de Melody, que me disse que ela continua como sempre, a mesma boa garota de antes.
Eu não tenho preocupação com relação a ela. Vou me casar como foi combinado e a levarei ao altar na basílica mais imponente de toda Sicília. A Catedral de Palermo.
A Catedral possui uma mistura de estilos arquitetônicos e dentro dela, verdadeiros túmulos de reis e uma decoração absurdamente rica, com muita história. Será um evento que irá ser falado por muito tempo, em especial pelos outros grupos de mafiosos que vão saber que agora tenho ainda mais apoio, me unindo a família Bianchi, que comanda a máfia brasileira.
Não será nenhuma surpresa, pois isso vem sendo falado há tempos e foi um dos motivos também, que Eduardo achou melhor enviar Isabella para a Suíça. Muitos de nossos inimigos e concorrentes iriam querer atrapalhar essa união de forças, inclusive causando uma desgraça na vida de Isabella, apenas para que ela não se tornasse minha esposa.
Nunca foi fácil fazer parte de uma família poderosa e com tantos concorrentes, como é o meu caso. O pai dela também já teve muitos problemas e não quis arriscar a vida da única filha.
— Enzo! – minha mãe bateu na porta — Está decente, filho meu?
— Sim, mama – sorri, fechando meu relógio de pulso — Pode passar.
Ela entra, toda animada como sempre, com seu jeito delicado. Minha mãe é uma típica mulher italiana. Foi criada para servir o marido. Desde muito jovem ela já sabia que seria a esposa de um capo, assim como Isabella.
Bem, quase como Isabella. Minha mãe foi criada para isso e queria ser uma esposa da máfia. Se casou com meu pai aos dezessete anos e lhe deu cinco filhos, mas agora somos apenas em três.
Yelena Ricci é uma senhora baixinha, gorducha e de cabelos brancos perolados. Tem um sorriso franco e procura ser justa com todos, até com os que não merecem. Sofreu muito quando meu pai morreu, vitimado por uma emboscada de um grupo rival. Mas eu vinguei sua morte e fiz cada um pagar.
— Me surpreendi ao saber que você ainda estava em casa – ela me abraça e me dá um beijo no rosto — Sempre sai logo cedo. Está tudo bem?
— Está sim, mama – lhe devolvi o beijo — Apenas me sinto um pouco estranho.
— E isso será por causa de amanhã? – ela põe as mãos em meu peito e mexe em uma de minhas correntes — Quando vão trazer a garota?
— Na verdade... – olhei o relógio — Daqui a poucas horas Isabella será trazida para cá. Temos pouca diferença de fuso-horário e o voo não dura mais do que três horas. Depois virá para cá de carro.
— Meu filho... Você é um homem formado há muito tempo e não quero me meter em sua vida...
— Mas... – eu sorri e beijei suas mãos.
— Apesar de seu casamento ter sido apenas um negócio – ela suspirou — Eu quero que você seja feliz e a garota também. Se você se dedicar a ela e aprender a observar os pontos bons que ela deve ter, poderá vir a amá-la um dia e isso vai deixar o casamento de vocês mais leve e mais fácil de levar.
— Mãe, eu não preciso de amor – dei uma risadinha.
— Todo mundo precisa de amor, Enzo – ela me respondeu séria — Eu me casei com o seu pai por obrigação, mas aprendi a amá-lo do jeito que era e sei que ele me amou também – segurou meus ombros — O amor diminui as dores da vida.
— Va bene, mama... – balancei a cabeça — Não se preocupe comigo e sim com Alessandro, que parece estar com a cabeça na lua.
— Eu me preocupo com todos os meus filhos. Todos vocês são importantes para mim – soltou meus ombros — Escute meu conselho, Enzo!
— Claro que eu escuto – lhe dei um beijo na testa — Agora tenho que sair. Nos falamos depois. Quero adiantar algumas coisas para ter o dia livre amanhã.
— Faz muito bem. A menina vai estar nervosa, isso é natural. Não conhece ninguém aqui e só vai ver os pais na igreja. Com certeza vai se sentir deslocada e vai precisar que você seja calmo com ela.
— Eu serei – fiz um gesto com a cabeça.
— Em tudo, Enzo – ela apontou o dedo para mim — Sabe o que me refiro.
— Mamãe, por favor... – tentei fazer uma cara séria — Não precisa falar de sexo comigo, sou um homem de trinta e cinco anos. Acho que sei como funciona.
— Saber como funciona não quer dizer que vai operar a máquina direito – eu soltei a risada — Não ria... Uma mulher não tem o mesmo modo de ver as coisas que um homem. E não esqueça de que ela vem de um convento – abaixou a voz — Você deve ser cuidadoso com ela, Enzo.
— Eu sei, eu sei... – a virei e a empurrei de leve — Agora chega de conselhos sexuais de minha própria mãe, está bem?
Ela balança a cabeça apertando os olhos e sai do quarto reclamando em seu italiano antigo. Eu achei engraçado, mas sei que ela está com a razão. Não posso apenas tratar Isabella como faço com outras mulheres mais experientes, existem uma grande diferença aí.
— É... Eu vou mesmo me casar! – suspirei. Peguei minha chave, minha pistola que sempre anda comigo, por precaução, o celular e saí — Você ainda não saiu? – encontrei com Alessandro na escada — Pensei que já estivesse fora de casa.
— Eu ainda não comi – ele bateu a mão na barriga — E você sabe bem que a primeira refeição do dia é a mais importante.
— Comida é importante, Alessandro – me dirigi a cozinha — Victor já ligou?
— Ainda não, mas deve estar tudo bem – ele vem atrás de mim — E aí? Já estão trazendo a garota? Quero muito ver essa beldade de perto.
— Alessandro, não se jogue para cima de minha mulher ou vou ser obrigado a atirar em você – apontei o dedo.
— Misericórdia! – ele riu se balançando todo — Você ainda nem casou e já está sendo ciumento. Que coisa!
— Não é ciúme... Ela é minha, me pertence. Eu não divido nada meu.
Isso é verdade. Eu sempre fui assim. Não gosto de dividir nada e muito menos mulheres. Claro, se eu achar que vale a pena. Do contrário, pouco me importa.
Parte 6...Enzo— Enzo... Venha aqui um instante... Por favor!Eu achei estranho o modo de Manollo falar. Já encerrei minha atividade de hoje e deixei claro que não me incomodem. Quero ir para casa e receber minha noiva. Preciso conversar com ela um pouco, para que se familiarize com a família.Minha mãe espera ansiosa por ela e até Victor já me ligou para saber quando ela chega. É a novidade da família. Acho que até os empregados que estão por dentro da agitação estão curiosos.E de certa forma, vai ser bom para Isabella. Ela vai ter atenção. Depois de tanto tempo dentro dos muros, com as mesmas pessoas, ter novos contatos vai fazer bem a ela e isso pode ser bem para aliviar a pressão do casamento.— O que foi, Manollo? – fechei a porta do escritório — Não me venha com problemas agora, tenho que ir para casa.— É... – ele encheu o peito de ar — Desculpe, mas é isso mesmo. Problema.Já não gostei da cara dele. O que seria agora?— O que foi? Algum problema com a entrega de hoje à tard
Parte 1... Enzo Joguei o copo com raiva contra a parede e ele se fez em pedaços. Manollo deu um pulo, erguendo a mão para proteger o rosto dos cacos que se espalharam. Já era o segundo copo que eu quebrava, mas minha vontade mesmo era quebrar o pescoço da vaca que ajudou Isabella a fugir de sua obrigação. — Eu quero essa Susan, entendeu? – falei alto, muito irritado. — Eu já sabia disso, senhor... Meus homens estão atrás dela. A outra vigia, Melody, também já foi pega. — Ela estava junto nisso? — Não senhor... – ele balançou a cabeça — Meus homens a seguraram e tiveram uma conversa com ela. A conversa na verdade era um interrogatório. Se a verdade era necessária, ela seria retirada de um jeito ou de outro. A própria Melody sabia bem como isso funcionava. — E o pessoal do convento? — Ninguém sabe de nada, Enzo – ele apertou as mãos — Pelo que conseguimos captar, nas últimas semanas a
Parte 2...Enzo— É muito melhor ser temido do que amado.Foi a minha explicação para Alessandro, quando ele questionou porque eu havia atirado em Susan.— O que ela fez foi alta traição – limpei as mãos no lenço que era branco e que agora estava manchado com o sangue de Susan — Com toda certeza que os comentários sobre o casamento adiado já estão rodando por todos os corredores de cada recanto dessa cidade e isso não pode acontecer.— Pelo menos você já sabe onde ela está?— Sim... Ela enviou Isabella para Portugal.— Que porra! – Alessandro se espantou — A filha da pu*a fez o serviço bem feito. Com certeza ela tem mais alguém ajudando. E as outras duas?— Não participaram da fuga, mas tiveram um castigo também.Eu nã
Parte 3...IsabellaEu nunca pensei que o vento, o céu, o barulho em volta... Tudo, até mesmo o calor, fosse melhor quando a gente é livre. Aqui perto tem uma linha de trens. Na primeira noite isso me causou alguns sustos, mas depois meu cérebro registrou que era apenas o trem passando. Agora eu até acho bom. Sei que estou fora dos muros do convento, em outro país, longe de todos.O casal me ajudou muito. Dava para perceber que eles estavam com medo, mas fizeram o combinado. Mônica me arranjou roupas mais de acordo e também venderam algumas joias para que eu pudesse ter dinheiro comigo.Já se passaram dois dias e até agora não recebi notícia de Susan. Não sei o que pode estar acontecendo por lá e nem se meu noivo já sabe que escapei de suas garras. Mônica disse que eu não entre em contato com meus pais de forma alguma, pois eles devem estar sendo vigiados.Eu confesso que pensei em ligar, mas isso passou depois que eu entendi que seria uma burrice de minha parte. Se em todo esse tempo
Parte 4...IsabellaMinha barriga está roncando de novo. Vou ter que sair e comprar algo para comer que não sejam biscoitos e água. Mônica e Tadeu desapareceram, não tive mais notícias deles. Já se passaram quatro dias agora.Ainda não sei o que fazer e nem pra onde ir. Nem sei quanto tempo eu tenho para ficar nessa casa. Depois que aquele homem me disse aquilo em frente ao supermercado, minha ansiedade aumentou e minha cabeça está cheia de pensamentos conflitantes.Eu queria liberdade, mas agora não sei o que fazer. Não tem ninguém para me guiar. O dinheiro que Susan me deu já acabou e estou usando o que consegui com a venda das joias. Mas agora eu vou precisar vender mais e Mônica não está aqui para fazer isso pra mim.Dei um pulo de susto, ao ouvir um barulho alto de coisa quebrando. Vinha ali de perto,
Parte 5...Enzo— Eles vão matar a garota, Enzo!Victor estava tentando me fazer reagir. Ainda estou com muita raiva da traição cometida por Susan, mas ela já pagou por isso. Eu não admito que alguém mude meus planos. Agora que já sabemos onde está Isabella, sabemos também que outra facção está atrás dela.Antoanie Dubois, o chefe da máfia L´Eclipse Noire, já está com seus homens atrás dela. E pode ser viva ou morta. Eles sempre quiseram ter uma fatia dos negócios na América do Sul e a família Bianchi sempre foi a detentora dessa parte.Agora que ele sabe que Isabella não está comigo, vai fazer de tudo para colocar as mãos em cima dela e usá-la como quiser, para forçar Eduardo a ceder diante de seus desejos. E Antoanie é conhecido
Parte 6...IsabellaEu estou com fome, mas não quero sair do quarto agora, não é ideal. Respiro fundo e sento na cama, segurando a cabeça entre as mãos. Ainda não sei o que vou fazer. Não tenho notícias de Susan e nem do casal que me ajudou.Não posso continuar pulando de um lugar para outro, não foi esse o plano inicial, mas tudo mudou agora. Deus está me ajudando a escapar, mas não sei por quanto tempo ainda. E nem faço ideia de que lado são aqueles homens que estão atrás de mim.Podem ser enviados de meu pai ou de noivo. Suspirei e esfreguei os olhos. Ou talvez dos dois juntos. Eu quebrei um pacto feito muito tempo atrás e de certo ambos devem estar com muita raiva de mim agora.Perdi minha mala, estou apenas com a roupa do corpo. Tenho pouco dinheiro comigo e as joias para vender, mas quem faria isso
Parte 7...IsabellaEu estava cansada mesmo. O medo e a correria me tiraram muita energia. E ainda comi muito antes de dormir. Deixei a televisão ligada e acabei pegando no sono. Mas ainda assim, eu acordei ouvindo vozes.Primeiro achei que seria a televisão, mas estava passando um programa religioso. Sentei na cama para prestar mais atenção. E isso me já me deixou nervosa. Levantei e andei na ponta dos pés, encostando o ouvido na porta.— Tem certeza de que é ela?— Só pode ser – a outra voz disse, como em crítica — Não acha que é muita coincidência? Só pode ser ela.— Mas e se não for?— Se não for, a gente inventa uma desculpa.Tapei a boca com a mão. Meu Deus, eles estavam lá fora planejando invadir o quarto. E com certeza seriam os mesmos homen